domingo, fevereiro 28, 2016

Em "Cavaleiro de Copas" a bebida do esquecimento que enche nossos copos


Livremente inspirado no Tarot e num poema gnóstico cristão do século II chamado “Hino da Pérola”, o filme “Cavaleiro de Copas” (2015) mostra como a crise criativa de um roteirista de Hollywood pode ser o início de uma reflexão sobre o vazio existencial do sucesso material. O protagonista Rick (Christian Bale) vaga por uma Los Angeles e Las Vegas como um estrangeiro em um deserto e percebe como a indústria do entretenimento levanta espelhos e cenografias que não nos deixa ver o que está por trás: horizontes e pontos de fuga. Tal como nos fala os versos do “Hino da Pérola”, é a bebida que enche o nosso copo diário de esquecimento. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Curta da Semana: "Em" - o Tempo que nos separa


O curta “Em” (2013), do coletivo de cinema paraense “Quadro A Quadro”, leva às últimas consequências o significado dessa preposição: a intensidade do amor e do prazer se sucedem nos breves instantes da vida de um casal, mas o Tempo irá corroer até tudo extinguir, dividindo-os assim como a faca que corta o pão. Livremente inspirado na poética do paraense Max Martins, o curta consegue, através da linguagem audiovisual, expressar um tema tão abstrato: como o Tempo manifesta-se dentro de nós. Como introjetamos em nós essa falha cósmica - destruição, dissipação, morte, entropia.

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Nos labirintos da Nova Idade Média com Umberto Eco


Falecido aos 84 anos nessa sexta-feira em Milão, Umberto Eco criou um projeto inédito: o encontro da Semiótica com o Medievalismo. Especialista em Idade Média, Eco  afirmava que procurava encontrar aspectos medievais no presente. O que levou a criar o seu projeto semiótico em uma simples definição: “é a disciplina que, a princípio, estuda tudo aquilo que possa ser usado para mentir”. Por isso, o frade detetive do livro/filme “O Nome da Rosa” tornou-se a síntese daquilo que Umberto Eco buscou em toda vida: leitores críticos que conseguissem escapar dos labirintos medievais das interpretações que fingem ser verdades e que apenas replicam “autorictas”. Eco testemunhou no final a criação da nova versão desse labirinto - a Internet. E alertou a necessidade de um novo leitor crítico que encontrasse uma nova saída desse labirinto: a Teoria da Filtragem.

A Idade Média sempre foi uma constante obsessão para o chamado “mago de Bolonha”. Embora Umberto Eco escrevesse com a mesma desenvoltura temas tão diversos desde tratados de estética medieval, ensaios sobre histórias em quadrinhos e cultura de massas, passando pelos fenômenos da significação na Semiótica e linguística e chegando à ficção ao se tornar romancista de sucesso mundial com livros como O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault, seus conhecimentos de medievalista sempre serviram como uma lente através da qual analisava qualquer tema.

sábado, fevereiro 20, 2016

Mídia esconde dissidentes de Einstein na descoberta das ondas gravitacionais


O anúncio de que pela primeira vez cientistas detectaram ondas gravitacionais que passaram pela Terra originadas de uma fusão de dois buracos negros foi recebido pela grande mídia como “revolução na astronomia”,  “janela aberta para um novo Universo” e “confirmação das previsões da Relatividade Geral de Einstein”. Mas todo esse “hype” que leva a grife de Einstein (o ícone pop da genialidade) esconde uma crise na Física provocada pelos resultados de experiências com interferômetros que buscam ondas desde o século XIX: a disputa entre Éter versus Relatividade – de um lado os dissidentes de Einstein (Nikola Tesla, Dayton Miller etc.) que defendiam um Universo cujo espaço é preenchido pelo Éter (substrato pré-físico de onde se originaria toda energia); e do outro o modelo Newtoniano do vácuo e inércia, além de Einstein que substituiu a noção de Éter pelo continuum espaço-tempo. A descoberta dos cientistas do LIGO suscita a dúvida central dessa crise: como uma onda se propaga no vazio?

