Com lançamento no Brasil aguardado para
o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só
representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia
Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o
cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um
entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da
realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma
entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura
especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma
pequena parte de uma gigantesca indústria cósmica.
Título: O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending)
Diretor:
Irmãos Wachowski
Sinopse:
Júpiter Jones (Mila Kunis) é uma imigrante russa que trabalha como faxineira
para sobreviver nos EUA. Sonhadora, acorda sempre em uma realidade fria e sem
perspectivas, limpando banheiros diariamente. Até que conhece Caine (Channing
Tatum), um ex-militar interplanetário geneticamente modificado, que chega a
Terra para localizá-la. Através dele Júpiter descobre que no momento do seu
nascimento, uma extraordinária configuração estelar acabou marcando o seu DNA
como a da próxima líder do Universo, o que ameaçará uma estrutura de poder
cósmica dominante.
Por que está “Em Observação”? – Basta acompanhar duas linhas de diálogo no trailer
do filme para que reconheçamos em que fonte arquetípica os irmãos Wachowski se
inspiraram: “Você esteve procurando uma coisa em toda sua vida... e ela está lá
embaixo” e “a sua Terra é uma pequena parte de uma grande indústria”. Fica
clara a inspiração na mitologia gnóstica do aeon
Sophia e a crença de que o Cosmos material seria uma gigantesca prisão criada
por um Demiurgo, divindade enlouquecida que pensa ser o único Deus e aprisiona
o homem nesse universo para extrair dele as fagulhas de Luz que nos uniria à
nossa verdadeira casa que o Demiurgo esqueceu: o Pleroma. No trailer percebe-se
que o filme desenvolverá o arquétipo de Sophia (aeon e símbolo da sabedoria) nos três aspectos que tradicionalmente
são explorados nos filmes gnósticos: como aquela que decaiu sob o jugo do
Demiurgo, como aquela que desperta no protagonista (ou na própria humanidade) a
necessidade da gnose e aquela que doa sabedoria e amor aos homens – sobre esse
tema clique
aqui e aqui.
Na mitologia gnóstica, a história de Sophia é a
história de um exílio: aquela que desce para a Terra para salvar o homem e é
aprisionado no caos e alienação criados pelo Demiurgo.
O
filme parecer ter muitas semelhanças com a trilogia Matrix, porém com uma diferença: a conspiração que aprisiona a
humanidade deixa de ser apenas terrestre (máquinas que criaram uma realidade
virtual) para ser situada em um plano cósmico, em uma espécie de space opera renovada – “space opera” é
um subgênero dos filmes de ficção científica onde se enfatiza aventuras românticas,
personagens épicos e cenários exóticos onde são travadas guerras espaciais.
Júpiter
é a ingênua oprimida, uma imigrante russa (metáfora do exílio humano, como
Sophia), assim como em Matrix Keanu
Reaves é um programador de computadores entediado. Ambos são personagens
ingênuos que descobrem que por trás das diversas camadas da realidade existe
uma gigantesca conspiração contra a espécie humana.
Também,
encontramos o tipo carismático que será o mensageiro da verdade para o
protagonista: sem em Matrix foi o líder guerrilheiro Morpheus que revelou a Neo que ele era “o Escolhido”, em O
Destino de Júpiter um guerreiro cyberpunk
mostrará à protagonista que o seu DNA possui uma assinatura especial que a
conecta com as estrelas.
E
mais uma vez, a conexão com Alice no País
das Maravilhas de Lewis Carroll: assim como Alice é uma garota entediada que
em uma tarde quente que cai em um buraco de coelho, da mesma forma o entediado Sr.
Anderson/Neo e a entediada limpadora de banheiros Júpiter acompanham um convite
que os fará cair em uma estranha dimensão.
O que promete? – Os irmãos Wachowski parecem prometer elevar o subgênero space opera para um nível mais elevado.
Com um verniz do filme O Quinto Elemento, combinam as batalhas intergaláticas
de Star Wars com a mitologia gnóstica
da trilogia Matrix. E não é só: com uma ponta do ex-Monty Python
Terry Gilliam no filme (segundo ele, “numa pequena, mas vital parte da
narrativa”), parece que a dupla de diretores ambiciona aproximar O Destino de Júpiter ao status dos
chamados filmes arthouse (filmes de
diretor) como as produções do próprio Terry Gilliam como Brazil (1985) e Os Doze
Macacos (1995).