domingo, janeiro 26, 2014
Em Observação: "O Destino de Júpiter" será um novo "Matrix"?
domingo, janeiro 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com lançamento no Brasil aguardado para
o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só
representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia
Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o
cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um
entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da
realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma
entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura
especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma
pequena parte de uma gigantesca indústria cósmica.
sexta-feira, janeiro 24, 2014
Transmissão ao vivo e o declínio da vida pública
sexta-feira, janeiro 24, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As
críticas do jurista Dalmo Dallari de que a experiência da transmissão ao vivo
das sessões do Supremo Tribunal Federal foram nefastas por gerar “vedetismo e
deslumbramento” entre os ministros, retirando a sobriedade das decisões, vai de
encontro a um fantasma que assombra as ciências sociais: o declínio da vida
pública, ameaçada pelas supostas “experiências imediatas” que as imagens
transmitidas ao vivo ou em tempo real poderiam proporcionar. A ideologia de uma
suposta “transparência” das decisões do Estado por meio das imagens televisivas
seria a ponta do iceberg de um processo mais geral de crise esfera pública: se
a vida pública foi o auge de um processo civilizatório onde graças as mediações
(papéis sociais e a cultura do escrito e do impresso) não sobrecarregaríamos o
outro com o eu de alguém, agora numa suposta sociedade onde as imagens se
confundem com informação seríamos sufocados pela tirania da intimidade alheia.
Certa vez o comentarista
político Robert Lincoln O’Brien fez uma curiosa observação em 1904 na revista Atlantic Monthly: “Não é raro
nas cabines de datilografia do Capitólio, em Washington, ver congressistas
ditando cartas e gesticulando vigorosamente, como se os métodos retóricos de
persuasão pudessem ser transmitidos para
a página impressa”. Atento observador da vida política norte-americana, O’Brien
testemunhou nessa insólita passagem o choque de dois imaginários ligados a duas
mídias distintas: a tradição da escrita e do impresso de um lado e a obsessão pela
impressão cênica que a fotografia e o cinema reforçaram na vida pública.
As críticas do jurista Dalmo
Dallari (clique
aqui para ler), aproximando a experiência da transmissão ao vivo televisiva
das sessões do Supremo Tribunal Federal com o “vedetismo e deslumbramento” dos
seus integrantes que prejudicariam a “impessoalidade e serenidade das
decisões”, foram na jugular dessa questão que assombra muitos estudiosos das
ciências sociais: a vida pública, estrutura de sociabilidade onde a escrita e o
impresso ajudaram a solidificá-la, estaria ameaçada com as experiências
imediatas (o “ao vivo” ou “em tempo real”) proporcionadas pelas imagens
audiovisuais e eletrônicas.
quarta-feira, janeiro 22, 2014
Os "rolezinhos" são um Cavalo de Tróia?
quarta-feira, janeiro 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sintoma
do apartheid social? Flash mob da periferia? Movimento consciente de protesto?
Movimento político? Luta de classes? Repique das grandes manifestações de
Junho? A maioria das abordagens sobre o fenômeno dos rolezinhos parece se esquecer
de um importante detalhe: são eventos feitos para a mídia, divulgados pela
mídia e repercutidos pela mídia. Antes de ser um sintoma sociológico ou econômico,
é um evento midiatizado. Por isso se aplicaria nessa discussão o clássico enigma
pragmático dos estudos de comunicação: quem comunica o que, para quem e com
qual efeito. Em outras palavras, para além do fenômeno sociológico ou
econômico, há o semiótico cuja análise traz uma importante suspeita, a de que
os rolezinhos teriam se tornando para a grande mídia um autêntico cavalo de
Tróia, uma nova modalidade de bomba semiótica na atual guerrilha linguística
que se trava no contínuo midiático pela conquista da opinião pública.
Certa vez o professor de
filosofia Boris Groys fez em 2001 uma profética advertência às ciências sociais
como a Economia e a Sociologia: “Sem prejuízo do que todas essas
veneráveis ciências são capazes, incorrem elas num erro fundamental. Não
consideram a possibilidade de que a própria realidade, inclusive toda a
sociologia, a ciência econômica etc., possa ser um filme mal produzido.” - veja GROYS, Boris. "Deuses Escravizados: a guinada metafísica de Hollywood". Groys
não se referia apenas ao súbito interesse metafísico de Hollywood através de
filmes como Show de Truman ou Matrix. Mais do que isso, lançava uma
suspeita de que Hollywood já expressava o fato de que a própria realidade
estaria se transformando em um filme. E, o que é pior, mal produzido.
Para Groys o “erro
fundamental” seria o fato dessas ciências não perceberem que os seus “objetos”
(o “econômico”, o “sociológico” etc.) estariam sendo assumidos ou simulados em
ambientes altamente midiatizados pelas tecnologias de comunicação e informação.
