sábado, dezembro 29, 2018

Esquerda desarmada diante das operações psicológicas "alt-right"

Fotos de Bolsonaro e do futuro ministro da Casa Civi, Onix Lorenzoni, cuja angulação e recorte sugerem ao fundo expressões como “anta” ou “traição governa”; vídeo do capitão reformado lavando roupas no tanque; outro vídeo do presidente eleito com a faca na mão em um churrasco debochando do próprio atentado que sofreu. Tudo material distribuído pela assessoria do presidente, pautando a grande mídia e a indignação da esquerda, como matéria-prima para os protestos que acabam virando apenas “metamemes”. Continua em ação uma estratégia muito mais de comunicação do que de propaganda. Uma operação psicológica baseada nos mecanismos de dissonância e ambiguidade diante da qual a esquerda está paralisada e desarmada, incapaz de compreender a linguagem “alt-right”, a ultradireita alternativa, surgida diretamente de sites como o “4chan” (EUA) ou do “Corrupção Brasileira Memes”(CBM, Brasil).  Uma linguagem cuja mão de obra criadora é farta: a geração NEET (Not currently engaged in Employment, Education or Training) ou “Nem-Nem”, cuja desesperança e niilismo ganharam expressão política depois de anos de animações politicamente incorretas como Os Simpsons, Beavis and Butt-head, South Park, American Dad e o Rei do Pedaço.

quinta-feira, dezembro 27, 2018

Algoritmos, novos aliens e psicologia reversa por trás do filme "Bird Box"

Há algum algoritmo do Netflix por trás do filme “Bird Box”? – pergunta-se a crítica especializada. Se algum tipo de Inteligência Artificial elaborou a narrativa do filme baseado em livro homônimo de Josh Malerman, certamente seus algoritmos devem estar bem atualizados com a nova tendência do subgênero “apocalipse alien”: Agora esses seres surgem furtivamente, com estratégias ambíguas que exploram, principalmente, as fraquezas humanas – medo, desconfiança, traição, ambição etc. Dessa vez, o gênio maligno alienígena veio explorar o maior ponto fraco sensorial humano na atual sociedade das imagens, do espetáculo e das mídias: a visão. Como se salvar anulando a visão numa sociedade que nos exalta a ver? “Bird Box” apresenta o ponto fraco da psicologia humana: a psicologia reversa – quando o aviso “não olhe!” torna-se uma persuasiva arma alienígena. 

segunda-feira, dezembro 24, 2018

"Cinegnose" faz nove anos, na direção da primeira década

Em dezembro, o “Cinegnose” completa nove anos de existência, aproximando-se da primeira década de intensas atividades – postagens, cursos e palestras. Em todo esse tempo, o “Cinegnose” passou por dois momentos de mudança: no terceiro aniversário (2012), quando deixamos de ser um site “sobre Gnosticismo” para se tornar “Gnóstico” – a criação de um olhar gnóstico (ontológico, sincromístico, irônico e sintomático) mais amplo para Cinema, Cultura e Sociedade. E agora no seu nono aniversário: esse “olhar gnóstico” coverte-se num pressuposto metodológico para a Teoria da Comunicação, Semiótica e Crítica Ideológica. Por quê?  Porque a realidade é uma ilusão. Mas não uma ilusão qualquer, como “mentira” ou “falsa consciência”. Mas porque a realidade cada vez mais imita roteiros cinematográficos e narrativas ficcionais. Cada vez mais se aproxima do Cinema, a moderna Caverna de Platão.

sábado, dezembro 22, 2018

A ilusão das festas de Ano Novo no filme "Goodbye, 20th Century"

Sombrio, artístico, apocalíptico e surreal. Essas palavras sintetizam “Goodbye, 20th Century” (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), definitivamente um filme para cinéfilos aventureiros. Dirigido por dois diretores macedônios, Darko Mitrevski e Aleksandar Popovski, começa num deserto pós-apocalíptico ao estilo Mad Max para terminar num velório que se degenera em sangue e violência ao som de “My Way”, na versão punk rock de Sid Vicious. Um filme cujo pôster promocional da época resumia o filme da seguinte maneira: “como o Papai Noel, em fúria, destruiu o nosso mundo”.  Uma reflexão para as festas de final de ano de que, na verdade, tanto o Tempo como a “passagem de ano” não existem. São uma persistente ilusão que escondem um eterno retorno. E como esquecemos do principal simbolismo das festas de Ano Novo: a dupla face do deus Janus – uma que olha esperançoso para o futuro; e a outra que procura entender os erros do passado. Assista ao filme aqui no “Cinegnose”.

