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sábado, junho 07, 2025

Não-acontecimentos: o rompimento amoroso Trump-Musk e a fuga cinematográfica de Zambelli


De um lado, o barulhento rompimento amoroso entre Musk e Trump. Do outro a cinematográfica fuga por terra e ar da deputada federal Carla Zambelli, condenada a 10 anos de prisão pelo STF. De um lado, tudo começou com a piada e trocadilho do DOGE – uma entidade com status indefinido, mas que tocou a música da mídia: corte de gastos! Do outro, tudo termina com cheiro de pusilanimidade proposital da Justiça. Até a imprensa sabia o prefixo, horário de partida e chegada do voo de Zambelli. Por um incrível “golpe de sorte” (duas horas de diferença) o nome da deputada já constaria na lista da Interpol, e ela seria presa no aeroporto. Dois episódios distantes no espaço, mas dotados da mesma natureza: não-acontecimentos criados pela cartilha alt-right de comunicação – duas simulações de acontecimentos: nos EUA, para desviar a atenção das más notícias do governo Trump com as sucessivas derrotas na Justiça; e no Brasil, uma provocação para a esquerda não perceber o movimento de despolarização da Faria Lima com Tarcísio, o Moderado. E o recrudescimento da guerra híbrida dos EUA no Brasil.

sexta-feira, junho 06, 2025

Tecnognosticismo, Aceleracionismo e a elite tecnológica amoral no filme 'Mountainhead'

 


A princípio, “Mountainhead” (2025), que estreia na HBO Max, é mais uma produção na onda atual de mostrar como os super-ricos podem ser tristemente ridículos. Em um mundo onde a inteligência artificial causa turbulência política e instabilidade internacional, com os cidadãos do planeta incapazes de distinguir a realidade, quatro bilionários magnatas da tecnologia responsáveis ​​pelo desastre se refugiam em um chalé isolado nas montanhas. Lá, discutem sobre seus próximos passos, com cada um dos bilionários tentando usar a instabilidade para encher os bolsos. Produções como “White Lotus”, “O Menu” e “Triângulo da Tristeza” parecem nos oferecer o prazer da catarse ao vermos extremamente ricos se darem mal de formas ridículas. Ao contrário, “Mountainhead” não há catarse: como fossem adolescentes amorais, são perigosamente motivados pelas distopias atuais que motivam o Vale do Silício: Tecnognosticismo e Aceleracionismo.

“Pensamentos de pequenos garotos achando que poderão controlar o mundo,
mas agora o mundo é o ciberespaço. O sonho de ser deus do ciberespaço –
ideologia transformada em fantasia de garotos pré-adolescentes:
uma regressão do sexo para uma forma autística de poder”

(Arthur Kroker & Michael Weinstein, “Data Trash”)

 

Em meados dos anos 1990, os cientistas políticos Arthur Kroker e Michael Winstein descreveram de forma crítica o nascimento da chamada classe virtual, formada pela tecno-inteligência de cientistas da cognição, engenheiros, cientistas da computação, criadores de jogos eletrônicos e todo um conjunto de especialistas em comunicação.

Para eles, essa variação histórica da elite burguesa era impulsionada não mais pela ética protestante (como na velha burguesia industrial) mas por um imaginário que denominavam como de “masculinidade pré-adolescente”. É a primeira geração dessa ciber-elite, a geração de Bill Gates e Steve Jobs, que ainda mascaravam esse imaginário com um discurso de relações públicas messiânico, como o discurso da “estrada do futuro” de Gates.

Essa fachada mercadológica cai por terra com a segunda geração, iniciada pela figura emblemática de Mark Zuckenberg e a sua rede social Facebook - um jovem nerd de Havard que desconta sua ansiedade sociopática difamando pessoas em um blog enquanto tem uma ideia divertida, pelo seu ponto de vista: um jogo com as fotos de todas as moças da universidade para que as pessoas possam escolher qual a mais bonita. Assim nasceu o Facebook.

