domingo, setembro 30, 2018
Curta da Semana: "Nerd Cave" - a Caverna de Platão 2.0
domingo, setembro 30, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Nerd” deixou há muito
tempo de ser um termo pejorativo, principalmente porque por trás deles há uma
lucrativa indústria em expansão: os jogos de computadores. Alguns pesquisadores
em cibercultura acreditam que se tornou até mesmo uma “categoria psicológica”
motivada pelo desejo da imortalidade através da desconexão com a realidade.
Principalmente quando atualmente os games adquiriram o status de esporte. O
curta dinamarquês “Nerd Cave” (2017) um compulsivo gamer de jogos on line vive
em sua própria “Caverna de Platão”, com a sua mãe. Até que um dia, a energia do
bairro em que mora acaba e o seu mundo desmorona. Então, sua mãe tentará se
reconectar com o filho, através de peixinhos num aquário. Um curta repleto de
alegorias. Mas a principal é que agora vivemos a Caverna de Platão 2.0: também
podemos interagir e jogar com as sombras projetadas na parede.
sábado, setembro 29, 2018
Em "Branco Sai, Preto Fica" o tempo brasileiro é o eterno retorno
sábado, setembro 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 1986 policiais
invadem um baile funk em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, ferindo física
e psiquicamente dois homens. Em 2014, um terceiro homem vem do futuro a procura
de evidências que ajudem um movimento identitário negro mover uma ação contra o
Estado pelos danos daqueles homens no passado. “Branco Sai, Preto Fica” (2014)
de Adirley Queirós é uma ousada experimentação em um gênero pouco visitado pelo
cinema brasileiro – o filme consegue construir uma espécie de “meta docudrama
sci-fi”. Com sua desolação, frieza e aridez, Brasília deixou de ser a utopia
modernista de uma possível civilização brasileira para se transformar na
perfeita cenografia de filmes distópicos, com uma vantagem: não é preciso
computação gráfica. No país do futuro, o tempo é um eterno retorno: se o
presente é um apartheid social, o futuro não deixa por menos – a “Vanguarda
Cristã” tomou o poder e ameaça o sucesso das investigações. Filme sugerido pelo nosso leitor Paulo Pê.
segunda-feira, setembro 24, 2018
Bolsonaro X Haddad no segundo turno? Guerra híbrida continua vencendo
segunda-feira, setembro 24, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais uma vez a sabedoria
desconfiada do velho Leonel Brizola. Acostumado com os truques da geopolítica
dos EUA, em 1989 Brizola acusava Lula de ser inflado pela direita para mais
facilmente a própria direita, representada então por Collor, vencer. Tudo leva
a crer que Bolsonaro e Haddad irão ao segundo turno. Otimismo e ufanismo ganham
a esquerda, saudando o gênio político de Lula, mesmo com todo massacre
midiático e “lawfare”. Como sempre, a esquerda apenas compreende a superfície
da atual guerra híbrida brasileira, em ação desde 2013. Para além do
impeachment e a prisão de Lula, há um objetivo semiótico mais insidioso:
polarização (petismo X anti-petismo) e despolitização (o jargão do
empreendedorismo e moralismo travando qualquer debate de macro-conjuntura) -
infantilização o debate político através do ódio e irracionalidade de uma opinião
pública que se acostumou a odiar a Política. E nesse momento, a grande mídia
busca mais uma “bala de prata” para turbinar a polarização. Será que o velho Brizola
tem mais uma vez razão? (ilustração: Felipe Lima, "Gazeta do Povo")
domingo, setembro 23, 2018
Estranhas portas que jamais foram fechadas em "Mandy"
domingo, setembro 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que parece ter
saído de alguma capa de disco heavy metal dos anos 1980, começando pelo pôster
promocional. E que exige do espectador uma entrega ativa, ao invés de
passivamente analisa-lo. Por isso, a maioria da crítica considera “Mandy”
(2018), do diretor canadense Pano Cosmatos, um filme absolutamente insano,
estranho e difícil de ser resenhado. Na verdade, nem seria um “filme”, mas uma
“experiência” non-sense e surrealista com um mix alucinado de referencias a
comerciais, animações, HQs, rock metal e mais da cultura pop dos anos 1980.
