sábado, abril 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como interpretar o "bug" fatal da atualização do Windows 7 que fez inúmeros computadores entrarem em looping sem conseguir iniciar o sistema operacional? Como explicar um erro em proporções exponenciais partindo de uma corporação como a Microsoft? Conspiração mercadológica para forçar a atualização para o até aqui fracasso de vendas do Windows 8? Simples erro de sintaxe algorítmica de alguma linha de comando? Talvez o "bug" revele algo que nos escapa, apesar de sentirmos os seus efeitos no dia-a-dia: o desenvolvimento tecnológico estaria se aproximando a um estágio tal de complexidade que criaria uma reversibilidade fatal e maléfica e, ao mesmo tempo, irônica: a "hipertelia".
Fui mais um dos usuários vítimas
da verdadeira bomba informática que foi a atualização "2823324" do Windows 7. Sem
perceber, o Windows fez uma atualização automática que criou um “fatal system
error” como sinistramente diagnosticou o próprio computador para mim. O sistema
operacional não mais iniciava entrando em um looping, deixando-me em xeque
diante dos prazos de entrega de artigos e modelos de provas para a Universidade
onde leciono.
Segundo a própria Microsoft, a
atualização combateria a uma vulnerabilidade na segurança do sistema que
permitiria a um atacante ter acesso físico ao computador para explorá-lo. Mas,
ironicamente, a atualização feita em nome da segurança realizou o sonho de
qualquer hacker: produzir um efeito viral ou sistêmico e derrubar redes e
computadores.
Para aprofundar ainda mais a
ironia, de fato a atualização realmente deixou o computador mais seguro,
mantendo-o incomunicável não só com a Internet (a fonte da ameaça) mas com o
próprio usuário que não saberia que estaria sendo invadido. Cortou o mal pela
raiz!
Essa situação de ironia
surrealista lembrou-me a primeira sequência do filme “Team America - Detonando o Mundo”(Team America, 2004 - uma crítica
corrosiva à amoralidade dos heróis norte-americanos – veja links e a sequência do filme abaixo) onde
um grupo da chamada “Polícia Mundial” tenta parar a ação de terroristas
muçulmanos em Paris com uma parafernália de mísseis, bazucas e metralhadoras.
No final os franceses veem os terroristas mortos e a cidade destruída pela ação
“preventiva”da Polícia Mundial: ironicamente os americanos fizeram aquilo que
os terrorista planejaram, mandar Paris pelos ares!
Obesidade tecnológica: o estágio final da tecnologia
Para além de qualquer teoria
conspiratória sobre esse bug da Microsoft que atingiu apenas versões em
português do sistema operacional (a hipótese do “marketingbug”, plano para
forçar a desinstalação de cópias piratas do Windows 7 no maior mercado pirata,
o brasileiro), a ironia desse efeito surpreendentemente não previsto por uma
gigantesca corporação remete a uma reflexão sobre algo que nos escapa, embora
sintamos no dia-a-a-dia: o desenvolvimento teconológico chegaria a um estado de
complexidade tal que inviabilizaria o seu próprio propósito, isto é, utilidade
e função.
O pensador francês Jean Baudrillard
chamava de “obesidade” esse estágio da complexidade tecnológico que revelaria
uma reversibilidade fatal e perversa inata aos sistemas: a hipertelia.
O vanish point tecnológico
Hipótese perturbadora: e se os
sistemas de comunicação e informação estiverem caminhando par um vanish point, um ponto de
inversão e entropia? E se todos os sistemas estiverem entrando em um estágio de
inversão da finalidade inicial tendendo a um ponto de inércia, a um ponto zero
da informação?
Acredita-se que todos os
processos desenvolvem-se até um certo ponto e que, sendo este ultrapassado,
perdem sua eficácia e tornam-se absolutamente disfuncionais (...) o
desenvolvimento da ciência, que até certo ponto foi impulsionado por toda a
sociedade, recebeu fortes investimentos da indústria, dos governos e
instituições sociais, esse mesmo desenvolvimento passou, a partir desse ponto
de disfunção, a ser prejudicial para a sociedade, na medida em que põe em risco
sua estabilidade e mesmo sua existência”(MARCONDES, Ciro. Televisão, São Paulo:
Scipione, 1995, p. 58-9).
Hipertelia (de hiper – sobre, além, fora das medidas -
e telos – resultado, final,
conclusão) seria a natureza “maligna”ou “perversa” dos sistemas tecnológicos
que chegam a um tal grau de complexidade que tornariam-se inúteis e inertes.
Uma patafísica dos sistemas! Exemplos desse ponto de viragem nos sistemas tecnológicos podem ser encontrados por todos os lados.
Por exemplo, na Guerra do
Golfo em 1991, o que podemos dizer do avião invisível aos radares que, de
tão sofisticado e caro aos cofres públicos dos EUA, poucas vezes levantou vôo?
Ou os
automóveis atuais, sofisticados, estáveis e velozes, vivem agora presos em
congestionamentos. Resultado: os acessórios tomam conta das inovações
tecnológicas, para que o motorista se sinta cada vez mais confortável parado em
engarrafamentos do que em deslocamento. A complexidade do sistema viário inutiliza a sua própria função: o transporte.
Ironia dos sistemas: a proliferação das patologias em ambientes assépticos
Ou então o alcance do grau zero
da informação televisiva: a expansão do número de canais em um aparelho de TV
volta-se contra o próprio conteúdo. Diante de 300 canais, é impossível escolher
qual assistir. Resultado: o efeito zapping, onde o divertido não assistir ao
conteúdo, mas trocar compulsivamente de canais. A tecnologia televisiva
volta-se contra o próprio valor de uso da informação.