quinta-feira, dezembro 20, 2018

Em "Uma Noite de Crime 2: Anarquia" o Capitalismo quer eliminar o "excremento social"


São as raras as sequências que superam o filme original. “Uma Noite de Crime 2: Anarquia” (“The Purge: Anarchy”, 2014) é um desses raros casos. Não pela estética que, como no original, emula uma produção B. Mas porque é um perfeito documento do espírito de época atual, pós-globalização, no qual o hiper-capitalismo financeiro procura criar uma nova ordem a partir do rescaldo da crise de 2008: o aumento do "excremento populacional" (idosos, aposentados, inválidos, imigrantes, excluídos, miseráveis, refugiados etc.) que nem mais para serem explorados servem. Se o primeiro filme refletia as reações da ultra-direita contra o “Obama Care”, nessa sequência o roteiro de James DeMonaco reflete a nova ordem pós-globalização: formas invisíveis de controle populacional com o objetivo de exterminar o “excedente humano”. DeMonaco dá ao espectador nessa sequência uma noção mais ampla dos efeitos e propósitos da “Purgação” – a noite anual em que todas as formas de crime são permitidas, sob o pretexto de servir de válvula de escape para a besta interior presente em cada um de nós, garantindo a ordem social. Mas os propósitos de controle social são mais sombrios.

domingo, dezembro 16, 2018

Como envenenar psiquicamente um povo no filme "Os Demônios"


“Os Demônios” (“The Devils”), de Ken Russel, é um filme tão blasfemo, obsceno e relevante hoje quanto foi em 1971. Um terror religioso épico e uma contundente crítica do abuso do poder político. Um filme sobre fatos históricos ocorrido no século XVII (um padre condenado à fogueira acusado de bruxaria), filmado no século XX, mas que continua atual no século XXI: os tribunais eclesiásticos da Inquisição foram muito mais do que produtos do fanatismo religioso. Foram instrumentos de “lawfare” para a dominação política da Igreja. Em “Os Demônios” a Inquisição é um instrumento de uma estratégia mais ampla que hoje chamamos de “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma cidade através da sua maior vulnerabilidade: um Convento de freiras dominadas pela histeria de massa é o pretexto para derrubar a liderança do padre Urbain Grandier, opositor à monarquia absolutista de Luís XIII e do Cardeal Richelieu.

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Satanás é o último dos humanistas em "Últimos Dias no Deserto"


A maior história AstroGnóstica de todos os tempos. De “Jesus Cristo Superstar” a “A Última Tentação de Cristo”, Jesus já foi humanizado de todas as maneiras: dúvidas, tentações, medos etc. Mas nada igual ao despretensioso filme “Ultimos Dias no Deserto” (2015) de Rodrigo Garcia. Nos 40 dias que Jesus passou no deserto orando, jejuando e pedido orientação do seu Pai, a única voz que ouviu foi a de Satanás. Logicamente, o demônio no início vai explorar as fraquezas de uma divindade prisioneira em um corpo humano. Mas Satanás fará (e se revelará) muito mais do que isso. Enquanto Jesus tenta minimizar os conflitos da relação pai e filho de uma família que lhe deu água e abrigo, Satanás mostrará que está sempre um passo à frente. Como se antecipasse todos os pequenos detalhes de uma história que parece já conhecer de antemão. Como se a Criação fosse uma repetição na qual, curioso, Satanás tenta entender o propósito de tudo. Olhando pelo ponto de vista da humanidade prisioneira em uma repetição cósmica. Seria Satanás o último dos humanistas em “Últimos Dias no Deserto”? Filme sugerido pelo nosso leitor Matheus de Alcântara.

quarta-feira, dezembro 12, 2018

Com João de Deus, Manchinha e bonapartismo de Bolsonaro, Globo aperta os nós para 2019

Depois de décadas de controvérsias, acusações de assassinato, pedofilia e abusos sexuais, repentinamente “a verdade bateu à porta”, como disse Pedro Bial, e seu programa deu a partida para a caça ao médium-celebridade João de Deus, com atualizações diárias que já rivalizam com a meganhagem também diária das prisões da PF nas telas. Sabemos que para o jornalismo da Globo não basta apenas a verdade “bater a porta” – é necessário a “verdade” ter timing e oportunismo dentro das estratégias políticas da emissora. Soma-se a isso a também repentina indignação e atualizações diárias sobre o espancamento e morte do cão “Manchinha” em um hipermercado em Osasco/SP, uma notícia que na paginação tradicional dos telejornais seria colocada no bloco das notícias diversas. Tudo na semana do vazamento de movimentação atípica de dinheiro na conta de assessor de Flávio Bolsonaro, pressão da grande mídia por explicações e a resposta “bonapartista digital” de Jair Bolsonaro na sua diplomação no TSE: “o poder popular não precisa de intermediação”, apostando nas novas tecnologias para governar o País sem a grande mídia. Fala-se que a Globo “não dá ponto sem nó”:  quais nós a TV Globo está apertando para 2019 com essas “anomalias” jornalísticas no final do ano?  

