As eleições (?) aproximam-se e a
temperatura aumenta. E essa semana foi particularmente dramática como um bom
roteiro de ficção, sinalizando o que vem pela frente: começou com o simbólico
incêndio do Museu Nacional no Rio e terminou com o “timing” do atentado contra
o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Assim como nos atentados de
Londres, Paris, Berlim etc., as imagens da facada em Jair Bolsonaro repetem o
script: sincronismos, anomalias, timing e algo mais: repete o mesmo contexto do
controvertido acidente aéreo do candidato Eduardo Campos em 2014 – um contexto
de esgotamento das bombas semióticas da grande mídia e o baixo desempenho da
então esperança Aécio Neves frente à esquerda, forçando a procura de um “Plano
B”. De uma reunião sigilosa de Bolsonaro com o Grupo Globo no início da semana
à euforia dos 1.000 pontos do mercado financeiro ao saber da facada no
candidato terminando com uma cobertura emotiva e apelativa no Jornal Nacional
com vídeo exclusivo de Bolsonaro falando de Deus, da maldade humana e
descrevendo o atacante como um “lobo solitário”, fecha-se o roteiro típico de
um filme ou HQ: Bolsonaro foi promovido a “Mito Plano B” do consórcio
jurídico-midiático – um final feliz com um tombo para cima?
Em postagem anterior, dois dias após a trágica morte do candidato
presidencial Eduardo Campos em acidente aéreo em 2014, este humilde blogueiro
observava que teorias conspiratórias não surgiam por acaso – por ser a
realidade estranhamente sincrônica e repleta de anomalias (aquilo que foge à
verossimilhança em um roteiro de ficção), acaba sempre sugerindo a suspeita de
eventos milimetricamente maquinados para aproveitar o timing em determinados
contextos.
Instantaneamente, o atentado sofrido pelo candidato à
presidência de extrema-direita, Jair Bolsonaro, começou a apresentar sincronismos,
anomalias e semelhanças com o contexto político da morte de Eduardo Campos. O
que mais uma vez comprova que esse país não é para amadores...
(a) Do Contexto
Em primeiro lugar vamos ao contexto. O atentado aconteceu
como fechamento de uma estranha semana de acontecimentos entrelaçados que,
sincronismo dos sincronismos, é a Semana da Pátria.
Tudo começou com o simbólico incêndio do Museu Nacional
no Rio de Janeiro – simbólico com sua conexões com o Futurismo de Felippo
Marinetti (Rio, cidade “futurista acidental” – afirmação de um artista que
amava a cidade e falava em destruir museus para nos abrirmos ao “futuro” –
clique aqui).
Semana também marcada pela crise política nas hostes da
direita: para surpresa de todos, Ibope e Datafolha decidiram esconder os
resultados das suas respectivas pesquisas eleitorais encomendadas pela Globo e
Estadão num dia em que o mercado financeiro fechava em baixa e o dólar
disparava. O que resultou numa espiral de versões sobre a irresistível ascensão
de Lula e do aumento da transferência de votos para Haddad.
Acidente aéreo com Eduardo Campos: contextos políticos semelhantes |
Depois do imbróglio, a Globo decidiu divulgar os
resultados das intenções de voto na quarta, sem a presença de Lula e o impactos
das transferência de votos para o vice-presidente petista.
Lembre-se o leitor que o acidente aéreo que vitimou
Eduardo Campos ocorreu em um contexto no qual o desânimo da grande mídia era
evidente com a baixa performance de Aécio Neves e o êxito da Copa do Mundo no
Brasil. Além disso, as últimas bombas semióticas de “não-notícias” (a “fraude”
na Petrobrás envolvendo um “media training” e o “escândalo da Wikipédia”) não
surtiam o efeito desejado – clique aqui.
Nessa semana da Pátria, os resultados do Ibope divulgados
no JN da Globo não foram nada animadores: enquanto a “esperança branca” Alckmin
não decolava mesmo com todo o tempo disponível na TV, o Plano B, Bolsonaro, era
figurado em cenários de derrota no segundo turno.
