domingo, janeiro 26, 2014

Em Observação: "O Destino de Júpiter" será um novo "Matrix"?

Com lançamento no Brasil aguardado para o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma pequena parte de uma gigantesca indústria cósmica.


Título: O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending)

Diretor: Irmãos Wachowski

Sinopse: Júpiter Jones (Mila Kunis) é uma imigrante russa que trabalha como faxineira para sobreviver nos EUA. Sonhadora, acorda sempre em uma realidade fria e sem perspectivas, limpando banheiros diariamente. Até que conhece Caine (Channing Tatum), um ex-militar interplanetário geneticamente modificado, que chega a Terra para localizá-la. Através dele Júpiter descobre que no momento do seu nascimento, uma extraordinária configuração estelar acabou marcando o seu DNA como a da próxima líder do Universo, o que ameaçará uma estrutura de poder cósmica dominante.

Por que está “Em Observação”? – Basta acompanhar duas linhas de diálogo no trailer do filme para que reconheçamos em que fonte arquetípica os irmãos Wachowski se inspiraram: “Você esteve procurando uma coisa em toda sua vida... e ela está lá embaixo” e “a sua Terra é uma pequena parte de uma grande indústria”. Fica clara a inspiração na mitologia gnóstica do aeon Sophia e a crença de que o Cosmos material seria uma gigantesca prisão criada por um Demiurgo, divindade enlouquecida que pensa ser o único Deus e aprisiona o homem nesse universo para extrair dele as fagulhas de Luz que nos uniria à nossa verdadeira casa que o Demiurgo esqueceu: o Pleroma. No trailer percebe-se que o filme desenvolverá o arquétipo de Sophia (aeon e símbolo da sabedoria) nos três aspectos que tradicionalmente são explorados nos filmes gnósticos: como aquela que decaiu sob o jugo do Demiurgo, como aquela que desperta no protagonista (ou na própria humanidade) a necessidade da gnose e aquela que doa sabedoria e amor aos homens – sobre esse tema clique aqui e aqui.

                Na mitologia gnóstica, a história de Sophia é a história de um exílio: aquela que desce para a Terra para salvar o homem e é aprisionado no caos e alienação criados pelo Demiurgo.

O filme parecer ter muitas semelhanças com a trilogia Matrix, porém com uma diferença: a conspiração que aprisiona a humanidade deixa de ser apenas terrestre (máquinas que criaram uma realidade virtual) para ser situada em um plano cósmico, em uma espécie de space opera renovada – “space opera” é um subgênero dos filmes de ficção científica onde se enfatiza aventuras românticas, personagens épicos e cenários exóticos onde são travadas guerras espaciais.

Júpiter é a ingênua oprimida, uma imigrante russa (metáfora do exílio humano, como Sophia), assim como em Matrix Keanu Reaves é um programador de computadores entediado. Ambos são personagens ingênuos que descobrem que por trás das diversas camadas da realidade existe uma gigantesca conspiração contra a espécie humana.

Também, encontramos o tipo carismático que será o mensageiro da verdade para o protagonista: sem em Matrix foi o líder guerrilheiro Morpheus que revelou a Neo que ele era “o Escolhido”, em O Destino de Júpiter um guerreiro cyberpunk mostrará à protagonista que o seu DNA possui uma assinatura especial que a conecta com as estrelas.

E mais uma vez, a conexão com Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll: assim como Alice é uma garota entediada que em uma tarde quente que cai em um buraco de coelho, da mesma forma o entediado Sr. Anderson/Neo e a entediada limpadora de banheiros Júpiter acompanham um convite que os fará cair em uma estranha dimensão.


O que promete? – Os irmãos Wachowski parecem prometer elevar o subgênero space opera para um nível mais elevado. Com um verniz do filme O Quinto Elemento, combinam as batalhas intergaláticas de Star Wars com a mitologia gnóstica da trilogia Matrix.  E não é só: com uma ponta do ex-Monty Python Terry Gilliam no filme (segundo ele, “numa pequena, mas vital parte da narrativa”), parece que a dupla de diretores ambiciona aproximar O Destino de Júpiter ao status dos chamados filmes arthouse (filmes de diretor) como as produções do próprio Terry Gilliam como Brazil (1985) e Os Doze Macacos (1995).

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