terça-feira, fevereiro 11, 2014

Em Observação: "Computer Chess" (2013) - Inteligência Artificial e cultura nerd

Softwares de xadrez tentam imitar a inteligência humana enquanto programadores de computador discutem o que os motivam a procurar a Inteligência Artificial. Ambientado no início dos anos 1980, “Computer Chess”, o filme faz um mergulho ao mesmo tempo sério e bem-humorado na cultura nerd dos engenheiros do Vale do Silício: suas motivações, esquisitices e a estranha relação fetichista com os computadores que estava por trás do início da explosão da indústria da tecnologia nos EUA. Filmado em preto e branco, o filme cria uma estranha atmosfera retro como se testemunhássemos a intimidade de pessoas que acreditavam que a matemática e algoritmos poderiam reproduzir a complexidade humana.

domingo, fevereiro 09, 2014

Publicidade explora a geometria sagrada subliminar

Atualmente a inteligência visual publicitária vem mobilizando técnicas cada vez mais sofisticadas que exploram recursos não apenas psicológicos ou comportamentais, mas agora atinge uma dimensão de simbolismo mais profundo: a chamada “geometria sagrada”, expressão usada pelo esoterismo e gnosticismo para designar toda uma área de estudos de como as formas geométricas básicas representam conteúdos arquetípicos e padrões (modelos, ritmos e proporções) que integram o repertório que permite tanto a Natureza como o psiquismo humano se expressar. Com o auxílio das técnicas da semiótica visual, círculos, quadrados e triângulos estariam sendo instrumentalizados para criar uma verdadeira geometria subliminar.

Quantos de nós veem? Em uma cultura onde a informação é transmitida numa forma predominantemente visual, enxergar ou olhar para telas, displays, outdoors, placas, impressos etc. parece ser uma função natural e espontânea. Não nos importamos muito com essa função, a não ser nos seus aspectos oftalmológicos quando necessitamos de lentes corretoras ou de intervenções cirúrgicas.

Continuamos a enxergar ou olhar, mas, de fato, realmente vemos? Essa simples pergunta abrange uma longa lista de atitudes ou funções multilaterais como observar, perceber, compreender, reconhecer, contemplar, descobrir, entre outras. Pesquisadores como Donis A. Dondis sugerem uma complexa “inteligência visual” por trás do simples ato de olhar e aponta para a necessidade de uma “alfabetização visual” para que possamos compreender mais facilmente os significados assumidos pelas formas visuais - Leia DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual, Martins Editora, 2009.

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Comercial "Eu Sou O Futebol" é uma bomba semiótica?

O novo vídeo publicitário da Brahma alusivo à Copa do Mundo no Brasil intitulado “Eu Sou O Futebol” surge no momento de pesada atmosfera política do “Não Vai Ter Copa” nesse início de ano. Numa coincidência significativa, o vídeo toma emprestados clichês midiáticos da cobertura das manifestações para compor o protagonista “Futebol” e a torcida brasileira nas ruas: o “Futebol” como uma figura encapuzada, vestida de preto e calçando coturno e a torcida representada através de uma composição visual ambígua que em alguns planos de câmera parece se assemelhar a manifestantes. O que significaria essa coincidência? Intertextualidade? Ressignificação de signos negativos em imagens positivas tal como no vídeo do ano passado? Um ato falho da criação publicitária? Ou mais uma deliberada “bomba semiótica” para reforçar o pesado ambiente político?

Nosso leitor Francisco Freire se diz intrigado com o novo comercial da Brahma intitulado “Eu Sou O Futebol”, alusivo à Copa do Mundo no Brasil nesse ano. Ele suspeita que  haveria algo de muito errado nesse filme: uma figura protagonista encapuzada, de coturno carregando uma mala preta representando o futebol.

Instigado por esse estranhamento demonstrado pelo nosso leitor, vamos analisar essa peça publicitária e submetê-la uma análise semiótica: será que o comercial da Brahma poderia ser mais uma bomba semiótica? E, o que seria surpreendente, dentro do campo publicitário?!

domingo, fevereiro 02, 2014

Filme "Trabalhar Cansa" disseca as superstições da classe média

O filme brasileiro “Trabalhar Cansa” (2011) a princípio confunde o espectador: É terror? Drama social? Realismo fantástico? A sensação de estranhamento a que são submetidos tanto espectadores quanto os protagonistas Otávio e Helena ajuda formar um tragicômico quadro dos pesadelos das classes médias. Ele, um homem de meia idade desempregado enquanto ela se apega ao ideário do empreendedorismo abrindo um pequeno mercado de bairro. De um lado Otávio se submete ao irracionalismo da religião autoajuda para suportar a realidade da precarização do trabalho; e do outro, Helena tenta compreender fenômenos supostamente sobrenaturais no seu mercadinho onde ao mesmo tempo crescem tensões trabalhistas. Dois instantâneos de uma classe social ao mesmo tempo agarrada no racionalismo da meritocracia e na irracionalidade da autoajuda, magia e astrologia. Na verdade, os dois lados de uma mesma moeda.

