quinta-feira, novembro 07, 2013
Um guia prático de engenharia de opinião pública em "Obrigado Por Fumar"
quinta-feira, novembro 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
De maneira cínica e irônica, o filme “Obrigado Por Fumar” (Thank You For
Smoking”, 2005) nos apresenta como se faz uma engenharia de opinião pública: a
forma mais insidiosa e profunda de manipulação baseada numa suposta liberdade
de opinião e escolhas na qual se funda a democracia ocidental baseada na
mediação da opinião pública através dos meios de comunicação. Tal engenharia
chamada de “agenda setting”, e didaticamente mostrada pelo filme, se basearia
no seguinte princípio: se todos os argumentos são válidos e se anulam (“a
beleza da argumentação é que você nunca está errado”), segue-se que o mais
importante é dar às pessoas a impressão de liberdade de opinião quando, na
verdade, uma pauta ou agenda já foi secretamente imposta para a sociedade.
segunda-feira, novembro 04, 2013
O espectro do gnosticismo ronda a cultura na animação "The Painting"
segunda-feira, novembro 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um espectro ronda a produção cultural contemporânea: o Gnosticismo.
Não, não se trata de uma conspiração ou de alguma seita secreta que
silenciosamente se espreitaria subliminarmente em filmes e animações. Trata-se
de uma mudança de sensibilidade em relação à realidade e aos próprios produtos
culturais que procuram representá-la, um senso mais metalinguístico e auto-referencial
que questiona a representação e a própria natureza da realidade. A animação francesa “The
Painting” (Le Tableau, 2011), dirigida por Jean-
François Laguionie é um flagrante exemplo onde personagens fauvistas no
interior de quadros em um empoeirado estúdio estão em busca do Pintor, numa
evidente analogia com questões teológicas e filosóficas: ele existe? Retornará
um dia para completar suas obras? Quem desenhou o Pintor?
De programas infantis como
“Mister Maker”, passando por animações como “Hora de Aventura” e “Apenas um
Show” ou quadrinhos como “Capitão Cueca”, até os filmes mais elaborados para
adultos como “Matrix”, “Show de Truman” e “A Origem”, a sensibilidade é a
mesma: ironia, auto-referência, discurso indireto, metalinguagem, uma espécie
de autoconsciência dos personagens de que a narrativa em que estão imersos é
ficcional, um constructo de algum autor, demiurgo ou entidade arbitrária, que
algumas vezes quer lhes controlar e confinar.
A animação francesa de Jean-François
Laguionie, “The Paiting” (Le Tableau, 2011) é um bom exemplo dessa
sensibilidade contemporânea, além de ser uma ótima alternativa às animações
computadorizadas das produções norte-americanas. A narrativa é centrada em um
mundo no interior de um quadro em ambientes fauvistas ao estilo de Matisse e
cacos de Chagall. É apenas mais um quadro entre vários que estão no atelier de
um pintor, mas para os habitantes daquela tela é um cosmos fechado em si mesmo.
Apesar da beleza das cores,
texturas e traços, percebemos que aquele mundo não é tão poético: possui uma
rígida ordem social dividida em três castas: a elite formada pelos Toupins que
habitam um castelo. São pinturas finalizadas e de estilo definido. Em seguida
vêm os Pafinis, os “não terminados”: figuras não acabadas nas quais o pintor da
obra não deu um acabamento final ou deixou de pintar um detalhe qualquer. E
abaixo de todos, os Reufs, verdadeiros esboços vivos, personagens cujo pintor
nem iniciou e dotados apenas de linhas e contornos de lápis.
sábado, novembro 02, 2013
Estudante implode bomba semiótica do Enem
sábado, novembro 02, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sem querer o estudante da USP que simulou ser um candidato atrasado do
Enem, cujas fotos ocuparam primeiras páginas de jornais e portais de Internet,
acabou abrindo uma perspectiva de contra-ataque na verdadeira guerrilha semiológica que
toma conta da opinião pública brasileira: contra a manipulação midiática, a
simulação; contra a mentira, o seu paroxismo: o simulacro! É a “bomba
pós-moderna”, que ajudou não só a implodir como colocou a nu o processo de
construção de bombas semióticas, como as que a mídia detona contra o Enem. A estratégia irônica do
contra-ataque através da simulação como forma de desmoralizar a mídia segue a tática como a do agitador cultural Joey Skaggs (famoso nos EUA por "pegadinhas" contra a
TV e jornais) e de manifestantes em Portugal contra as políticas de austeridade.
Nessa semana, uma pessoa fez
mais estragos que dezenas de black blocks depredando fachadas de bancos e de lanchonetes multinacionais. Trata-se de um aluno do curso de Ciências
Contábeis da USP, Flávio de Queiroz, que simulou diante de fotógrafos e
jornalistas ser um candidato atrasado na prova do Enem realizado no último domingo. A
foto dele dramaticamente tentando escalar as grades da Uninove, na Barra Funda,
São Paulo, saiu em portais da Internet e primeira página do jornal Folha de São
Paulo ao lado de uma sombria manchete: “Quase um terço dos candidatos não faz
Enem”.