Tirando as camadas de exercício de estilo, Cosmatos dá continuidade à reflexão
iniciada no filme anterior “Beyond The Black Rainbow” (2010): as consequências
do “despertar místico” do esoterismo e ocultismo na cultura pop em torno das
viagens alucinógenas psicodélicas do LSD. De como toda uma geração tentou
buscar um atalho para a iluminação espiritual, mas acabou encontrando uma “bad
trip”: o Demiurgo existente em cada um de nós.
terça-feira, setembro 18, 2018
Por que teledramaturgia da Globo está assombrada com o Tempo e a História?
terça-feira, setembro 18, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dois temas parecem assombrar
a atual teledramaturgia da Globo: o Tempo (viagem no tempo, déjà vus, vidas
passadas, reencarnações etc.) e a História (pastiches da Idade Média,
releituras do Brasil do Império etc.). Algo que se distingue das tradicionais
“novelas de época” que marcaram a história do gênero na TV brasileira. Nunca se
verificou essa recorrência temática em tantas telenovelas, apresentadas
simultaneamente ou em sequência nos diferentes horários. Sabe-se que em ano
eleitoral o laboratório de feitiçarias semióticas da emissora funciona em tempo
integral. O que essa recorrência pode significar dentro desse contexto? Nova bomba semiótica? Ou o
sintoma do temor de uma emissora hegemônica que sabe da importância do atual
cenário eleitoral? – é matar ou morrer. É o momento de entendermos a célebre
afirmação de George Orwell: “Quem
controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o
passado”.
domingo, setembro 16, 2018
A tecnologia deixou de ser uma extensão humana em "Upgrade"
domingo, setembro 16, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A crítica vem definindo
a produção australiana “Upgrade” (2018) como alguma coisa entre a série
britânica “Black Mirror” e o clássico “Robocop” de 1987: em um futuro próximo,
um tecnofóbico (alguém que sempre gostou de “fazer as coisas com as próprias mãos”)
tem sua vida virada de ponta cabeça ao ficar tetraplégico e receber o implante
de um chip de computador que o fará andar novamente, porém com algumas
“atualizações”. Tudo que deseja agora é vingança contra os assassinos de sua
esposa, quando descobre estar em um plot conspiratório envolvendo algum tipo de
espionagem industrial. “Upgrade” é um filme que revela o atual imaginário que
anima o desenvolvimento computacional – Inteligência Artificial e
Singularidade, o momento em que a tecnologia deixa de ser a extensão do corpo
humano para se tornar sua própria negação.
terça-feira, setembro 11, 2018
Zygmunt Bauman e o incêndio "líquido" do Museu Nacional
terça-feira, setembro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conceito de Zygmunt Bauman, a “Modernidade
Líquida” aqui no Brasil assume aspectos
dramáticos, como um Projeto que deve ser colocado em prática a todo custo: a
drenagem do Estado até a sua liquefação e a transformação em mero gestor de “fluxos”.
Um sintoma foi o incêndio do Museu Nacional no Rio. Mas, principalmente, as
notícias em torno do futuro do Museu: investigações com alta tecnologia e a
possibilidade de imprimir réplicas em 3D a partir de fotos do patrimônio
perdido. É notável que toda essa sofisticação não estivesse disponível para
mantê-lo sólido e em pé. Só entrou em cena depois que o Museu desapareceu! A
ideia de liquidez transformou-se em algo muito além de uma categoria econômica:
virou uma espécie de “a priori” cognitivo, no qual não há sentimento de luto ou
perda que poderiam promover crítica ou indignação. O pensamento “líquido” transforma catástrofes e
tragédias como essas em vulgata ou banalidade: a tecnologia poderá trazer tudo
de volta mesmo...