Na sua pesquisa sobre a coluna de astrologia do jornal Los Angeles Times em 1952, o pensador Theodor Adorno (principal membro da chamada Escola de Frankfurt) chegou à conclusão de que as previsões que as estrelas faziam para cada signo do zodíaco nada tinham a ver com o Oculto. Para Adorno, a astrologia de massas se tratava de uma “superstição secundária”: o oculto deixa de ser “o estranho” para se tornar institucionalizado, objetivado e amplamente socializado – Leia ADORNO, Theodor. As Estrelas Descem à Terra, São Paulo: Editora Unesp, 2007.

Mais ainda: a busca da felicidade por meio da “supertição secundária” não seria uma irracionalidade que operaria numa esfera exterior à Razão – ilusão, viciosidade, dependência emocional etc. Pelo contrário, ela resultaria dos próprios processos racionais do cotidiano das pessoas: o trabalho, competição, ascensão social, busca pelo mérito, sobrevivência material e sucesso financeiro.

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Crianças chiliquentas e pais frágeis no documentário "Crianças Consumidoras"

A cada ano desenvolve-se uma nova ciência do consumo que turbina um mercado cujos ganhos se equivalem a soma das economias de 115 países pobres: é a ciência do consumo infantil, uma verdadeira “blitzkrieg” contra as crianças através da mobilização de especialistas que vão de antropólogos e sociólogos a neurologistas e cientistas comportamentais. É o tema do documentário “Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância” (2008) que alerta: profundas mudanças no psiquismo infantil estão sendo feitas nesse momento com o desaparecimento da infância por meio do novo perfil etnográfico dos “tweens” (a fusão da infância na adolescência) e o reforço subliminar da “cultura da reclamação” (chiliques, birras etc.) para que crianças insistentes influenciem cada vez mais a decisão de consumo dos pais. E por trás de tudo isso, a manipulação da percepção infantil para que vejam seus pais como seres inseguros, indecisos e frágeis.

Uma indústria de 15 bilhões de dólares que trabalha dia e noite para minar a autoridade dos pais se exime de qualquer consequência social do consumismo infantil alegando que a única responsabilidade sobre o que as crianças comem e compram é a dos próprios pais. “Seria como se de repente o dono de uma grande frota de caminhões anunciasse que de agora em diante fosse trafegar por uma estrada cheia de crianças a 250 km/hora e dissesse: ‘pais, cuidado! É tarefa de vocês cuidarem para que seus filhos não se machuquem!’”, responde Enola Aird, fundadora e diretora do Motherhood Project.

Essa é uma das contundentes declarações de ativistas, pesquisadores e profissionais no documentário Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância (Consuming Kids – The Commercialization of Childhood, 2008), um olhar profundo na forma como as crianças são manipuladas e exploradas em cada detalhe dos seus cotidianos, para não só se tornarem futuras consumidoras mas, inclusive, influenciar nas próprias escolhas de consumo dos pais.

terça-feira, janeiro 28, 2014

A bomba semiótica do fusca em chamas

O bordão “Não tem arroz, não tem feijão, mas assim mesmo o Brasil é campeão” em 1962 e o atual “Não Vai Ter Copa” demonstram que as bombas semióticas são a principal arma de uma guerra psicológica. Se no passado a ação era feita através de cinedocumentários exibidos para as classes pobres por meio de projetores montados em chassis de caminhões abertos, agora é por meio de produção de eventos com alto rendimento midiático, causando impacto mesmo em manifestações com baixo número de "manifestantes". O caso mais recente foram as dramáticas imagens do fusca incendiando e uma família humilde sendo salva das chamas, em uma rara combinação do oportunismo, sincronicidades e significados ambíguos, elementos que são o pavio da detonação de uma típica bomba semiótica.

Em 1990 os telejornais de todo o planeta mostraram chocantes imagens do que ficaram conhecidas como “o ossário de Timisoara”, na Romênia: a descoberta de um ossário de quatro mil vítimas que, afirmavam os repórteres, eram vítimas da ditadura de Ceausescu. E outros milhares de corpos teriam sido dissolvidos em ácido. As imagens atrozes dos cadáveres alinhados sobre um lençol branco marcaram para sempre a derrubada do ditador na chamada Revolução Romena de 1989. Mais tarde descobriu-se que tudo tinha sido um cenário montado para cinegrafistas e fotógrafos: na verdade eram corpos de pobres desenterrados de um cemitério local e cedidos à TV.

É irônico que em uma sociedade tão cética como a nossa onde a máxima “eu só acredito vendo”, que esvaziou simbolicamente as mitologias e religiões ou até a própria existência de Deus, o olhar e as imagens sejam as principais fontes de enganos e manipulações.

domingo, janeiro 26, 2014

Em Observação: "O Destino de Júpiter" será um novo "Matrix"?