Ao lado
da barrigada da rádio CBN em que uma ansiosa repórter confundiu um aviso de um
curso de alemão na USP como um aviso cifrado da bandidagem sobre a chegada da
polícia para apressadamente confirmar uma pauta estipulada pela reportagem (veja links abaixo), o
episódio da simulação do aluno atrasado do Enem pôs a nu o processo de montagem
da notícia com a finalidade de torná-la uma bomba semiótica.
quinta-feira, outubro 31, 2013
Cinema de ficção científica do Sul mostra o novo Big Brother
quinta-feira, outubro 31, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A fala do
cientista chefe da NASA, Dennis M. Bushnell, de que a solução para todos os
problemas globais seria despachar a humanidade para o mundo virtual das redes
eletrônicas, livrando o planeta da ação daninha do homem, é o sintoma de uma
crise da nossa percepção de futuro. Filmes de ficção científica da América
Latina e de países periféricos à Zona do Euro refletiriam esse sintoma cultural
onde o futuro não é nem utópico nem distópico, mas agora hipo-utópico: um estranho futuro cada vez mais parecido com o presente. A alta tecnologia convivendo com favelas, deterioração urbana,
precarização do trabalho e muito lixo que, muitas vezes, se confunde com seres
humanos ou alienígenas que necessitam ser controlados, confinados, descartados ou eliminados. O novo Big
Brother não integra a todos obrigatoriamente como nas distopias 1984 ou Admirável Mundo
Novo, mas agora exclui a maioria compulsoriamente como mostrado nos filmes da chamada “Ficção
Científica do Sul”.
Um mundo ameaçado pelo aquecimento global e guerras. Causa: política,
religião, megalomania, crescimento populacional e disputas territoriais.
Solução: inteligência artificial, nanoteconolgia e biotecnologia, substituindo
progressivamente a ação humana pela automação e robótica. Afastado
de profissões enfadonhas como “caixas de banco, frentistas de postos de
gasolina, ensino, pilotos, soldados”, o ser humano ocuparia seu tempo livre
habitando mundos virtuais tri-dimensionais simulando, por exemplo, “a experiência
de se sentar numa praia tropical”. Mais do que isso, o planeta se livraria da
ação econômica e política humanas historicamente danosas ao meio ambiente
simplesmente transferindo a humanidade para o mundo virtual das redes
eletrônicas conectadas com o sistema neuronal humano.
Sobre o quê
estamos falando? A sinopse de algum filme de ficção científica ? Longe disso.
Essa é a síntese de uma palestra proferida por Denis Bushnell, cientista chefe
da NASA no Langley Research Center, na Conferência da World Futurist Society em
Boston, EUA em Julho de 2010. Se essas projeções do cientista chefe da NASA vão
ocorrer isso pouco importa. O mais importante é a estranha ironia que guarda
essa notícia: no espaço de uma organização civil que pretende reunir cientistas
e intelectuais para propor visões para o futuro, Bushnell propõe uma estranha
utopia, onde a humanidade, de tão inútil e maléfica para o planeta, seria
despachada para uma espécie de nowhere
virtual. Contrariando a visão de um futuro como lugar que alcançaríamos (seja
utópico ou distópico), Bushnell propõe uma migração da espécie humana
desnecessária para um “não lugar”.
sexta-feira, outubro 25, 2013
A bicicleta como extensão do homem em dez cenas no cinema
sexta-feira, outubro 25, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a relação entre rodas, bicicleta e aviões? O pesquisador canadense
Marshall McLuhan (1911-1980) em seu livro clássico “Os Meios de Comunicação
como extensões do Homem” faz interessantes interconexões históricas entre esses
três meios técnicos e seus desdobramentos culturais como o cinema e a invenção
de um veículo com rodas in line como o meio que conduzirá à aviação.
Dos insights do pesquisador canadense podemos descobrir secretas conexões entre
a invenção da roda, o cinema e as bicicletas na história da cultura. Mais do
que isso, descobrimos a base tecnológica de todo o imaginário de iluminação
espiritual e transcendência que a bicicleta passa a construir na cultura pop a
partir do pós-guerra.
No
capítulo “Roda, Bicicleta e Avião”, McLuhan narra a trajetória dos veículos de
tração por arrasto (trenó, esqui etc.) até a tecnologia da roda. Foi necessário
muito esforço mental e abstração para separar os movimentos recíprocos com as
mãos, do movimento livre das rodas. Os efeitos das carroças de quatro rodas
sobre a vida urbana foram extraordinários: desenvolvimento das cidades,
separação entre a vida urbana e rural etc. Com as ferrovias e estradas a força
configuradora das rodas ganha ainda mais força, até a atual era da informação diminuir
o seu poder de moldar as relações humanas.
Mas as
rodas deixaram dois importantes legados para a atualidade: o cinema e a
bicicleta. A câmera e o projetor do cinema são significativos por serem
constituídos por um conjunto sutil de rodas: enrolar o mundo em um carretel
para depois desenrolá-lo na tela. Com a convergência tecnológica, testemunhamos
mais um subproduto da era das rodas desaparecendo com a obsolescência do
dispositivo cinematográfico: o fim dos rolos de filmes e o início da projeção
de filmes digitais diretamente em streaming.
quarta-feira, outubro 23, 2013
A bomba semiótica do resgate dos cães de laboratório
quarta-feira, outubro 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em tempos de atmosfera politicamente mais leve, certamente o resgate
por ativistas de 178 cães de um instituto de pesquisas farmacêuticas em São
Roque (SP) seria relegado pelas redações da grande mídia aos blocos noticiosos
de notícias diversas. Mas o suposto descontrole das lideranças que viram
ativistas quebrando portões, depredando e levando os cães para, depois,
receberem a “ajuda” de black blocks elevou o evento à pauta nacional, para ser
submetido ao script da engenharia das bombas semióticas: “era uma vez uma
manifestação pacífica e...” Mas aqui temos uma novidade: a exploração da
relação mágica e mítica que nós temos com os animais, relação didaticamente mostrada no
filme “As Aventuras de Pi”.
