segunda-feira, setembro 03, 2018

"Videodrome - A Síndrome do Vídeo": como a tecnologia controla mente e carne


Um diretor de uma TV a cabo descobre o sinal pirata de uma transmissão de “Snuff TV” (filmes que mostram violência, abusos sexuais e mortes reais) chamada “Videodrome”. Mas da pior maneira possível, ele descobrirá que é muito mais do que um show de TV: é um experimento cujas ondas catódicas provocam danos cerebrais permanentes. Arma para vencer a guerra pelo controle das mentes da América planejada por uma obscura empresa que faz óculos de baixo custo para o Terceiro Mundo e sistemas de orientação para mísseis da OTAN. Esse é “Videodrome – A Síndrome do Vídeo” (1983), clássico filme de David Cronenberg que transformou em cinema toda uma tradição de crítica à mídia e tecnologia canadense, de Marshall McLuhan a Arthur Kroker: o momento em que a tecnologia deixa de ser mera extensão do homem para se transformar em carne. E o homem se transforma num aparelho de videocassete.

sábado, setembro 01, 2018

Curta da Semana: "O Futuro Será Careca" - Por que temos horror ao vazio em nossas cabeças?


Vivemos uma sociedade de consumo que ama tudo aquilo que está cheio: sonhos, sacolas de compras, cabelos. Odeia o vazio porque cria uma “incontrolável sensação de desgosto”. E os carecas seriam a síntese de tudo isso que as pessoas temem: carregam o vazio sobre suas cabeças. Esse é o tema do surreal curta francês “O Futuro Será Careca” (“Le Futur Sera Chauve”, 2016), de Paul Cabon. Um jovem protagonista cabeludo descobre numa refeição em família o futuro que lhe espera: a calvície hereditária. E revela o sintoma de uma sociedade que criou o mito da juventude como estratégia publicitária sedutora e pervasiva – a inabilidade de crescer e envelhecer.

quarta-feira, agosto 29, 2018

A nova bomba do laboratório de feitiçarias semióticas da Globo: "1+1=3"


O leitor deve conhecer ou ter ouvido falar daquela velha cartilha escolar de alfabetização de priscas eras chamada “Caminho Suave”, o be-a-bá do mundo das letras. Pois é nesse nível que interesseiramente se situam as chamadas “ferramentas de fact-checking”. Tática diversionista para desviar a atenção da opinião pública de uma outra cena na qual as notícias de fato funcionam: não no campo da representação (verdade ou mentira), mas no deslizamento metonímico das edições, escaladas, justaposição narrativa para criar percepções, impressões e relações de causa e feito. Como, por exemplo, a nova bomba que o laboratório de feitiçarias semióticas do telejornalismo da Globo criou em ano eleitoral para blindar o seu candidato campeão Alckmin: a bomba semiótica “1+1=3” – comece narrando uma notícia... e de repente dê uma guinada e passe a falar de outra notícia, criando duas linhas narrativas simultâneas e tão confusas que o telespectador começará a criar relações de causa e efeito que acabarão criando uma terceira notícia. Aquela verdadeira notícia que a emissora gostaria de informar para esconder uma realidade comprometedora.

segunda-feira, agosto 27, 2018

A estrada para o Inferno está pavimentada por convites no filme "Hereditário"


“Hereditário” (“Hereditary”, 2018) é um filme singularmente aterrorizante. Ele não cava apenas nos abismos sombrios do nosso inconsciente. Explora principalmente o fenômeno bem atual da incomunicabilidade familiar e do processo psíquico de negação. Dois plots clássicos do gênero são explorados: o Mal que ameaça a união familiar e o elemento narrativo do “convite” através do qual o Mal pode ter a licença para entrar em nossas casas e pavimentar o caminho ao inferno. Mas o singular em “Hereditário” é que o Mal vem do interior do próprio lar:  uma família que se sente desconfortável com exposições francas de qualquer coisa que possa revelar o interior um ao outro. Silêncios e mecanismos de negação encobrem traumas do passado que pode retornar como uma demoníaca maldição.

sábado, agosto 25, 2018

O fim do mundo é um sintoma, discute "Cinegnose" em Simpósio no Rio


Quase diariamente é previsto o fim do mundo na TV ou na Internet, enquanto no cinema narrativas ficcionais reforçam essas previsões com protagonistas às voltas com apocalipses climáticos, cósmicos, geológicos, tecnológicos, alienígenas etc. Por que o mundo tem que ser destruído? Por que essa necessidade pelo fim, embalada como ficção e entretenimento para consumo de massas? Ideologia? Manipulação político-ideológica? Ou algum tipo de sintoma do inconsciente coletivo? Como o Gnosticismo pode oferecer uma explicação e uma narrativa alternativa esse mistério sobre o “fim dos tempos”? Essa foi a discussão que este humilde blogueiro levou para o Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento que aconteceu de 22 a 24 últimos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.

quarta-feira, agosto 22, 2018

Se a Globo fosse uma pessoa, como ela seria?


