terça-feira, setembro 11, 2018
Zygmunt Bauman e o incêndio "líquido" do Museu Nacional
terça-feira, setembro 11, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conceito de Zygmunt Bauman, a “Modernidade
Líquida” aqui no Brasil assume aspectos
dramáticos, como um Projeto que deve ser colocado em prática a todo custo: a
drenagem do Estado até a sua liquefação e a transformação em mero gestor de “fluxos”.
Um sintoma foi o incêndio do Museu Nacional no Rio. Mas, principalmente, as
notícias em torno do futuro do Museu: investigações com alta tecnologia e a
possibilidade de imprimir réplicas em 3D a partir de fotos do patrimônio
perdido. É notável que toda essa sofisticação não estivesse disponível para
mantê-lo sólido e em pé. Só entrou em cena depois que o Museu desapareceu! A
ideia de liquidez transformou-se em algo muito além de uma categoria econômica:
virou uma espécie de “a priori” cognitivo, no qual não há sentimento de luto ou
perda que poderiam promover crítica ou indignação. O pensamento “líquido” transforma catástrofes e
tragédias como essas em vulgata ou banalidade: a tecnologia poderá trazer tudo
de volta mesmo...
domingo, setembro 09, 2018
Em "O Futuro" o maior inimigo da geração dos "millennials" é o tempo
domingo, setembro 09, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa época em que o trabalho, a
cultura e a tecnologia liquefazem e precarizam nossas vidas na fluidez e instabilidade, os “millennials”
tentam se agarrar nos destroços de uma suposta sabedoria do passado e nos
gadgets, aplicativos e plataformas digitais do presente. Um presente que se
torna eterno, pelo medo e ansiedade em relação ao futuro, porque nada parece
durar por muito tempo. Mas um jovem casal decide adotar um gato, e acredita que
tudo vai mudar. “O Futuro” (“The Future”, 2011) é uma fábula pós-moderna sobre
tecnologia e o futuro da geração mais tecnologizada da História. Mas o medo do
futuro e de compromissos, representado agora por um gato necessitando de intensivos
cuidados veterinários, é tão paralisante que ameaça dissolver a vida conjugal
pela mentalidade “líquida” da sua geração. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.
sábado, setembro 08, 2018
Atentado a Bolsonaro foi um tombo para cima?
sábado, setembro 08, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As eleições (?) aproximam-se e a
temperatura aumenta. E essa semana foi particularmente dramática como um bom
roteiro de ficção, sinalizando o que vem pela frente: começou com o simbólico
incêndio do Museu Nacional no Rio e terminou com o “timing” do atentado contra
o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Assim como nos atentados de
Londres, Paris, Berlim etc., as imagens da facada em Jair Bolsonaro repetem o
script: sincronismos, anomalias, timing e algo mais: repete o mesmo contexto do
controvertido acidente aéreo do candidato Eduardo Campos em 2014 – um contexto
de esgotamento das bombas semióticas da grande mídia e o baixo desempenho da
então esperança Aécio Neves frente à esquerda, forçando a procura de um “Plano
B”. De uma reunião sigilosa de Bolsonaro com o Grupo Globo no início da semana
à euforia dos 1.000 pontos do mercado financeiro ao saber da facada no
candidato terminando com uma cobertura emotiva e apelativa no Jornal Nacional
com vídeo exclusivo de Bolsonaro falando de Deus, da maldade humana e
descrevendo o atacante como um “lobo solitário”, fecha-se o roteiro típico de
um filme ou HQ: Bolsonaro foi promovido a “Mito Plano B” do consórcio
jurídico-midiático – um final feliz com um tombo para cima?