Enquanto seus pares geracionais, Elon Musk e Jeff Bezos fazem questão de não esconderem sua impulsividade adolescente um brinca de apoiar golpes de Estado e apoiar o fascismo politicamente incorreto na sua rede social “X”; e o outro se diverte como astronauta com o foguete Blue Origin ou manda para órbita uma tripulação feminina em sensuais trajes espaciais que fariam inveja ao Capitão Kirk da série Star Trek- clique aqui.

Agora essa elite virtual chegou a sua terceira geração. Uma elite geek dona de startups unicórnios (aquelas cujo valor especulativo chegou a um bilhão de dólares) inspirados em piratas cibernéticos como Julian Assange, Edward Snowden ou o coletivo hacker Anonymous. Ciber-segurança, back-doors, malwares e instruções algorítmicas executadas diretamente no processador, hackers, crackers e black hats, ciber ataques etc. passam a ocupar o vocábulo dessa nova geração.



Com a Inteligência artificial e toda a geopolítica da ocupação das “terras raras” e construção de datacenters para acabar com a soberania digital dos Estados-Nação, eles alcançam o hackeamento final: a da própria realidade, impulsionados pelo imaginário do transhumanismo (a imortalidade de uma consciência digitalizada que habitaria a rede informacional) e aceleracionismo (a “destruição criativa” gerada pela aceleração caótica de processos sociais e tecnológicos). Chegando ao estado da arte dquilo que Kroker e Wistein anteviram no final do século passado: fantasias masculinas adolescentes que regrediriam a formas autísticas de poder.

É sobre essa geração que trata a comédia dramática Mountainhead (2025), o mais recente projeto de sátira política de Jesse Armstrong, criador da aclamada série Succession , da HBO.  Assim como Succession , Mountainhead aborda temas como política, poder e capitalismo de frente, com cada um dos personagens sendo uma paródia dos bilionários da tecnologia do mundo real que influenciam.

Mountainhead se passa em um mundo onde recentes avanços em inteligência artificial causaram turbulência política e instabilidade internacional, com os cidadãos do planeta incapazes de distinguir a realidade. Em meio ao caos, quatro bilionários magnatas da tecnologia responsáveis ​​pelo desastre se refugiam em um chalé isolado nas montanhas. Lá, eles discutem sobre seus próximos passos, com cada um dos bilionários tentando usar a instabilidade para encher os bolsos. Pela TV veem imagens do caos político e humanitário global, enquanto tudo o querem é um final de semana de “zoação”: pôquer e fast-food em uma espécie de clube do Bolinha. Enquanto decidem o destino do planeta.

O filme é uma crítica certeira à megalomania de se autopromover que agora aflige os membros dessa oligarquia tecnológica. O problema, que também eles controlam as alavancas do mundo.

Uma pitada de tudo: megalomania autopromocional, amoralidade adolescente, o sonho da imortalidade, hackeamento da realidade pela IA transformando o caos em “zoação” e a ideologia do aceleracionismo para racionalizar a catástrofe que assistem nas telas dos seus smartphones.



“Uma cabeça explode desse jeito? Isso só pode ser IA”, comenta em tom de piada um vídeo da CNN mostrando mais um sangrento conflito nas ruas de algum lugar no Oriente Médio. Essa é uma pequena amostra das cínicas linha de diálogo de Montainhead.

O Filme

Os quatro homens em Mountainhead se apelidaram de Brewsters e se reúnem há tempo suficiente para que suas noites de pôquer tenham construído uma tradição séria. As regras são: sem falar em negócios (embora tudo o que eles parecem falar seja sobre negócios), sem refeições (a equipe de cozinheiros foi mandada embora e eles se viram apenas com junk food) e sem saltos altos (presumivelmente referindo-se à ausência de mulheres, embora a vida pessoal de cada um desses caras também esteja em ruínas).

Há apelidos - Jason Schwartzman, cujo personagem bajulador Hugo vale apenas US$ 521 milhões, é "Soup Kitchen", ou "Soupes" para abreviar, enquanto Randall (Steve Carell), o membro sênior e eminência parda, é "Papa Bear".

