domingo, fevereiro 05, 2017
Curta da Semana: "Being Batman" - o homem que acredita ser o próprio Cavaleiro das Trevas
domingo, fevereiro 05, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No começo esse humilde blogueiro achava que o
curta “Being Batman” (2016), de Ryan Freeman, fosse mais uma sátira sobre o
super-herói. Até perceber que o curta é um documentário com um personagem real
que vive na cidade de Brampton, em Ontário, Canadá. Um homem que acredita ser o
próprio Batman e que os acontecimentos trágicos da sua vida fizeram-no se
conectar sincronicamente ao personagem fictício de Bruce Wayne. Todas as noites
Stephen Lawrence sai da sua “batcaverna” a bordo de uma réplica do batmóvel do
filme de 1989 de Tim Burton para vigiar as ruas da cidade. No curta “Being
Batman” Lawrence dá depoimentos sobre a sua vida como Batman. Mostra sua casa
transformada em batcaverna, suas armas e a rotina noturna. Isso não é cosplay:
Lawrence diz ser o próprio Batman!
sábado, fevereiro 04, 2017
Para tautismo da Globo Marisa Letícia supostamente morreu
sábado, fevereiro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O tautismo (autismo + tautologia) crônico da
TV Globo chegou a um nível bizarro e surreal com a “morte” de Dona Marisa
Letícia. Enquanto a emissora mostrava imagens de pesar e condolências (minuto
de silencio no Congresso e os pêsames de FHC a Lula), a Globo se apegava ao
“protocolo de morte encefálica” para adiar em 18 horas o anúncio do falecimento
e a palavra “morte”. Uma cobertura, no mínimo, anômala: em se tratando de
políticos, celebridades e artistas o "modus operandi" da grande imprensa diante
da morte sempre foi o sensacionalismo, ilações e especulações. Por que esse
inesperado comedimento, como se repórteres e apresentadores usassem luvas de
pelica enquanto pisavam em ovos? No dia 02 de fevereiro, Dona Marisa Letícia
estava supostamente morta. Para no dia seguinte a palavra “morte” ser anunciada
de forma protocolar. Para quê serviu esse pesar tautista da Globo? Algumas
hipóteses: (a) AVC político, (b) Lula vai ser preso, (c) Sebastianismo e
Eleições 2018, (d) Tática do diversionismo, (e) Corrente de Esperança.
quinta-feira, fevereiro 02, 2017
Realidade é esquecimento consensual no filme "Os Esquecidos"
quinta-feira, fevereiro 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desculpe, caro leitor, o trocadilho
involuntário mas o filme “Os Esquecidos” (The Forgotten, 2004) acabou sendo
esquecido pela crítica e público. E com razão! Foi um filme que explorou
elementos clássicos do gnosticismo pop hollywoodiano. Mas naquele momento, a
safra de filmes gnósticos revelava filmes muito mais memoráveis como as
sequências de “Matrix”, “A Passagem”, “Vanilla Sky” ou “Brilho Eterno de Uma
Mente Sem Lembranças”. O filme conta com um argumento poderoso (a mãe que
lembra do filho morto em um acidente, mas todos ao redor insistem em dizer que
a criança jamais existiu), mas o roteiro é inverossímil sem conseguir definir o
tom narrativo – alguma coisa entre sci fi, mistério e thriller policial. Apesar
disso, “Os Esquecidos” é uma filme didático: mostra como os temas do
esquecimento, paranoia e conspirações são articulados dentro de uma narrativa
gnóstica. Ecoando filmes clássicos como “Dark City” e “Amnésia” de Christopher
Nolan, mostra que a chamada “realidade” pode ser o produto de um esquecimento
consensual.