Com lançamento no Brasil aguardado para o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma pequena parte de uma gigantesca indústria cósmica.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Transmissão ao vivo e o declínio da vida pública

As críticas do jurista Dalmo Dallari de que a experiência da transmissão ao vivo das sessões do Supremo Tribunal Federal foram nefastas por gerar “vedetismo e deslumbramento” entre os ministros, retirando a sobriedade das decisões, vai de encontro a um fantasma que assombra as ciências sociais: o declínio da vida pública, ameaçada pelas supostas “experiências imediatas” que as imagens transmitidas ao vivo ou em tempo real poderiam proporcionar. A ideologia de uma suposta “transparência” das decisões do Estado por meio das imagens televisivas seria a ponta do iceberg de um processo mais geral de crise esfera pública: se a vida pública foi o auge de um processo civilizatório onde graças as mediações (papéis sociais e a cultura do escrito e do impresso) não sobrecarregaríamos o outro com o eu de alguém, agora numa suposta sociedade onde as imagens se confundem com informação seríamos sufocados pela tirania da intimidade alheia.

Certa vez o comentarista político Robert Lincoln O’Brien fez uma curiosa observação em 1904 na revista Atlantic Monthly: “Não é raro nas cabines de datilografia do Capitólio, em Washington, ver congressistas ditando cartas e gesticulando vigorosamente, como se os métodos retóricos de persuasão  pudessem ser transmitidos para a página impressa”. Atento observador da vida política norte-americana, O’Brien testemunhou nessa insólita passagem o choque de dois imaginários ligados a duas mídias distintas: a tradição da escrita e do impresso de um lado e a obsessão pela impressão cênica que a fotografia e o cinema reforçaram na vida pública.

As críticas do jurista Dalmo Dallari (clique aqui para ler), aproximando a experiência da transmissão ao vivo televisiva das sessões do Supremo Tribunal Federal com o “vedetismo e deslumbramento” dos seus integrantes que prejudicariam a “impessoalidade e serenidade das decisões”, foram na jugular dessa questão que assombra muitos estudiosos das ciências sociais: a vida pública, estrutura de sociabilidade onde a escrita e o impresso ajudaram a solidificá-la, estaria ameaçada com as experiências imediatas (o “ao vivo” ou “em tempo real”) proporcionadas pelas imagens audiovisuais e eletrônicas.

quarta-feira, janeiro 22, 2014

Os "rolezinhos" são um Cavalo de Tróia?

Sintoma do apartheid social? Flash mob da periferia? Movimento consciente de protesto? Movimento político? Luta de classes? Repique das grandes manifestações de Junho? A maioria das abordagens sobre o fenômeno dos rolezinhos parece se esquecer de um importante detalhe: são eventos feitos para a mídia, divulgados pela mídia e repercutidos pela mídia. Antes de ser um sintoma sociológico ou econômico, é um evento midiatizado. Por isso se aplicaria nessa discussão o clássico enigma pragmático dos estudos de comunicação: quem comunica o que, para quem e com qual efeito. Em outras palavras, para além do fenômeno sociológico ou econômico, há o semiótico cuja análise traz uma importante suspeita, a de que os rolezinhos teriam se tornando para a grande mídia um autêntico cavalo de Tróia, uma nova modalidade de bomba semiótica na atual guerrilha linguística que se trava no contínuo midiático pela conquista da opinião pública.

Certa vez o professor de filosofia Boris Groys fez em 2001 uma profética advertência às ciências sociais como a Economia e a Sociologia: “Sem prejuízo do que todas essas veneráveis ciências são capazes, incorrem elas num erro fundamental. Não consideram a possibilidade de que a própria realidade, inclusive toda a sociologia, a ciência econômica etc., possa ser um filme mal produzido.” - veja GROYS, Boris. "Deuses Escravizados: a guinada metafísica de Hollywood". Groys não se referia apenas ao súbito interesse metafísico de Hollywood através de filmes como Show de Truman ou Matrix. Mais do que isso, lançava uma suspeita de que Hollywood já expressava o fato de que a própria realidade estaria se transformando em um filme. E, o que é pior, mal produzido.