Em palavras diretas: os fenômenos econômicos e sociológicos seriam antes de
tudo fenômenos midiáticos nas suas diversas modalidades: efeitos virais,
profecias auto-realizáveis, paradoxos quânticos (o olhar tecnológico da mídia
altera o próprio objeto que está sendo observado) etc.
segunda-feira, janeiro 20, 2014
Carma e atração gravitacional no filme "Gravidade"
segunda-feira, janeiro 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde
“2001: Uma Odisséia no Espaço”, nunca um filme como “Gravidade” (2013) do
mexicano Alfonso Cuarón, conseguiu representar tão bem a vastidão do espaço e
seu vazio obliterante. Indicado ao Oscar de filme, direção, atriz entre outras
categorias técnicas, o filme é elogiado pela crítica pela narrativa direta,
crua e de grande verossimilhança científica, diferente dos blockbusters
recentes, sempre envolvidos em complexas mitologias. Porém, por
trás das alucinantes sequências de destruição por detritos espaciais que obrigam a abortar a missão de reparos no telescópio Hubble, há um poderoso núcleo
místico-religioso que o próprio diretor admite em entrevistas: morte e
renascimento. Mas o filme vai mais além, ao simbolicamente aproximar a lei da
gravidade (o mais importante personagem do filme) com a Lei do Carma, atração
gravitacional com a reencarnação.
Você está solto no espaço a
375 milhas acima da Terra, o oxigênio está se esgotando, a comunicação foi
perdida, uma nuvem de restos catastróficos de satélites está voando na sua
direção a 32 mil km/h e não há nenhuma esperança de resgate. O que você faz? O
filme Gravidade dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón vai direto ao assunto:
sem introduções ou apresentações dos personagens, apenas uma legenda inicial
que nos informa que a vida no espaço é impossível. Corta para o exterior onde
sempre é noite, a não ser pela enorme nimbus azul-cinza da curvatura da Terra,
uma presença constante que representa a força literal da nossa casa: a atração
gravitacional, o grande inimigo e ao mesmo tempo aliado com o qual os
astronautas terão que lidar para sobreviver.
Uma equipe da NASA está em
um passeio espacial de rotina fazendo reparos e atualizando o sistema de
computadores do telescópio Hubble. A engenheira Dra Ryan Stone (Sandra Bullock)
é a especialista da missão responsável pelos reparos no telescópio enquanto
Matt Kowalski (George Clooney) é o experiente líder em sua última missão antes
da aposentadoria, coordenando os trabalhos e voando em torno do ônibus
espacial. Até que o inesperado acontece: do outro lado do planeta um míssil
russo destrói acidentalmente um satélite cujos destroços produz uma reação em
cadeia de destruições de outros satélites, criando uma mortal nuvem de
destroços.
sábado, janeiro 18, 2014
O misterioso simbolismo de Kubrick em "De Olhos Bem Fechados"
sábado, janeiro 18, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um mundo tenso e dividido entre as fantasias privadas e a realidade da rotina conjugal, entre o mundo brega das decorações natalinas e de pessoas carentes tagarelando incessantemente e o mundo do silêncio e imobilidade de uma poderosa e secreta elite. Esse foi o legado e síntese da visão de mundo de Stanley Kubrick no seu último filme “De Olhos Bem Fechados”, o mais esperado e controverso filme da década de 1990. Meticulosamente filmado (a maioria das cenas exigiram inumeráveis takes fazendo o filme entrar no Guinness World Records como a mais longa produção cinematográfica) a adaptação do livro “Dream Story” de Arthur Schnitzler resultou em uma complexa narrativa onde Kubrick compôs cuidadosamente cada plano com vários símbolos, alusões e paradoxos: da “Wonderland” de Lewis Carroll a magia ocultista de Aleister Crowley.
terça-feira, janeiro 14, 2014
Por que a mídia está tão obcecada pelos tomates?
terça-feira, janeiro 14, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dentre
os vários itens que supostamente teriam elevado os índices inflacionários, por
que a mídia escolheu como vilão o tomate? Quando tudo perecia ter sido
esquecido, eis que portais da Internet no final do ano passado localizaram
supostos ataques pontuais em regiões isoladas e, no início desse ano, telejornais
reavivam a memória e até, timidamente, tentam um revival dos tomates
inflacionários . Por que essa obsessão pelos tomates? Por que não o pão, o
leite ou os vestuários? Por trás dessa escolha aparentemente arbitrária e sua recorrência
midiática, o tomate revela um antigo simbolismo cultural. Uma área vasta, riquíssima e interdisciplinar, envolvendo antropologia, semiótica da cultura e
sincromisticismo. Ou seja, o tomate oferece um material imaginário altamente
inflamável. Mais uma bomba semiótica.
Os tomates atacam mais uma
vez. Depois do primeiro semestre do ano passado onde o vegetal (ou seria
fruto?) ter sido considerado o vilão por puxar os números da inflação para o
alto, eis que a grande mídia vem tentando ressuscitá-lo. Em dezembro, portais
da Internet como o G1 começaram a noticiar altas de preços localizadas, como em
São José do Rio Preto (SP) onde o tomate, acompanhado do pão francês e
vestuário, teriam elevado os preços, segundo pesquisas de faculdades locais.