domingo, dezembro 09, 2018

A civilização se enxerga no abismo no filme "Cold Skin"

Nietzsche nos alertava que quanto mais olharmos para o abismo, mais ele se parecerá conosco. A co-produção Espanha/França “Cold Skin” (2017), do diretor Xavier Gens, vai desenvolver esse insight do filósofo alemão em um mix de Nietzsche (o abismo da não-razão que espelha a razão humana), Charles Darwin (monstros de uma ilha que parecem negar as leis da evolução) e o horror ao estilo de H. P. Lovecraft com elementos do fantástico. Um meteorologista vai trabalhar em uma ilha nos confins da Terra para lá encontrar o operador de um farol em uma guerra particular com criaturas humanoides que parecem negar toda a racionalidade humana representada nas leis evolucionistas. O simbolismo das luzes do farol que tenta iluminar as trevas é o das luzes da razão humana. Mas, como sempre, o homem esquece que essas mesmas luzes também produzem sombras.

sábado, dezembro 08, 2018

"Coletes Amarelos" na França: a revolução não será televisionada!

Até aqui a grande mídia passa batida para “o déjà vu” dos protestos dos “coletes amarelos” na França: em 2013 as chamadas “Jornadas de Junho” no Brasil foram narradas da mesma maneira como hoje noticiam os protestos franceses – “espontâneos”, “apartidários” e que “começam de forma pacífica, mas que acabam tendo atos de vandalismo...”. Também como em 2013, surgem analistas que veem “o novo” na Política ou “quebra do monopólio da narrativa midiática”. Aqui no Brasil vimos no que deram as Revoluções Populares Híbridas. Na Europa estão sincronicamente conectadas com o tour de Steve Bannon (ex-assessor da campanha de Trump) pelo continente para unificar a direita num “movimento internacional de nacionalistas”. Os “coletes amarelos” são icônicos e as câmeras os amam, saturando de significados suas fotografias e vídeos. A revolução não será televisionada:  a mídia não está relatando o que as pessoas fazem; relatam apenas o que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia para o Capitalismo dar um novo salto – o populismo de direita.

domingo, dezembro 02, 2018

Alarme do Ciberespaço! Tempo Real destruirá a Democracia

Einstein teria falado sobre a “segunda bomba”: A bomba eletrônica, depois da atômica. Uma bomba na qual o que o tempo real é para a informação corresponderia ao que a radioatividade é para a energia. Em artigo de 1995, publicado na “Le Monde Diplomatique”, intitulado “Vitesse et Information: Alerte Dans le Cyberespace!”, o urbanista e pensador francês Paul Virilio alertava para o “grande evento que dominará o século XXI”: a corrosão da Democracia pelo tempo real das redes digitais. Um novo complexo militar que o Pentágono iniciava naquele ano – uma “revolução no exército junto com uma guerra do conhecimento que substituirá a guerra de campo”. Eram os esboços cibernéticos que hoje se transformaram em engenharia política. A vitória de Bolsonaro foi um dos laboratórios da corrosão da representação política pelo tempo real. E agora, os protestos dos “coletes amarelos” na França promete que essa engenharia será global.

sábado, dezembro 01, 2018

Cartografias AstroGnósticas do Além em "Destino Especial"

Um filme que ecoa John Carpenter, Spielberg e Stephen King. “Destino Especial” (Midnight Special, 2016) é muito mais do que um filme AstroGnóstico – categoria de filme gnóstico no qual nossa empatia se volta para aliens exilados nesse mundo tentando retornar para sua casa, como uma metáfora da própria condição humana. Um menino dotado de poderes especiais tenta retornar para seu lar, fora desse mundo, enquanto uma seita religiosa e o Governo tentam capturá-lo. Mas, diferente de muitos outros filmes Astro Gnósticos, o lar distante não está nas estrelas, planetas ou universos alternativos. Mas muito mais perto do que possamos imaginar numa espécie de nova "cartografia do além": se estamos exilados nesse mundo, de onde viemos?

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