“Se a sua marca fosse uma pessoa, como ela seria?... E a sua personalidade?”. A partir dessa pergunta, os marqueteiros especializados no chamado “Brand Persona” definem a “essência” de uma marca: Volvo? É “seguro”... Lamborghini? É “exótico”... Disneylândia? É “mágico”. E como seria a Organização Globo, principalmente após a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU para que Lula possa exercer seus direitos políticos enquanto estiver na prisão? Entre simplesmente ignorar a notícia e, depois, rebaixá-la a “fake news” (sob o silêncio das agências “hipsters” de checagem), se a Globo fosse uma pessoa, estaria com sérios sintomas de esquizofrenia midiática e formações reativas psíquicas que vão de “negação” a “transbordamento”. Um malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação da divisão dos blocos de notícias em seus telejornais que agora não apenas tenta ocultar fatos. Mas também esconde a própria esquizofrenia midiática: como em um momento ser a favor... e em outro ficar contra?

domingo, agosto 19, 2018

Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios


Um circo, cuja principal atração é uma enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança. Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.  

terça-feira, agosto 14, 2018

Filme "Extinção" e a Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena



Devo reconhecer que esse humilde blogueiro resistiu muito a assistir ao filme “Extinção” (Extinction, 2018). Vendo o pôster promocional e assistindo ao trailer, tudo levava a crer que o filme seria mais do mesmo nesse subgênero sci-fi sobre aliens invadindo a Terra. Afinal, maniqueísmo e patriotismo marcaram as produções por décadas. Porém, “Extinção” é a prova definitiva sobre as mudanças atuais nesse subgênero – no caso do filme, uma narrativa com interessante ponto de virada que claramente remete à chamada “Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena”. A mais antiga teoria sobre aliens no planeta, 1.600 anos anterior a atual onda de teorias sobre aliens e OVNIs no planeta, iniciada em 1947. Antiga teoria baseada nos textos gnósticos raros derivados das Escolas de Mistérios da antiguidade pré-cristã que se convencionou chamar de “Biblioteca de Nag Hammadi”. Um protagonista com pesadelos recorrentes sobre uma violenta invasão alienígena no planeta, até que a realidade parece materializar seus terríveis sonhos. Mas nada será o que parece. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

domingo, agosto 12, 2018

Série "Filhos do Caos": a combinação totalitária tecnologia, meritocracia e educação


Muitos consideram a série taiwanesa “Filhos do Caos” (“On Children”, 2018-), disponível no Netflix, como o “Black Mirror” oriental: nos cinco episódios estão modernas tecnologias (de uma espécie de controle remoto tempo-espaçial a neuro-dispositivos) que criam mundos distópicos. Porém, todo o controle, disciplina e opressão recaem sobre adolescentes – de um lado vivendo relações familiares disfuncionais de classe média (pais que jogam nos filhos a culpa pela renúncia e sacrifício), e do outro ambientes escolares meritocráticos e ultra competitivos onde entrar na melhores escolas e universidades significa honrar o status da família diante da sociedade. Cada um dos cinco episódios narra a totalitária combinação entre valores culturais milenares com as modernas tecnologias de vigilância e controle. Restando à juventude roubada a saída através do realismo fantástico e o suicídio. 

sexta-feira, agosto 10, 2018

Cinegnose participará do Simpósio "Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas" no RJ


“Por que o mundo tem que acabar? – Neo-apocalíptica e Escatologias Líquidas”. Esse será o tema da palestra deste humilde blogueiro no Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento organizado pela revista eletrônica “Cosmos e Contexto” juntamente com o Centro de Estudos Avançados de Cosmologia (CEAC). O Simpósio acontecerá de 22 a 24 de agosto no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de Janeiro, com a participação de filósofos, historiadores, cosmólogos, pesquisadores e sacerdotes, procurando um saber antidogmático que questione o monopólio da Ciência na construção da realidade.