Pessoas de todo mundo comemoraram nesse mês o anúncio de cientistas do LIGO (Laser Interferometer Gravitational Wave Observatory nos EUA) de que, pela primeira vez, foram diretamente detectadas ondas gravitacionais – ondulações no tecido do espaço-tempo previsto há 100 anos na Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.

Em setembro do ano passado a dupla de detectores do observatório, localizados na Louisiana e Washington, gravaram uma fraca vibração que atravessou o planeta. As análises revelaram ser ondas gravitacionais originadas do encontro de dois buracos em movimento de espiral que se fundiram criando um cataclismo cósmico que deformou o espaço-tempo.

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Comercial da Samarco é aula sobre as técnicas indiretas e a canastrice da propaganda


Uma desastrada estratégia de gestão de crise?  Ou um exemplo daquilo que o pai das Relações Públicas, Edward Bernays, chamava de “técnica indireta”? O fato é que o comercial da Samarco "É sempre bom olhar para todos os lados" veiculado em horário nobre na TV (que a revista “Meio & Mensagem” chama elogiosamente de “prestação de contas” das medidas de controle de danos ambientais) revoltou muitos internautas. Mas como diria Nick Naylor (o relações públicas do Tabaco no filme “Obrigado Por Fumar”) “Eu não quero convencer você, mas eles!”, diz apontando para as pessoas anônimas que caminhavam ao redor – a Opinião Pública. O comercial da Samarco é uma aula sobre todas as táticas de propaganda que envolvem as chamadas "técnicas indiretas":  naturalizações, descontextualizações, inversões de hierarquia e, no final, a cereja do bolo: a canastrice da linguagem audiovisual.

Sobrinho de Freud e considerado o pioneiro das técnicas de relações públicas, Edward Bernays no seu livro Crystallizing Public Opinion (1923) nos oferece um exemplo que abriria a nova era das chamadas “técnicas indiretas” de manipulação da opinião pública: Os proprietários de um decadente hotel consultam um conselho de relações públicas. Eles perguntam como melhorar o prestígio do hotel e incrementar os seus negócios.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Editor do "Cinegnose" apresenta experiência do Cinema na sala de aula como Acontecimento


Normalmente pensamos o cinema como entretenimento ou como um meio pelo qual podemos ter informações que nos façam repensar o mundo. Mas isso é comunicação? Ou estamos confundindo comunicação com sinalização e informação? Quando o cinema de fato comunica? Esse foi o tema discutido por esse blogueiro no III Seminário Anhembi Morumbi de Estudos do Ensino Superior – um estudo de caso sobre a exibição do filme “Como Fazer Carreira em Publicidade” (1989) em sala de aula e o mapeamento de fenômenos de comunicação como “Acontecimento” durante e depois da recepção do filme. A experiência foi tentar redefinir o conceito de comunicação como Acontecimento – aquilo que provoca crise e altera a vivência. Aquela experiência que, depois, já não somos mais os mesmos.

Esse humilde blogueiro que escreve essas mal traçadas participou ontem (16/02) do III Seminário Anhembi Morumbi de Estudos do Ensino Superior apresentando o trabalho Como Fazer Carreira em Publicidade com Massumi, Shaviro e Whitehead: Cinema e Acontecimento Comunicacional na Sala de Aula.

domingo, fevereiro 14, 2016

Curta da Semana: "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade


O Curta da Semana vai para uma produção brasileira inspirada em leituras gnósticas feitas aqui no “Cinegnose”. O curta “Estado de Suspensão” (2015) de Renan Lopes foi um trabalho experimental do curso de Cinema e Mídias Digitais do Centro Universitário IESB de Brasília. Baseado no conceito de “suspensão” como estado de consciência que induziria a gnose (proposto por Basilides de Alexandria em II DC), um protagonista deve fazer uma importante escolha para sua vida: ou a realidade, ou o sonho. Mas ele vai buscar uma terceira via: o “estar entre”.

