sábado, abril 13, 2013
O "bug" da Microsoft e o mal
sábado, abril 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como interpretar o "bug" fatal da atualização do Windows 7 que fez inúmeros computadores entrarem em looping sem conseguir iniciar o sistema operacional? Como explicar um erro em proporções exponenciais partindo de uma corporação como a Microsoft? Conspiração mercadológica para forçar a atualização para o até aqui fracasso de vendas do Windows 8? Simples erro de sintaxe algorítmica de alguma linha de comando? Talvez o "bug" revele algo que nos escapa, apesar de sentirmos os seus efeitos no dia-a-dia: o desenvolvimento tecnológico estaria se aproximando a um estágio tal de complexidade que criaria uma reversibilidade fatal e maléfica e, ao mesmo tempo, irônica: a "hipertelia".
Fui mais um dos usuários vítimas
da verdadeira bomba informática que foi a atualização "2823324" do Windows 7. Sem
perceber, o Windows fez uma atualização automática que criou um “fatal system
error” como sinistramente diagnosticou o próprio computador para mim. O sistema
operacional não mais iniciava entrando em um looping, deixando-me em xeque
diante dos prazos de entrega de artigos e modelos de provas para a Universidade
onde leciono.
Segundo a própria Microsoft, a
atualização combateria a uma vulnerabilidade na segurança do sistema que
permitiria a um atacante ter acesso físico ao computador para explorá-lo. Mas,
ironicamente, a atualização feita em nome da segurança realizou o sonho de
qualquer hacker: produzir um efeito viral ou sistêmico e derrubar redes e
computadores.
Para aprofundar ainda mais a
ironia, de fato a atualização realmente deixou o computador mais seguro,
mantendo-o incomunicável não só com a Internet (a fonte da ameaça) mas com o
próprio usuário que não saberia que estaria sendo invadido. Cortou o mal pela
raiz!
sexta-feira, abril 12, 2013
A trivialização da catástrofe no filme "Sound Of My Voice"
sexta-feira, abril 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filmes cuja premissa parece ser de ficção científica como viagens no tempo ou universos alternativos. Mas esses temas são apenas o pretexto para discutir questões existenciais e relacionamentos. "Sound Of My Voice"(2011), sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik, segue essa tendência que os críticos definem como "psicodramas alt.sci-fi". Aqui a narrativa sobre uma estranha seita cuja líder teria vindo do futuro põe em discussão a chamada "mentalidade da sobrevivência", forte traço da mentalidade atual: a nossa difusa sensação de abandono e insegurança em relação ao futuro que alimentaria a frenética busca contemporânea por seitas, religiões e técnicas de autoajuda e autoconhecimento alardeadas pela cultura midiática.
Uma mulher é encontrada vagando pelas ruas de Los Angeles apenas trajando um lençol enrolado pelo corpo, sem memória e apenas trazendo como marca visível do passado uma tatuagem de uma âncora com o número 54 ao lado.
Um jovem casal decide fazer um
documentário sobre uma estranha seita, cuja líder é aquela mulher que foi
encontrada vagando pelas ruas. Agora ela afirma vir do futuro, mais
precisamente do ano 2054 – ela teria chegado a essa conclusão depois de
estranhos flahs de memória e o número 54 tatuado.
Uma menina com traços de autismo
brinca sempre solitária em seu quarto, fazendo estranhas figuras com blocos de
montar.
terça-feira, abril 09, 2013
O programa "CQC" e a correia de transmissão
terça-feira, abril 09, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Iscas mirins,
repórteres dublês de humorista e câmeras escondidas são hoje as principais
armas de uma onda de moralismo seletivo que domina as telas de TV, como no caso
exemplar que envolveu o deputado José Genoino e o programa “CQC”. Mas há algo
de mais profundo nessa onda moralizante do que o atual jogo de cena
político-midiático. Por trás da onda de programas televisivos representado pelo
“CQC” (programas, por assim dizer, “sensacionalisticamente corretos”)
esconderia a própria natureza do funcionamento da indústria cultural que no
passado pesquisadores como Adorno e Horkheimer tematizaram: a ritualização de
uma espécie de correia de transmissão na sociedade onde “aquele que é duro
contra si mesmo adquire o direito de sê-lo com os demais e se vinga da própria
dor”. O sensacionalismo seletivo que prefere despejar toda indignação nos
“pequenos” que desde o início já estão derrotados e condenados do que nos
poderosos seria a ritualização de um prazer voyeurista e sádico do espectador.