domingo, agosto 05, 2018

"As Boas Maneiras": um lobisomem brasileiro em São Paulo num país dividido


O filme brasileiro “As Boas Maneiras” (2017), da dupla de diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, parece dialogar com o clássico expressionismo alemão Gabinete do Dr. Caligari (1919) e o brasileiro “Que Horas Ela Volta?” (2015). Como o filme alemão, combina a crítica social com o realismo fantástico. Mas “As Boas Maneiras” torna “Que Horas Ela Volta” em um filme datado: o drama de uma empregada doméstica que acompanha a estranha gravidez da sua patroa rica (que em noites de Lua cheia se torna sonâmbula), reflete o imobilismo de uma sociedade ainda fundada na antiga ordem escravocrata. Diferente do momento otimista do filme de 2015 (o clima de progresso econômico e mobilidade social), tal como um sismógrafo, “As Boas Maneiras” reflete o imobilismo e desencanto de uma sociedade dividida: o Mal que surge das entranhas da elite do bairro do Brooklin para invandir a periferia pobre do Capão Redondo – um lobisomem brasileiro em São Paulo.

sexta-feira, agosto 03, 2018

Bolsonaro e Neymar lucram com negatividade antimídia


Em uma diferença de apenas 24 horas, dois sintomas dos estranhos tempos em que vivemos: no domingo, no horário mais caro da TV brasileira, o Fantástico da Globo, um pedido de desculpas auto-indulgente de Neymar com o patrocínio milionário da Gillete. No dia seguinte, o candidato à presidência de extrema-direita, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva da TV Cultura, apontando uma metralhadora de cacofonias numa estudada estratégia de confusão verbal e bate boca. Dois personagens que ganham força não pelas virtudes (nem que seja para simulá-las) mas pela negatividade. Nesses dois eventos o “bom senso” e a “ponderação” foram mandados à favas mostrando uma estratégia paradoxalmente antimídia – ganham força a partir de uma autodestruição das estratégias de enunciação que sempre ajudaram a mídia a simular possuir algum valor de uso: “informar”, “entreter” e “educar”. As, digamos assim, “sinceridades” de Bolsonaro (a extrema-direita em seu estado bruto, sem as estratégias de enunciação suavizantes) e de Neymar (a negação franca da virtuosidade do esporte – "falem o que quiser porque tenho dinheiro!") são atos paroxistas. Se transformaram em “máquinas celibatárias” que ganham força investindo contra a própria mídia que os promoveu.

terça-feira, julho 31, 2018

Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"


Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os Incríveis” em 2004 fez parte dessa agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis” se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.

domingo, julho 29, 2018

Curta da Semana: "Final Offer": aliens agora preparam "invasões híbridas"


Algo está mudando no clássico roteiros dos filmes de invasões alienígenas. A série “Colony” do Netflix é uma evidência. E o curta canadense “Final Offer” (2018) é uma prova. Agora as sinistras inteligências de outros planetas nos atacarão através de “invasões híbridas”: em primeiro lugar, explorando as fraquezas da natureza humana, para depois roubarem o que quiserem. Um advogado “loser” e alcoólatra acorda de ressaca preso em uma estranha sala em estilo vitoriano, diante da garota com a qual estava na última noite. Ela é a representante de uma raça alien e ele foi escolhido como representante da humanidade para a “negociação” de um sinistro contrato: os extraterrestres querem levar nossos oceanos e em troca... seduzir o pobre advogado através da sua baixa autoestima.

sábado, julho 28, 2018

Filme "O Culto": e se nossas vidas forem gigantescas anomalias temporais?


Uma boa ideia, com um roteiro inteligente, um elenco forte são capazes de fazer filmes convincentes, mesmo com pouco dinheiro. O filme “O Culto” (The Endless, 2017) é mais um filme independente que comprova a capacidade inventiva de renovar subgêneros do horror e da ficção científica. Dessa vez a dupla de diretores Justin Benson e Aaron Moorhead (“Resolution”, 2012) faz um inteligente meta-horror em torna do tema das anomalias tempo-espaço. Dois irmãos (interpretados pelos próprios diretores), depois de terem fugido de uma suposta seita suicida em uma floresta montanhosa, decidem retornar depois de receberem um estranho vídeo. “O Culto” não se limita a fazer uma desconstrução do tema dos “paradoxos temporais” no cinema. Num insight gnóstico, estende esses paradoxos para a nossa realidade cotidiana: e se nossas próprias vidas já fossem gigantescos paradoxos tempo-espaço, que nos aprisionam nesse cosmos, obrigando-nos a repetir uma mesma narrativa indefinidamente? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