No início desse ano, o
Jornal Nacional fez uma breve retrospectiva do “descontrole da inflação” do ano
passado, dando um especial destaque ao tomate. Pouco dias depois, no telejornal
SPTV, a jornalista Ananda Apple, no quadro Cozinha
Popular onde exibe receitas cujos ingredientes são pesquisados em feiras
livres procurando os produtos mais em conta, novamente fala do aumento do
tomate. Claro, sem a mesma veemência do ano passado, onde até um apresentadora
de programa feminino matinal apareceu com um colar de tomates ao lado de um
papagaio que lamentava os destinos do bolso dos seres humanos desse País.
domingo, janeiro 12, 2014
A bomba semiótica da inadimplência
domingo, janeiro 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em
1999 o colunista José Simão bradava em pleno feriado de 7 de setembro: “Inadimplência
ou Morte!”. Mas na época a grande mídia fazia vistas grossas à quebradeira de
consumidores e empresas na ressaca do Plano Real. Ao contrário, hoje uma
suposta onda de inadimplência se converteu numa agenda midiática obsessivamente
repercutida a cada imagem aérea mostrada pela TV da Rua 25 de Março lotada de
consumidores: uma combinação resultante de uma suposta inflação descontrolada,
crédito fácil, juros baixos e falta de educação financeira da população.
Combinado com a pauta do “consumo consciente” e “crédito responsável”, o
discurso da inadimplência acaba de se transformar na mais recente bomba
semiótica. As explosões dessa nova bomba pretendem criar uma percepção de temor
e desconfiança que freie o consumo e favoreça a Banca que organiza o jogo
econômico.
Fazia uma pesquisa no acervo
digital do Jornal Folha de São Paulo para futura postagem (o filme de
Kubrick De Olhos Bem Fechados –
procurava resenhas sobre o filme na época do lançamento em 1999) e, sem querer,
dei de cara com um texto de José Simão intitulado “Inadimplência ou Morte”,
texto do dia 07 de setembro daquele ano, feriado da independência nacional. Em
um texto impagável, Simão declarava-se “deprecívico” e naquele feriado cívico
não haveria parada militar, porque a pátria estava “parada”.
De forma mordaz, José Simão
refletia um momento em que o País estava quebrado, jogado aos pés do Fundo
Monetário Internacional após a maxidesvalorização do real um ano antes, logo
depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. A taxa Selic era
elevadíssima, mais de 30% ao ano, e com inflação anual de 8,94%. Na prática, a
desvalorização do real comeu parte da poupança e dos salários.
quinta-feira, janeiro 09, 2014
Misteriosas conexões da mitologia da estrela Sirius no Cinema e na Música
quinta-feira, janeiro 09, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De
“Show de Truman” ao filme “Número 23”, do álbum “Diamond Dogs” de David Bowie a
série “Harry Potter”, podemos encontrar uma recorrência sincromística: a
misteriosa conexão desses produtos de entretenimento com a mitologia que envolve a estrela Sirius da constelação
do Cão Maior, presente nas mais variadas culturas e civilizações desde a
antiguidade. Passando pela escola dos mistérios do antigo Egito, a mitologias
da tribo dos Dogons de Mali, na Teosofia de Madame Blavatsky, sociedades
secretas como a Maçonaria ou na antiguidade grega, percebe-se ela é dotada de um simbolismo
ambíguo, seja como a estrela que ilumina o mundo espiritual ou que aponta para maus presságios, e tempos de calor
e loucura – “dias de cão”. Na bandeira nacional, Sirius representa o estado do
Mato Grosso - pauta sugerida pelo nosso leitor Ricardo no seu comentário sobre nossa postagem sobre o filme "Show de Truman".
No
mundo estranhamente previsível e conformista do filme Show de Truman (The Truman
Show, 1998), Truman sai de casa para mais um dia de trabalho, com um
sorriso publicitário estampado em seu rosto. De repente um evento inesperado:
algo cai do céu totalmente azul e se espatifa no chão, quase o atingindo. Ele
pega o objeto e repara que é um spot de luz. Sobre ele, uma etiqueta onde se lê:
“Sirius (9 canis major)”. O acontecimento é importante na narrativa do filme
porque, a partir da inexplicável queda do spot com o nome de uma estrela do
firmamento, Truman começará a questionar sua própria realidade.
Mas
há algo mais: o fato de o roteirista ter atribuído a esse importante objeto da
trama do filme o nome da estrela Sirius – localizada na constelação de Cão
Maior, também conhecida como “big dog” e, por isso, chamada também como
“estrela do cão”. Sirius é a estrela mais brilhante do céu e desde tempos
imemoriais tem sido reverenciada por diferentes culturas e civilizações.
segunda-feira, janeiro 06, 2014
Exposição faz viagem pela mente de Stanley Kubrick e alimenta conspirações
segunda-feira, janeiro 06, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A
partir de uma cenografia que recria os ambientes e a sofisticação visual de
cada filme, a exposição Stanley Kubrick, em cartaz até o dia 12/01 no Museu da
Imagem e do Som (MIS) em São Paulo cria a curiosa sensação no visitante de
estar caminhando no interior da mente do diretor. Mas, além disso, a variedade
de documentos, cartas e memorandos expostos alimentam muitas teorias conspiratórias que
envolvem um diretor que sempre foi recluso e avesso a entrevistas ou a ter que
dar explicações para os significados de seus filmes: a consultoria do
mainstream tecnocientífico dos
EUA na produção de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; os arrojados efeitos
especiais à frente de seu tempo, dez anos antes de “Guerra nas Estrelas”; e a
morte do diretor quatro dias depois da exibição interna do filme “De Olhos Bem
Fechados” para executivos da Warner Bros, produção que sugere polêmicas histórias sobre conexões da elite político-financeira com orgias sexuais ocultistas.
