terça-feira, agosto 15, 2017
Como parar de fumar em cinco passos do vício ao Holocausto em "No Smoking"
terça-feira, agosto 15, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O primeiro
filme de Bollywood (a indústria cinematográfica da Índia) a fazer uma adaptação
de uma obra de Stephen King. Definitivamente “No Smoking” (2007) é um filme
para cinéfilos aventureiros e amantes do estranho. Parece até que David Lynch
encontrou-se com Bollywood – um thriller neo-noir psicodélico, com muito humor
negro, surrealismo, um guru irmão bastardo de Hitler e... cigarros. Um
arrogante homem bem-sucedido e fumante obsessivo compulsivo é ameaçado pela sua
esposa com o divórcio, depois de respirar tanta fumaça. Como largar o vício?
“No Smoking” oferece um método de cinco passos: consiga ajuda profissional,
envolva familiares e amigos, música, lembrar-se do Holocausto e, finalmente,
morra para si mesmo. Além do tema do nazi-fascismo, controle e vigilância da mente e da alma,
“No Smoking” faz também um curioso mergulho nas associações simbólicas do
tabaco e fumaça associados à alma e consciência.
sábado, agosto 12, 2017
O pesadelo meritocrático e tecnognóstico em "Advantageous"
sábado, agosto 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A atual safra
de filmes independentes de ficção científica é estranha e incômoda.
Principalmente porque mostra mundo futuros que mais parecem hiper-reais
espelhos do presente. Em “Advantageous” (2015) não vemos futurologia, explosões
ou thrillers turbinados por efeitos especiais, marcas do gênero. Mas um futuro
próximo no qual finalmente as mulheres galgaram os postos de comando e
prestígio, porém dentro de uma implacável ordem meritocrática onde não se trata
mais de “a cada um de acordo com seu mérito” – só há duas alternativas: vencer
ou perder. Se perder, viver escondido nas ruas ou na prostituição. Se vencer, fazer
parte de uma elite cuja juventude e beleza é a marca do marketing pessoal do
sucesso. Ameaçada pela demissão por ser considerada “velha” demais, uma
executiva de uma clínica avançada de saúde e estética vê-se desesperada com o
futuro da sua filha numa sociedade sem escolas públicas e com desemprego em
45%. Sem saída, oferece-se como cobaia a
um novo produto da clínica: a total digitalização da mente para ser transferida
a um novo corpo jovem e belo. Um filme sobre identidade e escolhas. Filme sugerido pela nosso leitor Gerônimo Numinoso.
quinta-feira, agosto 10, 2017
Três didáticos casos de guerra híbrida e bombas semióticas que a esquerda finge não ver
quinta-feira, agosto 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Três didáticos
casos sobre o alcance da atual guerra híbrida que a esquerda parece fingir que
não existe, encastelada na sua “estratégia política” ao dar corda para o
desinterino Temer supostamente se enforcar: o porquê das panelas não baterem
mais; o “conto maravilhoso” do ex-executivo que virou sem teto; e a minissérie
da TV Globo “Sob Pressão”. Três pequenos casos exemplares de como as bombas
semióticas, mobilizadas pela guerra híbrida, constroem a atual mitologia
meritocrática que vige no País legitimando as reformas do ensino, trabalhista e
previdenciária – uma mitologia que não nega a realidade, mas a pontua através
da ficção, despolitizando o debate e normatizando a crise como fosse mais um
desses desafios que surgem em nossas vidas, somente superados pelo esforço
pessoal.
terça-feira, agosto 08, 2017
Como escapar da Matrix: 10 definições de "gnose" através do cinema
terça-feira, agosto 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde os
clássicos filmes gnósticos “Show de Truman” e “Matrix” a espécie humana é
representada como prisioneira em uma gigantesca ilusão cósmica – tecnológica,
psíquica ou midiática. Como escapar dela? Para o Gnosticismo, através da “gnosis”
(“conhecimento”). Mas que tipo de conhecimento é esse? Uma epifania
místico-religiosa? Algum tipo de comunhão secreta com o Divino? Iluminação
espiritual? O Cinegnose reuniu dez definições de estudiosos sobre o conceito de
“gnose” e como os filmes gnósticos figuram essa espécie de rota espiritual de
fuga: quem
éramos, o que nos tornamos, onde estávamos, para onde fomos lançados, para onde
estamos indo, do que estamos libertos, o que é o nascimento e o que é
renascimento.