quinta-feira, julho 26, 2018

Assassinato da estudante brasileira na Nicarágua revela timing da guerra híbrida


O assassinato da estudante brasileira de medicina na Nicarágua, em meio à violência nas manifestações contra o governo Daniel Ortega, é mais uma evidência de que a crise naquele país segue o roteiro já visto das guerras híbridas no Brasil e no mundo. Timing perfeito: no momento em que a grande mídia internacional já está retratando a “Revolução Popular Híbrida” nicaraguense como “espontânea” ou “o novo” que veio substituir a velha política carcomida pela corrupção, surge a necessidade de uma vítima feminina exemplar. Assim como no Brasil, quando vítimas femininas anônimas foram  repercutidas pela grande mídia e redes sociais durante os protestos de 2013 a 2016. E como foi a execução de Marielle Franco. É sempre a deixa para a grande imprensa entrar em ação com um discurso único: “protestos pacíficos” que são violentamente reprimidos por um governo corrupto. Como sempre, a cobertura dos eventos descontextualiza o cenário geopolítico por trás de uma crise nicaraguense que surge (como em toda Guerra Híbrida) após uma reeleição democrática: a parceria multipolar da Nicarágua com China e Rússia para a construção do Canal Transoceânico para fazer frente ao Canal do Panamá, controlado pelos EUA.

segunda-feira, julho 23, 2018

Na série "Strange Angel" a ciência dos foguetes se confunde com o Ocultismo


Seu nome foi proscrito da história da Ciência. Embora suas descobertas tenham sido uma das bases das viagens espaciais e de ser co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, seu nome também foi riscado da história da agência espacial. Ele é Jack Parsons (1914-1952), jovem projetista de foguetes e químico, criador dos combustíveis sólidos. Mas viveu em um fina linha que separa a genialidade da loucura: de dia exercia a ciência experimental. E à noite era o líder da O.T.O (Ordo Templi Orientis) da Califórnia, organização ocultista dominada por Aleister Crowley. Até o momento em que Ciência e Ocultismo se misturaram a tal ponto em que para ele a tecnologia dos foguetes era não apenas uma forma do homem chegar ao espaço. Mas também a oportunidade para abrir portais para seres extradimensionais. A série “Strange Angel” (2018-) produzido pela rede CBS dos EUA pretende mergulhar na vida desse controverso cientista que, ironicamente, possui uma cratera no lado oculto da Lua batizada com o seu nome.

sábado, julho 21, 2018

Pós-verdade e Fake News são notícias falsas para colocar jornalistas hipsters "na linha"


Diretores, presidentes e executivos da grande imprensa e associações jornalísticas, historicamente sempre avessos às “teorizações” da área acadêmica, de repente passaram a participar ativamente de congressos e simpósios sobre jornalismo investigativo, ciberjornalismo e jornalismo online. Para repercutirem não só junto a pesquisadores, mas também clientes, profissionais e líderes de opinião a já extensa lista de livros e artigos sobre o fenômeno da “pós-verdade” e das “fake news”. Para provar como a supremacia da verdade deixou de existir no debate público atual. E os vilões: Internet, blogs, redes sociais. Por que esse repentino esforço profissional-acadêmico para dar um ar de novidade a um fenômeno tão velho quanto a própria história do Jornalismo? A necessidade em dar verniz científico para noções retóricas de “pós-verdade” e “fake news” através de um velho macete de engenharia de opinião pública: publicação de artigos científicos e livros. Conferir verossimilhança a uma agenda que traz lucros para a grande mídia: transformar jornalismo investigativo em “checagem”, colocar os jornalistas hipsters “na linha”, sentados, sem ir a campo. E com desdobramentos mercadológicos: monopólio e censura da concorrência no mercado de notícias.

quinta-feira, julho 19, 2018

Na série "Colony" uma invasão alienígena demasiado humana


Disponível no Netflix, a série “Colony” (2016-) subverte de diversas maneiras a típica história de invasão alienígena: os humanos podem ser tão amorais e cruéis quanto os aliens e também não há uma metrópole distópica, sombria e em ruínas, mas uma Los Angeles ensolarada sob um persistente céu azul. Mas principalmente, os invasores não criam guerras de extermínio com suas naves ou máquinas monstruosas, como em clássicos do gênero. Apenas exploram as principais fraquezas humanas por meio de ferramentas que a própria humanidade criou para subjugar as fraquezas de outros seres humanos: meios de comunicação, religião, ensino e propaganda que arrancam o pior de nós – ambição, traição, ganância, egoísmo e desejo por poder. Eles não são mais “aliens”: agora são “RAPs” ou “hospedeiros”. Invasores “low profile” que apenas jogam os homens uns contra os outros, tirando seu lucro disso. Uma invasão “demasiado humana”, assim como nas atuais Guerra Híbridas nas quais o poder global invade países conquistando corações e mentes.

domingo, julho 15, 2018

Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? Brizola explica.