Nessa
última sexta-feira visitei a retrospectiva Stanley Kubrick no Museu da Imagem e
do Som (MIS) aqui de São Paulo. Sob um calor escaldante da tarde, aguardei 45
minutos na fila da bilheteria para depois, sob o onipresente olhar de Kubrick
com a sua câmera em um enorme pôster no corredor da entrada da exposição,
esperar em uma segunda fila a vez para subir a escadaria de entrada. Um segundo
pôster com linha do tempo da produção de Kubrick decorava esse corredor, onde
você tinha a chance de checar os títulos e datas dos filmes que comporiam os
ambientes de cada sala da retrospectiva tão ansiosamente aguardada.
De
tão atemporal que se tornaram os filmes do diretor, não havia ainda parado
para pensar sobre os grandes hiatos entre as suas produções. Por exemplo, de O Iluminado (1980) a Nascido Para Matar (1987), sete anos; e de Nascido para Matar (1987) a De Olhos Bem Fechados (1999) um
intervalo de doze anos. Seu período de produção mais regular está na chamada
Trilogia Star Child (Doutor Fantástico
(1963), 2001 – Uma Odisséia no Espaço
(1968) e Laranja Mecânica - 1971), um
período com profundos significados ocultos e metafísicos, como já observamos em
postagem anterior.
sábado, janeiro 04, 2014
Uma versão sinistra do Mágico de Oz no filme "YellowBrickRoad"
sábado, janeiro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma equipe de psicólogos, cartógrafos e fotógrafos tenta transformar uma lenda em registro histórico: por que uma cidade inteira desapareceu depois de assistir ao filme “O Mágico de Oz” em 1940? Inspirado em um caso real onde os habitantes de uma vila esquimó desapareceram repentinamente deixando todos os seus afazeres para trás, o filme “YellowBrickRoad”(2010) faz uma sombria releitura do filme clássico de 1939 por um viés metalinguístico do cinema, forte tendência dos filmes independentes atuais. Assim como Dorothy levantou a cortina e descobriu que Oz não era um mágico no filme clássico, em "YellowBrickRoad" os espectadores daquela pequena cidade remota descobriram da pior maneira possível, após saírem do cinema, que a Cidade de Esmeralda do Mágico de Oz não existia.
terça-feira, dezembro 31, 2013
Ano novo, cigarros e o fim da geração MTV no filme "200 Cigarettes"
terça-feira, dezembro 31, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as
mudanças da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z. Por que na virada
para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão nostálgico, cuja história
se passa na noite de ano novo de 1981? “200 Cigarettes” é o testamento de uma
geração que a MTV soube muito bem moldar, aquela que acreditava que a própria
vida poderia ser um vídeo clip. Porém, não esperava que a cultura punk DIY (Do
It Yourself – “faça você mesmo”) que ela ajudou a destruir com a cultura pop
retornaria como vingança, dessa vez renascida pela Internet 2.0. Mas o mal
estar da incomunicabilidade permanece porque os meios digitais se tornaram nada
mais do que uma nova plataforma comercial.
Dependendo
da faixa etária ou geracional do leitor, assistir ao filme 200 Cigarettes nessa
véspera de ano novo poderá trazer diferentes experiências em relação ao tempo:
se for da geração desse humilde blogueiro (a chamada Geração X) que viveu a
pós-adolescência sob o impacto da ascensão da cultura videoclip e cultura pop
criada pela MTV a partir de 1980, a sensação será nostálgica como se olhasse
para uma época perdida no tempo; se for da geração Y, achará um filme estranho,
com um monte de jovens com roupas exóticas que identificam sua tribo urbana, e
a única coisa que você reconhecerá no meio de tudo isso é a cantora Courtney
Love (a viúva de Kurt Cobain e da música grunge) interpretando ela mesma; e se
for da chamada geração Z , achará tudo ainda mais esquisito, com gente fumando
o tempo inteiro, que depende de telefone público e lista telefônica para se
localizar e pessoas extremamente maneiristas e preocupadas com seu visual.
O
filme 200 Cigarettes, foi uma
produção da MTV de 1999, mas a narrativa se passa em 1981, em uma noite de
véspera de ano novo. Por que às vésperas do terceiro milênio, a MTV produziu um
filme tão nostálgico? Na verdade, o filme parece ser uma série de vídeo clips
dentro de um grande vídeo clip – a trilha musical é composta por mais de 50
músicas da época, todas elas exibidas pela MTV naquele ano. Por que tanta
nostalgia de uma emissora cuja imagem sempre esteve associada com a revolução,
modernidade e tecnologia?
