Seu nome foi proscrito
da história da Ciência. Embora suas descobertas tenham sido uma das bases das
viagens espaciais e de ser co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da
NASA, seu nome também foi riscado da história da agência espacial. Ele é Jack Parsons
(1914-1952), jovem projetista de foguetes e químico, criador dos combustíveis
sólidos. Mas viveu em um fina linha que separa a genialidade da loucura: de dia
exercia a ciência experimental. E à noite era o líder da O.T.O (Ordo Templi
Orientis) da Califórnia, organização ocultista dominada por Aleister Crowley.
Até o momento em que Ciência e Ocultismo se misturaram a tal ponto em que para
ele a tecnologia dos foguetes era não apenas uma forma do homem chegar ao
espaço. Mas também a oportunidade para abrir portais para seres
extradimensionais. A série “Strange Angel” (2018-) produzido pela rede CBS dos
EUA pretende mergulhar na vida desse controverso cientista que, ironicamente,
possui uma cratera no lado oculto da Lua batizada com o seu nome.
“O mundo não será o mesmo, algumas pessoas riram, algumas pessoas
choraram. A maioria ficou em silêncio. Eu lembrei algo da escritura Hindu, o ‘Baghavad
Gita’, ‘Agora eu me torno a morte, o destruidor de mundos”.
(Robert Oppenheimer, ao descrever o impacto sobre as testemunhas da primeira explosão da bomba atômica)
(Robert Oppenheimer, ao descrever o impacto sobre as testemunhas da primeira explosão da bomba atômica)
Quando se fala na história da
engenharia aeronáutica e espacial, os nomes mais conhecidos são do russo
Konstantin Tosiokovsky, do norte-americano Robert Goddard e do alemão Werner
Von Braun, desenvolvedor dos foguetes V2 nazistas e depois líder do projeto
espacial dos EUA que levou o homem à Lua.
Mas poucos ouviram falar de
Marvel Whiteside Parsons (aka Jack Parsons), químico norte-americano
co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL) cujos projetos em
combustíveis sólidos deram grande contribuição ao desenvolvimento dos foguetes
– todo o projeto espacial da NASA se baseou na tecnologia de combustível sólido
desenvolvida por Parsons.
Morto aos 37 anos, em 1952, em
uma explosão com produtos químicos na garagem da sua residência, suas obras e
pesquisas foram sistematicamente expurgadas dos arquivos da Caltech (Instituto
de Tecnologia da Califórnia), assim como citações em trabalhos de outros
pesquisadores. E seu nome riscado nos registros históricos da NASA – apesar de,
ironicamente, uma cratera do lado oculto da Lua ter sido batizada com o seu
nome.
O fato é que Jack Parsons tinha
uma reputação no mínimo controversa, vivendo em uma linha fina entre a
genialidade e a loucura: Parsons também era líder norte-americano da O.T.O.
(Ordo Templi Orientis), organização ocultista, na época comandado por Aleister
Crowley e seu “movimento telêmico” com práticas de magia sexual. Devoto e entusiasta
de Crowley, Parsons chegava ao ponto misturar as experiências de
desenvolvimento de foguetes no deserto de Mojave com rituais de invocação ao
deus Pã.
Uma bizarra mistura entre
ciência, invocações a entidades extradimensionais a cada lançamento noturnos de
foguetes no deserto, projetos para a Força Aérea dos EUA em meio a Segunda
Guerra Mundial e liderança entre atores, poetas e escritores que participavam
de estranhas festas envolvendo magia sexual telêmica na mansão de Parsons em
Pasadena.
A série da rede de TV
norte-americana CBS, Strange Angel
(2018-), baseada na biografia “Strange Angel: The Otherworldly Life of Rocket
Scientist John Whiteside Parsons” de George Padle, pretende dar conta dessa
improvável conexão entre Ocultismo e Ciência na vida de um cientista em uma
época em que foguetes eram coisas de revistas de ficção científica como a mais
conhecida da época, a Amazing Stories – a
série pode ser assistida na plataforma de vídeos Stremio .