O episódio que protagonizou o
“repórter” mirim usado como isca para que o programa "CQC" (Custe O Que Custar da
TV Band) arrancasse de José Genoino algumas palavras (ele se recusa a conversar
com os dublês de repórter/humorista do programa) esconde algo de mais profundo.
Condenado pelo julgamento do chamado “mensalão” e exposto extensivamente ao
linchamento midiático como um caso exemplar da onda de defesa da moralidade que
varre o país, há algo de simbólico na figura de um político acuado em sua sala
no Congresso, a portas fechadas deixando entrar uma criança oferecida como isca
a alguém isolado e, talvez, carente por simpatia – a criança se dizia filho de
militante do PT.
O CQC pareceu querer requentar
uma notícia já passada, “chutar cachorro morto”, tentar tripudiar em cima de
uma figura já julgada e condenada por chicanas jurídicas e pelo veredito
midiático. Em outras palavras, ofereceu para os espectadores alguém
supostamente fraco e derrotado para o deleite público da humilhação.
domingo, abril 07, 2013
A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"
domingo, abril 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que acontece quando
o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"?
Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011),
um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao
gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos
e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à
indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de
sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que
fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano?
É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.
Quando Sam Reimi escreveu e
dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a
situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma
floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited”
movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com
requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.
Mais do que isso, talvez não
imaginasse que nesse meio tempo o mainstream
hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em
“Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em
“Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de
roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky,
Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de
distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema
comercial.
Somente é possível compreender
integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011)
colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada
vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões
críticas no meio do mainstream
hollywoodiano, como no caso desse filme.
sexta-feira, abril 05, 2013
A arquitetura subliminar de Victor Gruen no documentário "Gruen Effect"
sexta-feira, abril 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ele criou um conceito
que mudaria radicalmente a sociabilidade e a percepção humana contemporânea.
Inspirado em planejamento socialista e nas memórias dos espaços de convivência
europeus com seus cafés e comércio de rua, um imigrante vienense foragido do
nazismo cria nos EUA os primeiros Shopping Malls na década de 1940. Ele
acreditava que seria a solução para a democracia americana em meio à alienação
e solidão criadas pela expansão econômica pós-guerra. O arquiteto Victor Gruen
mais tarde renegaria publicamente sua invenção ao vê-la convertida em “máquinas
subliminares de venda”. Mas o seu nome acabou sendo associado ao principal
efeito psicológico que o design arquitetônico dos centros comerciais criaria na
mente dos consumidores: o chamado “Efeito Gruen Transfer”. Esse é o tema do
documentário alemão “Gruen Effect: Victor Gruen and the Shopping Mall” (2012).
Ele definitivamente associou o
automóvel ao consumo e alterou drasticamente o horizonte urbano das grandes
cidades do mundo. Inventou o conceito de Shopping Mall (centros comerciais) cuja
arquitetura acabou involuntariamente produzindo um efeito que os pesquisadores
em comunicação subliminar chamam de “Gruen Transfer”: no momento em que os
consumidores entram em um shopping são envolvidos por um layout arquitetônico
intencionalmente confuso, fazendo-os esquecerem das suas intenções iniciais
e tornando-os vulneráveis ao bombardeio sensoriais de sons, aromas e luzes –
veja RUSHKOFF, Douglas. Coerction, N.
York: 2000 e HOWARD, Martin. We Know What
You Want. N. YorK: Desinformation, 2005.
