domingo, julho 29, 2018

Curta da Semana: "Final Offer": aliens agora preparam "invasões híbridas"


Algo está mudando no clássico roteiros dos filmes de invasões alienígenas. A série “Colony” do Netflix é uma evidência. E o curta canadense “Final Offer” (2018) é uma prova. Agora as sinistras inteligências de outros planetas nos atacarão através de “invasões híbridas”: em primeiro lugar, explorando as fraquezas da natureza humana, para depois roubarem o que quiserem. Um advogado “loser” e alcoólatra acorda de ressaca preso em uma estranha sala em estilo vitoriano, diante da garota com a qual estava na última noite. Ela é a representante de uma raça alien e ele foi escolhido como representante da humanidade para a “negociação” de um sinistro contrato: os extraterrestres querem levar nossos oceanos e em troca... seduzir o pobre advogado através da sua baixa autoestima.

Em postagem anterior sobre a série Netflix Colony (2016-) este humilde blogueiro observava que alguma coisa está mudando no roteiro das clássicas histórias de invasão alienígena no cinema e audiovisual.

No roteiro clássico, no final eles sempre perdem. Por que? Porque nunca contam com a determinação, heroísmo e união da raça humana, por mais que os aliens sejam tecnologicamente mais avançados.

Ao contrário, em Colony não há um massivo ataque de naves e tripods, mas uma furtiva invasão, colocando fantoches humanos corrompidos pelo dinheiro, prestígio e poder no lugar. Para esses humanos fazerem o trabalho sujo dos aliens, que apenas recolhem os lucros: farta mão de obra escrava em alguma fábrica no lado escuro da Lua – sobre a série clique aqui.

O curta canadense Final Offer (2018), de Mark Slutsky, é mais uma evidência dessa mudança de argumento em favor dos alienígenas. A descoberta de que os humanos não são tão heroicos e determinados, mas cheios de pontos fracos que podem ser explorados numa espécie de, por assim dizer, “invasão híbrida”: mediada pelas fraquezas da espécie humana.

Estrelado por dois atores veteranos em séries de TV dos EUA, Anna Hopkins (The Expanse) e Aaron Abrams (Hannibal), os doze minutos narram a história de Henry, um advogado que acorda de ressaca em um luxuoso escritório de reuniões no qual está Olivia. Com quem tomava alguns tragos de cuba libre em um bar na noite anterior. Até supostamente ter sido vítima de um “boa noite cinderela” e ter acordado ali.


Vestido com um terno barato, alcoólatra e um “loser” (vive de casos de multa de trânsito, além de afirmar que a sua melhor estratégia para vencer no tribunal é “o outro cara não aparecer”), Henry descobre o sinistro propósito de tudo aquilo: Olivia é a representante de uma raça alienígena que escolheu Henry como o representante da raça humana para uma “negociação” que determinará o destino de bilhões.

Os clientes da “Orion Spiral” (a empresa intergaláctica mediadora) são uma espécie da raça aquática que pretende adquirir os oceanos da Terra, dragando-os através de um “buraco de minhoca” até o final daquele dia.

Eles poderiam simplesmente chegar na Terra, exterminar os humanos e roubar a água dos oceanos. Mas, pela “legislação” do quadrante no qual se encontra o nosso sistema solar, deve haver uma negociação contratual com um representante da Terra. Só então, se o representante não aceitar os termos, é que os aliens terão a permissão tomar tudo à força.

O problema é que todo o processo não passa de uma negociação assimétrica, uma extorsão: se os oceanos forem levados, a humanidade perecerá. Se Henry não aceitar os termos, todos morrerão também.

O leitor observará que o curta mostra todos os aspectos de uma “invasão híbrida” explorando o pior da natureza humana: a Orion Spiral sequestra o representante terráqueo em um bar, usando uma isca feminina e Henry está de ressaca. Além de ser um advogado perdedor e com sérios problemas de autoestima.

E mais: Olivia oferece uma “oportunidade” a Henry, explorando sua fraqueza: tornar-se um herói, levando alguns milhares de humanos sobreviventes a um planeta próximo, do tamanho de uma cidade pequena. Lá ele seria um líder e vencedor!

Ou seja, tudo foi configurado para Henry cair numa armadilha alienígena que explora suas próprias fraquezas de caráter.

Mas há um engraçado e irônico ponto de virada, como o leitor verá.


Influências


Há duas evidentes influências nesse curta: uma do filme The Verdict (1982), onde Paul Newman um advogado cheio de altos e baixos, semelhante ao pobre Henry.

Mas, como não poderia deixar de ser, há também uma sutil referencia ao clássico de Kubrick 2001 no cenário no qual a ação se desenrola.

Na sequência final de 2001 vemos o protagonista Dave Bowman confinado em uma espécie de zoológico humano para ser observado por uma espécie alienígena de pura energia, sem aspecto ou forma. A sala onde está Bowman parece uma réplica deliberadamente imprecisa da arquitetura francesa clássica. Talvez porque achassem que fosse ficar bonito para um ser humano, assim como fazemos com réplicas desajeitadas de habitats naturais dos animais em um zoológico.

Em Final Offer, a sala onde Henry está confinado dessa vez é uma cópia deliberadamente imprecisa de uma sala vitoriana, na verdade um pastiche misturando vitoriano, greco-romano e estilos contemporâneos. Certamente, a ideia da Orion Spiral não fazer um ambiente bonito para fazer Henry se sentir bem, como fizeram os altruístas aliens de 2001.

Mas agora, para intimidá-lo, com a mobília escura, pesada, com todos aqueles livros nas prateleiras.

O interessante em Final Offer é que, ao final, há até uma “humanidade” nos poderosos aliens: eles também são capazes de cometerem erros crassos.

Legenda automáticas em inglês. Em português, disponíveis nas configurações.


Ficha Técnica 

Título:  Final Offer (curta)
Diretor: Mark Slutsky
Roteiro: Mark Slutsky
Elenco:  Aaron Abrahms, Anna Hopkins
Produção: Kieran Crilly e Mark Slutsky
Distribuição: Vimeo e YouTube
Ano: 2018
País: Canadá


Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review