“Se a sua marca fosse
uma pessoa, como ela seria?... E a sua personalidade?”. A partir dessa
pergunta, os marqueteiros especializados no chamado “Brand Persona” definem a
“essência” de uma marca: Volvo? É “seguro”... Lamborghini? É “exótico”...
Disneylândia? É “mágico”. E como seria a Organização Globo, principalmente após
a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU para que Lula possa exercer
seus direitos políticos enquanto estiver na prisão? Entre simplesmente ignorar
a notícia e, depois, rebaixá-la a “fake news” (sob o silêncio das agências
“hipsters” de checagem), se a Globo fosse uma pessoa, estaria com sérios
sintomas de esquizofrenia midiática e formações reativas psíquicas que vão de
“negação” a “transbordamento”. Um malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação da divisão
dos blocos de notícias em seus telejornais que agora não apenas tenta ocultar
fatos. Mas também esconde a própria esquizofrenia midiática: como em um
momento ser a favor... e em outro ficar contra?
“Se a sua marca fosse uma pessoa, como
ela seria?” Pergunta fundamental para os profissionais de marketing fazerem o chamado
“Brand Persona” da marca.
Num exercício de imaginação, qual
seria a resposta se a mesma pergunta fosse aplicada à TV Globo? As respostas óbvias
poderiam ser o seu fundador Roberto Marinho. Ou, por que não, William Bonner ou
qualquer estrela do cast das
telenovelas ou programas de entretenimento?
Mas quando chegássemos à questão “como
seria sua personalidade?”, certamente teríamos que recorrer ao velho Freud para
explicar o imbróglio psíquico provocado na emissora após a decisão do Comitê de
Direitos Humanos das Nações Unidas para que Lula possa exercer seus direitos
políticos enquanto estiver na prisão.
Formação reativa da negação (mecanismo
psíquico de defesa) e esquizofrenia midiática seriam a descrição mais exata dos
sintomas de uma longa condição tautista (tautologia + autismo midiático) da
Globo – mistura de elemento ficcionais e não-ficcionais com o constante
auto-referenciamento, criando um “fechamento operacional”(Luhumann, Varela) em
relação ao mundo exterior: o “lado de fora” passa a ser traduzido a partir de
uma descrição que a Globo faz de si mesma – clique aqui.
Em uma série de postagens esse Cinegnose mostrou a principal
consequência dessa condição: o desgaste da Globo em tentar conciliar o papel de
verdadeiro partido político e seus objetivos comerciais que dependem da
sustentação de uma imagem de isenção e profissionalismo – veja links abaixo.
Gota d’água
A resolução da ONU parece que foi a
gota d’água que fez o copo de seu “psiquismo” transbordar: a Globo começa a
apresentar evidentes formações reativas de “transbordamento” – formas exageradas
de compensação para desviar a atenção e encobrir algo indesejado.
De início, o jornalismo da emissora
simplesmente negou a existência da resolução da ONU: se nós não noticiámos,
logo jamais existiu. Porém, esse modus
operandi de décadas não funciona mais num ambiente midiático de
convergência tecnológica – blogs, mídias e redes sociais.
Sem alternativa, a Globo partiu para o
mecanismo de defesa de deslocamento: começou a adotar o viés de que tudo foi apenas
uma “recomendação” do órgão internacional. Esse foi o mantra repetido em editoriais
e informações de pauta selecionadas para os telejornais.
A autofagia global
Ou, como se notabilizou desde o
chamado “escândalo da Wikipédia” em 2014 (de forma bombástica a Globo vitimizou
duas estrelas do seu jornalismo, Miriam Leitão e Carlos Sardenberg, como
supostos alvos de fraude na manipulação dos seus perfis na enciclopédia virtual
– clique aqui), colocada no limite a Globo sacrifica
a principais peças da casa como uma espécie de autofagia: a imolação de William
Waack após ser pego fazendo galhofas racistas; o vexame da Miriam Leitão repetindo
em tatibitati a resposta da cúpula do jornalismo no ponto eletrônico às
provocações de Bolsonaro em debate na Globo News...
E agora, diante da saia justa da ONU, Carlos
Sardenberg foi colocado para dizer na rádio CBN e no Portal G1 que a importância
da resolução da ONU não passaria de “fake news” petista. Para a vergonha alheia
dos especialistas em direito internacional. E silêncio das chamadas “agências
de fact checking” como Lupa, Aos Fatos e Projeto Comprova – o que apenas
evidencia a essência do atual “jornalismo hipster” praticado por essas plagas –
sobre a natureza “hipster” do jornalismo brasileiro atual clique aqui.