terça-feira, setembro 04, 2018
Tautismo Global, sincronismos e ironias no incêndio do Museu Nacional
terça-feira, setembro 04, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No Manifesto Futurista, Marinetti
falava em “destruir museus” para libertar as consciências dos “inúmeros
cemitérios”, e nos prepararmos para o futuro. Em visita ao Rio em 1926,
Marinetti repetiu tudo isso e viu no Brasil um país futurista porque não teria
“nostalgia das suas tradições”... Claro, Marinetti era um iconoclasta. Mas o
Brasil é mais realista que o rei. Leva ao pé-da-letra coisas como “austeridade
fiscal” (cuja realização máxima foi, até aqui, a “PEC da Morte”) que até o
próprio FMI criticou em 2016. O incêndio do Museu Nacional foi um acontecimento
irônico e sincrônico, na cidade em que Marinetti via a “realização acidental”
do futurismo: resultado do neoliberalismo levado à sério num momento em que o
fascismo se aproxima no segundo turno das eleições – um fascismo próximo ao de
Marinetti. E, mais uma vez, o motor dessa austeridade levada à sério foi a
cobertura tautista (tautologia + autismo midiático) pela Globo da catástrofe
científico-cultural. Sinal dos tempos: a cobertura de Carlos Nascimento ao vivo
dos choques dos aviões contra as torres gêmeas em 2001 conseguiu ser mais
objetiva do que os relatos sobre o incêndio, encaixados nos dois eixos
narrativos globais: “esse país é uma merda!” e “corrupção, corrupção e
corrupção...”.
segunda-feira, setembro 03, 2018
"Videodrome - A Síndrome do Vídeo": como a tecnologia controla mente e carne
segunda-feira, setembro 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um diretor de uma TV a cabo descobre o
sinal pirata de uma transmissão de “Snuff TV” (filmes que mostram violência,
abusos sexuais e mortes reais) chamada “Videodrome”. Mas da pior maneira
possível, ele descobrirá que é muito mais do que um show de TV: é um
experimento cujas ondas catódicas provocam danos cerebrais permanentes. Arma
para vencer a guerra pelo controle das mentes da América planejada por uma
obscura empresa que faz óculos de baixo custo para o Terceiro Mundo e sistemas
de orientação para mísseis da OTAN. Esse é “Videodrome – A Síndrome do Vídeo”
(1983), clássico filme de David Cronenberg que transformou em cinema toda uma
tradição de crítica à mídia e tecnologia canadense, de Marshall McLuhan a
Arthur Kroker: o momento em que a tecnologia deixa de ser mera extensão do
homem para se transformar em carne. E o homem se transforma num aparelho de
videocassete.
sábado, setembro 01, 2018
Curta da Semana: "O Futuro Será Careca" - Por que temos horror ao vazio em nossas cabeças?
sábado, setembro 01, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vivemos uma sociedade de consumo que
ama tudo aquilo que está cheio: sonhos, sacolas de compras, cabelos. Odeia o
vazio porque cria uma “incontrolável sensação de desgosto”. E os carecas seriam
a síntese de tudo isso que as pessoas temem: carregam o vazio sobre suas
cabeças. Esse é o tema do surreal curta francês “O Futuro Será Careca” (“Le
Futur Sera Chauve”, 2016), de Paul Cabon. Um jovem protagonista cabeludo
descobre numa refeição em família o futuro que lhe espera: a calvície
hereditária. E revela o sintoma de uma sociedade que criou o mito da juventude
como estratégia publicitária sedutora e pervasiva – a inabilidade de crescer e
envelhecer.
quarta-feira, agosto 29, 2018
A nova bomba do laboratório de feitiçarias semióticas da Globo: "1+1=3"
quarta-feira, agosto 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O leitor deve conhecer ou ter ouvido
falar daquela velha cartilha escolar de alfabetização de priscas eras chamada
“Caminho Suave”, o be-a-bá do mundo das letras. Pois é nesse nível que
interesseiramente se situam as chamadas “ferramentas de fact-checking”. Tática
diversionista para desviar a atenção da opinião pública de uma outra cena na
qual as notícias de fato funcionam: não no campo da representação (verdade ou
mentira), mas no deslizamento metonímico das edições, escaladas, justaposição
narrativa para criar percepções, impressões e relações de causa e feito. Como,
por exemplo, a nova bomba que o laboratório de feitiçarias semióticas do
telejornalismo da Globo criou em ano eleitoral para blindar o seu candidato
campeão Alckmin: a bomba semiótica “1+1=3” – comece narrando uma notícia... e
de repente dê uma guinada e passe a falar de outra notícia, criando duas linhas
narrativas simultâneas e tão confusas que o telespectador começará a criar
relações de causa e efeito que acabarão criando uma terceira notícia. Aquela
verdadeira notícia que a emissora gostaria de informar para esconder uma
realidade comprometedora.