quarta-feira, fevereiro 01, 2017
Eike Batista: Efeito Heisenberg e lixo midiático reciclado
quarta-feira, fevereiro 01, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A política brasileira parece estar sendo
dirigida pelos misteriosos desígnios das “coincidências”. Os exemplos mais
recentes: a morte do ministro do STF Teori Zavascki no Triângulo das Bermudas da
política em Paraty e a prisão do pobre homem rico “foragido” Eike Batista,
repletos das sempre recorrentes “coincidências” e timings oportunos envolvendo
a onipresente TV Globo. Qualquer tentativa de explicar essas “coincidências”
(rapidamente definidas pela narrativa midiática como “fatalidades” das
“trapaças da sorte”) é logo rotulada como “teoria conspiratória”. Mas o show
midiático da “caça” ao “foragido” Eike Batista acrescenta alguns ingredientes a
mais: o chamado Efeito Heisenberg, no qual a mídia cobre um evento criado por
ela mesma; e o linchamento midiático: depois dos petistas agora são as
celebridades, subprodutos da própria mídia. Linchamento que combina
entretenimento e expiação da dor e introjeção da culpa pelo fracasso
profissional e pessoal de milhões de brasileiros no naufrágio da crise
econômica. Mesmo no seu fim, Eike Batista se tornou útil como um lixo midiático
reciclável no bode expiatório da vez.
segunda-feira, janeiro 30, 2017
I Ching, Cinema e mundos quânticos na série "The Man in The High Castle"
segunda-feira, janeiro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a relação entre o milenar livro-oráculo "I Ching", o Cinema no século XX e a hipótese dos Múltiplos Mundos da Física
Quântica? A busca dessas conexões é o desafio para o espectador que assiste à
série da Amazon Studios “The Man In The High Castle” (2015 - ) livremente
inspirado no livro do escritor sci-fi gnóstico Philip K. Dick de 1962. Um mundo
invertido no qual os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) ganharam a Segunda Guerra Mundial e os EUA,
destruídos pela Grande Depressão, foram conquistados pelo Reich e o Império do
rei Hirohito. Porém, a posse de estranhos rolos de filmes de procedência
misteriosa passa a ser politicamente importante tanto para Resistência como
para Hitler: neles, outros mundos são revelados. Tal como no I Ching, devemos
encontrar o imutável em mundos fugazes e em constante mutação. Mas pode
tornar-se uma arma política: o controle do Tempo, passado e futuro de toda a
humanidade.
quinta-feira, janeiro 26, 2017
O filósofo Kierkegaard vai a Hollywood no filme "Passageiros"
quinta-feira, janeiro 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que diante do precipício ao mesmo tempo em que temos medo, também sentimos o impulso de saltar para o fundo do abismo? Em 1844 o
filósofo S∅ren Kierkegaard disse que isso deriva da ansiedade da descoberta de
sermos livres para saltar ou não saltar. E sempre temos medo daquilo que mais
desejamos. “Passageiros” (Passengers, 2016) retoma essas ideias do filósofo
dinamarquês, inclusive com a referencia do abismo: só, no espaço sideral,
diante do vazio do Universo, o homem teme por descobrir que é livre, como se
retornasse ao mito do Paraíso, antes de Adão e Eva terem descoberto a árvore do
conhecimento. “Passageiros” é mais uma amostra da recente guinada metafísica de
Hollywood sob camadas de entretenimento e efeitos digitais. Assim como a
animação “WALL-E” (2008), também faz uma releitura gnóstica do Gênesis bíblico:
como o homem, prisioneiro numa gigantesca espaçonave-resort que ruma para a
destruição, pode conquistar a liberdade e autoconhecimento.
terça-feira, janeiro 24, 2017
Globo virou black bloc
terça-feira, janeiro 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo ainda tinha a tênue esperança de que
delegados dissidentes do Colégio Eleitoral não ratificassem a vitória de Trump.
Mas a cerimônia da posse e o discurso “porrada” do presidente arrasaram
qualquer sonho dos ainda incrédulos correspondentes da emissora nos EUA. Mais
eis que os esquecidos black blocs voltam a ação nas manifestações anti-Trump em
Washington, tirando os analistas da emissora da depressão. Entusiasmada, a
Globo News até reprisou o documentário sobre os black blocs exibido na época
das manifestações de rua em 2013 no Brasil. Agora a Globo assume uma espécie de
anarcotautismo: entrar na onda de turbinar as manifestações contra Trump, assim
como fez nas manifestações anti-Dilma. Mas o tautismo crônico da sua bolha
virtual não consegue perceber os movimentos do “deserto do real” que Trump
representa: a crise do “neoliberalismo progressista” que sustenta a ordem da
Globalização: o alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais
(feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de
negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e
Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a
financeirização.