O termo “Gruen Transfer”
refere-se ao arquiteto austríaco Victor Gruen que, sem perceber, criou
conceitos que mudariam radicalmente o desenvolvimento urbano do planeta. Um
imigrante europeu que de forma dramática fugiu de uma Viena controlada pelos
nazistas em 1938 e que, nos EUA em plena expansão da sociedade de consumo
pós-guerra e paradoxalmente inspirado no planejamento socialista e de suas
memórias sobre os espaços comunais dos cafés e lojas de ruas europeias, criou
os primeiros shopping centers na década de 1940.
segunda-feira, abril 01, 2013
Em Observação: "The Cabin In The Woods" (2011)
segunda-feira, abril 01, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sugerido pelo nosso
leitor Marcelo Sousa, o filme “The Cabin In The Woods” é definido pela crítica
como um mix de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” com “Matrix”. Ele
não se limita a fazer exercício de desconstrução do gênero terror, mas quer
oferecer respostas: por que os assassinatos são tão ritualísticos? Por que o
Mal pune os desobedientes e os bons sempre sobrevivem? O filme interessou ao
Blog, pois promete questionar a própria representação do Mal nesse gênero
cinematográfico: o chamado clichê da “quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem”.
sexta-feira, março 29, 2013
Geografias Interiores: cartografias e topografias da mente
sexta-feira, março 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
cinematografia desse início de século parece expressar nas suas narrativas
fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea onde não apenas generaliza o
modelo computacional como fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da
mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a
partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. O esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências,
ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da
Informação para não só desvendar o funcionamento da mente como também procurar
um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos
mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.
Filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais.
Tal agenda culmina hoje no reforço de um novo tipo de sujeito das novas redes
tecnológicas digitais: o sujeito fractal e a sua compulsão em representar
cartograficamente seus pensamentos, hábitos, relacionamentos e projetos
pessoais por meio de verdadeiras “geografias interiores”.
O filme pode ser considerado um verdadeiro
documento primário por expressar através de imagens e movimento o imaginário e
sensibilidades de uma determinada época. O historiador Marc Ferro, um dos
principais nomes da chamada “Escola dos Annales”, acredita que a relação
cinema-história tem um importante papel no campo historiográfico: "o imaginário
é tanto história quanto História, mas o cinema,
especialmente o cinema de
ficção, abre um excelente caminho em direção aos campos da história
psicossocial nunca atingidos pela análise dos documentos" (FERRO, 1992,
p.12). Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou imediato, pois
sempre vai além do seu conteúdo:
domingo, março 24, 2013
A canastrice dos sete dispositivos da propaganda
domingo, março 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Mera coincidência" (Wag The Dog, 1997) |
Em 1940 um artigo denunciava
os chamados “sete dispositivos da Propaganda” e exortava os leitores a detectá-los por ser uma necessidade absolutamente vital para não serem enganados. Setenta e três anos
depois esses dispositivos continuam ativos apesar da absoluta obviedade,
exagero, “overacting” e, principalmente, canastrice dos intérpretes desses
verdadeiros scripts que são reeditados sob uma roupagem moderna e descolada por
marqueteiros e publicitários. Como é possível que depois de tanto tempo esses
dispositivos continuem na linguagem da mídia, da Política, do Marketing e da
Publicidade? E, apesar da explícita natureza fake e não-espontânea desses
dispositivos, continuam a pautar a sociedade e conquistar corações e mentes. Qual
a causa dessa invasão da canastrice na política e na esfera pública?
Nesse final de semana um amigo
mostrou-me um antigo exemplar de uma revista de artes gráficas norte-americana
chamada “Print - A Quartely Journal of the Graphic Arts” de setembro de 1940. É
muito mais do que uma revista, pois combina delícias visuais e belíssimas
fotografias com textos pesados e com foco sério.