Para Groys o “erro fundamental” seria o fato dessas ciências não perceberem que os seus “objetos” (o “econômico”, o “sociológico” etc.) estariam sendo assumidos ou simulados em ambientes altamente midiatizados pelas tecnologias de comunicação e informação. Em palavras diretas: os fenômenos econômicos e sociológicos seriam antes de tudo fenômenos midiáticos nas suas diversas modalidades: efeitos virais, profecias auto-realizáveis, paradoxos quânticos (o olhar tecnológico da mídia altera o próprio objeto que está sendo observado) etc.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Carma e atração gravitacional no filme "Gravidade"

Desde “2001: Uma Odisséia no Espaço”, nunca um filme como “Gravidade” (2013) do mexicano Alfonso Cuarón, conseguiu representar tão bem a vastidão do espaço e seu vazio obliterante. Indicado ao Oscar de filme, direção, atriz entre outras categorias técnicas, o filme é elogiado pela crítica pela narrativa direta, crua e de grande verossimilhança científica, diferente dos blockbusters recentes, sempre envolvidos em complexas mitologias. Porém, por trás das alucinantes sequências de destruição por detritos espaciais que obrigam a abortar a missão de reparos no telescópio Hubble, há um poderoso núcleo místico-religioso que o próprio diretor admite em entrevistas: morte e renascimento. Mas o filme vai mais além, ao simbolicamente aproximar a lei da gravidade (o mais importante personagem do filme) com a Lei do Carma, atração gravitacional com a reencarnação.

Você está solto no espaço a 375 milhas acima da Terra, o oxigênio está se esgotando, a comunicação foi perdida, uma nuvem de restos catastróficos de satélites está voando na sua direção a 32 mil km/h e não há nenhuma esperança de resgate. O que você faz? O filme Gravidade dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón vai direto ao assunto: sem introduções ou apresentações dos personagens, apenas uma legenda inicial que nos informa que a vida no espaço é impossível. Corta para o exterior onde sempre é noite, a não ser pela enorme nimbus azul-cinza da curvatura da Terra, uma presença constante que representa a força literal da nossa casa: a atração gravitacional, o grande inimigo e ao mesmo tempo aliado com o qual os astronautas terão que lidar para sobreviver.

Uma equipe da NASA está em um passeio espacial de rotina fazendo reparos e atualizando o sistema de computadores do telescópio Hubble. A engenheira Dra Ryan Stone (Sandra Bullock) é a especialista da missão responsável pelos reparos no telescópio enquanto Matt Kowalski (George Clooney) é o experiente líder em sua última missão antes da aposentadoria, coordenando os trabalhos e voando em torno do ônibus espacial. Até que o inesperado acontece: do outro lado do planeta um míssil russo destrói acidentalmente um satélite cujos destroços produz uma reação em cadeia de destruições de outros satélites, criando uma mortal nuvem de destroços.

sábado, janeiro 18, 2014

O misterioso simbolismo de Kubrick em "De Olhos Bem Fechados"


Um mundo tenso e dividido entre as fantasias privadas e a realidade da rotina conjugal, entre o mundo brega das decorações natalinas e de pessoas carentes tagarelando incessantemente e o mundo do silêncio e imobilidade de uma poderosa e secreta elite. Esse foi o legado e síntese da visão de mundo de Stanley Kubrick no seu último filme “De Olhos Bem Fechados”, o mais esperado e controverso filme da década de 1990. Meticulosamente filmado (a maioria das cenas exigiram inumeráveis takes fazendo o filme entrar no Guinness World Records como a mais longa produção cinematográfica) a adaptação do livro “Dream Story” de Arthur Schnitzler resultou em uma complexa narrativa onde Kubrick compôs cuidadosamente cada plano com vários símbolos, alusões e paradoxos: da “Wonderland” de Lewis Carroll a magia ocultista de Aleister Crowley.

terça-feira, janeiro 14, 2014

Por que a mídia está tão obcecada pelos tomates?

Dentre os vários itens que supostamente teriam elevado os índices inflacionários, por que a mídia escolheu como vilão o tomate? Quando tudo perecia ter sido esquecido, eis que portais da Internet no final do ano passado localizaram supostos ataques pontuais em regiões isoladas e, no início desse ano, telejornais reavivam a memória e até, timidamente, tentam um revival dos tomates inflacionários . Por que essa obsessão pelos tomates? Por que não o pão, o leite ou os vestuários? Por trás dessa escolha aparentemente arbitrária e sua recorrência midiática, o tomate revela um antigo simbolismo cultural. Uma área vasta, riquíssima e interdisciplinar, envolvendo antropologia, semiótica da cultura e sincromisticismo. Ou seja, o tomate oferece um material imaginário altamente inflamável. Mais uma bomba semiótica.

Os tomates atacam mais uma vez. Depois do primeiro semestre do ano passado onde o vegetal (ou seria fruto?) ter sido considerado o vilão por puxar os números da inflação para o alto, eis que a grande mídia vem tentando ressuscitá-lo. Em dezembro, portais da Internet como o G1 começaram a noticiar altas de preços localizadas, como em São José do Rio Preto (SP) onde o tomate, acompanhado do pão francês e vestuário, teriam elevado os preços, segundo pesquisas de faculdades locais.