domingo, agosto 06, 2017
Curta da Semana: "This Is Why Eating Healthy Is Hard (Time Travel Dietician)" - vivendo e não aprendendo
domingo, agosto 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A lista dos
alimentos saudáveis e não-saudáveis é mutante: muda ao sabor da última pesquisa
científica de alguma universidade famosa ou artigo publicado em um revista
médica. O que era cancerígeno no passado, pode ser a salvação na semana que
vem. O curta “This Is Why Eating Healthy Is Hard - Time Travel Dietician” (2017), do
site de vídeos de humor “Funny or Die” leva essa situação à ficção científica –
em 1979, um casal vê o seu almoço interrompido por um nutricionista que veio do
futuro. Para impedir que comam ovos: basta um para aumentar as chances de
infarto! O nutricionista vai e volta do futuro várias vezes em questão de segundos, sempre com
descobertas contraditórias – o ovo já não mata mais... agora é a carne
vermelha. Ovos agora são saudáveis... e assim por diante. E o pobre casal não
consegue almoçar. O humor “hipo-utópico” do curta levanta algumas questões: o
problema da midiatização da Ciência e porque o Tempo e a História não são
capazes de nos ensinar.
sábado, agosto 05, 2017
A nova mitologia gastronômica com Rodrigo Hilbert e MasterChef
sábado, agosto 05, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Comer não é apenas para o estômago. Junto com o alimento também ingerimos mitologias - conotações, simbolismos, narrativas, retórica etc. Como um sismógrafo, as mitologias dos alimentos mudam ao sabor dos contextos sociais e políticos de cada época. Dos velhos programas culinários da Ofélia e Etty Fraser que celebravam a mulher como o esteio da família, passando pelas receitas combinadas com fofocas de celebridades, até chegarmos na complexa mitologia atual: o raio gourmetizador da “simplicidade descolada” na TV fechada (o ingrediente “sustentável”, restaurantes “despretensiosos”, a religião do Food Truck e o requinte da “comida de rua”) e os programas culinários que viraram reality shows gastronômicos na TV aberta com chibatadas de meritocracia anestesiadas pelo sonho do empreendedorismo para as massas. Uma mitologia que se tornou engrenagem importante na atual guerra híbrida que resulta em golpes políticos e “reformas” socadas goela abaixo. Dois irradiadores dessa “nouvelle mythologie”: Rodrigo Hilbert e MasterChef.
quinta-feira, agosto 03, 2017
"Apocalypto": como explicar o fim da civilização maia?
quinta-feira, agosto 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitas vezes
encontramos verdades no pensamento conservador. Apenas que elas estão invertidas.
Um exemplo é “Apocalypto” (2006). Dirigido por um conservador assumido, o ator
Mel Gibson, o filme quer mostrar como foi possível a civilização maia, que
alcançou sofisticado conhecimento em Astronomia, Matemática, Artes e
Arquitetura, ter se extinguido muito tempo antes da chegada dos espanhóis na
América. A hipótese mais aceita é a ecológica (esgotamento dos recursos
naturais e mudanças climáticas), que o filme partilha ao acompanhar um
protagonista que teve sua tribo destruída e levado prisioneiro para a capital
maia para sacrifício em um ritual sangrento para entreter as massas. Na capital
maia encontramos seca e doenças. A ignorância e amoralidade poderiam ter levado
à decadência. Mas também a dominação e escravidão. Luta de classes custa caro e
pode exaurir uma sociedade. Esse é o surpreendente viés aberto por Mel Gibson a
partir de um pressuposto conservador em “Apocalypto”.
terça-feira, agosto 01, 2017
Fascismo, sexo e poder em "Tras El Cristal"
terça-feira, agosto 01, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme com
aura maldita e perversa. Quando exibido no Festival de Berlim, o seu diretor, o
espanhol Agustí Villaronga, foi insultado e quase agredido por espectadores.