segunda-feira, agosto 27, 2018
A estrada para o Inferno está pavimentada por convites no filme "Hereditário"
segunda-feira, agosto 27, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Hereditário” (“Hereditary”, 2018) é
um filme singularmente aterrorizante. Ele não cava apenas nos abismos sombrios
do nosso inconsciente. Explora
principalmente o fenômeno bem atual da incomunicabilidade familiar e do
processo psíquico de negação. Dois plots clássicos do gênero são explorados: o
Mal que ameaça a união familiar e o elemento narrativo do “convite” através do
qual o Mal pode ter a licença para entrar em nossas casas e pavimentar o
caminho ao inferno. Mas o singular em “Hereditário” é que o Mal vem do interior
do próprio lar: uma família que se sente
desconfortável com exposições francas de qualquer coisa que possa revelar o
interior um ao outro. Silêncios e mecanismos de negação encobrem traumas do
passado que pode retornar como uma demoníaca maldição.
sábado, agosto 25, 2018
O fim do mundo é um sintoma, discute "Cinegnose" em Simpósio no Rio
sábado, agosto 25, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quase diariamente é previsto o fim do
mundo na TV ou na Internet, enquanto no cinema narrativas ficcionais reforçam
essas previsões com protagonistas às voltas com apocalipses climáticos,
cósmicos, geológicos, tecnológicos, alienígenas etc. Por que o mundo tem que
ser destruído? Por que essa necessidade pelo fim, embalada como ficção e entretenimento
para consumo de massas? Ideologia? Manipulação político-ideológica? Ou algum
tipo de sintoma do inconsciente coletivo? Como o Gnosticismo pode oferecer uma
explicação e uma narrativa alternativa esse mistério sobre o “fim dos tempos”?
Essa foi a discussão que este humilde blogueiro levou para o Simpósio “Do Mundo
Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento que aconteceu de 22 a 24 últimos no
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro.
quarta-feira, agosto 22, 2018
Se a Globo fosse uma pessoa, como ela seria?
quarta-feira, agosto 22, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Se a sua marca fosse
uma pessoa, como ela seria?... E a sua personalidade?”. A partir dessa
pergunta, os marqueteiros especializados no chamado “Brand Persona” definem a
“essência” de uma marca: Volvo? É “seguro”... Lamborghini? É “exótico”...
Disneylândia? É “mágico”. E como seria a Organização Globo, principalmente após
a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU para que Lula possa exercer
seus direitos políticos enquanto estiver na prisão? Entre simplesmente ignorar
a notícia e, depois, rebaixá-la a “fake news” (sob o silêncio das agências
“hipsters” de checagem), se a Globo fosse uma pessoa, estaria com sérios
sintomas de esquizofrenia midiática e formações reativas psíquicas que vão de
“negação” a “transbordamento”. Um malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação da divisão
dos blocos de notícias em seus telejornais que agora não apenas tenta ocultar
fatos. Mas também esconde a própria esquizofrenia midiática: como em um
momento ser a favor... e em outro ficar contra?
domingo, agosto 19, 2018
Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios
domingo, agosto 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um circo, cuja principal atração é uma
enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da
Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e
presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo
político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho
musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu
ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia
com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança.
Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do
diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos
planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade
aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.
terça-feira, agosto 14, 2018
Filme "Extinção" e a Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena
terça-feira, agosto 14, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Devo reconhecer que esse humilde
blogueiro resistiu muito a assistir ao filme “Extinção” (Extinction, 2018).
Vendo o pôster promocional e assistindo ao trailer, tudo levava a crer que o
filme seria mais do mesmo nesse subgênero sci-fi sobre aliens invadindo a
Terra. Afinal, maniqueísmo e patriotismo marcaram as produções por décadas.