Do desânimo e
incertezas, a morte de Eduardo Campos injetou ânimo imediato e euforia
especulativa: “agora são duas campanhas... a que começa hoje apresenta um
quadro totalmente imprevisível!”, comemorava a grande mídia. Isso alguns dias
depois de seus intelectuais orgânicos (como o historiador Marco Antônio Villa)
reclamarem do “voto inútil” e “desilusão com a política”.
Hoje repete-se o script: nada mais do que algumas horas
depois do atentado contra Bolsonaro, a coluna Painel da Folha (notória por
fazer especulações e criar balões de ensaio) disparava: “Atentado a Bolsonaro
muda história da eleição; rivais esperam onda de comoção” (clique aqui).
Enquanto isso o sismógrafo do mundo financeiro acusava a
euforia: mercado disparava em alta de 1.000 pontos e desacelerava o aumento do
dólar antes do feriadão... Bolsonaro foi um tombo para cima?
(b) Das Sincronias
Dia quatro a
revista Exame, do Grupo Abril, deu
uma matéria descrevendo como banqueiros e investidores estão embarcando na
canoa de Jair Bolsonaro como a opção mais viável contra a esquerda. Afinal, a
piada do setor financeiro é: “Alckmin é o genro que todo pai gostaria
de ter, com apenas um problema – as filhas não se apaixonam por ele”.
No dia cinco o Ministério Público
ajuizou uma denúncia de improbidade administrativa contra o ex-governador
Geraldo Alckmin – teria aceito 7,8 milhões da Odebrecht para financiar sua
campanha de reeleição em 2014. Alguém pode imaginar uma ação contra um tucano
em plena eleição presidencial?
Reunião sigilosa entre Bolsonaro com "aqueles-que-não-têm-nome-próprio" |
No início da semana, Bolsonaro teve um
encontro sigiloso de uma hora e meia com o vice-presidente do Grupo Globo, João
Roberto Marinho. Isso logo depois de Bolsonaro “elogiar” a Globo e Roberto
Marinho por terem dado apoio à “revolução” de 1964 em debates na TV. Encontro
que certamente representa o empurrão final de Alckmin no abismo.
Sincronicamente, logo depois dessa
reunião, o presidente desinterino Michel Temer divulga nas redes sociais um
vídeo atacando frontalmente Alckmin em tom irritado e pontuado de ironias,
acusando-o de dizer “falsidades” e disparando que o partido do candidato, PSDB,
faz parte da sua base de apoio no governo. Enquanto Alckmin tenta fugir de
Temer como o diabo foge da cruz.
E depois, na quinta-feira (6), horas
antes da facada em Bolsonaro, mais um vídeo, dessa vez contra Haddad com uma
sinistra e críptica advertência nos segundos finais: “Tome cuidado Haddad...
Tenha cuidado!”. Cuidado em cumprir a Constituição? Ou...
A Globo teve acesso em primeira mão às
imagens da facada, do momento da cirurgia (o fotografo da emissora já estava à
espera?) e a entrevista com o agressor. Tudo muito rápido, numa sequência
alucinante de informações dadas ao vivo pela Globo News. Informações obtidas
rápidas demais para uma situação caótica que certamente se instaurou no
interior da entourage de seguranças,
policiais federais, militares, assessores rodeado de populares e adeptos de
Bolsonaro.
Mais sincronismos? O agressor de Bolsonaro, Adélio Bispo
de Oliveira, praticou tiros no “Clube e Escola de Tiro 38”, local que funciona
na região metropolitana de Florianópolis (SC), cujos sócios são os filhos de
Bolsonaro Eduardo e Carlos. Escola que é referência no País em treinamento de
tiro policial e combate urbano.
Adélio Bispo vivia há cerca de duas semanas em uma pensão
estrategicamente localizada no Centro de Juiz de Fora. Segundo informações da
dona do imóvel, saia pouco de casa. E quando saia, era para participar de
cultos de uma igreja cristã local. De quê vivia esse homem, de Montes Claros
(MG), espécie de andarilho que esporadicamente aparecia em sua cidade, segundo
familiares? Capaz de ir até Florianópolis para praticar tiros no Clube dos
filhos da futura vítima.
Dos atentados na Europa ao de Bolsonaro: scripts semelhantes |
Como o Cinegnose tem observado sobre os atentados em
Paris, Londres, Berlim etc., há uma narrativa midiática recorrente na qual,
apesar dos sincronismos, timing, conveniência e anomalias evidentes, tudo é
figurado como incidentes aleatórios, imprevisíveis e caóticos.