Ou ainda a
infecção hospitalar que surge, ironicamente, no ambiente mais asséptico e controlado
possível: nas salas de operação a profilaxia é tal que embora nenhuma bactéria
ou micróbio sobreviva, é justamente aí que surgem doenças misteriosas, anômalas
e virais. Porque os virus se proliferam onde tem espaço livre. No mundo clínico
ideal, de obesidade asséptica, é onde prolifera a patologia impalpável orginada
da própria desinfecção!
O fantasma na máquina
A obsessão da
tecnologia em expandir-se para alcançar funcionalidades e utilidades cada vez
mais precisas, eficazes e de alto desempenho, resulta, ironicamente, na
absoluta inutilidade. É a “transparência do Mal”. Tal como um acidente
catastrófico de um trem-bala, a tecnologia bate de frente, em alta velocidade,
com o princípio do Mal que governaria o nosso cosmos.
Obsessivamente a tecnologia e a
ciência buscar negar a presença do Mal, isto é, de uma natureza perversa, de um
limite, de uma entropia máxima no Universo faz toda e qualquer sistema de
processamento de informações bater de frente na própria velocidade da luz, na
quantidade mínima necessária para mover informações.
Há um fantasma que assombra
todas as máquinas e sistemas, um fantasma que representa a inércia, entropia e
acidente.
Os sistemas tentam chegar à
“brancura, à transparência, à operacionalidade máxima por meio de uma linguagem
algorítmica que consiga calcular todas as variáveis possíveis em um dado
instante. Mas colidem a a reversibilidade maligna de todas as intenções ou
metas.
O bug da Microsoft é o sintoma
dessa virulência do Mal que surge em ambientes assépticos e controlados que em
nome do combate a toda agressão externa reverte-se contra si mesmo:
Todos os sistemas integrados e superintegrados, os sistemas
técnicos, o sistema social, o próprio pensamento na inteligência artifical e
seus derivados, tendem a esse limite de imunudeficiência. Buscando eliminar
toda agressão externa, destilando a própria virulência interna, sua
reversibilidade maléfica. Em certo ponto de saturação eles assumem sem querer
essa função de reversão, de alteração, tendendo a destruir a si mesmos. A
própria transparência os ameaça, e o cristal se vinga”(BAUDRILLARD, Jean. A
Transparência do Mal. Campinas: Papirus, 1990, p. 69).
Talvez o bug da Microsoft não
tenha sido simples erro de um estagiário, falha de codificação, sintaxe
imperfeita em uma linha de comando ou uma conspiração mercadológica. Todas
essas hipóteses seriam meras racionalizações para salvaguardar as instituições
da Ciência e da Tecnologia, tidas por nós como inquestionáveis e infalíveis. Se
há falha, só pode ser humana.
Mas por serem a projeção do
próprio pensamento humano (que a seu modo é uma espécie de rede de anticorpos e
de defesa imunológica que tenta expurgar a realidade exterior) a Ciência e Tecnologia
caem vítimas de todos os sistemas e redes: a hipertelia, a reversibilidade maléfica
que faz nos lembrar de que o Universo é regido pelo acaso, caos e aletório.
Isto é, regido pelo Mal.
Cinegnose participa do programa Poros da Comunicação na FAPCOM
Este humilde blogueiro participou da edição de número seis do programa “Poros da Comunicação” no canal do YouTube TV FAPCOM, cujo tema foi “Tecnologia e o Sagrado: um novo obscurantismo?
Esse humilde blogueiro participou da 9a. Fatecnologia na Faculdade de Tecnologia de São Caetano do Sul (SP) em 11/05 onde discutiu os seguintes temas: cinema gnóstico; Gnosticismo nas ciências e nos jogos digitais; As mito-narrativas gnósticas e as transformações da Jornada do Herói nas HQs e no Cinema; As semióticas das narrativas como ferramentas de produção de roteiros.
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Coleção Curtas da Semana
Lista semanalmente atualizada com curtas que celebram o Gnóstico, o Estranho e o Surreal
Após cinco temporadas, a premiada série televisiva de dramas, crimes e thriller “Breaking Bad” (2008-2013) ingressou na lista de filmes d...
Sábado, 29 de Março
Bem Vindo
"Cinema Secreto: Cinegnose" é um Blog dedicado à divulgação e discussões sobre pesquisas e insights em torno das relações entre Gnosticismo, Sincromisticismo, Semiótica e Psicanálise com Cinema e cultura pop.
A lista atualizada dos filmes gnósticos do Blog
No Oitavo Aniversário o Cinegnose atualiza lista com 101 filmes: CosmoGnósticos, PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos.
Esse humilde blogueiro participou do Hangout Gnóstico da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) em 03/03 desse ano onde pude descrever a trajetória do blog "Cinema Secreto: Cinegnose" e a sua contribuição no campo da pesquisa das conexões entre Cinema e Gnosticismo.
Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
Neste trabalho analiso a produção cinematográfica norte-americana (1995 a 2005) onde é marcante a recorrência de elementos temáticos inspirados nas narrativas míticas do Gnosticismo.>>> Leia mais>>>
"O Caos Semiótico"
Composto por seis capítulos, o livro é estruturado em duas partes distintas: a primeira parte a “Psicanálise da Comunicação” e, a segunda, “Da Semiótica ao Pós-Moderno >>>>> Leia mais>>>