Primeiramente quero me desculpar
com os leitores desse humilde blogueiro pela insistência sobre o tema bombas
semióticas. Para quem se dedica à pesquisa em meios e processos audiovisuais é
impossível ficar indiferente à atmosfera cada vez mais saturada e pesada
semioticamente – e por consequência politicamente. No futuro, pesquisadores
certamente irão transformar os acontecimentos pelos quais passamos em objetos
de dissertações e teses. Essa parece ser a miséria das ciências da comunicação:
só conseguimos entender os acontecimentos a
posteriori, isto é, interpretamos depois os acontecimentos como fenômenos filosóficos,
psicológicos ou sociológicos. Nada conseguimos compreende-los no momento, no “aqui
e agora” dos eventos, quando eles são acontecimentos
comunicacionais.
Nesse momento, representado pela
metáfora do “gigante que despertou”, uma histeria das manifestações toma conta
da agenda midiática: incêndio no Itamaraty, agressão a jornalistas, pedidos de
intervenção militar, protestos dos médicos contra a “escravidão de médicos
cubanos”, planos detalhe de carros virados e incendiados, Batmans Black Block
do bem e uma infindável série de eventos iconicamente anabolizados pela mídia.
sábado, outubro 19, 2013
Tem alemão no Campus? Repórter sofre acidente com bomba semiótica na USP
sábado, outubro 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A ansiedade em corresponder a uma pauta pré-estabelecida fez uma
repórter da rádio CBN detonar precipitadamente uma bomba semiótica que estava
sendo montada na cobertura de uma greve dos estudantes no Departamento de
Letras da USP. Graças a uma “barrigada jornalística” (a repórter confundiu a
mensagem “Alemão no Campus” de uma professora do Departamento com uma mensagem
cifrada da malandragem ao enfrentar inimigos), a repórter expôs sem querer o
mecanismo de funcionamento e a técnica de montagem de mais uma das bombas
semióticas usadas na guerrilha semiológica midiática atual onde se pretende
criar uma atmosfera de caos e pré-insurgência que supostamente estaria
dominando o País. Além disso, foi criado um surpreendente evento sincrônico: um
acidente com uma bomba linguística em um espaço justamente dedicado ao estudo,
ensino e pesquisa da linguagem.
Uma repórter da rádio CBN foi vítima
de um acidente durante a montagem de uma bomba semiótica na gravação de uma
matéria, na USP, sobre a greve dos estudantes na manhã do dia 11 de outubro.
Ansiosa por corresponder à pauta já pré-estabelecida pelos seus editores-chefes
(criminalizar e desmoralizar as ações e discursos dos grevistas para
transformá-los em exemplares do caos e desordem que estaria dominando o País),
a repórter acabou dando uma “barrigada” (no jargão do Jornalismo, uma matéria
falsa ou errada publicada com o estardalhaço de uma grande novidade). O arquivo
foi prontamente retirado do ar pela emissora, reeditado e agora disponível sem
a “barrigada” que detonou precipitadamente a bomba semiótica. Esse é a íntegra
do áudio da matéria:
“Na Faculdade de Letras, grevistas montaram piquetes com cadeiras empilhadas para impedir o acesso às salas de aula. No interior do prédio, onde a gente conseguiu entrar, havia também um recado de uma das professoras, que dizia “Alemão no Campus”, uma referência ao termo dado nas favelas ao falar dos inimigos. Ela dizia também que os alunos deviam ficar atentos aos e-mails, para saber das próximas atividades.(...)”
Não é necessário muito esforço
dedutivo para interpretar que “Alemão no Campus” dentro do departamento de
Letras da FFLCH refere-se aos cursos extra-curriculares de língua alemã
oferecidos a públicos internos e externos, assim como outros cursos oferecidos
à comunidade acadêmica - “Italiano no Campus” ou “Francês no Campus”. E que os
e-mails aos quais a professora se referia nada tinham a ver com informações de
táticas de combate contra os “inimigos” ou “alemães”, mas sobre próximas datas
do curso.
sexta-feira, outubro 18, 2013
Ao sul do futuro no curta "Why Cybraceros?" e no filme "Distrito 9"
sexta-feira, outubro 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Matéria-prima do cinema de ficção científica, as especulações sobre o
futuro estão desaparecendo. Em filmes como “Distrito 9” ou no curta “Why
Cybraceros?” de Alex Rivera o futuro transformou-se em uma projeção hiperbólica
do presente. Mundos utópicos ou distópicos que estariam esperando por nós no
futuro são substituídos por hipo-utopias: a precarização do trabalho e dos
direitos humanos e a sociedade transformada em um sistema estruturado em rede
com uma interface digital contínua semelhante a um jogo que apagaria as tensões
étnicas e raciais. É a chamada “ficção científica do Sul”, conjunto crescente
de filmes produzidos nas margens de Hollywood e que vêm projetando no futuro
próximo ou distante as mazelas do presente criadas pelas economias
globalizadas. E que guarda muitos paralelos com a ideia de Zygmunt Bauman sobre "modernidade líquida".
O filme “Distrito 9” (2009) talvez seja
a parte mais visível de uma tendência de filmes que alguns pesquisadores em
cinema têm definido como “ficção científica do Sul”. O curta digital on-line
“Why Cybraceros?” (1997) e “Sleep Dealer” (2008) do diretor Alex Rivera, por
exemplo, seguem essa tendência de filmes em estilo mockmentary (filmes feitos em estilo documentário com tom paródico)
e com características globais, seja pelos atores e empresas de produção de
países considerados periféricos, ou pela temática ligada às mazelas da
globalização sócio-econômica – imigrantes ilegais, xenofobia, racismo e
intolerência.