O principal elemento dessa narrativa é a figura do “lobo
solitário”, como agora começam a caracterizar o agressor de Bolsonaro: alguém
com ideias confusas, recluso, que mistura ideias religiosas, conspiratórias e
políticas – episódios de surtos, palavras desconexas e alguém que ficava dias
preso no quarto... Mas capaz de ir até Santa Catarina praticar tiros...
Lá na Europa, ato reflexo, a grande mídia e autoridades
falam imediatamente em atentados muçulmanos do ISIS. Aqui no Brasil, claro, não
temos terrorismo islâmico. Mas a temível esquerda e o comunismo.
Também ato reflexo, o vice de Bolsonaro, General Hamilton
Mourão, disparou: “o autor do atentado é do PT!”. Enquanto a Agência Brasil da EBC (Empresa Brasileira de
Comunicação) do Governo detalhava o perfil do agressor como um defensor do
comunismo, cujo perfil no Facebook tecia elogios ao presidente da Venezuela,
Nicolas Maduro – clique aqui.
Folha de São Paulo e Estadão
tentam fazer alguma associação entre a esquerda e o agressor, tentando fazer
especulações a partir da notícia de que Adélio Bispo foi filiado ao PSOL há
quatro anos.
(c) Das Anomalias
Há no atentado uma evidente “distorção” própria de um
país cuja percepção da realidade foi moldada pelos pixels da grande mídia.
Aquilo que este humilde blogueiro chama de “canastrice na política”, uma
atuação “overacting” que torna crível a caricatura política – sobre esse
conceito clique aqui.
A camisa verde e amarela da vítima com os dizeres “Meu
partido é o Brasil” na qual foi simbolicamente cravada uma faca, na véspera do
Dia da Independência do Brasil, na semana em que foi reduzido a cinzas o Museu
Nacional, local onde foi assinada a própria Independência por D. Pedro I...
Nada mais emblemático, conveniente, com signos que
parecem se sobrepor para saturar o significado, assim como o hiper-realismo dos
pixels da tela de TV .
Por isso uma faca. Muito mais dramático na storytelling
de um “mito”, como os adeptos se referem ao candidato. Nesse ponto se
concentram as principais anomalias, como descreve o nosso colaborador Gustavo
Santos:
Repare a velocidade da suposta facada que é lenta.E também a não de utilização da alavanca do cotovelo e do bíceps, portanto, não pôde usar quase nenhuma força e de fato a camisa e a barriga não fazem uma curvatura para dentro no momento da pressão.
Também não pode usar muito o corpo porque tem alguém na frente. O suspeito só encosta na barriga! Mesmo sem colete, o cara não teria condição de ter força para uma penetração profunda . e sua equipe disse no inicio que ele estava com colete (e que sua segurança era do BOPE) E a ele estava com colete a prova de balas! É estranho que o Bolsonaro não olha para frente para tentar ver o que o atingiu e nem para a barriga pra ver o que aconteceu.
Se reparar os vários vídeos de facadas na internet, as facadas são de cima para baixo com o cotovelo dobrado e com a faca descoberta, mesmo assim, a maioria não consegue fazer cortes profundos. Além disso, a penetração dura mais tempo do que esses poucos micro segundos desse cara que só enfia a faca.
É interessante notar que nas facadas reais, a expressão facial é muito diferente daquela com que faz Bolsonaro, que faz uma cara similar a de quem está com cólicas intestinais e não como as de quem (nos vídeos de facadas reais) sofre com uma penetração de metal real. É uma dor muito diferente. Aliás, comum que as pessoas não sintam dor neste momento. Mas ele tem uma reação muito rápida no rosto e no movimento e de cobrir o suposto local com as mãos sem ter tido uma reação de defesa, olhando para frente ou tentando afastar a faca, ou de tentativa de olhar para a barriga para ver o que está lhe fazendo sentir algo diferente no abdômen.
Além disso o local supostamente atingido é obviamente o fígado (que ocupa uma área imensa naquela região, e fica na frente do estômago e dos intestinos, locais supostamente atingido) e dizem que o fígado não foi atingido só estômago e intestinos e uma artéria! (aliás, teve dezenas de versões).