Nesse Clube do Bolinha há uma tradição de homens escreverem com batom o valor de seus patrimônios líquidos no peito e depois serem coroados com um diadema, um chapéu de capitão e um quepe de marinheiro com base em suas classificações. Venis (Cory Michael Smith) é o atual campeão, com US$ 220 bilhões — um sociopata sorridente cuja empresa de mídia social, Traam, acaba de lançar um conjunto de ferramentas de conteúdo que permitem deepfakes, cujos efeitos desestabilizadores sobre governos mundiais são transmitidos por meio de alertas nos celulares cada vez mais alarmantes.



Em terceiro lugar, mas subindo rapidamente, está Jeff (Ramy Youssef), cuja empresa de IA está recebendo um grande impulso com os desastres causados ​​pela última atualização da Traam.

 Sua IA BILTER tem a capacidade de filtrar a inteligência artificial de Venis e torná-la muito mais segura. Por isso, Venis está ansioso para fechar um acordo comercial com ele. No entanto, Jeff age pelas costas de Venis e diz a Randall (o segundo colocado) que eles deveriam ir ao Conselho da Diretoria da Traam para tirar Venis da presidência. Jeff também planeja levar sua IA ao governo dos Estados Unidos, permitindo que eles regulem a IA de Venis, parem com a campanha de desinformação e corrijam a instabilidade no mercado.

Esse é o foco de tensão criada dentro do grupo, diante do cenário distante do mundo em caos nas telas de TV e smartphones no chalé remoto em que estão. Randall tem câncer e não leva a sério os prognósticos dos médicos: “Como pode? Fazemos tantas coisas e não conseguimos consertar uma cartilagenzinha!”. Ele se recusa a aceitar que seu câncer é terminal.

Portanto, vê no impulsivo Venis a realização da esperança transhumanista e aceleracionista para daqui a cinco anos – a possibilidade de um upload final que salve sua consciência digitalizada na rede, tornando imortal. A concretização do sonho tecnognóstico e transhumanista à base de uma IA treinada com dados que estão provocando o caos político – este é um dos princípios aceleracionistas: as mudanças rápidas podem até custar muitas vidas hoje. Mas amanhã, muito mais vidas humanas serão salvas. Principalmente, as vidas das mentes valiosas da elite tecnológica.



Randall não é fã do plano de Jeff – chocado, ele acha que Jeff é um “traidor desacelaracionista”. Imediatamente vai até Hugo e Venis e conta a eles o plano de Jeff, afirmando que precisam impedi-lo de fazer isso. Eventualmente, o trio conclui que matar Jeff é a única opção. Eles racionalizam isso para si mesmos, dizendo que, de uma perspectiva utilitária, matar Jeff hipoteticamente salvaria vidas no futuro, cuja IA de Venis melhoraria. Assim, a segunda metade do filme acompanha Randall, Hugo e Venis enquanto eles tentam matar Jeff de diversas maneiras cômicas.

Nas densas linhas de diálogo (com acenos a insípidas tentativas de filosofia moral baseada em Marco Aurélio, Kant e Nietzsche) há poucos vislumbres de humanidade, revelando um tipo de distópico isolamento do Vale do Silício – a ideia de que qualquer coisa que façam a curto prazo é permitida porque tudo levará à salvação da humanidade.

Uma espécie de irresponsabilidade feliz: autopromoção mercadológica, aumentar o patrimônio líquido sem qualquer regulamentação pública e salvar a humanidade são ideias que convivem entre si tranquilamente nas cabeças bilionárias deles. Afinal, só os muito ricos teriam os meios para perpetuar a raça humana.

Moutainhead é uma comédia dramática que difere da onda atual de produções como Succession, Triangle of Sadness , The White Lotus e The Menu. Todas são comédias que nos asseguram que a elite é miserável, quer recebam o que merecem ou não; elas também nos permitem desfrutar de experiências de segunda mão dos luxos em que se deleitam e das maneiras horríveis com tratam subalternos. De certa forma, essas comédias criam em nós um efeito catártico, como se nós devorássemos os muito ricos – aqueles 1% de privilegiados do planeta.

Ao contrário, Mountainhead nos convida para esse chalé exclusivo num retiro gelado das montanhas apenas para que acompanhemos a face externa emocional desses personagens que, caso destruam a sociedade, simplesmente se refugiam em seus respectivos bunkers, garantindo a si mesmos que tudo vai dar certo no final.