A revista abre com um ensaio
intitulado “Propaganda e Artes Gráficas – a influência na opinião pública para
a Unidade Nacional” de William E. Rudge. O texto nos oferece diversos exemplos
de “mensagens positivas”, abordando como o design gráfico pode ser uma
ferramenta para “condicionar o comportamento humano”. Rudge escreve: “é
absolutamente vital distinguir, através da compreensão e análise, a boa e a má
propaganda. Não se deixe enganar!”.
sexta-feira, março 22, 2013
Em Observação: "Disconnect" (2012)
sexta-feira, março 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nosso leitor “!3runo”
sugeriu o filme “Disconnect” que imediatamente passou a interessar o blog: sua tese central é a de que o massivo acesso às
redes sociais e a natureza viciante das comunicações instantâneas estão nos
tornando desconectados em relação às pessoas em torno de nós. As três inter-relacionadas
histórias do filme que envolvem exploração pornográfica na internet,
cyberbullying e fraudes com cartões de créditos revelam não só o potencial
criminógeno das novas tecnologias. Seriam a face mais sensacionalista do
fenômeno subterrâneo da incomunicabilidade em plena era da informação.
segunda-feira, março 18, 2013
A contradição secreta da Publicidade em "The Greatest Movie Ever Sold"
segunda-feira, março 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de apresentar as batas
fritas transgênicas do McDonald’s (“Super Size me”, 2004) que jamais deterioram
e denunciar a procedência suspeita da carne dos hambúrgueres da rede de fast food
forçando-a a fazer uma massiva campanha mostrando como seus sanduíches estão
mais “verdes”, o diretor Morgan Spurlock escolhe outro alvo: o marketing
subliminar. Mais precisamente o chamado “product placement”, como a publicidade
insere produtos nas cenas de filmes e produtos audiovisuais. Em uma sequência
de “Homem de Ferro” (Iron Man, 2008) vemos o personagem Tony Stark dirigindo
velozmente um Audi conversível; ou em “Homen Aranha” vemos o protagonista Peter
Parker cruzando uma avenida de Nova York tendo ao fundo letreiros e outdoors de
diversos produtos.
“The Greatest Movie Ever Sold”
faz ao mesmo tempo um documentário e uma sátira de como os filmes
hollywoodianos deixaram de ser patrocinados para serem, agora, vendidos a
investidores para que se tornem vitrines de produtos e marcas. É o Santo Graal
do marketing: a co-promoção. A produção de “Homem de Ferro”, por exemplo, foi
associada a 14 marcas. Elas tornam-se co-produtoras e última palavra na
aprovação até em questões artísticas como roteiro e narrativa que, aliás, têm
que inventar sequências para a exposição das marcas parceiras.
sexta-feira, março 15, 2013
Mas afinal, quem é o dono do hardware?
sexta-feira, março 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após resultados positivos nas investigações sobre a interface
cérebro/máquina, o cientista Miguel Nicolélis vai além: em artigo publicado na “Cientific
Reports” anuncia o sucesso na conexão entre cérebro/cérebro. O arco de benefícios
iria desde aplicações médicas como reparos eletrônicos em tecidos cerebrais até
o surgimento do primeiro “computador orgânico”, uma Internet formada por
cérebros conectados em tempo real. Essas promessas tecnocientíficas adquirem um
aspecto messiânico ao serem divulgadas pela mídia de forma descontextualizada e
solta em uma espécie de vácuo das boas intenções. Mas quem financia a pesquisa?
Qual o destino dessas descobertas ao transformarem-se em comodities em uma sociedade de mercado? Para além das
aplicações pontuais, que tipo de paradigma ou modelo de individualidade as
neurociências repercutem na cultura? E o principal: mas afinal, quem é o dono do hardware?
Nicolélis tem nobres intenções:
ele quer fazer tetraplégicos andarem através da interface cérebro/máquina e tecidos
cerebrais lesionados se reconstituírem através da tecnologia e plasticidade inerente
às redes neuronais. Nicolélis se deixa fotografar com camisas discretamente
abertas para que possamos perceber uma camisa verde e amarela por baixo. Ele
faz questão de declarar que todo o know
how tecnológico dos laboratórios da Universidade de Duke nos EUA foi
trazido para o Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte.
Nicolélis é um nacionalista, sinal do crescente protagonismo do Brasil no
cenário internacional após anos de governo Lula e Dilma.
