David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o
futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso
Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente
do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de
artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez
John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas,
estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a
própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia
irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a
própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e
vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do
aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências
pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda
está vivo...
O gnóstico pop David Bowie fez parte de um
seleto grupo de seres humanos cujas ações e processos criativos nos fazem
questionar a existência do futuro como um espaço distante no tempo, à frente do
presente. Para esse seleto grupo, o futuro não existe e nem é previsto: é feito
aqui e agora no presente. Para depois venderem suas “previsões” como
antecipações de “cenários futuros”.
Alguns mais íntimos dessa elite vendem essas
“profecias” e se tornam ricos como “futurólogos” de grandes empresas de
análises de cenários futuros. O futuro não existe: na verdade já foi feito por
uma elite artístico, cultural, tecnocientífica e política. É a Psico-História, conceito
central na série “Fundações” do escritor Isaac Asimov.
Bowie parecia que sempre estava um passo à
frente no mundo pop. A turnê Ziggy Stardust (1972-73) era glitter, glam e protopunk antes de tudo isso explodir
nos anos seguintes. Quando o punk atingia o auge, Bowie já estava no pós-punk e
New Wave na chamada “trilogia de Berlim – álbuns Low, Heroes e Lodger. Nos anos 1990, antes da explosão
do cenário da música eletrônica, Bowie já estava no drum and bass e jungle.
Bowie tinha consciência que no momento-chave
da sua carreira (a turnê Ziggy Stardust,
que tirou Bowie do anonimato depois de uma carreira de quase dez anos sem
decolar) tinha feito parte de uma “conspiração” que, para muitos, preferem essa
palavra sem as aspas: através de uma figura chamada Tony DeFries, Bowie teria
se conectado com o famigerado Instituto Tavistock de Relações Humanas de
Londres – famoso por supostamente empreender experimentos de controle social em
larga escala como também vender cenários futuros para grandes corporações –
sobre isso clique aqui.
Se John Lennon em entrevistas falava em
“artesãos” por trás dos Beatles (sugerindo algum tipo de engenharia social por
trás da cultura pop – clique aqui), Bowie começou a falar sobre
“malevolências paranormais” por trás da cultura pop e, mais especificamente,
por trás da persona de Ziggy Stardust que o lançou para a história do rock. A
partir daí, ficou obcecado em autodefesa psíquica e se aprofundou em livros
gnósticos e ocultistas – formou uma biblioteca que arrastava nas suas turnês.
Newton e a Psico-História
No filme que estrelou, O Homem Que Caiu na Terra (The
Man Who Fell To Earth, 1976) interpretou um alien chamado Newton que
torna-se milionário e dono de uma corporação tecnocientífica com suas patentes.
O filme sugeria outra tese da Psico-História: a História e o futuro já foram
escritos e todas as descobertas científicas já foram feitas. Agora, são
“desovadas” aos poucos de acordo com as necessidades estratégicas, mercadológicas
e políticas, sob a aparência da “evolução tecnocientífica” – sobre isso clique aqui.
Depois disso, suas músicas ficaram repletas
de avisos cifrados de ter inadvertidamente aberto algum tipo de caixa de
pandora: “Não
olhe em seu tapete/ eu tirei algo de terrível dele, veja”- Breaking Glass;
ou “Ela abriu estranhas portas que nunca mais se fecharam”- Scary Monsters.
A alusão ao personagem Newton
mais uma vez aparece, dessa vez no enigmático vídeo póstumo “No Plan”, liberado
um dia antes do que seria o aniversário de 70 anos de Bowie. No vídeo vemos um
rol de antigos aparelhos de TV em uma vitrina úmida por gotas de chuva. A loja
é a Newton Electrical, onde transeuntes param e olham mesmerizados às imagens
dos monitores que mostram flashes de viagens espaciais, um dos temas favoritos
de Bowie.
Mais uma mensagem cifrada
sobre uma elite capaz de hipnotizar pessoas comuns com imagens de supostos
acontecimentos que já há muito foram concebidos?
O modus operandi de Bowie
O fato é que o modus operandi de David Bowie (fazer o próprio futuro que
supostamente “previu”) aprendido com a sua convivência com os “artesãos”
transformou a própria morte em uma peça artística de encenação e simulação.
Fala-se que a vida imita a arte, mas Bowie foi além: a morte imitou a arte.