Porém, “Extinção” é a prova definitiva sobre as mudanças atuais nesse subgênero
– no caso do filme, uma narrativa com interessante ponto de virada que
claramente remete à chamada “Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena”. A mais
antiga teoria sobre aliens no planeta, 1.600 anos anterior a atual onda de
teorias sobre aliens e OVNIs no planeta, iniciada em 1947. Antiga teoria
baseada nos textos gnósticos raros derivados das Escolas de Mistérios da
antiguidade pré-cristã que se convencionou chamar de “Biblioteca de Nag
Hammadi”. Um protagonista com pesadelos recorrentes sobre uma violenta invasão
alienígena no planeta, até que a realidade parece materializar seus terríveis
sonhos. Mas nada será o que parece. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
domingo, agosto 12, 2018
Série "Filhos do Caos": a combinação totalitária tecnologia, meritocracia e educação
domingo, agosto 12, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitos consideram a série taiwanesa
“Filhos do Caos” (“On Children”, 2018-), disponível no Netflix, como o
“Black Mirror” oriental: nos cinco episódios estão modernas tecnologias (de uma
espécie de controle remoto tempo-espaçial a neuro-dispositivos) que criam mundos
distópicos. Porém, todo o controle, disciplina e opressão recaem sobre
adolescentes – de um lado vivendo relações familiares disfuncionais de classe
média (pais que jogam nos filhos a culpa pela renúncia e sacrifício), e do
outro ambientes escolares meritocráticos e ultra competitivos onde entrar na
melhores escolas e universidades significa honrar o status da família diante da
sociedade. Cada um dos cinco episódios narra a totalitária combinação entre
valores culturais milenares com as modernas tecnologias de vigilância e
controle. Restando à juventude roubada a saída através do realismo fantástico e
o suicídio.
sexta-feira, agosto 10, 2018
Cinegnose participará do Simpósio "Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas" no RJ
sexta-feira, agosto 10, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Por que o mundo tem que acabar? –
Neo-apocalíptica e Escatologias Líquidas”. Esse será o tema da palestra deste
humilde blogueiro no Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”,
evento organizado pela
revista eletrônica “Cosmos e Contexto” juntamente com o Centro de Estudos
Avançados de Cosmologia (CEAC). O Simpósio
acontecerá de 22 a 24 de agosto no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de Janeiro, com a
participação de filósofos, historiadores, cosmólogos, pesquisadores e
sacerdotes, procurando um saber antidogmático que questione o monopólio da
Ciência na construção da realidade.
domingo, agosto 05, 2018
"As Boas Maneiras": um lobisomem brasileiro em São Paulo num país dividido
domingo, agosto 05, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme brasileiro “As Boas Maneiras”
(2017), da dupla de diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, parece
dialogar com o clássico expressionismo alemão Gabinete do Dr. Caligari (1919) e
o brasileiro “Que Horas Ela Volta?” (2015). Como o filme alemão, combina a
crítica social com o realismo fantástico. Mas “As Boas Maneiras” torna “Que
Horas Ela Volta” em um filme datado: o drama de uma empregada doméstica que
acompanha a estranha gravidez da sua patroa rica (que em noites de Lua cheia se
torna sonâmbula), reflete o imobilismo de uma sociedade ainda fundada na antiga
ordem escravocrata. Diferente do momento otimista do filme de 2015 (o clima de
progresso econômico e mobilidade social), tal como um sismógrafo, “As Boas
Maneiras” reflete o imobilismo e desencanto de uma sociedade dividida: o Mal
que surge das entranhas da elite do bairro do Brooklin para invandir a periferia
pobre do Capão Redondo – um lobisomem brasileiro em São Paulo.
sexta-feira, agosto 03, 2018
Bolsonaro e Neymar lucram com negatividade antimídia
sexta-feira, agosto 03, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma diferença de apenas 24 horas,
dois sintomas dos estranhos tempos em que vivemos: no domingo, no horário mais
caro da TV brasileira, o Fantástico da Globo, um pedido de desculpas auto-indulgente
de Neymar com o patrocínio milionário da Gillete. No dia seguinte, o candidato
à presidência de extrema-direita, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva da TV
Cultura, apontando uma metralhadora de cacofonias numa estudada estratégia de
confusão verbal e bate boca. Dois personagens que ganham força não pelas
virtudes (nem que seja para simulá-las) mas pela negatividade. Nesses
dois eventos o “bom senso” e a “ponderação” foram mandados à favas mostrando
uma estratégia paradoxalmente antimídia – ganham força a partir de uma
autodestruição das estratégias de enunciação que sempre ajudaram a mídia a
simular possuir algum valor de uso: “informar”, “entreter” e “educar”. As,
digamos assim, “sinceridades” de Bolsonaro (a extrema-direita em seu estado
bruto, sem as estratégias de enunciação suavizantes) e de Neymar (a negação
franca da virtuosidade do esporte – "falem o que quiser porque tenho dinheiro!")