Os avanços tecnocientíficos
parecem estar acima de qualquer juízo de valor ou crítica por serem o resultado
prático do esforço coletivo do intelecto humano. Esses avanços fascinam pela
potencial utilidade e benefícios que podem trazer ao gênero humano: quem poderá
ser contra a possibilidade de paralíticos voltarem a andar e cérebros
lesionados recuperarem suas funções?
segunda-feira, março 11, 2013
Em Observação: "Black Mirror" (2011-2013)
segunda-feira, março 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nosso leitor Nelson
Job indicou a série inglesa exibida no Channel 4 “Black Mirror”. Com duas
temporadas compostas por três episódios cada, nos apresenta as potencialidades
sombrias de tecnologias já existentes como biochips, Internet e mídias sociais.
Criada pelo jornalista e roteirista Charlie Brooker (notável pela sua crítica
ácida aos formatos televisivos como em “Dead Set” onde zumbis invadem um
reality show) “Black Mirror” está “Em Observação” pelo Blog por dois motivos:
primeiro: por fazer uma crítica midiática-política-social de tecnologias
portáteis atuais (aplicativos, widgets, apps etc.) que querem fazer nossa
identidade e, segundo, a irônica condição dessa série: feita por uma produtora
que pertence ao grupo Endemol, notória pela criação de games televisivos e
reality shows como o “Big Brother”, formatos criticados pela própria série.
sexta-feira, março 08, 2013
Quem você vai encontrar depois de morrer?
sexta-feira, março 08, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As representações da
vida pós-morte no cinema são um verdadeiro sismógrafo do que se passa entre os
vivos aqui na Terra. As sucessivas mudanças das representações cinematográficas
do céu e da morte ao longo das décadas parecem refletir ansiedades culturais,
avanços tecnológicos e importantes fatos históricos. Ao fazer um cruzamento do
conto “Os Fantasmas de Scrooge” de Charles Dickens com a chamada “Teoria dos
Seis Graus de Separação” o filme “As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu” (Five
People You Meet In Heaven, 2004) comprova essa tese ao nos apresentar um
cenário pós-morte onde pessoas criam seus próprios “céus”, como fossem anjos
decaídos imersos em si mesmos. Seria o reflexo da virtualização atual do eu no
ciberespaço onde avatares se transformam em espécies de divindades criadoras?
As representações do cinema
sobre a existência pós-morte revelam muitas mais as mazelas da vida terrena do
que qualquer verdade extra-corpórea. Como nenhum cineasta conseguiu voltar da
morte com takes para um documentário sobre a vida após a morte, o tema acabou
tornando-se um espelho das ansiedades culturais, avanços tecnológicos e crises
religiosas e espirituais de cada época.
Apesar das representações do
céu, da morte, e da existência pós-vida se alterarem de acordo com o imaginário
de cada época, uma fórmula básica se mantém, a partir da qual se criam diversas
narrativas e variações: personagem principal morre, chega no “céu” (algum
espaço intermediário entre a Terra e o céu, limbo, ante-sala celestial ou a
própria plenitude celeste etc.) e é
submetido a algum tipo de julgamento (revê sua própria vida, mentores ou
entidades superioras o julgam, retorna para a vida para uma “segunda chance”
etc.).
segunda-feira, março 04, 2013
Blog "Cinegnose" foi tema do Terceiro "Hangout Gnóstico" da Sociedade Gnóstica Internacional
segunda-feira, março 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Neste último domingo (03/03) tive a honra de ser
entrevistado no “Terceiro Hangout Gnóstico” dentro do tema “Cinema Gnóstico” e
as contribuições que esse blog tem oferecido ao campo das discussões sobre o gnosticismo. O evento é uma iniciativa da
Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) que aproveita a ferramenta
Hangout do Google + (sistema que permite videoconferências) para aproximar as
pessoas objetivando construir uma comunidade em torno da espiritualidade
gnóstica.
Seu presidente, Giordano
Cimadon, define essa iniciativa como “uma forma de promover um contato entre
gnósticos de diferentes partes do mundo e estabelecer um formato mais
atualizado de apresentação da cultura gnóstica”.
