Tudo se passa em 2020, época da pandemia COVID-19 e lockdown. Mas encontramos a mesma divisão social, a mesma incapacidade de concordar com uma realidade consensual, a mesma paranoia, medo e desinformação das redes sociais. E o mesmo presidente, Trump! Quando estreou no Festival de Cannes esse ano, a crítica observou: “quanto mais as coisas mudam, mais ficam iguais”. Estamos falando de “Eddington” (2025), filme de humor negro escrito e dirigido por Ari Aster, mestre do horror de alto conceito como “Hereditário” e “Midsommar”. Aqui, Aster dá conta do horror social de uma pequena cidade no Novo México que mergulha no caos e violência na medida em que os conflitos locais e de vizinhança são turbinados pela pauta nacional repercutida pelos feeds das redes sociais. “Eddington” didaticamente descreve uma nova engenharia social que substituiu a clássica criação do inimigo externo. Agora, o inimigo é INTERNO, alimentado pela criação da cismogênese: as pessoas sentem claramente que há algo errado, mas a desconfiança mútua, o medo e a paranoia superam qualquer coisa. Deixando de ver que o verdadeiro problema está ali, sendo incubado na frente de todos.