“Tras El Cristal” (1986) acompanha um médico pedófilo nazista que, sentindo-se culpado
pelas atrocidades cometidas nas experiências com crianças em campos de
concentração, tenta um suicídio mal sucedido. Tetraplégico, junto com sua esposa
e filha, foge para um casarão no interior da Espanha, preso a um bizarro pulmão
de ferro que o mantém vivo. Até que aparece um rapaz soturno que se oferece
como enfermeiro. Uma antiga vítima do carrasco procurando vingança? Seria um
clichê hollywoodiano muito tranquilizador. Villaronga opta por caminhos bem
incômodos – a perversa conexão psíquica entre sexo e o fascínio pelo poder, a
violência irracional que esconde sempre um desejo alienado e a metáfora de como
a sociedade pode ser lentamente seduzida pelo ardil do fascismo.
"O sexo liga as pessoas nos primeiros tempos, mas o que mantém o interesse, a longo prazo, entre elas, é o poder" (Chiang Ching)
segunda-feira, julho 31, 2017
Cinco motivos que explicam porque educação é o melhor negócio de todos os tempos
segunda-feira, julho 31, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O mundo das
altas finanças está de olho no ensino superior brasileiro: empresas de private
equity, banco de investimentos e fundos de investimentos nacionais e
estrangeiros estão por trás dos grandes grupos da oligopolização do setor. Para
justificar a tendência consultores, analistas, conselheiros e gestores falam em
“inserção do ensino superior no mundo global”, “internacionalização do ensino
superior”, “cooperações vencer-vencer” etc. Como sempre, a verdade está em
outra cena: descobriram que a educação é o melhor negócio (legal) de todos os
tempos. Diferente de muitos outros negócios, a sua mão de obra (a resiliência
dos professores), sua “clientela” (alunos que tendem a esquecer) e o seu insumo
(a liquefação do conhecimento em informação) são bem peculiares. O que tornam
as possíveis resistências, críticas ou até mesmo ativismos fáceis de serem
geridos. Vamos listar cinco peculiaridades que tornam a educação um negócio
imperdível: a folha de parreira da titulação, a Síndrome da Vida de Inseto, a
amnésia discente, ausência de espírito de corpo e o fetiche da “uberização”
tecnológica da educação.
sábado, julho 29, 2017
Sexo e a nova sensibilidade da maldade em "Corrente do Mal"
sábado, julho 29, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Outrora símbolo
da indústria automobilística dos EUA e agora abandonada e repleta de
desempregados, Detroit tornou-se nesse século cenário de uma série de filmes
que transitam entre o gótico, o terror e o mistério. “Corrente do Mal” (“It
Follows”, 2014) é mais um filme que tem a cidade como cenário: fantasmas de
pessoas mortas assombram não necessariamente pessoas da cidade, mas
adolescentes do subúrbio que fazem sexo – podem ser “contaminados” pelo Mal
transmissível sexualmente. Uma espécie de maldição no qual a vítima passa a ser
perseguida por entidades assassinas. E a única forma de se livrar do Mal é
fazendo sexo com outra pessoa para que a corrente continue. O diretor David
Mitchell leva ao paroxismo a nova representação do Mal iniciada no cinema com a
disseminação dos zumbis: o Mal não mais determinado ou centrado numa
monstruosidade, mas agora indeterminado, mutante e que se dissemina de forma
viral, exponencial e catastrófica. Há uma ironia em eleger Detroit como cenário
dessa nova ontologia do Mal – os fatores socioeconômicos que levaram a
decadência da cidade são os mesmos que fizeram emergir essa nova sensibilidade
da maldade. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
quinta-feira, julho 27, 2017
Série "América": é preciso pressa para ver o que está desaparecendo
quinta-feira, julho 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em novembro de 1989 ia ao ar pela extinta Rede Manchete a série brasileira “América”, dirigida por João Moreira Salles em parceria com o filósofo e roteirista Nelson Brissac Peixoto. Narrada pelo ator José Wilker, a série foi o resultado de uma viagem de quatro meses percorrendo 20 mil quilômetros através dos EUA – a primeira civilização na qual a História e a memória foram substituídos pelo movimento, velocidade e aceleração para o futuro que, paradoxalmente, virou um simulacro somente acessado através telas. Sem passado, Hollywood preencheu a ausência da memória da nação por uma sedutora mitologia que depois irradiou para o mundo. Composto por cinco episódios (“Movimento”, “Mitologia”, “Blues”, “Velocidade” e “Tela”), a série narra não só os impactos dessa cultura no cotidiano, na guerra, na política e na religião, mas também como criou o mal estar da alienação e estranhamento por meio do “olhar do exilado” dos três personagens principais da nossa época: o Viajante, o Detetive e o Estrangeiro.