São filmes de ficção científica
onde a alta tecnologia (ícone característico do gênero) convive com favelas,
deterioração urbana, precarização do trabalho e muito lixo que, muitas vezes,
se confunde com seres humanos que necessitam ser controlados, confinados,
descartados ou eliminados – imigrantes e estrangeiros humanos ou de outros
planetas.
sexta-feira, outubro 11, 2013
Cultura geek e tecnognosticismo nas animações "Hora de Aventura" e "Apenas um Show"
sexta-feira, outubro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O non sense, surrealismo e o humor muitas vezes sombrio das animações
“Hora de Aventura” e “Apenas um Show” (sugeridas pelo nosso leitor Paulo Massa)
causam estranheza nos adultos, embora as crianças as compreendam muito bem.
Essas animações são produtos culturais criados por representantes de uma
geração que cresceu vendo “Os Simpsons” e jogando "Dungeons and Dragons". Seus
criadores Pedleton Ward e J.G. Quintel são os mais acabados representantes de
uma cultura geek que conseguiu mesclar a tecnociência com o misticismo e magia
– o “tecnognosticismo”. Por isso conseguem dialogar com uma geração de crianças
cuja sensibilidade se altera com o entretenimento em plataformas móveis como
Ipods, tablets e celulares.
Hits do canal Cartoon Network,
as animações “Hora de Aventura” (Adventure Time) e “Apenas um Show” (Regular Show) podem ser considerados
produtos culturais criados por uma geração que cresceu vendo “Os Simpsons”,
jogando o RPG e game de computador Dungeons
and Dragons. E quem afirma isso são os seus próprios idealizadores,
respectivamente Pedleton Ward e J.G. Quintel.
São típicos produtos de uma
cultura geek que cresceu em contato com tecnologias de convergência e
interfaces digitais e muita navegação em ambientes fragmentados por
hipertextos. Acostumados que estamos com narrativas tradicionais em três atos,
com muitas gags visuais, correria e perseguições ao melhor estilo slapstick dos desenhos animados
tradicionais, assistir a esses novos produtos é uma experiência de
estranhamento pelo total surrealismo e non
sense.
terça-feira, outubro 08, 2013
A maldição do filme "Blade Runner - O Caçador de Andróides"
terça-feira, outubro 08, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Clássico do cinema de ficção científica, “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (1982) é marcado por coincidências significativas que muitos interpretam como uma “maldição”: as empresas que colocaram seus logos e produtos no filme tiveram ao longo da década problemas financeiros, queda de receita ou simplesmente faliram. Sabendo-se que o filme foi baseado no livro do escritor gnóstico Philip K. Dick e o título do filme retirado de livros dos autores undergrounds William Burroughs e Alan Nourse, propomos uma hipótese sincromística: poderia o filme “Blade Runner” ter se tornado um cavalo de Tróia que sob uma embalagem comercial inoculou em Hollywood uma egrégora gnóstica de contestação aos demiurgos corporativos?
Pesquisando o campo do
Sincromisticismo e motivados pela nossa última postagem do blog sobre as
estranhas coincidências nas últimas tragédias em Washington (vela links
abaixo), resolvemos voltar nossa atenção para estranhas coincidências que podem
ser encontradas no campo da produção cinematográfica. É uma área rica em
sincronicidades ou “coincidências significativas”, talvez por trabalhar com
tantos arquétipos, formas-pensamento e egrégoras do inconsciente coletivo da
humanidade. Muitas vezes esses sincronismos são popularmente denominados como
“maldições”.
Um dos mais conhecidos são as
coincidências que envolvem o personagem do Coringa na série Batman,
principalmente após a morte do ator Heath Ledger: a sombra do poderoso
arquétipo teria feito mais uma vítima, suspeita que ficou ainda mais forte após
a declaração do ator Jack Nicholson: “Eu o avisei!”. Nicholson já havia
interpretado o sinistro personagem no “Batman” na versão de Tim Burton (1989) e
parecia saber de algo mais.
domingo, outubro 06, 2013
Sincromisticismo na onda de tragédias em Washington DC
domingo, outubro 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um atirador mata 12 pessoas em uma Base Naval em Washington DC.
Poucos tempo depois na mesma cidade um carro força a barreira de segurança da
Casa Branca e o Serviço Secreto mata sua motorista. No dia seguinte, um homem
ateia fogo a seu próprio corpo em uma esplanada próxima ao Capitólio. E para
completar, um incidente que quase passou despercebido pelas agências de
notícias: com duas horas de diferença, em Houston, Texas, um homem tentou fazer
a mesma coisa, mas foi contido por populares que lhe arrancaram o isqueiro
depois dele se encharcar com gasolina. Segundo Loren Coleman, pesquisador sincromístico
e psicólogo social especialista nos fenômenos de suicídios e assassinatos
seriais, há estranhas coincidências significativas que conectariam esses
eventos a um inconsciente coletivo repercutido pela própria cobertura
midiática.
Após o incidente com o atirador
na Base Naval que matou 12 pessoas, Aaron Alexis, a mídia teve a atenção
capturada para outro incidente bizarro em Washington DC em frente à Casa
Branca: uma mulher tentou ultrapassar com o seu carro uma barreira de segurança
e por causa disso começou uma perseguição por parte do Serviço Secreto (órgão
encarregado pela segurança do presidente) em que ocorreram vários disparos. O
veículo preto se chocou contra a área de controle de acesso ao Capitólio e foi
rodeado por vários policiais armados que retiraram uma criança de um ano e a
motorista morta.