Como bom gnóstico, Bowie sabia que uma simulação só pode ser combatida com
outra simulação. No vídeo “No Plan” é como se Bowie, do pós-túmulo, tivesse tentando
se comunicar com os fãs sobre suas impressões do outro lado.
Dezoito meses antes da morte, Bowie tinha
sido diagnosticado com câncer e escondeu isso para o mundo. Apenas um punhado
de pessoas sabia da doença em estágio fatal. O lançamento do último álbum Blackstar um dia antes do aniversário de
69 anos e a sua morte apenas dois dias depois quis encenar um estranho
sincronismo, como se Bowie tivesse previsto o próprio futuro.
Durante as sessões de gravação do derradeiro
álbum, o produtor de longa data Tony Visconti percebeu nas letras das canções
um evidente tom de despedida. Tony o inquiriu sobre que tipo de despedida era
essa. Bowie limitou-se a olhar para ele rindo dando uma piscada cínica.
As letras de “Lazarus”, uma das
primeiras faixas lançadas, parecem ser o próprio réquiem de Bowie. "Olhe
aqui, estou no Céu! Eu tenho cicatrizes que não podem ser vistas ...”. E
termina com as palavras: " Desta ou de nenhuma maneira / Você sabe que eu
vou ser livre / Assim como aquele pássaro azul / Agora não é assim como eu? Vou
ser livre.
O vídeo começa com Bowie
deitado em uma cama de hospital, e termina com ele desaparecendo em um
guarda-roupa. Outras canções falam de túmulos e raios-x. Vídeos apresentam um
tema o crânio como tema recorrente e a faixa-título, “Blackstar”, tem a letra:
"Algo aconteceu no dia em que ele morreu, o espírito subiu um metro e o deixou
de lado".
A capa do álbum, uma estrela
preta em um fundo branco, é o único dos 27 álbuns de estúdio de Bowie que não apresentar
uma foto dele.
Ilusões cármicas
Sua morte foi preparada com meses de
antecedência. Isso não foi uma novidade. Nos anos 1990 Timothy Leary,
neurocientista e ativista (também conhecido como o “guru do LSD”), escreveu um
livro como um diário do seu leito de morte e o pioneiro a registrar, em tempo
real com uma webcam em frente a sua cama, os seus últimos meses de vida.
Transformou a própria morte em reality show em um processou que durou quatro
meses.
No caso de David Bowie, a novidade foi que
ele encenou uma profecia, como se as canções e vídeos previssem o futuro.
No vídeo “pós-túmulo” “No Plan”, Bowie chegou
ao detalhismo e precisão quando a letra descreve o primeiro estágio espiritual
após a morte física, segundo o Livro
Tibetano dos Mortos – “No Plan” descreve o “Planos das Ilusões Cármicas” no
qual o espírito projeta em uma espécie de tela mental o conteúdo da própria
mente: momentos da infância, amigos, desejos. O momento no qual o espírito cria
um mundo próprio, podendo torna-se nele prisioneiro por meio da fascinação.
“Onde quer que eu vá/Apenas onde/Apenas lá/Eu
estou/Todas as coisas são minha vida/Meus desejos/Minhas crenças/Meus
humores/Aqui é um lugar sem um plano”, diz os versos de “No Plan”.
Bowie passou toda a carreira fazendo parte de
uma “conspiração” em Psico-História: sob a aparência de “camaleão” ou “profeta”
por aparentemente sempre antecipar tendências, na verdade ele fez parte de uma
elite que fazia o futuro – ao lado de outras “eminências pardas” que nos
bastidores sempre fizeram o futuro “previsto” acontecer: Tony DeFries (por trás
do nascimento de Madonna, na ressurreição de Steve Wonder, na morte dos Beatles
e no renascimento de Iggy Pop), o músico Brian Eno (em certa época fez parte da
rede de membros da empresa de futurologia Global Business Network – GBN) e o
guitarrista Robert Fripp (guitarra da música “Heroes”), também ex-membro da
rede GBN.
Como se na encenação deliberada da própria
morte, Bowie quisesse denunciar: “Vejam, o futuro não existe!” Sempre haverá
“artesãos” para fabricá-lo enquanto vendem as próprias “previsões”
mercadológicas, econômicas e políticas como fossem “cenários futuros”.
Bowie quis mostrar que todos nós somos
aquelas pessoas comuns hipnotizadas diante daqueles monitores de TV em uma
noite fria e garoenta.
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