Curta da Semana: "Tango" - uma curiosa experiência sobre tempo e memória
quinta-feira, julho 27, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado com
Oscar de melhor animação em 1983, o curta metragem polonês “Tango” (1981) é uma
curiosa experiência de percepção, tempo e memória por meio de efeitos de edição
com a incipiente tecnologia digital da época: em um quarto acompanhamos ações
em “loop” de personagens que aos poucos vão entrando em cena, até que 36
pequenos contos paralelos (uma mulher troca de roupa, um homem tenta trocar uma
lâmpada, um ladrão rouba um pacote etc.) preenchem o pequeno espaço em um plano
ininterrupto de oito minutos. “Tango” foi uma profética experimentação:
antecipou as principais características atuais das nossas relações com o
ciberespaço – simultaneidade, instantaneidade e ubiquidade. Mas principalmente
o destino das telas (da TV aos smartphones) no futuro: de janelas que deveria
estar abertas para o mundo real se transformaram em simulacro que esvazia a
permanência e a memória.
terça-feira, julho 25, 2017
Luta simbólica da esquerda é vulnerável contra retórica da guerra híbrida midiática
terça-feira, julho 25, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O escritor e dirigente sindical Roberto Ponciano no seu artigo “Cultura, Violência e Direito à Insurreição”
observa uma “docilidade cultural” que parece tomar as manifestações no Brasil e
alerta: “Nesse ritmo de paz e amor em que estamos, embalados pelos showmícios
de Caetano, ao menos nos tornaremos escravos mais alegres do mundo”. O editor
do blog “O Cafezinho”, Miguel do Rosário, aponta que essa opinião revela “a
inapetência da esquerda em fazer luta simbólica”, luta que corresponderia ao
próprio campo da Comunicação”. Porém, essa “luta simbólica” confronta a chamada
“Guerra Híbrida” cuja principal estratégia é a dessimbolização ou retórica da
destruição. Diante disso, a criação de simbolismos de “luta e resistência” mais
parece uma prescrição alopática de cura pelos opostos: se a mídia desinforma,
vamos informar. Se a mídia dessimboliza, vamos então criar símbolos. Por que
não a metodologia, por assim dizer, homeopática: a cura pelos semelhantes?
Responder à simulação e mentira com ações diretas dentro do campo da comunicação
também com simulações e mentiras, direcionadas ao próprio campo de
dessimbolização da mídia corporativa. Táticas de “pegadinhas” e “trolagens” já
existem – Cuture Jamming e Media Prank, por exemplo.
quinta-feira, julho 20, 2017
"Perfeitos Desconhecidos": negociamos com a verdade através dos celulares e smartphones
quinta-feira, julho 20, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Celulares e
smartphones se transformaram em verdadeiras caixas-pretas das nossas vidas –
registros de ligações, mensagens, nossos segredos e pecados mais íntimos estão
nesses dispositivos. Passamos cada vez mais tempo fazendo dupla tela nas mais
diversas situações. Se a vida social funciona dentro do triângulo
público/privado/segredos, qual o impacto desses dispositivos na vida conjugal e
pessoal? Esse é o tema da comédia dramática italiana “Perfeitos Desconhecidos”
(Perfetti Sconosciuti, 2016). Sete amigos reúnem-se para um jantar quando
alguém na mesa sugere uma nova versão do velho “Jogo da Verdade”. Só que agora,
com os smartphones de todos colocados no centro da mesa – todos terão que
compartilhar com os presentes as mensagens e ligações recebidas naquela noite.