A imagem nos créditos iniciais de cada
episódio mostrando um foguete de cujo escapamento saem cartas de Tarot ao invés
de chamas é a melhor metáfora que parece sintetizar o propósito da série
produzida pelo diretor Ridley Scott (Blade
Runner e Prometheus) – Jack
Parsons era apenas um jovem projetista de foguetes inspirado na ciência e
misticismo de revistas de ficção científica? Ou será que havia uma conexão mais
profunda, de natureza tecnognóstica: a decolagem de foguetes como a metáfora da
própria transcendência espiritual para fugir desse mundo?
Seria Parsons na verdade um jovem
alquimista em pleno século XX no qual a manipulação química de combustíveis e
das energias corporais na magia sexual convergem para um único propósito
místico? – a realização do antigo sonho gnóstico da libertação espiritual da
prisão material. Apenas que, agora, não apenas limitado a rituais, invocações e
cerimônias. Mas dessa vez com a ciência e tecnologia do século XX à disposição
dos iniciados.
A Série
No momento em que essa postagem é
publicada, a série já conta com seis episódios de dez previstos para a primeira
temporada. A narrativa é ambientada na Los Angeles das decádas de 1930-40. Jack
Parsons (Jack Reynor) é um brilhante e ambicioso trabalhador em uma indústria
de explosivos. Lendo avidamente os contos da famosa revista de sci-fi e terror Amazing Stories, Parsons cultiva
fantásticos sonhos de viagens espaciais, e acredita que os foguetes podem pular
das páginas de ficção para a realidade.
Parsons rouba produtos químicos
da indústria para, junto com o seu amigo Richard Onsted (matemático e acadêmico
– Peter Kendall) e seu amigo de infância e também entusiasta de foguetes Edward
Foreman passar as noites disparando pequenos foguetes em um matagal nos limites
da cidade.
Jack é casado com Susan (Bella
Heathcote), para quem havia prometido preencher sua vida com a arte e música.
Mas tudo que consegue é uma vida às voltas com a falta de dinheiro. A redenção
é a possibilidade de o financiamento do projeto de Jack e seus amigos seja
aprovado pela Caltech.
Há uma tensão em sua vida
conjugal. Susan é católica, conservadora e reprimida sexualmente, mas com
paixões secretas: gosta de ouvir “Sagração da Primavera”, obra de vanguarda
atonal de Stravinsky.
A tensão só aumenta com a chegada
de um misterioso vizinho chamado Ernest (Rupert Friend) que será a ponte de
Jack Parsons com o ocultismo: em muitas linhas de diálogo ele cita Aleister
Crowley (“faze tudo o que tu queres há de ser o Todo da Lei”) e figura um
estilo de vida livre, com sua motocicleta e uma faca, e insiste que o casal
deva conhecer o seu grupo de reuniões secretas.
Repressão sexual, conservadorismo
religioso e a insatisfação profissional (o financiamento do projeto está em
xeque pelo fato de Parsons não ter titulação ou prestígio acadêmico) é a
combinação explosiva (desculpe o trocadilho...) que impulsionará seu interesse
pela “Loja Agape”, o nome da unidade da O.T.O. na Califórnia.
O ritmo dos episódios é lento,
sem deixar de ser interessante pela reconstituição de época (o cenário político
e cultural com a aproximação da Segunda Guerra Mundial), cujo ápice é a fuga de
Susan quando, ao lado de Parsons, participam como espectadores de um ritual de
magia sexual de Thelema em um casarão de Los Angeles. Começa a sucessão de
tensões em todos os quadrantes da vida de Jack – a necessidade de romper com
todos os limites, sejam conjugais, sexuais, científicos, acadêmicos e
espirituais.
Jack Parsons: no lugar certo e na hora certa
A personalidade controversa e excêntrica de
Jack Parsons, riscado da história da Ciência mas com o seu nome batizando uma
cratera da Lua, acabou produzindo uma série de especulações (ou “teorias
conspiratórias”) sobre esse amálgama da ciência experimental com o Ocultismo.
Acrescente a isso ao fato que a
ambição e talento de Jack Parsons estavam no lugar certo na hora certa: naquele
momento a Califórnia era o centro de uma revolução que seria irradiada em
escala planetária – a indústria do cinema de Hollywood, o crescimento
exponencial do esoterismo, misticismo e ocultismo na cena artística e
cinematográfica, a engenharia de foguetes da Caltech, e os experimentos em
energia nuclear que culminaria com a explosão da primeira bomba atômica de
Robert Oppenheimer em Los Alamos, muito perto da base de experimentos com
foguetes de Parsons, próximo de um lugar emblematicamente chamado “Estrada da
Morte”.