Na entrevista acompanhada de
debates e questionamentos, pude descrever a trajetória do blog “Cinema Secreto:
Cinegnose” como uma resultante do projeto de mestrado sobre o Cinema Gnóstico,
a evolução desse gênero cinematográfico até a atualidade e a possibilidade de a
mídia cinematográfica possibilitar a experiência da gnosis, projeto atual de doutorado onde procuro relacionar esta
experiência transcendente com o “acontecimento comunicacional” e suas
potencialidades políticas no sentido de quebra de uma ordem do cotidiano do
espectador - assista ao hangout completo no vídeo abaixo.
domingo, março 03, 2013
Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado
domingo, março 03, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?
Em uma aula da
disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus
alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70,
apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e,
principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes
estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas
geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que,
ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop.
Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a
ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo
sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.
sexta-feira, março 01, 2013
A urgência da destruição no cinema norte-americano
sexta-feira, março 01, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O poder financeiro e tecnológico
da indústria cinematográfica norte-americana parece ter uma relação direta com
a escala de destruição exibida em seus filmes: de catástrofes em proporções
planetárias a micro-desastres cotidianos como perseguições seguidas de
explosões e choques de automóveis, destruição de bens e descartabilidade de
objetos. Em um pequeno insight solto em uma frase do livro clássico “Monopoly
Capital” de 1966 os economistas Paul A. Baran e Paul M. Sweezy sugerem uma conexão
entre essa verdadeira cultura da destruição fílmica e a chamada obsolescência
planejada, estratégia dos oligopólios e monopólios de propositalmente fabricar
e distribuir produtos que em pouco tempo ficarão obsoletos ou não-funcionais,
forçando o consumidor a adquirir uma nova geração de produtos evitando, assim,
a estagnação dos mercados. Poderiam as destruições em série no cinema ser a
proto-narrativa que naturaliza e torna aceitável essa descartabilidade
generalizada de bens? Ou seria apenas a expressão de um “espírito de época”?
Em uma curtíssima passagem que
mais parece um insight inserido no final de uma frase, os economistas Paul
Baran e Paul Sweezy no livro “O Capitalismo Monopolista” fazem uma surpreendente
conexão entre a necessidade de o capital criar obsolescência e descartabilidade
dos produtos nos seus esforços por vendas e a obsessão do cinema
norte-americano em explorar o tema da destruição generalizada em muito dos seus
filmes. Os autores jogam no ar a sugestão de um interessante sincronismo entre
um fato econômico e a verdadeira cultura da destruição que marca os filmes
norte-americanos: filmes-catástrofes, perseguições que terminam em colisões e
explosões, incêndios, desmoronamentos, monstros ou aliens que destroem cidades,
sinistros de todas as espécies que levam a destruição de bens e propriedades em
larga escala etc.
Cenas de destruição ou
descartabilidade generalizada de bens como roupas e automóveis são inseridas em
narrativas dos mais diversos gêneros cinematográficos desde formas explícitas
(os filmes-catástrofes sobre o fim do mundo) ou formas mais sutis: para onde
vão as roupas “civis” do homem-aranha e do super-homem após as suas
transformações em becos e cabinas telefônicas? Não importa o gênero de filme:
sempre estará lá uma cena de colisão de automóveis, um incêndio, a
descartabilidade ou perda de objetos ou bens como automóveis, roupas e casas
que parecem não incomodar muito os personagens. Tudo parece que poderá ser
reposto ou reconstruído rapidamente.
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
Oscar de melhor filme para "Argo": os EUA elogiam sua principal arma, a ilusão
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado com o Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e edição, o filme “Argo” (2012), dirigido e
estrelado por Ben Affleck, se integra a uma tendência atual de filmes voltados
aos anos 1970 (“Super 8”, “Um Olhar do Paraíso” etc.), dessa vez recriando a
trama real do resgate pela CIA de seis diplomatas americanos durante a revolução
iraniana de 1979 liderada por Ruhollah Khomeini. O filme parece confirmar uma
estratégia de resposta imaginária da indústria do entretenimento a cada crise:
se nos anos 80 reagiram com a nostalgia das décadas de 1950, agora diante da
crise financeira global temos a nostalgia pelos temas da década de 1970. Tudo
isso como espécie de reafirmação patriótica: “Sim! Ainda somos poderosos, mesmo
com toda crise financeira real ainda dominamos o mundo imaginário, a nossa
maior arma”.