Mais que confusões e mal entendidos, o filme aborda como a função da mentira é, muitas vezes, mais do que iludir: é negociar com a verdade. Filme sugerido pelo nosso leitor Eduardo G.
terça-feira, julho 18, 2017
O Brasil sob a sombra das maiorias silenciosas
terça-feira, julho 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em questão de
horas, de uma vez só, os direitos mínimos dos trabalhadores e seu maior líder
trabalhista, Lula, foram condenados – simultaneamente, no Senado e na Vara
Federal de Curitiba. Diante desse timing e precisão, jornalistas e intelectuais
começam a expressar a perplexidade: cadê o povão? O Congresso não foi cercado e
nem as praças ocupadas com massas sem arredar os pés. Massas manipuladas pela
Globo? Índole apática do brasileiro? Por que as lutas monumentais e resistência
em trincheiras até agora não ocorreram, limitando-se a algumas “batalhas de
Itararé”? Talvez seja o momento de revisitar um dos textos políticos mais
provocativos: “À Sombra das Maiorias Silenciosas” de Jean Baudrillard. Lá na
França um gol de Rocheteau pelas eliminatórias da Copa do Mundo foi mais
importante do que a extradição de um ativista político; como aqui Lula e seu
pequeno exército de advogados solitários, sem o apoio das ruas, segue para a
condenação em segunda instância. Para Baudrillard , não é uma questão de engano
ou mistificação – há uma astúcia das massas que o Poder mais teme: não a
“revolução”, mas seu silêncio e a indiferença. Um hiperconformismo no qual a
política se afunda.
domingo, julho 16, 2017
O místico e o mágico acertam contas com o Ocidente em "Nem o Céu Nem a Terra"
domingo, julho 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em posto
avançado militar francês em um lugar remoto, montanhoso e desolado na fronteira
entre Afeganistão e Paquistão, soldados esperam a chegada de um comboio da OTAN
para retirá-los de lá e leva-los para suas famílias. Repentinamente, no meio
das noite solitárias e frias, soldados começam a desaparecer de seus bunkers de
observação. Tudo que têm como suspeitos é uma aldeia de criadores de ovelhas e
soldados talibãs, que também começam a ser vítimas dos misteriosos
desaparecimentos. Essa é a coprodução franco-belga
“Nem o Céu Nem a Terra”(Ni Le Ciel Ni La Terre, 2015), uma fábula do Realismo Fantástico no qual é
descrito o fracasso de toda racionalidade e da tecnologia militar de vigilância
e informação diante de um inimigo invisível e incompreensível para a lógica
Ocidental: o místico e o mágico que o avanço da Razão Ocidental julgou ter
eliminado através do “desencantamento do mundo”. Filme sugerido pelo nosso
leitor Felipe Resende.
sexta-feira, julho 14, 2017
A condenação de Lula e a midiática "crítica nem-nem"
sexta-feira, julho 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após a sentença de condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro, a TV mostrou
imagens de comemorações em frente à Vara de Curitiba por manifestantes em suas
indefectíveis camisas amarelas da CBF. Ao mesmo tempo, tomadas da Avenida
Paulista com mais manifestantes, agora de camisetas vermelhas, faixas e punhos
erguidos em protesto contra a condenação de Lula. Ato contínuo, a grande mídia
expõe os rostos dos magistrados que julgarão o recurso à condenação e uma
canastríssima entrevista (com signos cenograficamente saturados) do presidente
do TRF-4 que poderá finalmente impedir a candidatura presidencial do líder
petista. Qual a relação entre esse ensaio de volta da polarização “coxinhas X
mortadelas” e o jogo midiático de sedução/chantagem com magistrados?