No início desse ano, o Jornal Nacional fez uma breve retrospectiva do “descontrole da inflação” do ano passado, dando um especial destaque ao tomate. Pouco dias depois, no telejornal SPTV, a jornalista Ananda Apple, no quadro Cozinha Popular onde exibe receitas cujos ingredientes são pesquisados em feiras livres procurando os produtos mais em conta, novamente fala do aumento do tomate. Claro, sem a mesma veemência do ano passado, onde até um apresentadora de programa feminino matinal apareceu com um colar de tomates ao lado de um papagaio que lamentava os destinos do bolso dos seres humanos desse País.

domingo, janeiro 12, 2014

A bomba semiótica da inadimplência

Em 1999 o colunista José Simão bradava em pleno feriado de 7 de setembro: “Inadimplência ou Morte!”. Mas na época a grande mídia fazia vistas grossas à quebradeira de consumidores e empresas na ressaca do Plano Real. Ao contrário, hoje uma suposta onda de inadimplência se converteu numa agenda midiática obsessivamente repercutida a cada imagem aérea mostrada pela TV da Rua 25 de Março lotada de consumidores: uma combinação resultante de uma suposta inflação descontrolada, crédito fácil, juros baixos e falta de educação financeira da população. Combinado com a pauta do “consumo consciente” e “crédito responsável”, o discurso da inadimplência acaba de se transformar na mais recente bomba semiótica. As explosões dessa nova bomba pretendem criar uma percepção de temor e desconfiança que freie o consumo e favoreça a Banca que organiza o jogo econômico.

Fazia uma pesquisa no acervo digital do Jornal Folha de São Paulo para futura postagem (o filme de Kubrick De Olhos Bem Fechados – procurava resenhas sobre o filme na época do lançamento em 1999) e, sem querer, dei de cara com um texto de José Simão intitulado “Inadimplência ou Morte”, texto do dia 07 de setembro daquele ano, feriado da independência nacional. Em um texto impagável, Simão declarava-se “deprecívico” e naquele feriado cívico não haveria parada militar, porque a pátria estava “parada”.

De forma mordaz, José Simão refletia um momento em que o País estava quebrado, jogado aos pés do Fundo Monetário Internacional após a maxidesvalorização do real um ano antes, logo depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. A taxa Selic era elevadíssima, mais de 30% ao ano, e com inflação anual de 8,94%. Na prática, a desvalorização do real comeu parte da poupança e dos salários.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Misteriosas conexões da mitologia da estrela Sirius no Cinema e na Música

De “Show de Truman” ao filme “Número 23”, do álbum “Diamond Dogs” de David Bowie a série “Harry Potter”, podemos encontrar uma recorrência sincromística: a misteriosa conexão desses produtos de entretenimento com a mitologia que envolve a estrela Sirius da constelação do Cão Maior, presente nas mais variadas culturas e civilizações desde a antiguidade. Passando pela escola dos mistérios do antigo Egito, a mitologias da tribo dos Dogons de Mali, na Teosofia de Madame Blavatsky, sociedades secretas como a Maçonaria ou na antiguidade grega, percebe-se ela é dotada de um simbolismo ambíguo, seja como a estrela que ilumina o mundo espiritual ou que aponta para maus presságios, e tempos de calor e loucura – “dias de cão”. Na bandeira nacional, Sirius representa o estado do Mato Grosso - pauta sugerida pelo nosso leitor Ricardo no seu comentário sobre nossa postagem sobre o filme "Show de Truman".

No mundo estranhamente previsível e conformista do filme Show de Truman (The Truman Show, 1998), Truman sai de casa para mais um dia de trabalho, com um sorriso publicitário estampado em seu rosto. De repente um evento inesperado: algo cai do céu totalmente azul e se espatifa no chão, quase o atingindo. Ele pega o objeto e repara que é um spot de luz. Sobre ele, uma etiqueta onde se lê: “Sirius (9 canis major)”. O acontecimento é importante na narrativa do filme porque, a partir da inexplicável queda do spot com o nome de uma estrela do firmamento, Truman começará a questionar sua própria realidade.

Mas há algo mais: o fato de o roteirista ter atribuído a esse importante objeto da trama do filme o nome da estrela Sirius – localizada na constelação de Cão Maior, também conhecida como “big dog” e, por isso, chamada também como “estrela do cão”. Sirius é a estrela mais brilhante do céu e desde tempos imemoriais tem sido reverenciada por diferentes culturas e civilizações.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Exposição faz viagem pela mente de Stanley Kubrick e alimenta conspirações

A partir de uma cenografia que recria os ambientes e a sofisticação visual de cada filme, a exposição Stanley Kubrick, em cartaz até o dia 12/01 no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo cria a curiosa sensação no visitante de estar caminhando no interior da mente do diretor. Mas, além disso, a variedade de documentos, cartas e memorandos expostos alimentam muitas teorias conspiratórias que envolvem um diretor que sempre foi recluso e avesso a entrevistas ou a ter que dar explicações para os significados de seus filmes: a consultoria do mainstream tecnocientífico dos EUA na produção de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; os arrojados efeitos especiais à frente de seu tempo, dez anos antes de “Guerra nas Estrelas”; e a morte do diretor quatro dias depois da exibição interna do filme “De Olhos Bem Fechados” para executivos da Warner Bros, produção que sugere polêmicas histórias sobre conexões da elite político-financeira com orgias sexuais ocultistas.