Jack Parsons, Cabala e a bomba atômica
Para muitas das “teorias
conspiratórias”, como cabeça da operação da O.T.O. na América, Jack Parsons
produziu um gigantesco ritual satânico, juntamente com outro membro, cujo
codinome era “Frade H”.
Em 1948, Jack Parsons fez um dos
mais sombrios rituais, conhecido pelos cabalistas, ocomo “Trabalho de Babalon”.
Um ritual que requer que o iniciado visualize a “Árvore da Vida” da Cabala, com
suas 10 esferas e 22 caminhos. Entre as 3 esferas superiores e as 7 inferiores
está o chamado “Abismo”. O lugar onde a personalidade de uma pessoas e sua
sanidade podem ser potencialmente destruídas.
Se o iniciado percorre o Abismo
com sucesso, com a personalidade intacta, ele se torna um Irmão Negro da
Cabala, um magro negro do “Caminho da Mão Esquerda” na tradição do judaísmo
místico.
Parsons aprendeu nos antigos
ensinamentos de Crowley que Cristo e sua Igreja eram os inimigos da
civilização, e que deveriam ser destruídos.
Em uma peregrinação de 20 dias no
Deserto de Mojave, onde fica hoje a Área 51, Parson teria invocado Babalon, a
Mulher Escarlate, a “Prostituta do Apocalipse. De acordo com o misterioso Frade
H, durante o ritual viu Parsons abrir um buraco no espaço-tempo e algo maligno
saiu de lá.
Jack Parsons (1914-1952) |
Quem era o misterioso Frade H?
Nada menos que o inventor da nova religião-culto da Cientologia L. Ron Hubbard,
ex-iniciado na O.T.O. de Aleister Crowley,. Cientologia tem seguidores e fiéis
milionários de Hollywood. Gente interessada na técnicas de magia judaica
inspiradas por Britney Spears e Madonna.
Parsons tinha uma parceira de
magia sexual na O.T.O.: a atriz e poeta Marjorie Cameron. Marjorie teria
confessado ter feito parte do ritual Babalon. Disse que foi a usada por Jack
Parsons, Ron Hubbard, Aleister Crowley e os cientistas do projeto Manhattan,
localizado na unidade de pesquisa atômica em Los Alamos - CARTER, John
(2004). Sex and Rockets: The Occult World of Jack Parsons (new
ed.). Port Townsend: Feral House.
Durante o ritual Jack Parsons a
engravidou sexualmente quando o espírito do Anti-Cristo estava sobre ele.
Cameron ficou grávida. Eles estavam criando o que na Cabala se descreve como um
“Golem”, um humanoide criado artificialmente animado por feitiços e mantras
feitos por magos – a chamada “linguagem do crepúsculo”.
Michael Hoffman em seu livro Sociedades Secretas e Guerras Psicológicas
especula que o feto do Golem teria sido colocado dentro da capsula gigante que
foi fotografada na base de testes de Los Alamos. Essa misteriosa cápsula foi
apelidada de “Jumbo”, feita de aço sólido e cimento. É possível que o feto
tenha sido colocado no centro da cápsula e então irradiado com a explosão da
primeira bomba atômica do mundo – HOFFMAN, M. Secret Societies and Psychological Warfare, Independent History and
Research, 2001.
Espalhando o “bebê demoníaco”,
com o que a Cabala chama de “força demoníaca do fogo atômico”. Não teria sido à
toa que a explosão da primeira bomba atômica em Los Alamos foi ironicamente
intitulada de “Experiência Trinity” (Trindade... Santíssima Trindade?).
A conferir até que ponto a série Strange Angel vai mergulhar em todo esse
imaginário e controvérsias sobre a figura legendária de Jack Parsons.
Ficha Técnica
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Título: Strange
Angel (série)
|
Criadores: Mark Heyman
|
Roteiro: Mark Heyman,
baseado no livro homônimo de George Padle
|
Elenco: Jack
Reynor, Bella Heathcote, Peter Mark Kendall, Rade Serbedzija, Rupert Friend
|
Produção: CBS Studios,
AMC Studios
|
Distribuição: CBS All
Access
|
Ano: 2018 -
|
País: EUA
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