Loren Coleman, um pesquisador em
fenômenos sincromísticos, consultor do Maine Youth Suicide Program e um
especialista nos estudos sobre as conexões entre a mídia e suicídios-atentados,
observou uma série de aparentes coincidências entre os casos:
sábado, outubro 05, 2013
Em Observação: "O Segundo Rosto" (Seconds, 1966)
sábado, outubro 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O ano é 1966, o olho do furacão de uma série de transformações
comportamentais, culturais e políticas que estavam ocorrendo no mundo em meio à
Guerra Fria e a corrida espacial. O rebelde diretor John Frankenheimer faz o
filme “O Segundo Rosto” (Seconds) que será o precursor no cinema de narrativas
sobre protagonistas (em geral na meia-idade) que despertam do sonho americano e
descobrem a mediocridade da vida e dos valores – “Beleza Americana” (1999) e “Vidas
Em Jogo” (1997) são alguns exemplos posteriores. Mais do que um filme sobre a identidade (ou a perda dela),
o filme toca em um tema potencialmente gnóstico: se a vida social está baseada
no artificialismo de papéis e expectativas dos outros (ou do Outro), quem
afinal somos nós? A reposta poderá estar em uma perigosa jornada interior que
pode se transformar em pesadelo.
sexta-feira, outubro 04, 2013
A luz que nos cega no filme "El Topo" de Jodorowsky
sexta-feira, outubro 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme cercado de lendas, algumas verdadeiras. John Lennon exigiu que
a Apple comprasse seus direitos para exibi-lo em Nova York. Em pouco tempo o
filme tornou-se um Cult nas sessões de meia-noite no circuito underground. “El
Topo” (aka “The Mole”, 1970), uma produção mexicana do diretor franco-chileno
Alejandro Jodorowsky narra em estilo “western spaghetti” de Sérgio Leone a
jornada espiritual de um pistoleiro em desoladas paisagens repletas de alusões
e alegorias a Jung, Freud, misticismo, esoterismo, filosofias e mitologias
bíblicas. Cada plano, cena ou detalhe é um desafio para o espectador tentar
resolver os enigmas que se acumulam em cada imagem baseada em fragmentos de textos antigos, fábulas e contos
zen. O diretor parece querer que tanto o protagonista quanto o espectador tenham o mesmo destino da toupeira: à procura do Sol ela cava até a superfície. Quando vê o Sol, ela fica cega.
Um homem trajando negro da
cabeça aos pés em pleno deserto incandescente cavalga um cavalo negro
carregando um guarda-chuva sobre sua cabeça e trazendo atrás na sela um menino
nu, exceto por um chapéu de cowboy. O homem para, amarra o cavalo em um poste solitário
na areia e vemos nas mãos do menino um urso de pelúcia e uma fotografia em um
porta-retrato. O homem diz: “hoje você faz sete anos. Você agora é um homem.
Enterre seu primeiro brinquedo e o retrato da sua mãe”. Ele pega uma flauta e
toca enquanto o menino segue suas instruções. Para o espectador, essa cena de abertura será a
mais normal e compreensível de todo o filme.
“El Topo” do franco-chileno
diretor Alejandro Jodorowsky é cercado de histórias e lendas: suas técnicas de
filmagem não eram o que poderia se dizer ortodoxas - normalmente utilizava
nativos da região da filmagem como atores e obrigava-os a se submeter a
experiências de esgotamento físico diante das câmeras. Rumores dizem que fazia
os atores experimentarem o sangue um do outro e de expô-los a violência real.
Segundo consta, o próprio Jodorowsky matou os 300 coelhos com as próprias mãos para
uma cena do filme.
domingo, setembro 29, 2013
De Hitler aos Hippies: a Kombi no cinema em dez filmes
domingo, setembro 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Volkswagen anunciou o encerramento da
produção da Kombi no Brasil, o último país que ainda produzia esse veículo.
Junto com o fusca, a Kombi transformou-se em um arquétipo moderno e o significante cultural
de uma constelação de conceitos que vão da esfera política às noções
espirituais de jornada e liberdade. A presença da Kombi no cinema vai refletir
esse imaginário irônico onde, apesar de nascido de um projeto nacionalista de
Hitler e depois sintonizado com o lazer e o consumo individualista de
pós-guerra, transformou-se em ícone da contracultura e representante de um
estilo de vida antimaterialista e solidário. Abaixo, uma lista de dez filmes
onde a Kombi é um personagem cinematográfico com seus múltiplos simbolismos.
Ao lado do fusca, foi o veículo
que fez parte do imaginário de uma geração. A Kombi (abreviação da expressão
alemã “kombinationsfahrzeug” – traduzindo, “van cargo-passageiro”), nos EUA
chamada de VW Bus, acabou tornando-se
mais do que um veículo de transporte: deu colorido e ressonância à cultura
moderna, transformando-se em um arquétipo cultural, significante de uma
constelação de conceitos que vai da esfera política (contracultura e a ética
anticonsumista) à espiritual (viagem e liberdade).
O
Brasil era o único país que ainda produzia esse veículo. Mas, segundo a
Volkswagen, a produção será encerrada dia 31 de dezembro desse ano com a
produção de uma última série limitada e comemorativa unindo todas as
características de design das várias versões da Kombi nesses 63 anos.
sexta-feira, setembro 27, 2013
Hollywood produz mais filmes-catástrofe em épocas de crise global
sexta-feira, setembro 27, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Pesquisando o banco de
dados das produções cinematográficas por gênero do IMDB (Internet Movie Data
Base) descobrimos uma curiosa recorrência: os filmes-catástrofe, gênero fílmico
surgido na década de 1970, encontra seu pico de produção a cada contexto de
crises econômicas globais. Vivemos atualmente a terceira grande onda de filmes
desse gênero que coincide com a crise da Zona do Euro. Será apenas
coincidência? Historicamente Hollywood moldou o imaginário social por meio de uma
tática de deslocamento: a transformação em “objeto fóbico” de tudo aquilo que
nos causa medo e repulsa. Com os filmes-catástrofe temos a confirmação disso: a
naturalização das crises por meio dos cataclismos geológicos ou cósmicos
ficcionais e a criação de uma fobia ou medo coletivo por qualquer aspiração por
mudança.