domingo, dezembro 29, 2013
Retrospectiva e perspectivas das bombas semióticas para 2014
domingo, dezembro 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mesmo com toda
a atmosfera de festas de final de ano que supostamente inspira nas pessoas generosidade e
reflexão, a grande mídia não perdeu tempo e sinalizou de forma bem clara o que
nos espera para o próximo ano:
(a) Em uma
matéria de fatos diversos no último bloco no telejornal SPTV da TV Globo no dia
27/12 sobre rituais e supertições populares para atrair sorte no ano novo, um
pai de santo é consultado pela repórter sobre as perspectivas para 2014. Os búzios
são jogados e ele adverte: “esse ano foi de antagonismos e conflitos e o próximos
será a mesma coisa, mas haverá transformações. E uma nuvem negra se afastará da
cidade de São Paulo...”;
(b) uma enquete
foi feita com colunistas do jornal O Globo para saber o que eles esperam para
2014: Carlos Alberto
Sardenberg, Míriam Leitão e Zuenir Ventura torcem por mais protestos –
“protestos vigorosos”, salienta Sardenberg;
(c) Jornais e emissoras de TV passaram os
últimos dias antes do Natal fazendo acrobacias matemáticas para provar que,
apesar das vendas terem aumentado 2,7% em relação ao mesmo período do ano
passado, foi o Natal mais fraco em 11 anos;
(d) Elio Gaspari em sua coluna publicada
em pleno dia de Natal na Folha
e O Globo lembra que o próximo ano
será de eleições, mas também lembra que nesse ano aprendemos que existe “uma
forma mais direta de expressão”, e exorta: “vem pra a rua você também!”.
quarta-feira, dezembro 25, 2013
Semiótica das fotografias "newborn": que histórias elas contarão?
quarta-feira, dezembro 25, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez uma
época em que os momentos mais íntimos dos filhos eram registrados por meio de
fotografias e vídeos caseiros para serem mostrados aos vizinhos, parentes e
amigos mais próximos. Isso tudo ficou muito chato. Agora no lugar temos uma
autoconsciente e calculada produção de imagens, geralmente de crianças, com alcance
global através redes sociais ou em produtos esteticamente sofisticados e
profissionais como ensaios fotográficos publicados em photobooks, CDs ou em
sites e blogs na Internet. Nesse contexto cresce o subgênero das fotos chamadas “newborn”
(fotografias de recém-nascidos) onde, apesar do discurso da simplicidade e espontaneidade, são produzidas através de complexas estratégias técnicas e estéticas para simular cenas e poses enquanto, alheio a tudo, o bebê dorme. Que história essas fotos contarão para essas crianças no futuro?
As fotografias newborn (fotos de recém-nascidos em suas primeiras semanas de vida)
é o novo baby boom fotográfico. Um mercado tão promissor que acabou sendo
criada a Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN) para
zelar a filosofia, ética e segurança dos pequenos modelos. Tudo isso em meio a
uma intensa agenda de Workshops e Conferências sobre o tema.
Se concordarmos com Woody Allen de que os
três principais fatos da nossa existência são nascimento, sexo e morte, as
fotos newborn (ao lado das fotos de
casamento, pornográficas e todos os rituais e estrutura de serviços funerários)
se revestem de grande importância para todos aqueles que estudam a semiótica da
cultura: a forma como a Natureza é incorporada pela Cultura através de uma
complexa rede de simbolismos e significados. E, principalmente, como essa rede
semiótica revela como sintomas as mazelas da sociedade e dos indivíduos.
sexta-feira, dezembro 20, 2013
Filme "Resolution" faz jogo mental com o espectador
sexta-feira, dezembro 20, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme Resolution (2012) é um desafio conceitual ao espectador. Em uma
estimulante combinação de desconstrução metalinguística e misticismo gnóstico o
filme é um verdadeiro sopro de renovação no subgênero “horror-em-cabanas-remotas”
de filmes como “A Morte do Demônio”, “A Cabana do Inferno” ou “A Bruxa de
Blair”. Não espere festas com jovens bebendo e fazendo sexo enquanto demônios estão
à espreita para matar. Ao contrário, o filme oferece um enigmático jogo mental
onde, enquanto o protagonista tenta desintoxicar um amigo viciado em crack,
cresce o mistério entorno daquela cabana onde estão: será que os estranhos
acontecimentos fazem parte de alguma conspiração de seitas ocultistas, de
alienígenas ou apenas de traficantes? Ou a realidade é tão ilusória quanto uma
película cinematográfica. A resposta pode ser mais radical do que filmes como "Matrix" e "A Origem".
Dentro da história da linguagem
cinematográfica vivemos uma momento cada vez mais auto-referencial e
metalinguístico. E não estamos falando de filmes de arte ou de vanguarda, mas
de filmes que integram circuitos comerciais de distribuição, filmes que parecem
querer desconstruir o gênero, a cultura pop e a própria linguagem
cinematográfica.
Após o gnosticismo pop de filmes
como Show de Truman, Matrix e A Origem onde a realidade é desconstruída a tal ponto que o
protagonista não consegue mais distinguir o que é simulação e realidade,
acompanhamos nesse início de século uma nova tendência de desconstrução, dessa
vez do próprio cinema, onde o roteiro, produção, linguagem etc. acabam se
tornando o próprio tema dos filmes.
terça-feira, dezembro 17, 2013
"A Classe Dominante": o mais estranho filme de Peter O'Toole
terça-feira, dezembro 17, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O Deus do Velho Testamento (o “messias elétrico”) faz um duelo surreal
com o Deus do Novo Testamento; um sádico psiquiatra alemão faz experiências com
“ratos esquizofrênicos”; uma família de aristocratas trama a internação de um
conde esquizofrênico para conseguirem ficar com o seu título e fortuna. Com a recente morte aos 81 anos do grande ator inglês Peter O’Toole, não poderíamos deixar de
reverenciar o filme mais estranho da sua carreira: “A Classe Dominante” (The
Ruling Class, 1972). Uma comédia de humor negro repleta de ultraje moral e
religioso que após ser restaurada e relançada em DVD, teve recuperados os 20
minutos cortados no lançamento comercial da época. Um filme profético ao
mostrar que mesmo após todos os movimentos libertários da época, a aristocracia
não morreu: persiste através de uma classe dominante que opta por um deus
vingativo e intolerante.