"Nada é tão sério assim — nada significa nada, e tudo é engraçado e legal", dispara Venis em certo momento, a filosofia norteadora de alguém rico o suficiente para acreditar nisso.

Em Mountainhead são os ricos que nos devoram, e não há catarse nisso.


 

  Ficha Técnica

Título:  Mountainhead

Diretor: Jesse Armstrong

Roteiro: Jesse Armstrong

 Elenco: Steve Carell,  Jason Schwartzman, Cory Michael Smith, Ramy Youssef

Produção: HBO Films, Hot Seat Productions

Distribuição: HBO Max

Ano: 2025

País: EUA

 

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quarta-feira, abril 09, 2025

"Pesquisismo" revela que a opinião pública não existe. Governo Lula deve entender isso


Nesse momento acompanhamos a publicação frenética de números e gráficos de pesquisas de opinião, diligentemente repercutidas pelo jornalismo corporativo: o derretimento da popularidade de Lula é o prato servido principal. Mas também quer municiar a oposição com simulações de cenários eleitorais com nomes de outsiders como. p.ex., Gustavo Lima. É o “pesquisismo”. Sob o álibi metodológico científico da “pesquisa de opinião pública”. PsyOp clássica de guerra híbrida: transformar em números e gráficos não opiniões, mas PERCEPÇÕES. É o paroxismo de um alerta feito pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu há 58 anos: a opinião pública não existe! O que existe é a fabricação de um artefato que impõe a ilusão de de que existe algo que seria uma coisa assim como a média das opiniões ou a opinião média. Dissimula sistema de forças e tensão política. Se o Governo aceitasse essa natureza viciada do pesquisismo, mudaria sua estratégia: da Comunicação-propaganda para a Comunicação-acontecimento.

segunda-feira, março 24, 2025

Minissérie 'Adolescência': no século XXI, o quarto é o lugar mais perigoso para o jovem ficar


Identidade, autoaceitação, inclusão, rejeição, amor etc. são questões atemporais da adolescência. No passado eram mal resolvidas em ritos de passagem para o mundo adulto. Hoje, ganham repercussão em tempo real nas redes sociais, fóruns e grupos de discussão. Que viraram caixa de ressonância para a frustração, cismogênese e supremacismo de raça e gênero como resposta. Enquanto professores e pais perplexos se perguntam: o que fazer com nossos alunos e filhos? Esse é o tema da minissérie Netflix “Adolescência” (Adolescence, 2025) sobre um garoto de 13 anos acusado de matar uma colega de classe. Nunca o próprio quarto passou a ser o lugar mais perigoso para um adolescente estar. Destilando ódio, baixa autoestima, à procura de um culpado nas telas. Enquanto as Big Techs turbinam e monetizam o mal-estar psíquico com a economia da atenção.

quinta-feira, março 06, 2025

A invenção do inimigo externo na Minissérie "Dia Zero': um projeto abortado da Netflix?



Os EUA sofrem um inesperado ciber ataque: um minuto a nação fica sem energia e comunicações. O suficiente para gerar o caos com pesadas perdas materiais e humanas. Com uma mensagem ameaçadora em cada celular: “Isso acontecerá novamente!”. Uma comissão especial, com poderes marciais, é criada para investigar. Um ex-presidente aposentado é chamado para chefiar a Comissão. Terá que se defrontar com uma escolha: ou protege a Nação com uma versão curativa do inimigo externo (a culpa é dos hackers russos) ou encara uma conspiração na própria casa. “Dia Zero” (Zero Day, 2025) parece uma minissérie pastiche de seis episódios costurados pelos algoritmos da Netflix. Mas com elenco tão estelar (primeiro filme para a TV de Robert De Niro) que parece outra coisa: um projeto abortado com a inesperada vitória de Trump e entregue editada apenas como minissérie –  originalmente seria uma produção com várias temporadas que hipernormalizaria um hipotético governo Kamala Harris.