O cinema sempre teve uma íntima
ligação com os momentos históricos de crise, sejam elas econômicas, políticas
ou sociais. Podemos considerar o cinema um perfeito sismógrafo das tendências
implícitas da sociedade que o produz, como solução imaginária de tensões
sociais ou ainda como sintoma coletivo. A análise dos filmes, principalmente no
que se refere à evolução dos seus gêneros (terror, sci-fi, drama etc.), são excepcionais por revelar verdadeiros
sintomas sociais. Como veremos, é o caso do gênero disaster movies, ou “filmes-catástrofe”.
Desde o início, nos dois lados
do oceano Atlântico, o cinema mostrava essa excepcional característica
sismográfica. Filmes expressionistas alemães como “O Gabinete do Dr. Caligari”
de Robert Wiener (1920), “Nosferatu” de F.W. Murnau (1922), “Dr. Mabuse, O
Jogador” (1922), “Metrópolis” (1926) e
“O Vampiro de Dusseldorf” de Fritz Lang com suas atmosferas de pesadelo
dominadas por linhas e planos tortuosos coincidiam com a turbulenta fase da República
de Weimar na Alemanha e anunciavam a chegada iminente do nazismo.
quarta-feira, setembro 25, 2013
A condição humana entre a loucura e transcendência no filme "K-Pax"
quarta-feira, setembro 25, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filme precursor de um subgênero chamado “psicodrama alt. Sci-fi” (filmes
que usam argumentos sci-fi para, na verdade, discutir temas bem terrestres com
baixos orçamentos e nenhum efeito especial), “K-Pax - O Caminho da Luz” (K-Pax, 2001) foi injustamente
esquecido pela crítica e público. Um homem é internado em hospital psiquiátrico
afirmando ser um visitante de um planeta distante. Astrônomos e psiquiatras
tentam encaixá-lo em algum script racionalizante que tente explicar seus
conhecimentos, mas os paradoxos colocados pelo seu comportamento colocam em
xeque todos ao redor: será que uma vida inteira dedicada à ciência terá sido
para nada?
Um filme que acabou esquecido
pelos críticos e público, principalmente por ter sido lançado a pouco mais de
um mês depois dos atentados de 11 de setembro em Nova York. Talvez poucas
pessoas estivessem interessadas em discussões filosóficas em torno de um potencial
visitante de outro planeta que nos visita sob a forma humana, chamado Prot
(Kevin Spacey) e que se encontra preso em um hospital psiquiátrico em
Manhattan. Se ele é de fato um visitante do planeta K-Pax ou apenas um louco
“com a história mais convincente que eu já vi”, como confessa o psiquiatra que
tenta “curá-lo”, é a dúvida que acompanhará o espectador até a última cena,
cabendo a ele fazer uma contabilização das pistas deixadas ao longo da
narrativa.
Provavelmente o filme “K-Pax”
pode ser considerado o precursor de uma espécie de subgênero que sob o pretexto
de abordar temas caros da ficção científica (visitantes extraterrestres, viagem
no tempo, eventos cósmicos etc.), através de filmes com baixo orçamento e
praticamente sem nenhum efeito especial discute temas bem terrestres e
familiares: dilemas dos relacionamentos, a alteridade, conhecimento, hierarquia
e autoridade. O nosso leitor Ricardo Afonso percebeu a essência desse novo
subgênero: “A cena em que ele [Prot] simula uma viagem no tempo simplesmente nos faz
rir de nossa própria limitação, quando acreditamos que para tal empreitada
seriam necessárias luzes, cenas e cenários dignos de ficção cientifica de
Hollywood”.
domingo, setembro 22, 2013
Conheça as dez maiores conspirações no cinema
domingo, setembro 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Estariam as estrelas de Hollywood sendo assassinadas em série por um sinistro grupo oculto? Alguns filmes foram de fato
amaldiçoados por forças malignas de outro mundo? Ou trazem mensagens cifradas
sobre comandos de controle da mente ou desafios diretos ao Illuminatis? Kubrick
teria dirigido o filme “O Iluminado” para espalhar pistas sobre o falso pouso da Apolo 11
na Lua que ele próprio teria ajudado a produzir? Esse é o estranho mundo das
mais bem elaboradas e paranoicas teorias da conspiração envolvendo o cinema.
Para seus autores, ir ao cinema é uma perigosa aventura onde o espectador
desatento poderá ser programado por mensagens ocultas. Por que tantas
conspirações cinemáticas? Talvez porque um produto cultural que atinge tão
diretamente nossos corações e mentes seja, afinal, produzido por uma indústria
de entretenimento anônima e corporativa.
quarta-feira, setembro 18, 2013
As imagens seduzem e iludem no filme "Cópia Fiel"
quarta-feira, setembro 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Cópia Fiel” (Copie Conforme, 2010) é um curioso olhar etnográfico de um
diretor iraniano para a cultura das imagens ocidental: Abbas Kiarostami vai ao polo
irradiador do cânone da ilusão figurativa das imagens (a Itália dos museus,
igrejas e arte sacra) para mostrar, paradoxalmente por meio do artifício (um
escritor que promove um livro sobre o valor das cópias em relação a obra
artística original e que voluntariamente participa de um “role-playing”
proposto por sua admiradora), que as imagens são intransitivas, não remetem a
nada fora delas mesmas, seja uma suposta natureza divina ou real. Elas sempre
foram meros simulacros.