são atos paroxistas. Se transformaram em “máquinas celibatárias” que ganham
força investindo contra a própria mídia que os promoveu.
terça-feira, julho 31, 2018
Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"
terça-feira, julho 31, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa
Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num
esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre
família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de
super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os
Incríveis” em 2004 fez parte dessa
agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom
motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis”
se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher
Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de
comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos
super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião
pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a
nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda
Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política
como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.
domingo, julho 29, 2018
Curta da Semana: "Final Offer": aliens agora preparam "invasões híbridas"
domingo, julho 29, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Algo está mudando no
clássico roteiros dos filmes de invasões alienígenas. A série “Colony” do
Netflix é uma evidência. E o curta canadense “Final Offer” (2018) é uma prova.
Agora as sinistras inteligências de outros planetas nos atacarão através de
“invasões híbridas”: em primeiro lugar, explorando as fraquezas da natureza
humana, para depois roubarem o que quiserem. Um advogado “loser” e alcoólatra
acorda de ressaca preso em uma estranha sala em estilo vitoriano, diante da
garota com a qual estava na última noite. Ela é a representante de uma raça
alien e ele foi escolhido como representante da humanidade para a “negociação”
de um sinistro contrato: os extraterrestres querem levar nossos oceanos e em
troca... seduzir o pobre advogado através da sua baixa autoestima.
sábado, julho 28, 2018
Filme "O Culto": e se nossas vidas forem gigantescas anomalias temporais?
sábado, julho 28, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma boa ideia, com um
roteiro inteligente, um elenco forte são capazes de fazer filmes convincentes,
mesmo com pouco dinheiro. O filme “O Culto” (The Endless, 2017) é
mais um filme independente que comprova a capacidade inventiva de renovar subgêneros
do horror e da ficção científica. Dessa vez a dupla de diretores Justin Benson
e Aaron Moorhead (“Resolution”, 2012) faz um inteligente meta-horror em torna
do tema das anomalias tempo-espaço. Dois irmãos (interpretados pelos próprios
diretores), depois de terem fugido de uma suposta seita suicida em uma
floresta montanhosa, decidem retornar depois de receberem um estranho vídeo. “O
Culto” não se limita a fazer uma desconstrução
do tema dos “paradoxos temporais” no cinema. Num insight gnóstico, estende
esses paradoxos para a nossa realidade cotidiana: e se nossas próprias
vidas já fossem gigantescos paradoxos tempo-espaço, que nos aprisionam nesse
cosmos, obrigando-nos a repetir uma mesma narrativa indefinidamente? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quinta-feira, julho 26, 2018
Assassinato da estudante brasileira na Nicarágua revela timing da guerra híbrida
quinta-feira, julho 26, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O assassinato da estudante brasileira de medicina na Nicarágua, em meio
à violência nas manifestações contra o governo Daniel Ortega, é mais uma
evidência de que a crise naquele país segue o roteiro já visto das guerras
híbridas no Brasil e no mundo. Timing perfeito: no momento em que a grande
mídia internacional já está retratando a “Revolução Popular Híbrida”
nicaraguense como “espontânea” ou “o novo” que veio substituir a velha política
carcomida pela corrupção, surge a necessidade de uma vítima feminina exemplar.