Um  personagem vaga pelas ruas de alguma cidade-satélite de Brasília após olhar para o seu cartão funcional pendurado no pescoço. Embarca em um ônibus, coloca um headphone e adormece – sonha atravessando uma ponte e depois com uma câmera digital na mão capturando imagens. As paisagens são ao mesmo tempo urbanas, desérticas e áridas. Parece que há algo que deve ser decidido na vida do protagonista – uma escolha entre aquilo que o cartão funcional representa (o trabalho e a realidade) e o que aquela ponte e a câmera digital simbolizam – o sonho e o cinema.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Bebê-diabo, zika vírus e a busca da relevância perdida pela grande mídia


Se no passado era fácil diferenciar o Jornalismo da chamada “imprensa marrom”, hoje a perda da relevância da grande mídia frente às tecnologias de convergência a faz tomar medidas desesperadas que confundem o sensacionalismo com informação: criam-se situações de exceção, crises econômicas e políticas, pandemias, ameaças terroristas crescentes, iminentes catástrofes geológicas, climáticas, astronômicas e assim por diante numa espiral especulativa. Da clássica história do “bebê-diabo” nos anos 1970 às pandemias promovidas a cada temporada mudou-se apenas a motivação: lá, o jornalismo por centavos; agora, a busca de uma relevância perdida.

Numa Chicago dos anos 1930 marcada por segregação étnica e choques entre culturas de imigrantes, o sociólogo Ezra Park assinalava a importante função integradora dos jornais – como a imprensa contribuía para a integração dos imigrantes à população local. Essa visão sobre a função integradora da imprensa marcou a distinção entre a grande imprensa e a chamada “imprensa marrom” – ao contrário, uma imprensa “desintegradora” porque apostava no sensacionalismo, no medo e no individualismo para unicamente vender mais jornais.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

O Universo foi criado por alguém que não nos ama em "Christmas On Mars"


Um filme estranho, trash e psicodélico que confirma que o rock é um gênero musical que sempre retirou suas energias da mitologia gnóstica contemporânea: Detetives, Viajantes e Estrangeiros sempre vagando em nowhere – o Espaço, o Deserto, o Lugar Nehum como símbolos da condição humana, assim como o Major Tom de músicas de David Bowie. Dessa vez no filme “Christmas On Mars” (2008, escrito e performado pela banda de rock indie “Flaming Lips”) vemos Major Syrtis tentando superar uma crise de niilismo, psicose e paranoia que se abateu sobre a tripulação de uma base marciana através da organização de uma festa natalina. Mas terá que superar a confrontação com a “realidade cósmica” – que o Universo foi criado por alguém que não nos ama.

“Ele está vivendo a terceira etapa de um episódio psicótico. Está observando algo que realmente não está ali... isso é causado pela confrontação com a realidade cósmica”, explicam personagens que habitam uma colônia em Marte sobre o comportamento do Major Syrtis – está parado, catatônico, olhando através de uma das janelas da colônia dois técnicos trabalhando no solo marciano.

Christmas On Mars inicia com o pensamento do Major Syrtis ao observá-los: “parecem duas mariposas lutando pela sobrevivência... nunca conheceram uma força do Universo que lhes mostrasse piedade”. A “realidade cósmica” para a qual o Major Syrtis catatonicamente olha é “uma estranha máquina onde todos estão presos”. O Espaço, para onde jamais o homem deveria ter ido porque lá são destruídas todas as nossas crenças internas. Onde a Criação não demonstra a menor piedade ou compaixão.

domingo, fevereiro 07, 2016

Adeus à carne: uma história gnóstica do Carnaval, por Claudio Siqueira


Chegamos a mais um carnaval, a famigerada “Festa da Carne”, embora a etimologia não seja bem essa. Sagrado para os foliões e profano para os carolas, as origens de tal festa possuem  raízes gnósticas como não poderia deixar de ser. Se “a voz do povo é a voz de Deus”, no Carnaval não poderia ser diferente; ainda que esse deus fosse Dionísio. Embora pouco conhecido pela metafísica do inconsciente coletivo nacional, o maior ritual hedonista brasileiro tem muito a ver com essa antiga divindade grega, que em Roma atendia por Baco. Duvida? Basta reparar no gordo Rei Momo que preside essa folia. Sim, senhoras e senhores! Os arquétipos sempre se repaginam, e o maior ébrio do Olimpo não ia ficar de fora da Saturnália dos trópicos. O "Cinegnose" disseca a história do carnaval, sem se esquecer da Sétima Arte, que o retratou com maestria.