Com esse discurso aloprado de
Sardenberg, compreende-se o porquê de figuras como Bolsonaro e, repentinamente,
espécimes do Brasil Profundo como Cabo Daciolo (um estranho cruzamento de
lutador de MMA com pastor neopentecostal) ganham o estrelato: é apenas um
exemplo da atual condição esquizofrênica da emissora – tem a urgência de
alavancar a candidatura Alckmin (a continuidade garantida das políticas
neoliberais do Estado Mínimo), enquanto sua negação da realidade só dá mais
combustível para a paranoia de extrema-direita com “Ursal”, “Fórum de São
Paulo” e congêneres.
E o crescimento da aversão à política
que potencializa a própria extrema-direita (a princípio, indesejada pela Globo)
visto pelo crescimento dos votos branco/nulo e o “não sei” que chega a 42%,
segundo o Instituto DataPoder360. A emissora sofre com o próprio efeito
colateral da seu crônico tautismo.
Esquizofrenia midiática
Esse episódio da resolução da ONU só
explicitou a condição esquizofrênica Global. Se não, vejamos:
(a) A Globo emulou a mesma postura que
o presidente norte-americano de direita, Donald Trump, costuma fazer: abandonar
o Conselho de Direitos Humanos acusando a ONU de “hipocrisia”, recusa a apoiar
resolução da ONU que incentiva a amamentação. Sem falar na retirada de acordos
internacionais como o de Paris sobre mudanças climáticas.
(b) Mas, por outro lado, desde a
derrota de Hillary Clinton nas eleições dos EUA, a emissora mantém-se numa
posição declaradamente de oposição a Trump. Por que? Porque o presidente eleito
é contra movimentos identitários e denota intolerância, preconceito e
racismo.
(c) Entretanto, a Globo TEM que apoiar
movimentos identitários, como vimos em postagem anterior: depois de anos
negando a existência de racismo e intolerância, repentinamente os movimentos
identitários e culturais (movimentos de gênero, afro-brasileiro,
indígena, movimentos de jovens e idosos) passaram a merecer o apoio do
jornalismo da Organização Globo, tornando-se tema transversal na grade de
programação.
Isso por dois motivos estratégicos:
(c.1.) Controle de danos: preocupada em de descolar da imagem de “TV
golpista” tenta agora desesperadamente apresentar isenção ao apoiar causas que
historicamente foram bandeiras de esquerda no Brasil;
(c.2.) Dividir para reinar: como alertava o velho Brizola (“se a Globo é
a favor, somos contra!”), o apoio aos movimentos identitários é sempre pelo
viés da despolitização com o discurso dos “direitos”, apartidarismo e
fragmentação – p. ex: Marielle Franco não foi morta por fiscalizar a
intervenção militar no Rio e denunciar um sistema perverso de violência
policial contra os pobres, mas por ser negra, mulher e lésbica – clique aqui.
(d) Mas, num malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação
da divisão dos blocos de notícias em seus telejornais, a Globo ou silencia ou,
discretamente, apoia a política externa de Trump. Afinal, os próceres da cúpula
da Organização Globo sabem da ingerência da Guerra Híbrida dos EUA como
estratégia de política externa que açodou a crise política brasileira. E
conduziu a Organização Globo ao estratégico papel de partido de oposição.
Se os EUA forem contra a Venezuela e pró-Israel, a Globo fecha com Trump
desde os seus tempos televisivos do programa O Aprendiz.
Delírio de esquizofrenia midiática: na sua política interna de estímulo
a xenofobia, racismo e ódio, Globo faz explícita oposição a Trump. Mas na
política externa, para seus colunistas e apresentadores, Trump é o campeão na
luta contra ditaduras, salvaguardando os valores democráticos – basta ver a
forma como a Globo cobriu a visita de Mike Pence ao Brasil, comemorado como “a
primeira visita (sic) do vice-presidente ao País para acordos (sic) e
cooperações (sic)”...
Respondendo à pergunta marqueteira
inicial, a Globo certamente teria a cara de Roberto Marinho com preocupantes
rompantes esquizofrênicos numa personalidade
orientada para uma compulsiva negação e severas formações reativas de
deslocamento.
O “affaire” ONU parece ter mostrado
que a Globo arrumou outra dor de cabeça: se diuturnamente a emissora tinha que
reafirmar sua isenção e profissionalismo para esconder a manipulação dos fatos,
agora precisa esconder também sua condição de esquizofrenia midiática.
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