A meta-teoria conspiratória
Atuação canastrona ou
estereotipada de Bolsonaro?
Mas em todas essas “teorias
conspiratórias” surge a suspeita da existência de uma “meta-teoria
conspiratória”, uma espécie de Cavalo de Troia inoculado nas redes sociais para
desmoralizar qualquer tipo de narrativa alternativa ou questionamentos.
Duas fotos (uma de Bolsonaro entrando
na Associação Feminina de Combate ao Câncer de Juiz de Fora – Ascomcer - e
outra posando sorridente ao lado de duas pessoas com uniforme de centro
cirúrgico na Associação) foram postadas e partilhadas como supostas evidências
de que tudo teria sido uma encenação.
Prontamente as sofisticadas
ferramentas de “fact-checking” das agências checadoras entraram em ação para
cravar a etiqueta “Fake”. Nem era necessária tanta sofisticação tecnológica...
eram apenas fotos descontextualizadas, tiradas horas antes do ataque, no fim da
manhã. Qualquer “foca” iniciando no Jornalismo descobriria isso facilmente.
Uma “fake news” simples
demais! Tão simples que dá no que pensar tamanho empenho das agências
checadoras fazer publicidade desse épico feito investigativo. Seria esta uma fake news exemplar propositalmente
postada nas redes sociais para por sob suspeita qualquer crítica ou nova
narrativa?
Principalmente quando o mapa
de reações nas redes sociais elaborado pela FGV-DAPP aponta que 43,4% dos
perfis questionam a veracidade do ataque a Bolsonaro – clique aqui.
Se na Política não existem
coincidências, mas sincronicidades, esta é a questão principal: quem ganha?
Nessa louca semana ficou evidente que o consórcio jurídico-midiático vai fechar
com Jair Bolsonaro como a última esperança para derrotas definitivamente as
esquerdas. Para depois das eleições, o Judiciário varrê-las do mapa.
Bolsonaro repetirá a peça que
Jânio Quadros representou no xadrez da eleições de 1960: turbinado pelas forças
políticas que deflagrariam mais tarde o golpe militar em 1964, o imprevisível e
impulsivo Jânio era a única alternativa para derrotar o trabalhismo nas urnas.
Com o discurso contra a corrupção do “varre, varre, vassourinha”.
Hoje, os quatro anos de Lava
Jato saturaram o distinto público, já entediado com o discurso diário da luta
contra a corrupção e imagens de policiais federais nas ruas fazendo prisões
preventivas. Agora é necessário algo mais “heavy”, “roots”, “épico”: um soldado
mítico impedindo que os comunistas retornem ao Poder.
E nada melhor do que
militares. Conhecem bem o significado do termo “False Flag”.
PS-1.:
Jornal Nacional de sete de setembro fez uma cobertura do atentado de forma
emotiva, sensacionalista, transformando Adélio Bispo previsivelmente num “lobo
solitário”. Detalhe para um vídeo de Bolsonaro no hospital agradecendo a equipe
médica “enviada por Deus” numa “véspera de sete de setembro”... Globo demonstra
ter acesso exclusivo a tudo: depoimentos e um vídeo emocionado de Bolsonaro
dizendo que “preparava-se para algo assim, mas não acreditava que as pessoas
poderiam ser tão más”... Insistentes imagens de multidões cercando Bolsonaro.
Definitivamente, a Globo está com o “Mito” como última alternativa. Resta
saber, como vai andar na corda bomba: apoiar o inimigo dos quilombolas,
homo-afetivos e indígenas, ao mesmo tempo em que dá espaço aos movimentos
identitários e LGBT para se livrar da pecha de golpista.
PS-2.: Os pastores Magno Malta e Silas Malafaia já falam
na vitória de Bolsonaro no primeiro turno das eleições. Magno gravou um vídeo
na própria UTI, com duas cenas editadas. Em uma, ele aparece orando com os
filhos de Bolsonaro. Na outra, Bolsonaro dá declarações, como se a oração já tivesse
produzido resultado. Evidência do consórcio
militares-empresariado-evangélicos-neopentecostais-mídia?
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