Nessa última sexta-feira visitei a retrospectiva Stanley Kubrick no Museu da Imagem e do Som (MIS) aqui de São Paulo. Sob um calor escaldante da tarde, aguardei 45 minutos na fila da bilheteria para depois, sob o onipresente olhar de Kubrick com a sua câmera em um enorme pôster no corredor da entrada da exposição, esperar em uma segunda fila a vez para subir a escadaria de entrada. Um segundo pôster com linha do tempo da produção de Kubrick decorava esse corredor, onde você tinha a chance de checar os títulos e datas dos filmes que comporiam os ambientes de cada sala da retrospectiva tão ansiosamente aguardada.

De tão atemporal que se tornaram os filmes do diretor, não havia ainda parado para pensar sobre os grandes hiatos entre as suas produções. Por exemplo, de O Iluminado (1980) a Nascido Para Matar (1987), sete anos; e de Nascido para Matar (1987) a De Olhos Bem Fechados (1999) um intervalo de doze anos. Seu período de produção mais regular está na chamada Trilogia Star Child (Doutor Fantástico (1963), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica - 1971), um período com profundos significados ocultos e metafísicos, como já observamos em postagem anterior.

sábado, janeiro 04, 2014

Uma versão sinistra do Mágico de Oz no filme "YellowBrickRoad"



Uma equipe de psicólogos, cartógrafos e fotógrafos tenta transformar uma lenda em registro histórico: por que uma cidade inteira desapareceu depois de assistir ao filme “O Mágico de Oz” em 1940? Inspirado em um caso real onde os habitantes de uma vila esquimó desapareceram repentinamente deixando todos os seus afazeres para trás, o filme “YellowBrickRoad”(2010) faz uma sombria releitura do filme clássico de 1939 por um viés metalinguístico do cinema, forte tendência dos filmes independentes atuais. Assim como Dorothy levantou a cortina e descobriu que Oz não era um mágico no filme clássico, em "YellowBrickRoad" os espectadores daquela pequena cidade remota descobriram da pior maneira possível, após saírem do cinema, que a Cidade de Esmeralda do Mágico de Oz não existia.

terça-feira, dezembro 31, 2013

Ano novo, cigarros e o fim da geração MTV no filme "200 Cigarettes"


O filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z. Por que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200 Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar, aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip. Porém, não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma comercial.

Dependendo da faixa etária ou geracional do leitor, assistir ao filme 200 Cigarettes nessa véspera de ano novo poderá trazer diferentes experiências em relação ao tempo: se for da geração desse humilde blogueiro (a chamada Geração X) que viveu a pós-adolescência sob o impacto da ascensão da cultura videoclip e cultura pop criada pela MTV a partir de 1980, a sensação será nostálgica como se olhasse para uma época perdida no tempo; se for da geração Y, achará um filme estranho, com um monte de jovens com roupas exóticas que identificam sua tribo urbana, e a única coisa que você reconhecerá no meio de tudo isso é a cantora Courtney Love (a viúva de Kurt Cobain e da música grunge) interpretando ela mesma; e se for da chamada geração Z , achará tudo ainda mais esquisito, com gente fumando o tempo inteiro, que depende de telefone público e lista telefônica para se localizar e pessoas extremamente maneiristas e preocupadas com seu visual.

O filme 200 Cigarettes, foi uma produção da MTV de 1999, mas a narrativa se passa em 1981, em uma noite de véspera de ano novo. Por que às vésperas do terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico? Na verdade, o filme parece ser uma série de vídeo clips dentro de um grande vídeo clip – a trilha musical é composta por mais de 50 músicas da época, todas elas exibidas pela MTV naquele ano. Por que tanta nostalgia de uma emissora cuja imagem sempre esteve associada com a revolução, modernidade e tecnologia?

domingo, dezembro 29, 2013

Retrospectiva e perspectivas das bombas semióticas para 2014


Tudo leva a crer que 2013 foi uma espécie de campo de testes para o aprimoramento da tecnologia bélica semiótica. O jogo mais importante está sendo disputado no contínuo midiático, por meio da detonação de bombas criadoras de ondas e estilhaços de signos que moldam na percepção pública um “clima de opinião”. Em cada redação de veículo de grande imprensa e em cada ilha de edição das grandes emissoras de TV foi testado e consolidado um incrível arsenal de recursos retóricos, linguísticos e semiológicos.  Tudo orientado por um script simples composto por três plots que é a base da programação das bombas semióticas. Está tudo pronto para elas serem detonadas, dessa vez de forma sistemática, em 2014 em um ambiente midiático supercondutor de ondas de choque com a realização de megaeventos como Copa do Mundo e eleições. 