domingo, setembro 09, 2018
Em "O Futuro" o maior inimigo da geração dos "millennials" é o tempo
domingo, setembro 09, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa época em que o trabalho, a
cultura e a tecnologia liquefazem e precarizam nossas vidas na fluidez e instabilidade, os “millennials”
tentam se agarrar nos destroços de uma suposta sabedoria do passado e nos
gadgets, aplicativos e plataformas digitais do presente. Um presente que se
torna eterno, pelo medo e ansiedade em relação ao futuro, porque nada parece
durar por muito tempo. Mas um jovem casal decide adotar um gato, e acredita que
tudo vai mudar. “O Futuro” (“The Future”, 2011) é uma fábula pós-moderna sobre
tecnologia e o futuro da geração mais tecnologizada da História. Mas o medo do
futuro e de compromissos, representado agora por um gato necessitando de intensivos
cuidados veterinários, é tão paralisante que ameaça dissolver a vida conjugal
pela mentalidade “líquida” da sua geração. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
sábado, setembro 08, 2018
Atentado a Bolsonaro foi um tombo para cima?
sábado, setembro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As eleições (?) aproximam-se e a
temperatura aumenta. E essa semana foi particularmente dramática como um bom
roteiro de ficção, sinalizando o que vem pela frente: começou com o simbólico
incêndio do Museu Nacional no Rio e terminou com o “timing” do atentado contra
o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Assim como nos atentados de
Londres, Paris, Berlim etc., as imagens da facada em Jair Bolsonaro repetem o
script: sincronismos, anomalias, timing e algo mais: repete o mesmo contexto do
controvertido acidente aéreo do candidato Eduardo Campos em 2014 – um contexto
de esgotamento das bombas semióticas da grande mídia e o baixo desempenho da
então esperança Aécio Neves frente à esquerda, forçando a procura de um “Plano
B”. De uma reunião sigilosa de Bolsonaro com o Grupo Globo no início da semana
à euforia dos 1.000 pontos do mercado financeiro ao saber da facada no
candidato terminando com uma cobertura emotiva e apelativa no Jornal Nacional
com vídeo exclusivo de Bolsonaro falando de Deus, da maldade humana e
descrevendo o atacante como um “lobo solitário”, fecha-se o roteiro típico de
um filme ou HQ: Bolsonaro foi promovido a “Mito Plano B” do consórcio
jurídico-midiático – um final feliz com um tombo para cima?
terça-feira, setembro 04, 2018
Tautismo Global, sincronismos e ironias no incêndio do Museu Nacional
terça-feira, setembro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No Manifesto Futurista, Marinetti
falava em “destruir museus” para libertar as consciências dos “inúmeros
cemitérios”, e nos prepararmos para o futuro. Em visita ao Rio em 1926,
Marinetti repetiu tudo isso e viu no Brasil um país futurista porque não teria
“nostalgia das suas tradições”... Claro, Marinetti era um iconoclasta. Mas o
Brasil é mais realista que o rei. Leva ao pé-da-letra coisas como “austeridade
fiscal” (cuja realização máxima foi, até aqui, a “PEC da Morte”) que até o
próprio FMI criticou em 2016. O incêndio do Museu Nacional foi um acontecimento
irônico e sincrônico, na cidade em que Marinetti via a “realização acidental”
do futurismo: resultado do neoliberalismo levado à sério num momento em que o
fascismo se aproxima no segundo turno das eleições – um fascismo próximo ao de
Marinetti. E, mais uma vez, o motor dessa austeridade levada à sério foi a
cobertura tautista (tautologia + autismo midiático) pela Globo da catástrofe
científico-cultural. Sinal dos tempos: a cobertura de Carlos Nascimento ao vivo
dos choques dos aviões contra as torres gêmeas em 2001 conseguiu ser mais
objetiva do que os relatos sobre o incêndio, encaixados nos dois eixos
narrativos globais: “esse país é uma merda!” e “corrupção, corrupção e
corrupção...”.