O velho semiólogo Roland Barthes responderia: a mitologia da “crítica nem-nem”.
Ou simplesmente “ninismo” - mecanismo
retórico de dupla exclusão na qual se reduz a realidade a uma polaridade
simples, equilibrando um com o outro, de modo a rejeitar os dois. “Nem” um, “nem”
o outro - apenas o “bom-senso”, mito burguês na qual se baseia o moderno
liberalismo: a Justiça como mecanismo de pesagem que foge de qualquer embate ideológico.
quarta-feira, julho 12, 2017
O que nos conta o sismógrafo gramatical da TV Globo?
quarta-feira, julho 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2015 o
escritor Pablo Villaça ironizou a proliferação do adjunto adverbial de
concessão no bordão “Apesar da crise” repetido pela grande mídia como uma deliberada tática de repetição para criar uma crise autorrealizável e desestabilizar o governo Dilma. Na época, depois de décadas de “jornalismo
adversativo”(“porém”, “mas” etc.) a mídia dava uma guinada gramatical para os
advérbios. Agora, no momento em que o desinterino Temer virou “chefe de
quadrilha” depois de ser incensado como uma espécie de novo Winston Churchill
da ponte para o futuro, a mídia corporativa dá outra guinada
gramatical: retorna ao velho jornalismo das conjunções adversativas: “há crise
política, MAS a economia dá sinais de recuperação”, rezam os articulistas da
Globo, tentando divorciar a política da economia. Essas guinadas gramaticais
não são meras mudanças de estilo na máquina retórica de destruição da Globo.
Sua engrenagem é um verdadeiro sismógrafo que repercute o movimento das placas
tectônicas da política e economia, movimentos preocupantes para a Globo na luta
para a manutenção do seu monopólio. E principalmente o porquê, de repente, a
Globo querer jogar o desinterino Temer ao mar.
terça-feira, julho 11, 2017
Curta da Semana: "Correntes" - o silêncio é o som mais alto que se pode ouvir
terça-feira, julho 11, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O curta
brasileiro “Correntes”(2016), de Alessandro Vecchi, retoma a força das imagens,
a própria natureza do cinema – todo o poder das alegorias e metáforas,
dispensando linhas de diálogo e a narrativa realista. A incomunicabilidade de
um casal cercado de fotos de um passado de filhos e momentos felizes. Mas que
agora tudo se acabou em um tenso silêncio no qual a TV e o smartphone são as
únicas válvulas de escape. O curta guarda duas ironias: o silêncio é o som mais
alto que se pode ouvir em uma relação – tudo é comunicação, mesmo o silêncio.
Porém uma forma de comunicação catatônica e neurótica, a incomunicabilidade. E
a segunda ironia: como as tecnologias chamadas “de comunicação”, ajudam a
reforçar a incomunicabilidade. Principalmente o fenômeno da “dupla tela” dos
smartphones no qual enquanto a mente ocupa o ciberespaço o corpo mantem-se
inerte no espaço presencial.
segunda-feira, julho 10, 2017
Adolescência é um drama existencial e universal em "Ponto Zero"
segunda-feira, julho 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Ponto Zero”
(2016), do diretor gaúcho José Pedro Goulart, é um ponto fora do movimento
pendular do drama da adolescência no cinema, quase sempre figurado entre a
exaltação e a melancolia solipsista platônica. “Ponto Zero” vai muito mais além
dos tradicionais pontos de vista psicologizante
ou sociológico sobre a juventude. Goulart almeja um olhar mais universal
e existencial. Por isso, optou por uma narrativa com escassas linhas de diálogo,
apostando na força das imagens repletas metáforas e lirismo. Ênio, um jovem em
um lar marcado por um pai ausente e violento e uma mãe que tenta manter as
aparências da instituição familiar. A descoberta da sexualidade e do próprio
corpo são sinais que a infância acabou. Porém, o mundo adulto para o qual se
encaminha é inautêntico. Em meio ao estranhamento e alienação, como um
Estrangeiro em sua própria casa, Ênio busca uma terceira via. E paradoxalmente
será em uma jornada, numa noite chuvosa pelo submundo de “inferninhos” e
prostitutas em ruas de Porto Alegre, que o protagonista encontrará a verdade
espiritual e existencial do seu drama.Filme sugerido pela nossa leitora Suzana Moraes.