Artifício, ilusão, simulação,
mentira. Essas são algumas críticas feitas à civilização ocidental das imagens
feitas por autores como Guy Debord (Sociedade do Espetáculo), Jean Baudrillard
(Simulacros e Simulações) chegando a filmes como “Matrix” onde a imagem
tecnológica alcança o paroxismo ao criar mundos virtuais onde o homem torna-se
prisioneiro.
O aclamado
diretor iraniano Abbas Kiarostami vai ao centro irradiador dessa cultura da
imagem no Ocidente (a Itália, repleta de arte sacra, afrescos religiosos
renascentistas e ícones cristãos por todos os lados em pequenas capelas,
Igrejas e lojas de antiguidades) para fazer uma reflexão dos problemas
filosóficos que envolvem as imagens que nos cercam e a nossa percepção delas. E
talvez mais do que isso: mostrar como fomos seduzidos pela ilusão.
domingo, setembro 15, 2013
O cacoete jornalístico e a agenda invisível
domingo, setembro 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Continuando nossa incansável e perigosa busca de “bombas semióticas” na
mídia, encontramos outra de uma nova espécie, dessa vez involuntária, produzida por uma
espécie de cacoete jornalístico: o furor em estabelecer conexões, religações ou
cadeias de causa-efeito entre notícias distantes. O que o Jornal “Hoje” da TV
Globo quis nos dizer ao aproximar a notícia de um incêndio em uma fábrica no
interior de São Paulo com a sessão do tempo prevendo altas temperaturas e
baixíssima umidade? De tanto forçar a barra na interpretação do noticiário político
e econômico a partir de uma espécie de agenda nacional e global invisível que reina nas redações das grandes mídias, acabou criando um "modus operandi",
um cacoete em que mesmo os "fatos diversos" acabam sendo involuntariamente tratados da
mesma forma pelos jornalistas - como a materialização de um script
político-ideológico pré-estabelecido.
Quinta-feira, 12 de setembro de
2013. O telejornal “Hoje” da TV Globo já havia apresentado os primeiros blocos
noticiosos das chamadas hard news
(política e economia) e entrava na sua parte final com o que se chama em
jornalismo faits divers (fatos
diversos – notícias locais, curiosidades, cultura, tempo etc.). De repente,
entra um link ao vivo: incêndio de grandes proporções em uma fábrica de
bebedouros na cidade de Itu, interior de São Paulo. Atrás do repórter vemos
grossos rolos de fumaça negra subindo a dezenas de metros de altura contra um
profundo céu azul. Corta para o estúdio. Sandra Annenberg imediatamente convoca
a jornalista do tempo Michelle Loreto e pergunta: “vai cair alguma gota de
chuva naquela região?”. Michelle responde negativamente e explica apresentando
em um mapa as zonas de alta pressão e temperaturas elevadas esperadas para
grande parte do país. Após a rápida previsão do tempo, Sandra Annenberg
finaliza com uma expressão grave: “é... e não chove há uma semana naquela
região...”
sexta-feira, setembro 13, 2013
A Internet demasiado humana no filme "Disconnect"
sexta-feira, setembro 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um soco emocional. Assim pode ser definido o filme independente
“Disconnect” (2012): três histórias baseadas em fatos reais tendo como cenário
Facebook, Twitter, smartphones, tablets e laptops. Cyberbullyings, crimes
cibernéticos e sites eróticos que exploram menores encontram pessoas
fragilizadas emocionalmente cujas relações com parentes e amigos são
superficiais e vazias enquanto toda a atenção se volta aos gadgets tecnológicos.
O filme “Disconnect” representa a destruição do segundo mito
da Internet: depois do fim da utopia das empresas “ponto com” em 2000, agora a
diluição do mito do novo mundo trazido pela “inteligência coletiva” digital. A tecnologia apenas
ampliaria as velhas mazelas da condição humana. A Internet ainda continua
humana, demasiado humana.
Quando a televisão surgiu era
rotineiramente acusada por devorar a atenção das pessoas e destruir a
comunicação. Produtora de solidão, emburrecedora e responsável por distúrbios
oculares eram o mínimo de que se acusava a TV. Com a Internet alarmes
semelhantes retornam, porém com um outro viés: os caminhos dessa terra de
ninguém são potencialmente perigosos – alguns são predadores, outros são
viajantes ingênuos que se aventuram por territórios dominados por tribos e
cibercriminosos. O risco de ser emboscado, espoliado e humilhado é
considerável. Muitas vezes a aplicação da lei é incapaz de apanhar os
trapaceiros, que se mantêm sempre à frente do jogo.