segunda-feira, setembro 03, 2018
"Videodrome - A Síndrome do Vídeo": como a tecnologia controla mente e carne
segunda-feira, setembro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um diretor de uma TV a cabo descobre o
sinal pirata de uma transmissão de “Snuff TV” (filmes que mostram violência,
abusos sexuais e mortes reais) chamada “Videodrome”. Mas da pior maneira
possível, ele descobrirá que é muito mais do que um show de TV: é um
experimento cujas ondas catódicas provocam danos cerebrais permanentes. Arma
para vencer a guerra pelo controle das mentes da América planejada por uma
obscura empresa que faz óculos de baixo custo para o Terceiro Mundo e sistemas
de orientação para mísseis da OTAN. Esse é “Videodrome – A Síndrome do Vídeo”
(1983), clássico filme de David Cronenberg que transformou em cinema toda uma
tradição de crítica à mídia e tecnologia canadense, de Marshall McLuhan a
Arthur Kroker: o momento em que a tecnologia deixa de ser mera extensão do
homem para se transformar em carne. E o homem se transforma num aparelho de
videocassete.
sábado, setembro 01, 2018
Curta da Semana: "O Futuro Será Careca" - Por que temos horror ao vazio em nossas cabeças?
sábado, setembro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vivemos uma sociedade de consumo que
ama tudo aquilo que está cheio: sonhos, sacolas de compras, cabelos. Odeia o
vazio porque cria uma “incontrolável sensação de desgosto”. E os carecas seriam
a síntese de tudo isso que as pessoas temem: carregam o vazio sobre suas
cabeças. Esse é o tema do surreal curta francês “O Futuro Será Careca” (“Le
Futur Sera Chauve”, 2016), de Paul Cabon. Um jovem protagonista cabeludo
descobre numa refeição em família o futuro que lhe espera: a calvície
hereditária. E revela o sintoma de uma sociedade que criou o mito da juventude
como estratégia publicitária sedutora e pervasiva – a inabilidade de crescer e
envelhecer.
quarta-feira, agosto 29, 2018
A nova bomba do laboratório de feitiçarias semióticas da Globo: "1+1=3"
quarta-feira, agosto 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O leitor deve conhecer ou ter ouvido
falar daquela velha cartilha escolar de alfabetização de priscas eras chamada
“Caminho Suave”, o be-a-bá do mundo das letras. Pois é nesse nível que
interesseiramente se situam as chamadas “ferramentas de fact-checking”. Tática
diversionista para desviar a atenção da opinião pública de uma outra cena na
qual as notícias de fato funcionam: não no campo da representação (verdade ou
mentira), mas no deslizamento metonímico das edições, escaladas, justaposição
narrativa para criar percepções, impressões e relações de causa e feito. Como,
por exemplo, a nova bomba que o laboratório de feitiçarias semióticas do
telejornalismo da Globo criou em ano eleitoral para blindar o seu candidato
campeão Alckmin: a bomba semiótica “1+1=3” – comece narrando uma notícia... e
de repente dê uma guinada e passe a falar de outra notícia, criando duas linhas
narrativas simultâneas e tão confusas que o telespectador começará a criar
relações de causa e efeito que acabarão criando uma terceira notícia. Aquela
verdadeira notícia que a emissora gostaria de informar para esconder uma
realidade comprometedora.
segunda-feira, agosto 27, 2018
A estrada para o Inferno está pavimentada por convites no filme "Hereditário"
segunda-feira, agosto 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Hereditário” (“Hereditary”, 2018) é
um filme singularmente aterrorizante. Ele não cava apenas nos abismos sombrios
do nosso inconsciente. Explora
principalmente o fenômeno bem atual da incomunicabilidade familiar e do
processo psíquico de negação. Dois plots clássicos do gênero são explorados: o
Mal que ameaça a união familiar e o elemento narrativo do “convite” através do
qual o Mal pode ter a licença para entrar em nossas casas e pavimentar o
caminho ao inferno. Mas o singular em “Hereditário” é que o Mal vem do interior
do próprio lar: uma família que se sente
desconfortável com exposições francas de qualquer coisa que possa revelar o
interior um ao outro. Silêncios e mecanismos de negação encobrem traumas do
passado que pode retornar como uma demoníaca maldição.
