Nosso leitor “!3runo”
sugeriu o filme “Disconnect” que imediatamente passou a interessar o blog: sua tese central é a de que o massivo acesso às
redes sociais e a natureza viciante das comunicações instantâneas estão nos
tornando desconectados em relação às pessoas em torno de nós. As três inter-relacionadas
histórias do filme que envolvem exploração pornográfica na internet,
cyberbullying e fraudes com cartões de créditos revelam não só o potencial
criminógeno das novas tecnologias. Seriam a face mais sensacionalista do
fenômeno subterrâneo da incomunicabilidade em plena era da informação.
Disconnect (2013)
Diretor: Henry-Alex Rubin
Plot: Nina
(Andrea Risenborough) é uma jornalista televisiva que faz uma reportagem investigativa
sobre sites e chats pornôs que recrutam menores de idade, muitos deles
fugitivos. Ela estabelece uma conexão com Kyle (Max Thieriot), eles se
encontram e Nina o convence a participar de uma entrevista sob a promessa de
manter sua identidade oculta. Quando as imagens são exibidas pela CNN (algo
importante para a carreira da ambiciosa Nina), chama a atenção do FBI que passa
a pressioná-la a revelar sua fonte.
O advogado da rede televisiva, RichBoyd (Jason Bateman), é
acionado. Mas ele tem problemas mais urgentes com o seu filho adolescente Ben
(Jonah Bobo), um aspirante a músico solitário e sem amigos na escola. Ele é
humilhado por outros alunos que decidem preparar-lhe uma armadilha virtual:
inventam um perfil feminino na Internet que começa a mandar mensagens para Ben.
No início se diz admiradora da sua m sua música, até lhe enviar uma suposta
foto sua nua. Pede para que Ben faça o mesmo.
O pai de um desses meninos que humilham Ben foi um policial
que investigava crimes informáticos e hoje é um detetive privado. Ele
investigará fraudes com cartões de créditos. Essas três narrativas se
entrelaçarão ao longo do filme.
Por que está “Em
Observação”?–Web cams apresentado shows pornográficos, ladrões de
identidades e cyberbullyings. Esses são os temas que definem a Internet segundo
o filme. Nos anos 1990 quando a Internet começava a crescer juntamente com uma
série de promessas messiânicas (desde “a nova corrida do ouro” até as teses
sobre a construção de uma “inteligência coletiva”) muitos pesquisadores observaram
que era uma tecnologia potencialmente criminógena. As possibilidades de
anonimato, falsos perfis e as possibilidades ilimitadas que a tecnologia
telemática abriu para agir à distância criaram um ambiente de ações virtuais
que não só atraiu as tradicionais perversões humanas como criou novas.
As novas tecnologias
abrem caminho para novas desordens. Criam ansiedade, são frágeis. E, ainda mais
preocupante, graças à irresponsabilidade intrínseca dos atos que o sistema
induz, são criminógenas. Programas de informática estão à mercê das bombas
lógicas dos vírus de computador, atentados terroristas a centrais elétricas,
trotes por telefone, escutas clandestinas em celulares, gangues organizadas
para operações de desfalque e lavagem de moeda.
Como informa o
pesquisador francês Jean Chesnaux "em Sydney, o Hackwatch (Serviço de vigilância aos hackers (obcecados por informática e, muitas vezes, autores de vírus
e falcatruas eletrônicas) da polícia
não sabe o que fazer diante da cumplicidade entre os adolescentes de 15 anos e
os chefes da máfia" (CHESNAUX, Jean. Modernidade
Mundo, Petrópolis: Vozes, p. 31).
Se no filme “A Rede
Social” (2010), (já discutido aqui no blog – clique aqui) estava em discussão a
incomunicabilidade das pessoas a partir do momento em que os relacionamentos
são transpostos para ambientes virtuais, em “Disconnect” o tema parece ser o
mesmo: nunca uma geração teve disponível tantas ferramentas de comunicação, mas
ao mesmo tempo nunca as pessoas estiveram tão “desconectadas” em relação ao
outro.
Porém, “Disconnect” apresenta o problema com tintas mais fortes. Cyberbullyings,
pornografia virtual e roubos de identidades seriam dramáticos sintomas de uma
tecnologia que, sob o pretexto de facilitar contatos profissionais, de serviços
e pessoais, transformariam relações em meras conexões fugidias e aparentemente
sem responsabilidade ética ou moral.
O Que Promete? – O filme promete fazer uma crítica que não
passe uma mensagem meramente ludista (movimento que defende uma relação fóbica
com máquinas e tecnologia). Por exemplo, se o garoto é vítima da tecnologia
pelo cyberbullying, por outro lado seu talento musical só aflora graças a essa
mesma tecnologia. Segundo a crítica especializada, a força do filme está na sua
plausibilidade e em demonstrar como a crítica social e as autoridades não
conseguem acompanhar o ritmo das inovações tecnológicas e seus sombrios
potenciais.