“Em observação” é a
nova rubrica para classificar filmes que podem ser de interesse para o “Cinema
Secreto: Cinegnose”. Filmes “suspeitos” de explorarem elementos gnósticos,
místicos ou esotéricos. Temas ou narrativas que se enquadrem nos enfoques
semióticos, sincromísticos, psicanalíticos ou cinegnósticos das análises desse
blog. Serão assistidos e avaliados. Se aprovados se tornarão tema dos nossos
artigos.
Para nossos leitores e
seguidores será uma sessão para se atualizar sobre lançamentos e filmes clássicos
ou simplesmente esquecidos na história do cinema e que merecem uma análise mais
atenta.
Safety Not Guaranteed (2012)
Diretor - Colin Trevorrow
Plot: “Wanted: Someone to go back in time with me. This is not a joke.
You'll get paid after we get back. Must bring your own weapons. I Have only
done this once before. SAFETY NOT GUARANTEED”. É
este anúncio colocado num jornal que desperta a atenção de Jeff Schwensen (Jake
M. Johnson) um jornalista de um jornal de Seattle que convence Bridget (Mary
Lynn Rajskub), a sua chefe, a deixa-lo investigar o caso ao lado dos
estagiários Darius Britt (Aubrey Plaza) e Arnau (Karan Soni), em “Safety Not
Guaranteed”, a primeira longa-metragem realizada por Colin Trevorrow. O filme
foi inspirado em um caso real, um anúncio falso colocado nos classificados da Backwoods
Home Magazine.
Por que está
“Em Observação”? – a temática da viagem no tempo
é recorrente na história do cinema. Em geral o tema serve de parábola para a
tentativa dos personagens em tentarem consertar os seus traumas do passado ou
do presente (o imaginário da “segunda chance”) ou a maneira como o filme lida
com a noção de tempo acaba refletindo o imaginário social e tecnológico da sua
época – o tempo visto como imutável ou linear até os anos 1970 e o tempo como um
hipertexto ou como universos alternativos a partir dos anos 1980.
O que promete? - Colin
Trevorrow tem em “Safety Not Guaranteed” um início promissor como diretor de
longas-metragens, ao apresentar um filme independente recheado de boas ideias,
que encontra na sua segurança com a câmara e no argumento, alguns elementos que
surpreendem positivamente e prendem o espectador para o interior de uma obra
cinematográfica que mescla de forma harmoniosa elementos de ficção-científica,
comédia, drama. Ao lidar com um trio de jornalistas que quer investigar o
estranho anúncio sobre alguém que busca companhia para uma viagem no tempo, o
filme promete lidar com o tema do autoconhecimento, algo muito próximo do
conceito de gnose. O problema é que muitas vezes as abordagens sobre o tema
descambam para o terreno da autoajuda, afastando-se do autoconhecimento místico
da gnose.
As Aventuras de Pi
(2012)
Diretor-
Ang Lee
Plot - Adaptação do livro As Aventuras de Pi (Life
Of Pi) de Yan Martel. Pi Patel (Suraj Sharma) é filho do dono de um zoológico
localizado em Pondicherry, na Índia. Após anos cuidando do negócio, a família
decide vender o empreendimento devido à retirada do incentivo dado pela
prefeitura local. A ideia é se mudar para o Canadá, onde poderiam vender os
animais para reiniciar a vida. Entretanto, o cargueiro onde todos viajam acaba
naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote
salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um
orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker.
Por
que está “Em Observação”? – Basta esta
crítica do “Jornal do Brasil” de Alice Turnbull para que passasse à categoria “Em
Observação”: “Lee é capaz de comover os espectadores. Visual, emocional
e espiritual são unidos em uma excelente e grandiosa adaptação que trata das
micro e macro visões da vida, constantemente fundidas, formando paradoxos
infinitos, nos quais o um é o todo e o todo é um. Impossível não se sentir
parte do universo de Pi”.
O que promete? – “um é o todo e o todo é um” faz lembrar o
tema de “Cloud Atlas”: “Tudo está conectado”. A conferir se o filme cairá ou
não no insosso clichê new age do “somos todos um”, um clichê de fundo religioso
que reduz ao indivíduo ao mero fascínio fetichista pelos “mistérios”, forma
conformista de resignação presente em muitos filmes que exploraram essa
temática. Esmero digital e boa utilização do efeito 3D parece ser a principal
promessa do filme, enquanto a crítica especializada aborda de forma genérica ou
reticente o seu conteúdo. Vamos ver se fale a pena um artigo sobre “As
Aventuras de Pi”.