sábado, agosto 25, 2018
O fim do mundo é um sintoma, discute "Cinegnose" em Simpósio no Rio
sábado, agosto 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase diariamente é previsto o fim do
mundo na TV ou na Internet, enquanto no cinema narrativas ficcionais reforçam
essas previsões com protagonistas às voltas com apocalipses climáticos,
cósmicos, geológicos, tecnológicos, alienígenas etc. Por que o mundo tem que
ser destruído? Por que essa necessidade pelo fim, embalada como ficção e entretenimento
para consumo de massas? Ideologia? Manipulação político-ideológica? Ou algum
tipo de sintoma do inconsciente coletivo? Como o Gnosticismo pode oferecer uma
explicação e uma narrativa alternativa esse mistério sobre o “fim dos tempos”?
Essa foi a discussão que este humilde blogueiro levou para o Simpósio “Do Mundo
Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento que aconteceu de 22 a 24 últimos no
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.
quarta-feira, agosto 22, 2018
Se a Globo fosse uma pessoa, como ela seria?
quarta-feira, agosto 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Se a sua marca fosse
uma pessoa, como ela seria?... E a sua personalidade?”. A partir dessa
pergunta, os marqueteiros especializados no chamado “Brand Persona” definem a
“essência” de uma marca: Volvo? É “seguro”... Lamborghini? É “exótico”...
Disneylândia? É “mágico”. E como seria a Organização Globo, principalmente após
a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU para que Lula possa exercer
seus direitos políticos enquanto estiver na prisão? Entre simplesmente ignorar
a notícia e, depois, rebaixá-la a “fake news” (sob o silêncio das agências
“hipsters” de checagem), se a Globo fosse uma pessoa, estaria com sérios
sintomas de esquizofrenia midiática e formações reativas psíquicas que vão de
“negação” a “transbordamento”. Um malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação da divisão
dos blocos de notícias em seus telejornais que agora não apenas tenta ocultar
fatos. Mas também esconde a própria esquizofrenia midiática: como em um
momento ser a favor... e em outro ficar contra?
domingo, agosto 19, 2018
Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios
domingo, agosto 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um circo, cuja principal atração é uma
enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da
Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e
presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo
político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho
musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu
ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia
com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança.
Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do
diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos
planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade
aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.
terça-feira, agosto 14, 2018
Filme "Extinção" e a Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena
terça-feira, agosto 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Devo reconhecer que esse humilde
blogueiro resistiu muito a assistir ao filme “Extinção” (Extinction, 2018).
Vendo o pôster promocional e assistindo ao trailer, tudo levava a crer que o
filme seria mais do mesmo nesse subgênero sci-fi sobre aliens invadindo a
Terra. Afinal, maniqueísmo e patriotismo marcaram as produções por décadas.
Porém, “Extinção” é a prova definitiva sobre as mudanças atuais nesse subgênero
– no caso do filme, uma narrativa com interessante ponto de virada que
claramente remete à chamada “Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena”. A mais
antiga teoria sobre aliens no planeta, 1.600 anos anterior a atual onda de
teorias sobre aliens e OVNIs no planeta, iniciada em 1947. Antiga teoria
baseada nos textos gnósticos raros derivados das Escolas de Mistérios da
antiguidade pré-cristã que se convencionou chamar de “Biblioteca de Nag
Hammadi”. Um protagonista com pesadelos recorrentes sobre uma violenta invasão
alienígena no planeta, até que a realidade parece materializar seus terríveis
sonhos. Mas nada será o que parece. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
domingo, agosto 12, 2018
Série "Filhos do Caos": a combinação totalitária tecnologia, meritocracia e educação
domingo, agosto 12, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitos consideram a série taiwanesa
“Filhos do Caos” (“On Children”, 2018-), disponível no Netflix, como o
“Black Mirror” oriental: nos cinco episódios estão modernas tecnologias (de uma
espécie de controle remoto tempo-espaçial a neuro-dispositivos) que criam mundos
distópicos. Porém, todo o controle, disciplina e opressão recaem sobre
adolescentes – de um lado vivendo relações familiares disfuncionais de classe
média (pais que jogam nos filhos a culpa pela renúncia e sacrifício), e do
outro ambientes escolares meritocráticos e ultra competitivos onde entrar na
melhores escolas e universidades significa honrar o status da família diante da
sociedade. Cada um dos cinco episódios narra a totalitária combinação entre
valores culturais milenares com as modernas tecnologias de vigilância e
controle. Restando à juventude roubada a saída através do realismo fantástico e
o suicídio.