Peter O’Toole para sempre será
lembrado pelo filme Lawrence das Arábias. Mas temos também que pagar tributo
ao mais estranho filme da sua carreira: A
Classe Dominante (The Ruling Class,
1972) que desde o seu lançamento passou a ser seguido por um grupo restrito de
fãs como um filme cult. Ainda mais que a versão para o lançamento nos EUA teve
uma redução de 20 minutos para tornar o filme mais rentável, poupando ao
público daquele país de algumas cenas bizarras e de extremo humor negro que
chega, algumas vezes, as raias da violência e ultraje religioso. Pois o filme
foi restaurado no relançamento em DVD pela The Criterion Collection em 2001 e retornou às
suas quase duas horas e meia da duração original.
Embora o filme seja um mix de
sátira, farsa, musical, drama shakespeariano e muito humor negro, a narrativa é
uma descida sombria na loucura, caos e simbolismos religiosos nas tramas
envolvendo cobiça e poder no seio de uma elite aristocrática apodrecida, mas
que tenta manter sua fleugma e pompa: um conde esquizofrênico, um bispo
anglicano sem fé, um sádico psiquiatra alemão, um mordomo comunista que vive em
um constante estado de embriaguez, e toda uma galeria de personagens inesquecíveis.
domingo, dezembro 15, 2013
Curta "Compramos e Vendemos Sentimentos" renova crítica ao consumismo
domingo, dezembro 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Produtos
audiovisuais de língua portuguesa estão inovando a forma de abordar a sociedade
de consumo. Fugindo da habitual crítica do ter-que-substitui-o-ser (que se
tornou clichê no momento em que a moderna publicidade absorveu a crítica e
transformou a imagem do consumo em atividade “consciente”, “sustentável” e “espiritualizada”),
o curta “Compramos e Vendemos Sentimentos”, trabalho de conclusão de curso de
Cinema da Universidade Lusófona de Lisboa, apresenta uma nova abordagem crítica
ao consumismo: uma sociedade mecanizada e futurista onde as pessoas para poderem ir e vir têm de se vender. São viciadas em
sentimentos e têm de trocá-los para adquirirem o que querem. Veja o curta.
Por muito tempo a crítica mais comum à
sociedade de consumo sempre foi de que é uma sociedade de alienação e de
espetáculo, onde o ter substitui o ser. Mas a indústria publicitária e o consumismo
evoluíram e incorporaram essas críticas quando se tornaram mais “espiritualizadas”:
parece que assimilaram todas as críticas feitas a
ela ao longo da história (consumismo, superficialidade, frivolidade,
materialismo etc.) e agora procura demonstrar através de um novo discurso que
mudaram, se espiritualizaram e não veem mais o consumo como mero ato de
aquisição, mas de enriquecimento espiritual.
Tendências como
o chamado “consumo consciente”, “sustentável” e todo um discurso motivacional e
ético que envolve agora o ato da compra (o consumo muito menos como um ato de
acúmulo e ostentação e mais como uma oportunidade de buscar uma espécie de
atalho para a iluminação espiritual - comprar-consumir-espiritualizar-se)
parece dominar a linguagem publicitária.
sexta-feira, dezembro 13, 2013
Em Observação: "Resolution" (2012)
sexta-feira, dezembro 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quem gostou do filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods,
2011), certamente ficará curioso com o filme “Resolution” (2012) que segue a
mesma linha ao desconstruir metalinguisticamente os clichês do gênero horror.
Uma cabana abandonada em uma reserva indígena, um viciado em metanfetamina que
é ajudado pelo seu amigo na sua reabilitação e um segredo ameaçador que começa
a ser revelado pela descoberta de livros antigos e filmes em oito milímetros de
supostos pesquisadores envolvidos com fantasmas, telecinesia e demônios. Um
filme independente com baixíssimo orçamento que, por isso, promete uma coisa: o
roteiro ser melhor que os efeitos especiais.
quinta-feira, dezembro 12, 2013
Você sabe que é gnóstico quando...
quinta-feira, dezembro 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011
publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem
predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano
Miguel Conner, apresentador do programa radiofônico online Aeon Bytes Gnostic
Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse
ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens
onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que
revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude
mental gnóstica.
Essa lista, ao mesmo tempo séria
e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o
porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque
despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente
a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou
filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa
atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude
crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já
torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum,
político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a
realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante
questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?
Por isso atraiu o ódio das
religiões e escolas filosóficas institucionalizadas: tal ceticismo não funciona
muito bem com hierarquias e estruturas de poder, ainda mais aquelas cujos
mandatários teriam sido nomeados pelo próprio Deus.