A década de 1970 não foi fácil
para a política externa norte-americana: a humilhante retirada do Vietnã, a
escalada da crise do petróleo e, para culminar, a crise dos 52 diplomatas norte
americanos mantidos como reféns por 444 dias após a embaixada dos EUA no Irã
ser invadida por uma massa enfurecida em plena revolução iraniana de 1979.
Paralelo a esses problemas do
mundo real, sabemos que, mais do que qualquer outro lugar no mundo, os EUA
produziram uma cultura onde o entretenimento invadiu todos os setores da
sociedade até o momento em que as pessoas passam a ser felizes por reviverem
fragmentos do passado por meio das imagens ao invés de enfrentar a realidade
diária.
É notório como a indústria do
entretenimento norte-americana responde no plano do imaginário às crises
políticas e econômicas vividas pelo país desde os anos 1970: primeiro,
retornando a imagerie da década de
1950 como os anos dourados e míticos fundadores da autoconfiança americana –
desde à retro-fantasia de Star Wars, filmes como “De Volta para o Futuro”,
“Peggy Sue Got Married”, “Grease”, “American Graffity”, “Forrest Gump”,
“Pleasantville” etc. À crise de autoconfiança, a indústria do entretenimento
sugere uma nostalgia paradoxal: ter saudades de épocas que, afinal, não
vivemos.
Em resposta à crise financeira
global iniciada em 2008 após a explosão da bolha imobiliária nos EUA, Hollywood
empreende uma nova onda nostálgica, dessa vez voltada aos anos 1970-80: filmes
como “Super 8” (um mix de “Os Goonies” com “ET”), “Um Olha do Paraíso”, “Black
Dynamite”, “The Runways” e todo o pastiche dos anos 1970 de “Kill Bill” de
Quantin Tarantino.
sábado, fevereiro 23, 2013
O evangelho do capitalismo tardio no filme "Rede de Intrigas"
sábado, fevereiro 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vencedor de quatro
Oscars em 1977, “Rede de Intrigas” (Network, 1976) de Sidney Lumet foi interpretado
na época apenas como um drama sobre “o primeiro homem a morrer por causa dos
baixos índices de audiência”. O filme estava à frente do seu tempo com um tom
de sátira cínica e trágica que profetizava uma nova forma de sensacionalismo
midiático bem diferente da velha “imprensa marrom”: uma espécie de
sensacionalismo ecumênico, o novo evangelho da nova ordem mundial que estava sendo instaurado – a Globalização. Para compreender totalmente o quão profético foi o
filme “Network”, somente através do conceito de “capitalismo tardio” tal como desenvolvido
pelo economista marxista belga Ernest Mandel em 1972.
- Olá, eu sou Diana Cristensen, uma racista escravizadora do
circo do Tio Sam.
- E eu sou Laura Hobbs, uma negra suja e comunista.
O insólito diálogo acima entre a
executiva da rede de TV norte-americana UBS com uma líder ativista radical de
esquerda ao se conhecerem para fechar o acordo sobre a exibição no horário
nobre do programa chamado “A Hora Mao Tsé-Tung” , é um dos cínicos e
irônicos momentos do filme “Rede de Intrigas” de Sidney Lumet. Para
conseguir audiência a executiva não hesitará em exibir vídeos gravados pelos
próprios guerrilheiros do Exército Ecumênico de Libertação assaltando bancos e
cometendo atentados.