        Mesmo com toda a atmosfera de festas de final de ano que supostamente inspira nas pessoas generosidade e reflexão, a grande mídia não perdeu tempo e sinalizou de forma bem clara o que nos espera para o próximo ano:


(a) Em uma matéria de fatos diversos no último bloco no telejornal SPTV da TV Globo no dia 27/12 sobre rituais e supertições populares para atrair sorte no ano novo, um pai de santo é consultado pela repórter sobre as perspectivas para 2014. Os búzios são jogados e ele adverte: “esse ano foi de antagonismos e conflitos e o próximos será a mesma coisa, mas haverá transformações. E uma nuvem negra se afastará da cidade de São Paulo...”;

(b) uma enquete foi feita com colunistas do jornal O Globo para saber o que eles esperam para 2014: Carlos Alberto Sardenberg, Míriam Leitão e Zuenir Ventura torcem por mais protestos – “protestos vigorosos”, salienta Sardenberg;

(c) Jornais e emissoras de TV passaram os últimos dias antes do Natal fazendo acrobacias matemáticas para provar que, apesar das vendas terem aumentado 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado, foi o Natal mais fraco em 11 anos;

(d) Elio Gaspari em sua coluna publicada em pleno dia de Natal na Folha e O Globo lembra que o próximo ano será de eleições, mas também lembra que nesse ano aprendemos que existe “uma forma mais direta de expressão”, e exorta: “vem pra a rua você também!”.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Semiótica das fotografias "newborn": que histórias elas contarão?

Era uma vez uma época em que os momentos mais íntimos dos filhos eram registrados por meio de fotografias e vídeos caseiros para serem mostrados aos vizinhos, parentes e amigos mais próximos. Isso tudo ficou muito chato. Agora no lugar temos uma autoconsciente e calculada produção de imagens, geralmente de crianças, com alcance global através redes sociais ou em produtos esteticamente sofisticados e profissionais como ensaios fotográficos publicados em photobooks, CDs ou em sites e blogs na Internet. Nesse contexto cresce o subgênero das fotos chamadas “newborn” (fotografias de recém-nascidos) onde, apesar do discurso da simplicidade e espontaneidade, são produzidas através de complexas estratégias técnicas e estéticas para simular cenas e poses enquanto, alheio a tudo, o bebê dorme. Que história essas fotos contarão para essas crianças no futuro?

As fotografias newborn (fotos de recém-nascidos em suas primeiras semanas de vida) é o novo baby boom fotográfico. Um mercado tão promissor que acabou sendo criada a Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN) para zelar a filosofia, ética e segurança dos pequenos modelos. Tudo isso em meio a uma intensa agenda de Workshops e Conferências sobre o tema.

Se concordarmos com Woody Allen de que os três principais fatos da nossa existência são nascimento, sexo e morte, as fotos newborn (ao lado das fotos de casamento, pornográficas e todos os rituais e estrutura de serviços funerários) se revestem de grande importância para todos aqueles que estudam a semiótica da cultura: a forma como a Natureza é incorporada pela Cultura através de uma complexa rede de simbolismos e significados. E, principalmente, como essa rede semiótica revela como sintomas as mazelas da sociedade e dos indivíduos.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Filme "Resolution" faz jogo mental com o espectador

O filme Resolution (2012) é um desafio conceitual ao espectador. Em uma estimulante combinação de desconstrução metalinguística e misticismo gnóstico o filme é um verdadeiro sopro de renovação no subgênero “horror-em-cabanas-remotas” de filmes como “A Morte do Demônio”, “A Cabana do Inferno” ou “A Bruxa de Blair”. Não espere festas com jovens bebendo e fazendo sexo enquanto demônios estão à espreita para matar. Ao contrário, o filme oferece um enigmático jogo mental onde, enquanto o protagonista tenta desintoxicar um amigo viciado em crack, cresce o mistério entorno daquela cabana onde estão: será que os estranhos acontecimentos fazem parte de alguma conspiração de seitas ocultistas, de alienígenas ou apenas de traficantes? Ou a realidade é tão ilusória quanto uma película cinematográfica. A resposta pode ser mais radical do que filmes como "Matrix" e "A Origem".