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo.
sábado, janeiro 21, 2017
Paraty é o Triângulo das Bermudas da política brasileira?
sábado, janeiro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesses momentos de tragédias que abrem
possibilidades de inesperadas mudanças no cenário político (Quem perderá? Quem
ganhará?) é sempre interessante ver as reações reflexas da grande mídia pega de
surpresa. Ela parece sempre ter uma “narrativa reflexa”, pronta, que se
manifesta como um ato falho: descrever um mundo onde os eventos são sempre
aleatórios, fora de contextos, desconectados e sempre sujeitos a “trapaças da
sorte”. A morte do Ministro do STF Teori Zavascki no acidente aéreo em Paraty
rapidamente foi enquadrada em uma narrativa protocolar como se a grande mídia
já tivesse o resultado antes mesmo das investigações: foi tudo uma fatalidade!
Não importa a existência de estranhas anomalias, depoimentos contraditórios,
sincronismos e o oportuno timing dos acontecimentos. Será que a grande mídia
quer impor à sociedade uma “narrativa reflexa” para criar um fato consumado?
Criar uma atmosfera de pressão política nas investigações oficiais que ora se
iniciam? Ou será que, desde o desaparecimento de Ulysses Guimarães em 1992, a
região de Paraty se transformou numa espécie de Triângulo das Bermudas
brasileiro onde impasses políticos são resolvidos de forma drástica?
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre
tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um
bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter
as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina
com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês
hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo,
2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de
robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos
ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três
contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas
transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a
sociedade.
terça-feira, janeiro 17, 2017
Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua
terça-feira, janeiro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se no passado falar que o homem jamais pousou
na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do
Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual
com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de
produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo
Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart
Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar
sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick
envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos
anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele
momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos
envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de
lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de
cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque
vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente
comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos
astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho
da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certo dia um cientista do MIT criou um
“computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas
digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando
como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando
horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais
íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia
toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que
controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma
das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis.
Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a
fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo
real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às
vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.
sexta-feira, janeiro 13, 2017
O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida
sexta-feira, janeiro 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mudança de pensamento”. “Reflexo das
pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova
vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida,
decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas
e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer
digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de
uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial
e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora
transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um
sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é
binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre
foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel
decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o
Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e
hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela
diferença cambial.
quinta-feira, janeiro 12, 2017
A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"
quinta-feira, janeiro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez o colapso econômico da antiga
União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado,
seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”:
manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam
a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida
como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática
copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro
de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal
ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas
pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente”
chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC
“HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história
de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas
desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso,
corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.
terça-feira, janeiro 10, 2017
David Bowie: a morte mais bem encenada do rock
terça-feira, janeiro 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o
futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso
Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente
do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de
artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez
John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas,
estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a
própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia
irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a
própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e
vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do
aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências
pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda
está vivo...
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Curta da Semana: "Reset" - nada é o que parece
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No curta sueco “Reset” (2013) nada é o que parece. Uma amorosa mãe lê rotineiramente para a filha cartas de um pai ausente que promete retornar em breve ao lar. Uma fazenda remota e isolada do resto do mundo guarda um mistério que, para ser resolvido, dependerá que a menina compreenda o sentido de estranhos códigos numéricos. Um surpreendente drama alusivo às mitologias gnósticas sintetizado em 16 minutos – a mitologia do retorno de Sophia à Plenitude, a função consoladora e ilusória das religiões para nos manter esperançosos dentro de uma prisão e a diversidade de mundos simulados.
domingo, janeiro 08, 2017
Em "Don't Blink" podemos ser apagados como fotogramas em um filme
domingo, janeiro 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, “Don’t Blink” (2014) é mais
um filme sobre um grupo de jovens que se hospeda em uma cabana em algum lugar
remoto para serem punidos por seus vícios e pecados, por algum serial killer.