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Aleister Crowley e Bohemian Grove: o Oculto no classic rock e na política
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Membros da elite artística ou política repercutindo nomes como Aleister
Crowley, manipulando magia cerimonial e participando de estranhos rituais
coletivos. As conexões documentadas entre aquele que é considerado o maior
ocultista do século XX, Aleister Crowley, com o classic rock ou vídeos que
documentam a elite política e financeira internacional participando de um
bizarro ritual coletivo anual em Bohemian Grove, Califórnia, atiçam a
imaginação dos teóricos da conspiração. Mas a atração das elites pelo oculto talvez
se deva mais a um tentava de expiação da sua má consciência na tentativa de se tornarem
senhores de seus próprios infernos. Porém, a ampliação midiática de antigos simbolismos
e formas-pensamentos pode trazer consequências imprevisíveis.
A genialidade tanto do classic rock quanto das elites políticas
parece estar na forma como foram capazes de mobilizar e comercializar o esoterismo e
ocultismo no século XX. Essa mobilização de símbolos, personagens e mitos
originais dessa esfera metafísica da cultura criaram os princípios básicos de
manipulação pela indústria do entretenimento de arquétipos ou egrégoras
antigas, criando uma espécie de contínuo midiático atmosférico.
A formação desse contínuo
midiático resulta no renascimento, renovação ou fortalecimento de
formas-pensamento que podem ser tanto direcionados de forma proposital
(propaganda, publicidade, jornalismo etc.) ou com resultados caóticos ou
inesperados como, por exemplo, incidentes violentos – é o caso do massacre
do Colorado nos EUA em 2012 e suas conexões sincromísticas com o personagem do
Coringa no filme Batman: o Cavaleiro das
Trevas, ou a relação entre o “maníaco do shopping”, que em 1999 disparou freneticamente uma submetralhadora contra a
plateia de 40 pessoas, resultando em três mortos e vários feridos no cinema de
um shopping em São Paulo que exibia O
Clube da Luta.
domingo, dezembro 08, 2013
No quarto aniversário o "Cinegnose" faz balanço e comemora conquistas
domingo, dezembro 08, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No dia 08 de dezembro de 2009 era publicada a primeira postagem do "Cinegnose" com o título "Filme Gnóstico: uma introdução". Era o início do projeto que chega ao quarto aniversário com
muitas conquistas para comemorar: além das visitas ao blog aumentarem quase
100% (180 mil visitas em 2013) em relação a 2012, tivemos postagens que foram
publicadas em revistas científicas como a “Dispositiva” da PUC/MG e a “Cosmos e
Contexto” do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofísica do RJ, além de
sites como o “Jornal GGN” e a “Carta Potiguar de Natal/RN. Esse ano o “Cinegnose”
expandiu a visão gnóstica, transformando várias descobertas resultantes das
análises dos filmes gnósticos em subtemas como filmes alquímicos, parapolítica,
sincromisticismo e as cartografias e topografias da mente. Acompanhe o balanço
completo das atividades do ano com gráficos e tabelas de filmes analisados.
Depois de um primeiro ano
essencialmente doutrinário (onde nos preocupávamos em expor didaticamente aos
leitores os princípios do Gnosticismo e a conexão com o cinema), do segundo ano
basicamente de análises fílmicas gnósticas e do terceiro ano em que nos
firmamos como um blog gnóstico, analisando não só filmes, mas também fenômenos
sociais e culturais pela ótica e métodos do Gnosticismo, chegamos ao quarto ano ampliando as
aplicações da visão gnóstica de análise.
Ao longo desses anos o blog
descobriu uma série de subprodutos ou “efeitos colaterais” tanto das análises
fílmicas como dos eventos sócio-culturais que podem ser classificados da seguinte
maneira: cartografias e topografias da mente, agenda tecnognóstica, parapolítica,
sincromisticismo, bomba semiótica e uma nova listagem e categorização dos filmes
gnósticos. Nesse balanço de mais um ano de atividades vamos fazer um pequeno
glossário de cada uma dessas descobertas que para nós foram melhor definidas
nesse ano.
Também a seguir algumas estatísticas do blog, focando proncipalmente o fenômeno "As Aventuras de Pi", há quase um ano da lista das dez postagens mais acessadas, além da lista com todos os filmes analisados nesse ano.
Também a seguir algumas estatísticas do blog, focando proncipalmente o fenômeno "As Aventuras de Pi", há quase um ano da lista das dez postagens mais acessadas, além da lista com todos os filmes analisados nesse ano.
sexta-feira, dezembro 06, 2013
O aplicativo Lulu e a religião da autoabdicação humana
sexta-feira, dezembro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Processos judiciais, febre entre as mulheres e pânico entre os homens.
Por trás desse frisson midiático autopromocional do aplicativo Lulu onde
mulheres avaliam homens através de um conjunto de quesitos, estão questões que
colocam em xeque a própria cultura dos gadgets tecnológicos que está organizando o nosso lazer e trabalho. O Lulu seria o sintoma de uma verdadeira religião cibertotalitária
que estaria motivando a maioria de engenheiros, cientistas e designers digitais
do Vale do Silício: a autoabdicação humana – o computador estaria evoluindo
para se transformar em uma forma de vida capaz de entender melhor as pessoas do
que as próprias pessoas. E quem fala isso não é nenhum tecnofóbico, mas um dos
principais nomes do Vale do Silício: o designer de software Jaron Lanier.