Assim como no Brasil, quando vítimas femininas anônimas foram repercutidas pela grande mídia e redes sociais durante os
protestos de 2013 a 2016. E como foi a execução de Marielle Franco. É sempre a
deixa para a grande imprensa entrar em ação com um discurso único: “protestos
pacíficos” que são violentamente reprimidos por um governo corrupto. Como
sempre, a cobertura dos eventos descontextualiza o cenário geopolítico por trás
de uma crise nicaraguense que surge (como em toda Guerra Híbrida) após uma reeleição democrática: a parceria
multipolar da Nicarágua com China e Rússia para a construção do Canal
Transoceânico para fazer frente ao Canal do Panamá, controlado pelos EUA.
segunda-feira, julho 23, 2018
Na série "Strange Angel" a ciência dos foguetes se confunde com o Ocultismo
segunda-feira, julho 23, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Seu nome foi proscrito
da história da Ciência. Embora suas descobertas tenham sido uma das bases das
viagens espaciais e de ser co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da
NASA, seu nome também foi riscado da história da agência espacial. Ele é Jack Parsons
(1914-1952), jovem projetista de foguetes e químico, criador dos combustíveis
sólidos. Mas viveu em um fina linha que separa a genialidade da loucura: de dia
exercia a ciência experimental. E à noite era o líder da O.T.O (Ordo Templi
Orientis) da Califórnia, organização ocultista dominada por Aleister Crowley.
Até o momento em que Ciência e Ocultismo se misturaram a tal ponto em que para
ele a tecnologia dos foguetes era não apenas uma forma do homem chegar ao
espaço. Mas também a oportunidade para abrir portais para seres
extradimensionais. A série “Strange Angel” (2018-) produzido pela rede CBS dos
EUA pretende mergulhar na vida desse controverso cientista que, ironicamente,
possui uma cratera no lado oculto da Lua batizada com o seu nome.
sábado, julho 21, 2018
Pós-verdade e Fake News são notícias falsas para colocar jornalistas hipsters "na linha"
sábado, julho 21, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diretores, presidentes
e executivos da grande imprensa e associações jornalísticas, historicamente
sempre avessos às “teorizações” da área acadêmica, de repente passaram a
participar ativamente de congressos e simpósios sobre jornalismo investigativo,
ciberjornalismo e jornalismo online. Para repercutirem não só junto a
pesquisadores, mas também clientes, profissionais e líderes de opinião a já
extensa lista de livros e artigos sobre o fenômeno da “pós-verdade” e das “fake
news”. Para provar como a supremacia da verdade deixou de existir no debate
público atual. E os vilões: Internet, blogs, redes sociais. Por que esse
repentino esforço profissional-acadêmico para dar um ar de novidade a um
fenômeno tão velho quanto a própria história do Jornalismo? A necessidade em
dar verniz científico para noções retóricas de “pós-verdade” e “fake news”
através de um velho macete de engenharia de opinião pública: publicação de
artigos científicos e livros. Conferir verossimilhança a uma agenda que traz
lucros para a grande mídia: transformar jornalismo investigativo em “checagem”,
colocar os jornalistas hipsters “na linha”, sentados, sem ir a campo. E com
desdobramentos mercadológicos: monopólio e censura da concorrência no mercado
de notícias.
quinta-feira, julho 19, 2018
Na série "Colony" uma invasão alienígena demasiado humana
quinta-feira, julho 19, 2018
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Disponível no Netflix,
a série “Colony” (2016-) subverte de diversas maneiras a típica história de
invasão alienígena: os humanos podem ser tão amorais e cruéis quanto os aliens
e também não há uma metrópole distópica, sombria e em ruínas, mas uma Los
Angeles ensolarada sob um persistente céu azul. Mas principalmente, os
invasores não criam guerras de extermínio com suas naves ou máquinas
monstruosas, como em clássicos do gênero. Apenas exploram as principais
fraquezas humanas por meio de ferramentas que a própria humanidade criou para
subjugar as fraquezas de outros seres humanos: meios de comunicação, religião,
ensino e propaganda que arrancam o pior de nós – ambição, traição, ganância,
egoísmo e desejo por poder. Eles não são mais “aliens”: agora são “RAPs” ou
“hospedeiros”. Invasores “low profile” que apenas jogam os homens uns contra os
outros, tirando seu lucro disso. Uma invasão “demasiado humana”, assim como nas
atuais Guerra Híbridas nas quais o poder global invade países conquistando
corações e mentes.
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