Mas estamos no terreno do horror independente e nada é o que parece: sem
explicações um a um começa a desaparecer assim que o grupo tem a atenção desviada ou
simplesmente fecha os olhos. Mais um filme inspirado no misterioso
desaparecimento, sem deixar qualquer rastro, de uma colônia inteira no início
da colonização dos EUA em 1587. Filmes como “O Mistério da Rua 7” e adaptações
de Stephen King como “A Tempestade do Século” e “A Fenda no Tempo” (“The
Langoliers”) também exploraram esse misterioso acontecimento, cada um com sua
própria interpretação. “Don’t Blink” discute as consequências morais (o que
você faria, sabendo que desapareceria nas próximas horas?) e deixa uma série de
pistas narrativas para o espectador montar sua própria explicação. De uma hora
para outra poderíamos ser arbitrariamente apagados como se a realidade fosse um
conjunto de fotogramas, assim como o cinema? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Os 10 filmes mais estranhos de 2016
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça os filmes oscarizáveis e assista a uma lista de filmes com “estranhas” narrativas: um cadáver flatulento que evita o suicídio de um náufrago, a filha de Deus que hackeia o computador divino para se vingar do Pai, uma mulher grávida de um vírus fetal e dois filmes sobre salsichas sencientes: um sobre homens-salsicha nazis que invadem uma cidadezinha no Canadá para serem enfrentados por protagonistas que utilizam o poder da Yoga; e outro sobre salsichas em um supermercado que questionam a religião que esconde o terrível destino – no “Grande Além” serão comidas pelos próprios deuses que veneram. São os chamados “filmes estranhos” (“weird movies”) que exploram o duplo sentido da palavra “weird”: “destino” e “surreal, estranho”. Muitos deles aproximam-se da noção de “filme gnóstico” pela forma como desconstrói conceitos religiosos, morais e a própria percepção daquilo que chamamos de “realidade”. Para o leitor, uma lista do “Cinegnose” com os 10 melhores Filmes Estranhos de 2016.
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Tautismo fonoaudiológico da Globo quer legitimar capitalismo de desastre
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de entrar em metástase e, a partir das
“hardnews” dos telejornais, contaminar o jornalismo esportivo, teledramaturgia
e entretenimento, encontramos uma das origens da doença do tautismo (autismo +
tautologia) da TV Globo: o método fonoaudiológico responsável há décadas pela fala dos atores, repórteres,
radialistas e âncoras da emissora. É o chamado “Método do Espaço Direcional”
cujas estratégias vocais reforçam subliminarmente a descrição que a Globo faz
de si mesma - a crença de um destino manifesto que na fase metastática atual assume um delirante messianismo religioso: tons de voz graves, ressonância e
ritmo da fala cada vez mais lúgubres e patibulares dos âncoras como se a Globo testemunhasse algo que já foi profeticamente gravado a ferro e fogo nas pedras
da História desde tempos imemoriais: “Vejam, já estava escrito!”. Cânone do “Método”, é sintomático que
Cid Moreira tenha virado um apóstolo bíblico que decidiu levar o Evangelho “até
os últimos dias”. Afinal, esse é o subtexto diário das inflexões de voz dos
apresentadores globais que procuram conformar os telespectadores ao atual
“capitalismo de desastre” implantado no País.
terça-feira, janeiro 03, 2017
O Gnosticismo politicamente incorreto em "Festa da Salsicha"
terça-feira, janeiro 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma das teses do Cinegnose é que as animações
atuais cada vez mais exploram temas gnósticos de desconstrução da realidade.
Afinal, em relação aos filmes live action, as animações são meta-ilusões dos movimentos reais criadas pela ilusão do desenho e computação gráfica. “Festa da Salsicha” (“Sausage
Party”, 2016) leva essa tendência às últimas consequências. Alimentos
antropomorfizados em gôndolas de um supermercado estão imersos em uma religião
na qual acreditam que serão escolhidos por “deuses” (os clientes do
supermercado) e levados para o “Grande Além”. Lá viverão na paz e amor, em
comunhão com os “deuses”. Mas a religião esconde um destino cruel: os deuses
são monstros insaciáveis que comem alimentos para ficarem fortes. Uma comédia
politicamente incorreta e desbocada na qual o espectador cria forte
empatia com o drama das salsichas – será que vivemos também em um gigantesco
supermercado? Como elas, também partilhamos de ilusões religiosas apenas porque
nos tornam felizes e otimistas?