sexta-feira, janeiro 31, 2025

'Trilha Sonora para um Golpe de Estado': do Jazz às redes sociais, a música continua a mesma


O fonógrafo de paraquedas, a mais nova arma da América jogado do céu com música pró-americana. O toca-discos pode ajudar a vencer a guerra fria”. O jornal NYT estampava essa manchete em 1955, celebrando a mais nova arma na Guerra Fria: o Jazz. O documentário belga “Trilha Sonora para um Golpe de Estado (Soundtrack to a Coup d'Etat, 2024, em cartaz no cinema) revela como a CIA e Departamento de Estado utilizavam os chamados “Embaixadores do Jazz”, músicos como Louis Armstrong, Nina Simone, Duke Ellington e Dizzy Gillespie, como cavalos de Tróia – junto com eles desembarcavam no país anfitrião espiões e mercenários para prepararem golpes de Estado. Como em 1961, na ex-colônia belga República Democrática do Congo: a chegada apoteótica de Louis Armstrong encobriu a operação de assassinato de Patrice Lumumba, ex-primeiro-ministro e líder africano. O urânio do Congo foi decisivo para fazer a primeira bomba atômica dos EUA. E o Ocidente queria mais. Hoje, em busca de lítio e metais raros, as Big Techs não precisam mais do Jazz. Têm as redes sociais. Será que as lendas do Jazz estavam conscientes do seu papel na Guerra Fria?

sexta-feira, outubro 04, 2024

Pós-meritocracia: grande mídia foi traída pela Faria Lima


Poucos estão percebendo uma sutil ironia que envolve o crescimento desse novo ecossistema digital composto, de um lado, pelas apostas e cassinos online; e do outro, a atração da classe média pela diversificação das carteiras de investimentos no alcance dos dedos na tela de um smartphone. “Colonistas” da grande mídia estão se sentindo traídos pelo seu maior aliado e patrocinador, a Faria Lima, a “elite irresponsável” que se apaixonou pelo “forasteiro” Pablo Marçal. Mais do que um hype, Marçal é um sintoma do zeitgeist desse novo ecossistema digital: a pós-meritocracia e a gameficação. Que coloca em xeque a ideologia do mérito-empreendedorismo que o jornalismo corporativo abraçou como a terra prometida pós golpe de 2016. Não chegamos a nenhuma terra prometida, enquanto a Faria Lima descobriu que está no mesmo negócio de apostas e cassinos. Pós-meritocracia: o povo não quer mais empreender, quer jogar!

quarta-feira, junho 26, 2024

Da Lava Jato ao PL do Estupro: CogWar, OTAN e a nova etapa da Guerra Híbrida


Hoje uma nova operação Lava Jato seria impossível. A agenda da guerra híbrida mudou: enquanto a primeira fase (as “primaveras” e “revoluções coloridas”) foi marcada por operações psicológicas, nesse momento a guerra híbrida entrou no modo Guerra Cognitiva (CogWar). É o que mostra o relatório resultante de painéis de discussões da OTAN “Mitigating and Responding to Cognitive Warfare”, de 2023. Enquanto as PsyOps visavam a influência das crenças, a CogWar age sobre cognições, excesso sensorial e perceptivo; saturação da atenção e geração de viéses cognitivos. Trata-se agora tornar o debate público irracional, forçando vieses baseados em religião, valores e costumes. O “PL do Estupro” é um exemplo que cria o chamado “efeito firehose”, aversão à política e despolitização.

sexta-feira, junho 14, 2024

Por que a extrema-direita cresce? Assista ao filme 'Não Espere Muito do Fim do Mundo'


Se no passado era a religião, hoje quem cria as imagens do Apocalipse é Hollywood. Com um ponto em comum em suas variações: um fato marcante como guerra nuclear, uma pandemia etc. Mas e se o apocalipse for uma fato tão banal e cotidiano que não percebemos, fruto da nossa capacidade hercúlea de normalizar e racionalizar? Essa é a visão diretor romeno Radu Jude em “Não Espere Muito do Fim do Mundo” (Nu astepta prea mult de la sfârsitul lumii, 2023,  disponível na MUBI): a luz se apagará tão sutilmente que não perceberemos até que tudo esteja escuro como breu. O filme acompanha um dia de trabalho da produtora de vídeo corporativo precarizada, condenada a horas extras mal remuneradas e que desconta todo o seu ódio e resentimento no seu alterego obsceno ultra-macho no TikTok, com um humor duvidoso em torno de estupro, xenofobia, misoginia e ódio. Quer saber por que a extrema-direita internacional está crescendo? Assista a este filme.

sexta-feira, maio 31, 2024

Marcha para Jesus, escola cívico-militar... extrema direita faz esfera pública fascista. E a esquerda?