Duas cenas em duas épocas
distantes entre si no tempo. O que veremos a seguir é que essas duas cenas estão interligadas não só em uma análise sobre o fenômeno do aplicativo Lulu, mas de toda a cultura criada em torno do consumo diário de aplicativos.
Primeira cena: Em meio à euforia
da revolução sexual dos anos 1960 desencadeada pela pílula anticoncepcional, a
descoberta da sexualidade desatrelada da reprodução e dos papéis familiares e a
erotização generalizada da mídia, publicidade e sociedade de consumo, o
pensador alemão Herbert Marcuse observava a tudo com desconfiança. Um dos
principais nomes da chamada Escola de Frankfurt, Marcuse estava naquele momento
no olho do furacão dos movimentos de rebeldia estudantil: professor de
filosofia no campus San Diego da Universidade da Califórnia. Para ele, o princípio de realidade contra o qual a
revolução se dirigia estava se transformando em algo mais insidioso: o princípio do desempenho, princípio que
transformaria toda a revolução sexual e dos costumes muito mais em sucesso de
vendas do que em real emancipação.
quarta-feira, dezembro 04, 2013
O cinema alquímico de "Beleza Americana"
quarta-feira, dezembro 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Beleza Americana” (American Beauty, 1999), premiado com o Oscar
de melhor filme, é uma narrativa sobre a transformação íntima de um
protagonista que causa um turbilhão em todos ao redor. Associado ao princípio
revelado logo no início de que acompanhamos a trajetória de um ano de vida de um
protagonista que diz que já está morto, o filme propicia uma difícil questão: um filme que segue as convenções de gênero hollywoodiano pode criar no espectador um
acontecimento de transformação semelhante ao que vemos no protagonista? Apesar das convenções de gênero, “Beleza
Americana” do diretor Sam Mendes é um tipo especial de filme, pois explora
mitologias e arquétipos da transmutação alquímica da matéria, onde rosas, a cor
vermelha, o sangue e a morte criam uma complexa simbologia, bem diferente da
Jornada do Herói clássica – trevas, caos e morte não é destruição, mas momentos
de regeneração e redenção.
Um espectador vai
assistir ao filme Beleza Americana no
cinema. Quebra a sua rotina e vai ao cinema para ficar sentado por duas horas
em uma sala escura vendo a narrativa fílmica que começa com uma locução em of do protagonista chamado Lester
dizendo que contaria a história da sua vida e que, em um ano, estaria morto.
Após uma narrativa
convencional pelos parâmetros hollywoodianos do gênero, o filme termina de
forma abrupta em mais uma locução em of
de Lester, dessa vez após tomar um tiro mortal e descrever a sua própria
experiência desse momento. Lester faz um balanço sobre “os pequenos momentos”
de sua “estúpida vida”, e fala que apesar disso “é difícil ficar bravo quando
há tanta beleza no mundo”. E profeticamente fala ao espectador: “um dia você
saberá do que estou falando”.
sábado, novembro 30, 2013
Black Friday expõe a lógica do Papai Noel e o minimalismo do consumo
sábado, novembro 30, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado do Halloween, o Black Friday é mais um desses mega eventos
importados que, repentinamente, se transformaram em pauta da agenda midiática
nacional. Imagens na TV de corredores de lojas congestionadas com gente se
acotovelando e consumidores denunciando descontos maquiados. Mas estamos
importando mais do que um evento de promoções e descontos: no interior do
conceito de Black Friday importamos também o DNA da cultura norte-americana: a
mentalidade “minimalista” de um delírio de vitória no vazio e a “lógica do
Papai Noel” do consumo onde a estratégia supostamente racional custo/benefício
das promoções serve de álibi para o consumidor conviver mais facilmente com a
sua má consciência. O que significa para nós importarmos esse DNA desesperançado da cultura norte-americana?
Talvez o grande mérito de Freud
e da Psicanálise não tenha sido a descoberta do inconsciente – inacreditavelmente
ainda sem credibilidade científica para muitos setores da psicologia por supostamente
não ter comprovação “empírica”, ao contrário das noções de comportamento e cognição. Talvez o principal mérito do psiquiatra vienense tenha sido a
descoberta de que o homem não é um ser racional, mas acima de tudo
racionalizante. Isto é, o que verdadeiramente nos distinguiria dos animais não seria
tanto a razão, mas a capacidade de encontrar álibis e justificativas
(racionalizações) para cada ato impulsivo ou irracional que nos pegamos
cometendo.
Ao lado do Halloween, o Black Friday
é mais uma dessas efemérides importadas e pautadas de um momento para o outro
na agenda midiática anual. Termo criado pelo varejo nos EUA para o dia das
grandes ações de vendas com descontos e promoções após o feriado de Ação de
Graças, vem desde 2010 sendo adotado pelas grandes lojas tanto on line como físicas no Brasil. E todo
ano, sob as denúncias de consumidores, o Procon notifica grandes empresas que
teriam maquiado os descontos: pouco antes teriam aumentado os preços em dobro
para depois cobrar a metade.
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