sábado, fevereiro 06, 2016

Platão se encontra com Tarantino no documentário "The Wolfpack"


O leitor deve lembrar da alegoria da Caverna de Platão, diálogo filosófico sobre a condição humana prisioneira de imagens simulacros do mundo real. Na inacreditável história contada pelo documentário “The Wolfpack” (2015, disponível no Netflix) de Crystal Moselle, essa alegoria deixa de ser uma tese filosófica para se tornar real: o que aconteceria se o homem conseguisse sair da caverna de Platão e olhasse a realidade? Sete irmãos cresceram presos pelos seus pais em um apartamento em Nova York. Sem sair às ruas tinham o cinema hollywoodiano (e principalmente filmes do Tarantino, seus favoritos) como o único contato com o mundo exterior e passavam os dias reencenando sequências dos filmes – montavam cenografias e fantasias com papelão de caixas de cereais. O apartamento tornou-se uma caverna midiática e quando finalmente se libertaram, conseguiram ver a realidade apenas a partir das referencias cinematográficas.

Na antiguidade o filósofo Platão acreditava que se o homem conseguisse sair da caverna de onde era prisioneiro, a luz do mundo lá fora e do fogo que projetava os simulacros na parede seria tão intensa que iria ferir os olhos, e ele não poderia ver bem.

Muitos pensadores falam que a caverna de Platão atual é a midiática e que, mesmo se conseguíssemos tentar ver o mundo real desligando todos os equipamentos elétricos e eletrônicos, ainda assim veríamos as coisas a partir das referencias do mundo das imagens que persistem em nossas mentes.

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Curta da Semana: "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche


Brilhante jogo de “narrativa em abismo” (um filme dentro de outro filme e dentro de outro filme e assim por diante), o curta “O Sanduíche” (2000) do brasileiro Jorge Furtado quer trazer o espectador dos simulacros da tela para a realidade de um set cinematográfico – o que um espectador acostumado a ver os filmes prontos na sala do cinema acharia de ver ao vivo o filme sendo produzido no próprio set de filmagem? É o que Furtado propõe: cair em um abismo narrativo até encontrar no final um prosaico sanduíche. Curta sugerido pelo leitor Rafael Mori.

Jorge Furtado é sem dúvida o cineasta brasileiro que mais profundamente explorou a linguagem do formato curta-metragem. Ilha da Flores (1989) é o curta mais lembrado do cineasta e o mais visto na história do cinema brasileiro – considerado pela crítica europeia um dos 100 curtas mais importantes do século passado.

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Três evidências de que o zika vírus é uma "Operação Pandemia" midiática


Fica cada vez mais evidente que a grande mídia possui uma pauta pré-estabelecida e que ciclicamente ela é “enriquecida” com a, por assim dizer, "Pandemia da Temporada": SARS, Gripe Aviária, Gripe Suína, Ebola... e agora a pandemia Zika. Com o terrível surto de casos de nascimentos de bebês com microcefalia. Apesar de estudos científicos contrários, a mídia e Governo se apressam em estabelecer ligação inequívoca entre o zika e os casos de má formação. Evidências contrárias são imediatamente rotuladas como “teorias conspiratórias” diante da inquestionável “emergência sanitária internacional”. A Crise Zika seria mais uma “Operação Pandemia” midiática?  O objetivo dessa suposta operação seria esconder da opinião pública três outros fatos envolvidos na Crise Zika: o uso intensivo de pesticidas, a vacina TdaP e mosquitos geneticamente modificados.

Desde que o ano iniciou, o jornalismo da grande mídia brasileira parece engessado em uma pauta recorrente de cabo a rabo da sua programação diária: no Brasil, Operação Lava-Jato, corrupção e crise econômica; no Exterior, a catástrofe econômica da Venezuela (que substitui a da Argentina, agora supostamente rediviva após a vitória de Macri), o combate anti-terrorismo e a crise dos refugiados na Europa – o que para a pauta “investigativa” dos correspondentes no velho continente, sempre apressados em buscar “conexões”, terroristas e refugiados quase sempre são a mesma coisa.

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