Esse é o tema do filme “Disconnect”
do documentarista Henry Rubin (do documentário “Murderball”) em sua estreia em
um filme com narrativa ficcional. A partir de um roteiro escrito por Andrew
Stern, Rubin apresenta um verdadeiro soco emocional para aqueles que convivem
diariamente com Facebook, Twitter, Skype, webcams e smartphones: um retrato da
crueldade desencadeada por ladrões que alegremente se escondem por trás de
falsas identidades virtuais, desenterram informações pessoais e com algumas
teclas pode ser capaz de destruir a vida de uma pessoa.
quarta-feira, setembro 11, 2013
A bomba semiótica das pegadinhas do "Fantástico" e "CQC"
quarta-feira, setembro 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ensinar lições de moral e cidadania através de simulações. Mais
precisamente através de “pegadinhas”, dessa vez “do bem” e na TV. Cuidado! Sob
o pretexto de nobres propósitos programas como o “Fantástico” da Globo e “CQC”
da Band estão detonando mais uma “bomba semiótica”, dessa vez sob a forma do “infotenimento”
(informação + entretenimento), com situações do cotidiano simuladas para
flagrar contraventores da ordem, da moral e dos princípios de cidadania para
nos ensinar que o bem sempre compensa. Ambos os programas alinham-se à pauta
atual imposta pela mídia: a pauta da moralidade e do combate à corrupção, o
último papel de protagonismo que lhe resta no cenário político atual.
Vamos desmontar mais uma “bomba
semiótica”. Porém esta é de um tipo sofisticado e difícil de lidar
semioticamente, pois envolve um elemento “meta”: a simulação, e não
simplesmente uma simples manipulação ou encobrimento de fatos como
habitualmente estamos acostumados a ver em telejornais ou revistas impressas.
O “Fantástico” estreou
recentemente um quadro chamado “Vai Fazer o Quê?” no qual o repórter Ernesto
Paglia conduz uma série de “experiências” para descobrir como reagem as pessoas
diante de situações polêmicas como pit
boys que ofendem um mendigo e tentam expulsá-lo de uma praça pública ou uma
cuidadora que maltrata seu paciente idoso. O repórter privilegia mostrar
aqueles que atuaram corretamente, pede desculpas ao estresse que os atores
criaram na simulação, constrange os cidadãos menos valorosos que nada fizeram
com perguntas do tipo “você ficou ali olhando, mas não reagiu...” e discorre
como os espectadores devem agir em uma situação dessas.
domingo, setembro 08, 2013
Dez sinais de que você participa de uma seita.
domingo, setembro 08, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Acreditamos que só loucos e estúpidos fazem parte de cultos ou seitas. Mas não se engane: esse é um estereótipo midiático mostrado pelas notícias sensacionalistas que nos apresentam fanáticos fazendo parte de cultos comandados por gurus enlouquecidos. Desde a década de 1930 quando a literatura de autoajuda começou a abandonar o campo da psicologia e flertar com o misticismo e esoterismo até transformar-se em técnicas motivacionais, os dispositivos de controle mental dos cultos começaram a se espalhar por empresas, movimentos políticos, grupos de autoajuda e outros tipos de organizações. Fique atento aos dez dispositivos de controle mental das seitas, sejam elas de culto a líderes, metas ou missões. Você pode estar dentro de uma delas e não sabe...
Quando ouvimos a palavra “culto”
lembramos de religiões neopentecostais, manipulações religiosas de estranhas
seitas ou obscuros cultos de grupos místicos cujos símbolos somente os
iniciados podem compreender. Vêm-nos à mente fanáticos desequilibrados, líderes
carismáticos manipuladores e suicídios grupais por causas bizarras.
No entanto essa é apenas a
aparência sensacionalista e midiática que parece encobrir uma realidade de
natureza bem diversa: ao lado das técnicas de manipulação de massas por meio da
propaganda e do marketing político, de marcas e de consumo, uma outra forma de
manipulação cresceu e vem se expandindo por todos os setores da sociedade – a
manipulação das relações humanas por intermédio do controle das relações
pessoais por lideranças e pequenos grupos.
sábado, setembro 07, 2013
Monty Python contra o cinismo contemporâneo
sábado, setembro 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há quarenta e quatro
anos ia ao ar pela TV BBC o primeiro “Monty Python’s Flying Circus” com
uma trupe de comediantes ingleses cujo humor era marcado pelo absoluto cinismo
e non sense. Suas experiências formais (programa estruturado como “fluxo de
consciência”) e sketches demolidores influenciam há décadas gerações de
comediantes e redatores. Recuperando a melhor tradição do humor físico de
Chaplin e Jacques Tati, mesclou tudo isso com um estilo de comédia que
desconstruía ilusões e mentiras dos papéis sociais, mostrando de forma
engraçada como nossa existência parece ser baseada em mentiras e ilusões.
Diante do “cinismo esclarecido” contemporâneo a que se refere o filósofo alemão
Peter Sloterdijk, o grupo inglês criou uma técnica de humor que remontava às
próprias origens filosóficas radicais da escola dos cínicos: o "kynismo" grego da
antiguidade helenística de Diógenes e Pirro.
Quando pensamos em filmes
gnósticos, logo imaginamos ficções científicas dramáticas como “Cidade das
Sombras” ou “Matrix” com protagonistas procurando saídas de um universo
conspiratório em narrativas tensas e repletas de simbolismos enigmáticos.
Terror, drama, thriller, suspense ou ficção científica parecem ser os gêneros
propícios para questionamento gnósticos sobre a condição humana. Mas e a
comédia? É claro que nesses últimos
quatro anos em que esse blog procurou mapear a presença de elementos gnósticos,
esotéricos, ocultistas e míticos na produção cinematográfica popular recente,
encontramos tais elementos em produções que primam pelo humor negro como no
filme “Como Fazer Carreira em Publicidade” (How to Get Ahead in Advertising, 1989) ou em animações como a
trilogia “Toy Stories”.
Mas se pensarmos a comédia muito
mais do que um gênero, isto é, como técnica de humor (onde elementos como o
cinismo, a ironia, a parodia e o sarcasmo podem se transformar em instrumentos
de crítica social tão poderosos como a Filosofia e a Psicanálise) podemos
encontrar a presença do espírito gnóstico da desmistificação da irrealidade do mundo.
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