Como já discutimos em várias oportunidades aqui no blog, há muitas convergências entre as agendas tecnológicas (militares e de controle social) de governos e corporações e a indústria cinematográfica. O filme mudo "Mulher na Lua" de 1929 do diretor Fritz Lang ("Metrópolis" e "Doutor Mabuse") no início da ascensão do nazismo é um desses exemplos. O filme surge na onda de uma verdadeira mania por foguetes e naves espaciais na Alemanha que, mais tarde, resultaria nos foguetes V1 e V2 com bombas que explodiriam na Inglaterra. Outro exemplo foi "2001", Uma Odisséia no Espaço de Kubrick em 1968 com consultoria da NASA. Um ano depois a agência espacial americana chegaria na Lua. O filme promete uma fascinante viagem ao nascimento de dois gêneros que marcariam a história do cinema: o filme noir e a ficção-científica.
Mulher na Lua (Frau im Mond, 1928)
Diretor – Fritz Lang
Plot – Alemanha, década de 20. Wolf Helius, um poderoso industrial
da aviação, desenvolve uma missão secreta para viajar à Lua com base nos
estudos do professor Georg Manfeldt e suas teorias sobre a existência de ouro
no satélite terrestre. Mas o magnata Walter Turner descobre o projeto de Helius
e o chantageia para que possa se juntar à expedição. Como se isso não bastasse
o parceiro de Helius – Hans Windegger – só descobre a existência da missão ao
tomar conhecimento das pressões de Turner. Todos acabam se juntando ao projeto,
juntamente com a astrônoma Fried Velten – noiva de Windegger e por quem Helius
está secretamente apaixonado -, mas quando o foguete pousa na Lua, nada vai
acontecer como esperado.
Por que está “Em Observação”? – É o último filme mudo do alemão
Fritz Lang (diretor de clássicos “M, o Vampiro de Dusseldorf”, “Metrópolis” e “Doutor
Mabuse”). É considerado o filme prototípico do gênero ficção científica por
incluir numerosas ideias que mais tarde outros filmes do gênero – inclusive viagens
espaciais reais – terminaram a adotar como a contagem regressiva, o uso de
combustível líquido para foguetes, a gravidade zero no espaço e o conceito de
foguetes se separando em fases de lançamentos. É um dos grandes exemplos de
convergência entre a ficção e realidade, Cinema e agenda tecnológica.
No fim da década de 20 o sonho
de viajar para mundos distantes era uma verdadeira mania, em especial na
Alemanha. A Sociedade para Viagens Espaciais da Alemanha (formada por
cientistas como Hermann Oberth e por um talentoso rapaz chamado Wernher Von
Braun – que mais tarde seria o diretor do projeto espacial da NASA que levaria
o homem à Lua) oferecerá apoio ao filme de Lang, inclusive com um foguete
projetado por Oberth que saiu do hangar diretamente para o set de filmagem.
Essa euforia espacial rapidamente se transformará na agenda tecnológica militar
dos nazistas com as bombas V1 e V2.
Exemplo parecido foi 2001, “Uma
Odisséia no Espaço” de Kubrick em 1968 com efeitos especiais impressionantes
para a época e modelos criados por consultoria científica da NASA contratada
pela produção do filme. Um ano depois o homem chegaria à Lua.
Essa convergência entre as agendas
tecnológicas de governos, corporações e a indústria cinematográfica várias
vezes foi abordada por esse blog onde discutíamos duas hipóteses: ou o Cinema,
os arquétipos e o imaginário são na verdade a grande motivação mística por trás
da tecnologia ou o Cinema é usado como “agenda setting”, isto é, estratégia de
engenharia de opinião pública para que determinadas agendas de poder sejam mais
facilmente aceitas pela população – veja, por exemplo, os posts “Da
NASA à Hollywood: o cinema reflete a agenda tecnognóstica” e “Hollywood
e a engenharia dos ratos do MIT”.
O Que promete? – Uma fascinante viagem no início de dois
gêneros cinematográficos que, depois, tornaram-se distintos: ficção-científica
e o filme policial e de mistério “noir” – se bem que mais tarde o filme sci fi “Blade
Runner – O Caçador de Andróides” (Ridley Scott) em 1982 juntaria tudo
novamente. Todo o complô do magnata Turner lembra os ardis do filme “Doutor
Mabuse” tais como falsas identidades, iscas para desviar a atenção e roubar
elementos para chantagem, uso de drogas para sedar vítimas. Típicos elementos do
filme noir norte-americano das décadas de 30-40.
Também promete efeitos especiais
espetaculares para a época como na sequência da separação dos estágios do foguete
com tomadas aéreas da base e o movimento coreografado do pessoal para deslocar a enorme nave para a plataforma
de lançamento em um tanque cheio de água.