sexta-feira, dezembro 30, 2016
Cinco filmes para ver depois do Ano Novo
sexta-feira, dezembro 30, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinco filmes sobre o Ano Novo para ver depois das comemorações do Ano Novo. Filmes que vão do humor politicamente incorreto, humor negro ao pessimismo filosófico e o próprio fim do mundo. Filmes que nos fazem pensar sobre as principais instituições que envolvem essas festas: a contagem regressiva, as promessas para o próximo ano, o futuro e o passado. Rituais que cuidadosamente repetimos todo ano. Mas se o leitor quiser assistir antes das festas da virada de ano, é por sua conta e risco...
1. “200 Cigarrettes” – Ano Novo, cigarros e a geração MTV
O
filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de
comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças
da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z.
Por
que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão
nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200
Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar,
aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip.
Porém,
não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que
ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez
renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece
porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma
comercial.
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2. Curta “Dinner For One” – tenha um final de ano politicamente incorreto
Por que TVs europeias,
principalmente alemãs, a cada 31 de dezembro exibem um velho curta em preto e
branco chamado Dinner For One, desde 1963? Alemanha, Leste Europeu e
países nórdicos exibem todo final de ano o curta original ou versões com um
humor mais politicamente correto.
Dinner For One
é a síntese da fleugma e humor negro inglês: uma senhora da alta sociedade
comemora seus 90 anos e um mordomo finge servir a convidados em uma grande
mesa de jantar com cadeiras vazias – são os lugares de amigos de outras
comemorações, já falecidos. Um bizarro mix de embriaguez involuntária, morte
e aniversário. Por que a cada final de ano os europeus continuam assistir
fascinados a esse estranho curta?
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3. “A Roda da Fortuna” – a gnose de Ano Novo
Vale a pena
assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos
irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos
parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será
passado.
Por isso, “A Roda da
Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos
de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre
presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas
promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que
tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos
que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.
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4. “Last Night” – Ano Novo e o fator humano no fim do mundo
Não sabemos como e
porque o mundo vai acabar à meia noite nas comemorações do Ano Novo.
Habitualmente nos filmes-catástrofes hollywoodianos temos muita ação,
destruição e explosões que acabam desviando a atenção do espectador do
sintoma cultural que representa a recorrência do tema fim do mundo no cinema.
Ao contrário, no
canadense Last Night (1998) a narrativa disseca uma variável que
nenhum filme-catástrofe desenvolve: o fator humano. No filme não há ônibus
espaciais, generais estressados ou cientistas heroicos. Apenas pessoas comuns
que tentam realizar seus últimos desejos antes do fim. E esses desejos
transformam-se em termômetro do mal estar cultural que estava por trás da
histeria midiática do “novo milênio” no final do século XX.
|
5. “Lua de Fel” – quando a contagem regressiva do final de ano é uma bomba-relógio
Mais um final de ano e
outra contagem regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como
fosse uma bomba relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean
Baudrillard até chegarmos ao filme Lua de Fel (Bitter Moon,
1992) de Roman Polanski.
A poucas horas da
festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro triângulo
amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em
ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem destruído pela
paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se Polanski.
A aproximação que o
diretor faz dessa questão com a festa do réveillon, sugere uma resposta: a
percepção do tempo como bomba-relógio cria as doenças espirituais
contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
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quinta-feira, dezembro 29, 2016
Em "Lua de Fel" a contagem regressiva de fim de ano é uma bomba-relógio
quinta-feira, dezembro 29, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um final de ano e outra contagem
regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como fosse uma bomba
relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean Baudrillard até
chegarmos ao filme “Lua de Fel” (“Bitter Moon”, 1992) de Roman Polanski. A
poucas horas da festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro
triângulo amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem
destruído pela paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se
Polanski. A aproximação que o diretor faz dessa questão com a festa do
réveillon, sugere uma resposta: a percepção do tempo como bomba-relógio cria as
doenças espirituais contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
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