sexta-feira, agosto 10, 2018
Cinegnose participará do Simpósio "Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas" no RJ
sexta-feira, agosto 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Por que o mundo tem que acabar? –
Neo-apocalíptica e Escatologias Líquidas”. Esse será o tema da palestra deste
humilde blogueiro no Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”,
evento organizado pela
revista eletrônica “Cosmos e Contexto” juntamente com o Centro de Estudos
Avançados de Cosmologia (CEAC). O Simpósio
acontecerá de 22 a 24 de agosto no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de Janeiro, com a
participação de filósofos, historiadores, cosmólogos, pesquisadores e
sacerdotes, procurando um saber antidogmático que questione o monopólio da
Ciência na construção da realidade.
domingo, agosto 05, 2018
"As Boas Maneiras": um lobisomem brasileiro em São Paulo num país dividido
domingo, agosto 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme brasileiro “As Boas Maneiras”
(2017), da dupla de diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, parece
dialogar com o clássico expressionismo alemão Gabinete do Dr. Caligari (1919) e
o brasileiro “Que Horas Ela Volta?” (2015). Como o filme alemão, combina a
crítica social com o realismo fantástico. Mas “As Boas Maneiras” torna “Que
Horas Ela Volta” em um filme datado: o drama de uma empregada doméstica que
acompanha a estranha gravidez da sua patroa rica (que em noites de Lua cheia se
torna sonâmbula), reflete o imobilismo de uma sociedade ainda fundada na antiga
ordem escravocrata. Diferente do momento otimista do filme de 2015 (o clima de
progresso econômico e mobilidade social), tal como um sismógrafo, “As Boas
Maneiras” reflete o imobilismo e desencanto de uma sociedade dividida: o Mal
que surge das entranhas da elite do bairro do Brooklin para invandir a periferia
pobre do Capão Redondo – um lobisomem brasileiro em São Paulo.
sexta-feira, agosto 03, 2018
Bolsonaro e Neymar lucram com negatividade antimídia
sexta-feira, agosto 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma diferença de apenas 24 horas,
dois sintomas dos estranhos tempos em que vivemos: no domingo, no horário mais
caro da TV brasileira, o Fantástico da Globo, um pedido de desculpas auto-indulgente
de Neymar com o patrocínio milionário da Gillete. No dia seguinte, o candidato
à presidência de extrema-direita, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva da TV
Cultura, apontando uma metralhadora de cacofonias numa estudada estratégia de
confusão verbal e bate boca. Dois personagens que ganham força não pelas
virtudes (nem que seja para simulá-las) mas pela negatividade. Nesses
dois eventos o “bom senso” e a “ponderação” foram mandados à favas mostrando
uma estratégia paradoxalmente antimídia – ganham força a partir de uma
autodestruição das estratégias de enunciação que sempre ajudaram a mídia a
simular possuir algum valor de uso: “informar”, “entreter” e “educar”. As,
digamos assim, “sinceridades” de Bolsonaro (a extrema-direita em seu estado
bruto, sem as estratégias de enunciação suavizantes) e de Neymar (a negação
franca da virtuosidade do esporte – "falem o que quiser porque tenho dinheiro!")
são atos paroxistas. Se transformaram em “máquinas celibatárias” que ganham
força investindo contra a própria mídia que os promoveu.
terça-feira, julho 31, 2018
Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"
terça-feira, julho 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa
Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num
esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre
família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de
super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os
Incríveis” em 2004 fez parte dessa
agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom
motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis”
se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher
Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de
comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos
super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião
pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a
nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda
Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política
como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.
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