Em toda sua história, a Rede Globo foi acusada de sexismo e racismo: uma teledramaturgia com um cast de atores que mais parecia ter saído de algum país nórdico, enquanto os poucos negros ocupavam papéis subalternos; as mulheres eram objetificadas em programas de entretenimento e o machismo sempre figurado como uma prova do verdadeiro amor. Ao mesmo tempo, o seu diretor de Jornalismo dizia que o Brasil nunca foi racista e que isso não passava de uma invenção da esquerda para dividir o País. Mas de repente, a emissora começou a apoiar e dar visibilidade a movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, étnico-raciais, geracionais que postulam a diversidade, alteridade e reivindicação de direitos sociais) como nunca antes. Política de “controle de danos” para tentar descolar a sua imagem do Golpe de 2016 e dar alguma credibilidade ao telejornalismo? Ou há algo além? De natureza estratégica em um ano eleitoral decisivo. “Se a Globo é a favor, somos contra!”, alertava o velho Brizola. E se nesse momento a emissora estiver pondo em prática outra velha máxima: “dividir para conquistar”? A Globo estaria desempenhando o seu derradeiro papel? Ser o para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita?

quinta-feira, julho 12, 2018

Frankenstein, Inteligência Artificial e pós-feminismo em "Desejos Virtuais"


Esse é outro filme para cinéfilos que adoram se aventurar por filmes estranhos. Dessa vez, para aqueles que acreditam que por trás do senso de humor trash de filmes que aparentemente não se levam à sério há importantes temas para serem discutidos. “Desejos Virtuais” (“Teknolust”, 2002) é um filme que reflete todo o ciber-imaginário pós-humanista (com motivações místicas) e do velho conceito de Inteligência Artificial (que ainda tentava emular a inteligência humana) por trás da antiga Web 1.0. Uma bio-geneticista clona seu próprio DNA em três mulheres “Autômatos Auto Replicantes” (SARs) que habitam um site da Internet. Porém, necessitam de constantes quantidades de cromossomo Y presente no sêmen humano. Uma delas deve se aventurar no mundo real para, através de sexo casual em bares locais, obter preservativos usados que servirão de sachês que serão consumidos pelas SARs. Frankenstein de Mary Sheeley se encontra com o psicodelismo de Timothy Leary e o pós-feminismo de Camile Paglia. 

terça-feira, julho 10, 2018

Moro e Neymar: a vaidade é o pecado favorito do Diabo


Em 72 horas os maiores investimentos semiótico-ideológicos da grande mídia foram desconstruídos: Sérgio Moro e Neymar Jr. O primeiro caiu na armadilha do habeas corpus que supostamente iria soltar Lula. E o segundo, na arapuca tautista midiática que fez o jogador acreditar que era intocável, até a viralização do mote “cai-cai” em vídeos pelo mundo eliminá-lo junto com a Seleção. Duas bombas semióticas: uma intencional (o objetivo não era soltar Lula, mas criar um fato político para o mundo) e outra involuntária (efeito da blindagem tautista da mídia e mercado publicitário). Al Pacino fazendo o papel do próprio demônio em “O Advogado do Diabo” tinha razão: “a vaidade é meu pecado favorito...”. A vaidade dos juízes e do jogador deixou-os cegos. A mídia sentiu o golpe: enquanto o Fantástico teve que se desfazer de Neymar (“hoje não se tolera mais ludibriar o juiz”, fuzilou Tadeu Schmidt), Globo News começou a falar em “instabilidade jurídica” e “politização do Judiciário”. Bombas semióticas perfeitas que produzem efeitos fatais: detonação, letalidade, impasse midiático e dissonância cognitiva.

domingo, julho 08, 2018

Curta da Semana: "Craig's Pathetic Freakout" - quando "Show de Truman" se aproxima da maconha


E se ao invés de cerveja, o amigo Marlon desse a Truman um cigarro de maconha para tentar acalmar suas crises paranoicas sobre as suspeitas de que sua vida era um programa de TV? Será que Truman ficaria “anestesiado” ou chegaria mais rapidamente à verdade no filme “Show de Truman?”. O curta “Craig’s Pathetic Freakout” (2018), de Graham Parkes, levanta essa curiosa questão de cinéfilo – Craig é um cara orgulhoso demais para aceitar que não pode lidar bem com drogas. Fuma uma erva e começa a ficar paranoico, acreditando estar dentro de um filme. Ficção e realidade se misturam num curioso exercício metalinguístico e de narrativa em abismo – um filme dentro de um filme. E, como toda metalinguagem no cinema e audiovisual, trás um sabor gnóstico: e se a realidade for também um filme dirigido por alguém muito louco? 

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