Da Marcha para Jesus, passando por templos religiosos dando “assistência espiritual” a PMs e chegando a sanção da lei em SP que institui escolas cívico-militares, acompanhamos a estratégia da construção de uma esfera pública fascista. Para entendermos a gravidade política disso, precisamos compreender o conceito de “esfera pública”, sempre confundida com a noção de “opinião pública”. Sobrevalorizamos o expertise digital da extrema direita nas redes sociais e Internet: o seu timing, a velocidade na produção de recortes, memes e a linguagem da lacração. O que fez os progressistas partirem para a militância digital, enquanto a esfera pública de esquerda se fregmentou em “progressismos”e as ruas foram abandonadas. Qual a importância da esfera pública na comunicação? Não importa a linguagem ou o poder midiático. A esfera pública vai além da propaganda. Sem uma esfera pública de relações face a face, nenhum conteúdo midiático é sancionado.

terça-feira, maio 07, 2024

Celebração de Madonna, fiasco do 1º de Maio e calamidade pública no RS: espasmos da realidade


O escritor Norman Mailer dizia que no despertar de grandes acontecimentos ocorrem estranhas coincidências, como fossem espasmos da realidade. A semana passada ocorreu um fenômeno sincrônico com três coincidências significativas num mesmo espaço de tempo: começou com o fiasco do Primeiro de Maio na quarta-feira, encerrando com a simultaneidade da calamidade pública no Rio Grande do Sul enquanto Copacabana fervia com o show gratuito de Madonna para mais de um milhão de pessoas. Eventos sincrônicos revelam a ironia das causas-efeitos: enquanto um banco comemorava 100 anos celebrando em um megashow a sua concepção de projeto de Nação imposto ao País pela hegemonia do financismo, os efeitos desse projeto repercutiram – a precarização de uma força de trabalho dessindicalizada e a catástrofe ambiental que veio depois do comemorado superavit fiscal dos ajustes das contas públicas do RS. 

terça-feira, abril 23, 2024

'Guerra Civil' alinha-se a agenda do Grande Reset Global e manda democracia às favas



Há uma urgência da destruição no cinema americano: aliens, terroristas, asteroides, zumbis etc. Mas “Guerra Civil” (Civil War, 2024), ironicamente dirigido por um britânico, Alex Garland, foi diabolicamente inteligente: dessa vez o espetáculo não é ver edifícios icônicos de Washington DC indo pelos ares. O que principalmente está indo pelos ares é a própria ideia da democracia burguesa. Mais do que isso, o que está em questão em “Guerra Civil” é o próprio fim da ilusão que perpetrou o mito da democracia americana. “Guerra Civil” é uma distopia política que faz todo o sentido Hollywood irradiar para todo o planeta. Porque reforça a mitologia da polarização política como motivo para a crise da democracia – o álibi para justificar a escalada da extrema-direita por todo o mundo no contexto do chamado Grande Reset Global do Capitalismo. 

quarta-feira, novembro 01, 2023

Israel de Netanyahu é o sonho erótico totalitário da extrema direita brasileira


Orgulhosamente policiais de SP “escoltam” reservistas israelense no embarque para a guerra Israel/Hamas; numa ação conjunta entre Polícia e Exército, 45 militares invadem uma comunidade em Guarulhos/SP atrás de armas furtadas do Exército; na primeira leva de brasileiros repatriados, uma excursão religiosa ostenta orgulhosamente a bandeira de Israel enquanto canta o hino nacional; após Rio arder em chamas, grande mídia ansiosamente aguarda que Governo parta para o enfrentamento com tropas da Força Nacional; no dia seguinte à morte de aluna em atentado numa escola estadual, o governador de SP anuncia seguranças privados em escolas. Se preferir, podemos tomar esses eventos como acontecimentos isolados. É mais tranquilizador. Porém, há um projeto subterrâneo que envolve a conquista do imaginário coletivo através do fetichismo das armas, guerra e meganhagem: o sonho erótico totalitário de um Estado análogo ao Estado militarizado de Israel de Netanyahu.  

