Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011
publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem
predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano
Miguel Conner, apresentador do programa radiofônico online Aeon Bytes Gnostic
Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse
ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens
onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que
revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude
mental gnóstica.
Essa lista, ao mesmo tempo séria
e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o
porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque
despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente
a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou
filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa
atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude
crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já
torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum,
político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a
realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante
questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?
E segundo, talvez isso explique a
longevidade e o interesse de diretores, roteirista e produtores da indústria do
cinema pelas narrativas míticas e temas gnósticos. Muito embora Hollywood explore essa atitude gnóstica como mercadoria (heróis
gnósticos com capas pretas e óculos escuros), esses mitos e temas do
gnosticismo parecem se adequar a uma sensibilidade atual: metalinguística,
crítica e irônica.
Vamos à lista. Se o leitor se
encaixar em pelo menos um dos itens abaixo, pode se considerar com uma séria
inclinação à visão de mundo gnóstica. E continuar a ser leitor do nosso blog!
1- Você tem uma sensação de que
nasceu muito
tarde e que chegou no final de uma festa. Parece que no passado as
coisas eram muito melhores. Uma estranha nostalgia de épocas que você não viveu
começa a dominá-lo, a ponto de ficar fascinado com tendências vintage ou retro
na moda, estética, arte e arquitetura.
2 – Depois de assistir aos
filmes Matrix e Show
de Truman, uma estranha sensação de desconfiança passou pela
sua cabeça, mesmo por alguns segundos, de que as paredes poderiam ser projeções
holográficas ou de que por trás delas haveria escoras e baldes de tinta.
3 – Você tem uma inexplicável
atração por
mulheres melancólicas ou com um olhar que expressa um sentimento de
que perdeu uma ou duas coisas na vida – como fala aquela música de Neil Young I’ve Been Wait For You. E se, então, ela
se chamar Sofia* será mais do que coincidência, será um evento sincromístico.
4 – Você tem um estranho
fascínio por
personagens perdedores e freaks, tanto na realidade quanto na
ficção. Assistiu ao filme Veludo Azul (1986) de David Lynch e se apaixonou pelo
universo de vilões derrotados liderados pelo enlouquecido Frank (Denis Hooper)
e pela bela protagonista (Isabella Rossellini) pelos motivos explicados no item
3.
5 – No final do filme Beleza
Americana (1999)
em que Lester, já morto com um tiro na cabeça, faz um balanço de sua
“estúpida vida” e fala que apesar disso “é difícil ficar
bravo quando há tanta beleza no mundo” e diz que “um dia você saberá do que
estou falando”, você engoliu em seco quando a tela do cinema ficou escura e os
segundo posteriores foram experimentados como longos e tensos até aparecerem as
primeiras letras dos créditos finais.
6 – Quando
espíritas falam que a morte não existe e que ela é uma extensão da vida ou, em
termos mais sofisticados, um outro estágio vibracional da matéria, você pensa:
isso não vai acabar bem...
7 – As palavras
“prisão”, “armadilha” ou “conspiração” soam aos seus ouvidos mais verossímeis
do que “evolução” e “harmonia”.
8 – Você começa a
ter dificuldades em lidar com a ideia de Deus ou se pega falando para os outros
que Ele é tudo, está nas árvores, nas pedras, nas nuvens... é uma “energia”,
diz dando de ombros para seu interlocutor e muda de assunto...
9 – Você tem uma
profunda aversão à palavra “religião”, mas começa a experimentar epifanias
religiosas ao ver Dark City ou Aeon Flux ou ao ler mangás japoneses
como Éden, Sol Bianca ou Harushi
Suzumiya.
10 – Quando assistiu
ao filme Indiana Jones e o Reino da
Caveira de Cristal, ficou perturbado com a reposta que o amigo Charles deu quando Indiana disse que todos estavam passando por anos difíceis naquele
momento da vida: “parece que chegou o momento em que a vida parou de nos dar, e
começou a nos tirar...”. E você pensou: “o Universo não conspira a favor de
nós”.
11 – Você começa a
achar que há alguma falha cósmica em relação ao tempo: na medida em que você
fica mais velho começa a ter uma sensação de que o tempo está acelerando, e que
ele não é mais seu aliado como era na juventude. Para explicar essa falha apela
para teorias new age sobre mudanças
vibracionais ou magnéticas da Terra ou a aproximação do planeta Nibiru...
12 – Toda vez que
você olha para um presépio com a manjedoura do pequeno Jesus acionado por um dispositivo mecânico, assim como todos os outros personagens, e ao lado tem uma árvore de
Natal em cima da qual é derramada neve artificial pelo mesmo mecanismo que faz
todo o presépio funcionar, você começa a se lembrar das ideias do item 2 dessa
lista.
* Sophia: para os gnósticos é uma emanação feminina da unidade original, Sophia (Sabedoria). Ela esteve envolvida na criação do mundo e, desde então, manteve-se como o guia de suas órfãs crianças humanas, auxiliando a despertar as partículas de luz adormecidas nelas.
* Sophia: para os gnósticos é uma emanação feminina da unidade original, Sophia (Sabedoria). Ela esteve envolvida na criação do mundo e, desde então, manteve-se como o guia de suas órfãs crianças humanas, auxiliando a despertar as partículas de luz adormecidas nelas.