Dentro da história da linguagem cinematográfica vivemos uma momento cada vez mais auto-referencial e metalinguístico. E não estamos falando de filmes de arte ou de vanguarda, mas de filmes que integram circuitos comerciais de distribuição, filmes que parecem querer desconstruir o gênero, a cultura pop e a própria linguagem cinematográfica.
Após o gnosticismo pop de filmes como Show de Truman, Matrix e A Origem onde a realidade é desconstruída a tal ponto que o protagonista não consegue mais distinguir o que é simulação e realidade, acompanhamos nesse início de século uma nova tendência de desconstrução, dessa vez do próprio cinema, onde o roteiro, produção, linguagem etc. acabam se tornando o próprio tema dos filmes.

terça-feira, dezembro 17, 2013

"A Classe Dominante": o mais estranho filme de Peter O'Toole


O Deus do Velho Testamento (o “messias elétrico”) faz um duelo surreal com o Deus do Novo Testamento; um sádico psiquiatra alemão faz experiências com “ratos esquizofrênicos”; uma família de aristocratas trama a internação de um conde esquizofrênico para conseguirem ficar com o seu título e fortuna. Com a recente morte aos 81 anos do grande ator inglês Peter O’Toole, não poderíamos deixar de reverenciar o filme mais estranho da sua carreira: “A Classe Dominante” (The Ruling Class, 1972). Uma comédia de humor negro repleta de ultraje moral e religioso que após ser restaurada e relançada em DVD, teve recuperados os 20 minutos cortados no lançamento comercial da época. Um filme profético ao mostrar que mesmo após todos os movimentos libertários da época, a aristocracia não morreu: persiste através de uma classe dominante que opta por um deus vingativo e intolerante.

Peter O’Toole para sempre será lembrado pelo filme Lawrence das Arábias. Mas temos também que pagar tributo ao mais estranho filme da sua carreira: A Classe Dominante (The Ruling Class, 1972) que desde o seu lançamento passou a ser seguido por um grupo restrito de fãs como um filme cult. Ainda mais que a versão para o lançamento nos EUA teve uma redução de 20 minutos para tornar o filme mais rentável, poupando ao público daquele país de algumas cenas bizarras e de extremo humor negro que chega, algumas vezes, as raias da violência e ultraje religioso. Pois o filme foi restaurado no relançamento em DVD pela  The Criterion Collection em 2001 e retornou às suas quase duas horas e meia da duração original.

Embora o filme seja um mix de sátira, farsa, musical, drama shakespeariano e muito humor negro, a narrativa é uma descida sombria na loucura, caos e simbolismos religiosos nas tramas envolvendo cobiça e poder no seio de uma elite aristocrática apodrecida, mas que tenta manter sua fleugma e pompa: um conde esquizofrênico, um bispo anglicano sem fé, um sádico psiquiatra alemão, um mordomo comunista que vive em um constante estado de embriaguez, e toda uma galeria de personagens inesquecíveis.

domingo, dezembro 15, 2013

Curta "Compramos e Vendemos Sentimentos" renova crítica ao consumismo


Produtos audiovisuais de língua portuguesa estão inovando a forma de abordar a sociedade de consumo. Fugindo da habitual crítica do ter-que-substitui-o-ser (que se tornou clichê no momento em que a moderna publicidade absorveu a crítica e transformou a imagem do consumo em atividade “consciente”, “sustentável” e “espiritualizada”), o curta “Compramos e Vendemos Sentimentos”, trabalho de conclusão de curso de Cinema da Universidade Lusófona de Lisboa, apresenta uma nova abordagem crítica ao consumismo: uma sociedade mecanizada e futurista onde as pessoas para poderem ir e vir têm de se vender. São viciadas em sentimentos e têm de trocá-los para adquirirem o que querem. Veja o curta.

Por muito tempo a crítica mais comum à sociedade de consumo sempre foi de que é uma sociedade de alienação e de espetáculo, onde o ter substitui o ser. Mas a indústria publicitária e o consumismo evoluíram e incorporaram essas críticas quando se tornaram mais “espiritualizadas”: parece que assimilaram todas as críticas feitas a ela ao longo da história (consumismo, superficialidade, frivolidade, materialismo etc.) e agora procura demonstrar através de um novo discurso que mudaram, se espiritualizaram e não veem mais o consumo como mero ato de aquisição, mas de enriquecimento espiritual.

Tendências como o chamado “consumo consciente”, “sustentável” e todo um discurso motivacional e ético que envolve agora o ato da compra (o consumo muito menos como um ato de acúmulo e ostentação e mais como uma oportunidade de buscar uma espécie de atalho para a iluminação espiritual - comprar-consumir-espiritualizar-se) parece dominar a linguagem publicitária.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Em Observação: "Resolution" (2012)


Quem gostou do filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011), certamente ficará curioso com o filme “Resolution” (2012) que segue a mesma linha ao desconstruir metalinguisticamente os clichês do gênero horror. Uma cabana abandonada em uma reserva indígena, um viciado em metanfetamina que é ajudado pelo seu amigo na sua reabilitação e um segredo ameaçador que começa a ser revelado pela descoberta de livros antigos e filmes em oito milímetros de supostos pesquisadores envolvidos com fantasmas, telecinesia e demônios. Um filme independente com baixíssimo orçamento que, por isso, promete uma coisa: o roteiro ser melhor que os efeitos especiais.

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