
sábado, janeiro 26, 2013

Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em épocas de reality
shows como “Big Brother Brasil” é oportuno assistir ao filme “A Noite dos
Desesperados” (They Shoot Horses, Don’t they?, 1969) baseado em um livro que
tornou-se um dos prediletos dos filósofos e escritores existencialistas franceses
por aprofundar as motivações humanas diante da dor e sofrimento. A cena
descrita pelo filme (o início da indústria de entretenimento na época da Grande
Depressão americana dos anos ’30) possibilita uma rica comparação com o gênero
reality show atual: se no passado o espetáculo sado-masoquista ainda tinha o
componente trágico da ritualização de um destino comum a todos (dor e
sofrimento em um mundo sem coração), agora é mais perverso: os espetáculos de “sacrifício
de cavalos” são promovidos como lições morais em um mundo aparentemente livre e
democrático que ofereceria chance a todos tornarem-se celebridades.
Por três refeições por dia, a
promessa de um prêmio de 1.500,00 dólares e algumas moedas jogadas pela
plateia, dezenas de casais desesperados em plena Grande Depressão dos anos 1930
nos EUA decidem participar de um concurso de danças em um velho salão em Chicago.
Na verdade será uma desumana maratona de seis dias até que o último casal
sobreviva após passar por dores físicas, desconforto, humilhações e
indignidades, monitorados por médicos e enfermeiras cujo papel básico é o de manter
os participantes de pé à todo custo para manter a adrenalina do show.
Seu mestre de cerimônias e
empresário chamado Rocky (Gig Young, premiado com um Oscar de ator coadjuvante),
filho de um charlatão que fazia shows de simulação de curas em parques de
diversão, usará as lições aprendidas para manipular emocionalmente os
participantes: “isso não é um concurso, é show. As pessoas não estão nem aí
para o vencedor. Querem ver um pouco de sofrimento para que se sintam melhor!”,
dispara cinicamente Rocky a certa altura do filme.
A narrativa é repleta de
pequenos dramas pessoais amplificados pela depressão econômica e desemprego:
uma mulher grávida e seu marido que veem no grande prêmio a esperança de dar
uma vida digna ao futuro filho; uma fútil atriz que vive a esperança de que na plateia
esteja um caçador de talentos de Hollywood; um orgulhoso marinheiro veterano da
I Guerra Mundial que tenta provar que ainda é capaz; uma mulher sobrevivente
das ruas chamada Gloria Beatty (Jane Fonda) vê seu parceiro desistir por
motivos de saúde na última hora.