quarta-feira, agosto 23, 2023

Comunicação 'alt-right' cria dissonâncias cognitivas para aloprar cenário político


O escândalo das joias das arábias. Um militar ajudante de ordens operador financeiro e vendedor de muambas, além de não saber deletar arquivos do celular. Um hacker contratado para um trabalho inútil: hackear urnas eletrônicas sem ligação com Internet. O presidente que atiça o golpe com empresários no WhatsApp. Bem-vindos ao primeiro golpe de Estado anunciado à luz do dia na História! O “gênio” da comunicação alt-right é “aloprar” o cenário político. Criar uma profusão de acontecimentos, reviravoltas, desmentidos, vazamentos, delações, “caneladas”. Em síntese, criar uma atmosfera de dissonância cognitiva. Acelerar o tempo político para coincidir com o tempo midiático da velocidade e instantaneidade com não-acontecimentos que simulam suposta tentativa de golpe para criar dissonâncias cognitivas e ocultar o verdadeiro golpe militar híbrido que já aconteceu. Esconder os rastros das FFAA e fazer a esquerda reagir com o fígado.

quarta-feira, fevereiro 15, 2023

OVNIs e Jung na Guerra Cognitiva da Guerra Fria 2.0


Em 2021 este “Cinegnose” já apontava o início da estratégia cognitiva de aproximação entre OVNIs e Guerra Fria 2.0 contra o eixo Rússia/China. Naquele ano, começava o hype das autoridades dos EUA e da mídia em torno do fenômeno OVNI com a publicação de relatório da Inteligência e imagens de jatos de caça perseguindo objetos voadores. No mesmo ano, a OTAN promovia um encontro cujo painel principal era sobre Guerra Cognitiva – aspecto da Guerra Híbrida que vai além da guerra da informação. Os três “OVNIs” abatidos por EUA e Canadá, cuja natureza seria mais terrestre (chinesa) do que interplanetária, já é a guerra cognitiva em ação. Além de desviar a atenção da denúncia de terrorismo dos EUA no Nord Stream e o novo Chernobyl criado por um acidente ferroviário em Ohio, há algo maior: alterar a nossa cognição ao contaminar ficção e realidade através do arquétipo dos discos voadores, tal qual descrito por Carl G. Jung.

quarta-feira, novembro 02, 2022

O "Capitólio rodoviário": Joe Biden não quer mais golpes no seu quintal


É irônico ver o senhor das guerras híbridas e cognitivas nos oito anos como vice de Obama, Joe Biden, cumprimentando Lula (alvo da “primavera” brasileira patrocinada por Washington) e o felicitando pelas eleições “livres e confiáveis”. E mais irônico ainda é ver o “Brasil Profundo” (abduzido pelas PsyOps da guerra híbrida) não conseguir mais sair do personagem e viver numa realidade paralela achando que o ministro Alexandre de Moraes foi preso e os militares farão uma “intervenção constitucional” em meio ao “Capitólio rodoviário”. Biden não quer mais golpes no seu quintal. Agora é a agenda neoliberal progressista. Que levou Lula ao segundo turno e a vitória sob condicionante e chantagens – a maior delas, a ameaça de “trancredização”. Enquanto isso, aparecem os primeiros indícios de que a lua de mel da grande mídia com a “festa da democracia” será curta.

sexta-feira, junho 10, 2022

Por que transtornos mentais são aderentes à extrema-direita?