sexta-feira, fevereiro 22, 2013
A experiência da bicicleta na música e no cinema
sexta-feira, fevereiro 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a
representação do imaginário da bicicleta na música e no cinema? Para nossa
surpresa encontramos uma conexão sincromística entre estas representações que relacionam a bicicleta
com um particular estado de consciência (pelo seu singular design que funde homem
e máquina) e o gnosticismo do pensador Basilides: o alterado estado mental de
"suspensão" que permitiria silenciar o ruído da linguagem para que
ouçamos o espírito.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Em Observação: "The Five People You Meet In Heaven (2004)
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Indicado pelo nosso leitor Hudson Bonomo, "The Five People You Meet In Heaven é uma adaptação para a TV do best-seller publicado em 2003, cujo roteiro contou com a participação do próprio autor Mitch Albom. O filme interessou o Blog por prometer "uma nova perspectiva sobre a morte e o sentido da existência", como afirma o autor. Vamos conferir e ficar atentos, principalmente, à representação do céu que o filme faz: desde 1998 com o filme "Amor Além da Vida" precebe-se uma transformação das representações cinematográficas sobre a morte e o céu em relação aos filmes clássicos sobre o tema. Vamos conferir para um futuro artigo
segunda-feira, fevereiro 18, 2013
A religião da América profunda no filme "O Mestre"
segunda-feira, fevereiro 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Indicado a três Oscar (melhor ator, atriz e ator coadjuvante) “O Mestre” (The Master, 2012),
inspirado claramente na trajetória do fundador da Cientologia L. Ron Hubbard, trata
sobre a relação entre o carismático líder de uma seita (“A Causa”) e um
seguidor decadente, violento e alcoólatra. Mas sentimos o tempo inteiro que
alguma coisa de mais interessante foi deixada de fora, algo que o diretor Paul
Thomas Anderson apenas sugere sem aprofundar: o ressentimento de uma América
profunda que produz seitas na mesma velocidade que surgem atiradores matando pessoas nas
universidades americanas.
Conta-se que Freud, ao avistar o
porto de Nova York e a Estátua da Liberdade em 1908 na sua única visita aos
EUA, teria supostamente comentado a Carl Jung ao seu lado: “Eles não sabem que
trazemos a peste”. Freud acreditava que retiraria os norte-americanos do
conforto das tradições ao fazê-los reconhecer nelas a origem das doenças do
psiquismo.
quinta-feira, fevereiro 14, 2013
A Semiótica das fotografias corporativas
quinta-feira, fevereiro 14, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As chamadas
fotografias corporativas acabaram se tornando um subgênero fotográfico,
onipresentes em banco de imagens, templates de blogs e sites, slides de
apresentações de qualquer natureza e, claro, no endomarketing de empresas.
Fotos onde são mostradas pessoas em situações positivas, motivadas, otimistas e
de boa fé. De “tecnologia de poder” que busca criar a autoimagem e justificativa
de instituições totais como empresas, hoje esse estilo de composição
fotográfica invade outros campos como educação, saúde, internet e publicidade. São
tidas como fotos “inspiradoras” e “motivacionais” em apresentações e
treinamentos de Recursos Humanos. Porém, não resistem a uma análise semiótica,
capaz de explicitar toda a carga de mitologia, estereótipo e retórica a partir
da qual são estruturadas.
terça-feira, fevereiro 12, 2013
Origens míticas e mágicas do Belo e da Arte
terça-feira, fevereiro 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Limpando o sótão de
casa e tentando dar uma ordem nas pilhas de livros e papéis, para minha
surpresa acabei encontrando os originais de um texto datilografado que foi a
base de uma palestra dada por mim na Associação Santista de Dança lá pelos
meados da década de 1980. Lembro-me que o tema proposto era “O Belo e a Arte” e
fazia parte de uma semana cultural promovida pela Associação. É um texto de
juventude, bem radical, raivoso e adorniano – fiquei pensando: “pobres daqueles
que ouviram essa palestra...”. Ironias à parte, o texto procurava tratar sobre o destino da
noção de Belo em uma sociedade de consumo que a explora como “álibi” para dar
um rótulo “nobre” ao objeto artístico mercantilizado. O argumento é que com a
sua mercantilização, esvazia-se a dimensão utópica e crítica da noção de Belo
desde suas origens míticas e mágicas. As referências do texto são basicamente
Theodor Adorno e Max Horkheimer do livro “A Dialética do Esclarecimento” e do
italiano Massimo Canevacci e sua visão de uma antropologia marxista do livro
“Antropologia do Cinema”. Confira abaixo e vejam o que vocês acham...
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