Nosso leitor Joari Carvalho nos oferece mais uma indicação para a sessão “Em Observação”: o filme “Last Night” (1998). Só pelo fato de ser um filme canadense que trata de um tema tão “blockbuster” e hollywoodiano já desperta o interesse pelo potencial de oferecer ao espectador uma visão alternativa para o tema: o fator humano. Não há pirotécnicas, efeitos especiais, Armagedon ou ônibus espaciais enfrentando asteroides. Apenas pessoas comuns sem passado e futuro tentando realizar os últimos desejos a seis foras do fim do planeta. “Last Night” entra na mira do “Cinema Secreto: Cinegnose” por tratar desse tema tão recorrente na cinematografia que podemos considerá-lo um sintoma coletivo de algum mal estar psíquico: por que essa presunção da catástrofe em relação ao futuro? Por que o futuro é encarado como uma contagem regressiva? Por que o futuro é sempre pensado como subtração e não como adição, acumulação ou construção? O que torna ainda o filme mais interessante é que à época do seu lançamento uma série de sinistras profecias cercava o final de milênio, entre ela o chamado “bug do milênio”, uma espécie de bomba relógio informática que prometia levar o mundo ao caos na virada para o século XXI.
Diretor: Don McKellar
Plot: O
filme começa às 18 horas do dia 31 de dezembro de 1999 – seis horas antes do
fim do mundo. A destruição do planeta é um pressuposto dado como inevitável e o
roteiro não se preocupa nos “como” e dos “porquês” do Armagedon. A narrativa
concentra-se no fator humano, suas questões existenciais: o que você, assim
como todo o planeta, faria se soubesse que só tem apenas seis horas de vida? As
pessoas parecem ter pouco senso de pânico. Parecem querer celebrar a última
noite sobre a Terra: Patrick sofre para organizar uma falsa celebração de Natal
com sua família; Sandra tenta atravessar a cidade para cometer suicídio com o
marido; um empregado de uma companhia de gás burocraticamente tentar manter a
excelência dos serviços até o ultimo instante; enquanto isso Craig tenta
alcançar a satisfação sexual a partir de uma lista de mulheres previamente
elaborada, e assim por diante.
Por que está “Em
Observação”?: A questão sobre o simbolismo do fim do mundo é uma tema
que vira e mexe o blog “Cinema Secreto: Cinegnose” está abordando: “O
fim do mundo não foi televisionado”, “Filme
2012: uma odisseia New Age”, “A
necrospectiva do fim do mundo”, só para citar os posts mais recentes.
Abordamos o tema principalmente pelo ponto de vista sociológico ou político
(por que a indústria de entretenimento, principalmente norte-americana, adora
destruir o país, principalmente a cidade de Nova York?) e a necessidade da
tendência ecumênica da ideologia da globalização buscar uma nova escatologia,
assim como a existente nas religiões tradicionais (o armagedon, messias,
profetas etc.), um novo fim do mundo dessa vez ecológico, climático ou
astronômico.
O filme parece oferecer uma dimensão ainda não abordada por esse blog para o tema: a recorrência de filmes (sem falar livros, séries de TV, revistas, telejornais etc.) sobre o fim do mundo não seria o sintoma do niilismo e hedonismo como mal estar psíquico da sociedade de consumo?
O filme parece oferecer uma dimensão ainda não abordada por esse blog para o tema: a recorrência de filmes (sem falar livros, séries de TV, revistas, telejornais etc.) sobre o fim do mundo não seria o sintoma do niilismo e hedonismo como mal estar psíquico da sociedade de consumo?
Pelas
sinopses da crítica especializada, o filme mostra personagens sem passado e sem
futuro. Se o consumismo transforma a vida num eterno presente, a percepção do
futuro transforma-se em estranhamento. Presunção da catástrofe, contagens
regressivas, a promessa do “bug do milênio” (a ameaça de uma catástrofe
informática que levaria ao caos prevista na época do filme) seriam sintomas de
uma sociedade que simplesmente não conseguiria pensar o futuro com esperança e
capacidade de realizações.
O que promete?:
Só pelo fato de ser uma produção canadense, promete apresentar uma visão
alternativa para um subgênero típico do mainstream
hollywoodiano. Principalmente por ser um filme tragicômico, como define a
crítica especializada. O filme promete abordar um fator que os filmes sobre o
tema esquecem, centrados que estão nas explicações das causas e os meios para
evitar a destruição: o fator humano. Ao invés de assistir à pirotécnica e
efeitos especiais do fim do mundo, o filme promete observar como pessoas
normais aparentemente reagem a uma catástrofe de proporções inimagináveis:
niilismo, anarquia e aceitação estoica.