  


Do nada, uma senhora começou fazer ofensas racistas contra uma família negra que entrou em um vagão do metrô em Belo Horizonte. Foi repercutido pela grande mídia e redes sociais como mais um caso de uma escalada de racismo, intolerância e ódio no País. Visivelmente os ataques partiram de uma pessoa que sofria de transtornos mentais. Esse não é um caso isolado: por que, na sua esmagadora maioria dos casos, os transtornos mentais se expressam através de significantes de extrema-direita? Por que o ódio, intolerância, racismo, preconceito, estereotipagem do outro etc. são signos aderentes aos transtornos psíquicos? Alguém já viu um psicótico tendo surtos “esquerdistas” de intolerância contra a classe dominante? Há uma farta bibliografia sobre pesquisas que conectam transtornos mentais com extremismo de direita. As mais recentes são sobre a hipótese da “cognição socialmente motivada” – quando casos como esse criam visibilidade midiática cria-se um paradoxal “efeito copycat”: o efeito de imitação como feedback, matéria prima psíquica da cismogênese da guerra híbrida.

sexta-feira, abril 01, 2022

O 'mind set' da guerra híbrida no filme 'Batman'


Pouco depois dos atentados de 2001 nos EUA, o Governo Bush reuniu-se com os chefões da indústria do entretenimento, em um hotel de Beverly Hills, definindo uma Agenda Hollywood para os próximos 20 anos com as linhas gerais para produção de conteúdos. Entre elas, a intensificação das franquias de super-heróis das franquias Marvel e DC Comics. Mais do que impor valores americanos, a estratégia era de criar o “neurocinema”: através do universo expandido das franquias, criar um “mind set” necessário para as “revoluções híbridas” planetárias da geopolítica dos EUA. “Batman” (The Batman, 2022) de Matt Reeves é a produção mais acabada dessa Agenda – como o senso particular de justiça de Batman criou um monstro: uma versão Incel do Charada numa Gotham doente e decadente, no qual ressentimento e o senso de antipolítica pavimentam a ingovernabilidade necessária para todas as “revoluções coloridas” globais.

quinta-feira, dezembro 09, 2021

A operação psicológica Lula-Alckmin e um conto identitário de Natal


Se para o PT a chapa Lula-Alckmin está ainda em discussão, para a grande mídia já é realidade: “pode definir a eleição”, diz colunista de “O Globo”. Por que a grande mídia está tão entusiasmada com a aliança? A primeira pista está no destaque midiático dado pelo arquivamento pelo MPF da acusação contra Lula no caso do Triplex, após a grande mídia ficar em silêncio em todas as vitórias judiciais anteriores do ex-presidente. Há uma típica psyOp militar em andamento: dissonância cognitiva – é mais fácil enganar alguém convencendo-o de que está certo, ao invés de dizer que está errado. “Lula-Alckmin” legitima estratégia de Moro para fugir dos incômodos temas econômicos que deveriam ser discutidos no campo da economia política. E não sob o discurso do justiçamento moralista da corrupção. Também o ex-juiz conta com o discurso do identitarismo, apropriado pela grande mídia, como demonstra um verdadeiro conto de Natal distópico e identitário narrado pelo jornalismo corporativo nessa semana.

quinta-feira, outubro 21, 2021

Depois da Guerra Híbrida: discos voadores e Guerra Cognitiva na Guerra Fria 2.0


Tendo a pandemia Covid-19 como janela de oportunidades, ocorrem dois eventos sincronicamente ligados no atual contexto da escalada da Guerra Fria 2.0 – no lugar dos velhos soviéticos, os malvados favoritos russos e chineses. De um lado, depois de décadas como tema tabu, os discos voadores viraram hype na grande mídia, depois de um relatório do Pentágono que suspeita de “aeronaves hipersônicas chinesas” por trás do fenômeno OVNI; e os eventos chamados “Desafios de Inovação” promovidos pela OTAN que apresentam o próximo passo da Guerra Híbrida: a Guerra Cognitiva – a militarização das neurociências e a transformação do cérebro de civis em campo de batalha, para defende-los da suposta ofensiva cognitiva da Rússia e China. Oportunidade de manipulação e controle de uma nova engenharia social, testada no Canadá em 2020 na coleta militar de big data, sob alegação de se tratar de programa para combater a pandemia.

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