No livro bíblico
do Gênesis, a história da arca de Noé tem apenas três páginas. Conhecendo o
senso hollywoodiano de espetáculo e a inclinação de Darren Aronofsky em
explorar complexas simbologias místicas e esotéricas, era de se esperar que o
filme “Noé” (Noah, 2014) não fosse um thriller bíblico nos moldes de “Os Dez
Mandamentos”. Pelo contrário, Aronofsky subverte o famoso personagem bíblico
através de uma releitura gnóstica e cabalística. O diretor não só abandonou a
Bíblia como transformou a Serpente do Jardim do Éden no personagem principal,
trazendo para as telas a antiga versão gnóstica do mito do Paraíso, sob uma
embalagem atual política e ecologicamente correta.
Quem conhece a
obra do cineasta Darren Aronofsky, sabe que se pode esperar de seus filmes
profundos simbolismos místicos e esotéricos. Foi assim em filmes como Pi
(um thriller cabalístico onde um gênio matemático procura uma constante
numérica universal), Cisne
Negro (fábula gnóstica sobre a exploração da luz interior humana por um
demiurgo representado pelas exigências mercadológicas de uma companhia de balé)
e Fonte
da Vida (uma jornada de elevação espiritual através de complexos
simbolismos gnósticos e alquímicos).
Com o filme Noé (Noah, 2014) não poderia ser diferente. Porém, desta vez
Aronofsky saiu do campo dos dramas seculares traduzidos por simbolismos para
entrar em uma narrativa bíblica fazendo uma releitura paradoxalmente sem
referência à Bíblia: Aronofsky fez uma subversão flagrantemente gnóstica e
cabalística do famoso personagem bíblico.