sábado, julho 08, 2017
Filme "O Círculo" reforça a "Hipótese Fox Mulder"
sábado, julho 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao lado da
torta de maçã e da bandeira estrelada dos EUA, não há nada mais norte-americano
do que a imagem do ator Tom Hanks. Pois agora, no filme “O Círculo” (The
Circle, 2017) ele é um vilão, o CEO de uma poderosa empresa de tecnologia de
informação que emula o Google e o Facebook com sombrios projetos de vigilância
e invasão da privacidade global. O que significa um filme estrelado pelo
patriótico Tom Hanks denunciando a ameaça de uma dominação orwelliana pelo
maior produto norte-americano, a tecnologia da informação desenvolvida pelo
Vale do Silício? “O Círculo” transpõe para a ficção toda a agenda crítica
relacionada a ameaça da espionagem e vigilância global através das comunicações
eletrônicas e do “big data” extraído das redes sociais digitais. Será que a
repercussão hollywoodiana das denúncias sobre os supostos planos de dominação
global do Vale do Silício confirmaria a hipótese conspiratória do agente
especial Fox Mulder da série “Arquivo X”? Seria “O Círculo” uma tentativa de
tornar a crítica uma ficção? Assim como os filmes “Margin Call” e “A Grande
Aposta” ficcionalizaram os motivos da explosão da bolha financeira de 2008?
quarta-feira, julho 05, 2017
Série brasileira "3%" é o "Black Mirror" do Brasil atual
quarta-feira, julho 05, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto a
crítica especializada estrangeira é só elogios à série brasileira “3%” (2016-), no Brasil a crítica torce o nariz.
Complexo de vira-latas? Mais do que isso. A aposta da Netflix em uma produção
sci-fi em língua portuguesa reafirma o interesse estratégico da plataforma de
streaming no mercado brasileiro, ameaçando o mainstream da Globo e do negócio
da TV aberta. Mas há algo além: enquanto a crítica brasileira tenta enquadrar a
série no cânone das distopias “teens” como “Jogos Vorazes” e “Divergente”, “3%”
fez mais do que isso, confundindo a todos – ao invés das tradicionais distopias
hollywoodianas, a série apresenta uma desconcertante “hipo-utopia”: um espelho
sombrio do Brasil atual apontado para o futuro. Uma alegoria política na qual a
meritocracia transforma-se em religião, única esperança em um País transformado
em um deserto rochoso com centros urbanos dominados pela desigualdade, miséria
e violência. E um processo seletivo criado pela elite é a miragem de ascensão
social na direção de uma terra supostamente utópica e longe do deserto brasileiro, na qual
apenas 3% chegarão.
segunda-feira, julho 03, 2017
O Jornalismo é um cadáver "investigativo" que nos sorri
segunda-feira, julho 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Lá pelos anos
1990, Oliviero Toscani lançou o livro “A Publicidade é um Cadáver que Nos
Sorri” sobre a inutilidade social da Publicidade que não mais vendia produtos,
mas estilos de vida mentirosos. Propunha um modelo de Publicidade com função
social, assim como o Jornalismo. Porém, o Jornalismo virou corporativo e
transformou-se no próprio espelho da Publicidade - assim como grifes, marcas e
logos promovem produtos, o próprio Jornalismo passou a promover a si próprio
por meio da grife do “investigativo”. Por isso, foi sintomático o 12o. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, realizado na
Universidade Anhembi Morumbi/SP, promover o procurador-geral Rodrigo Janot como
estrela máxima e os “bastidores das delações da JBS e Lava Jato” como o “case”
principal de um suposto jornalismo investigativo que terceirizou a atividade
jornalística. Para a Abraji, jornalismo investigativo é “checar informações” de
vazamentos que sempre selecionam seus jornalistas “investigativos” favoritos. Enquanto
isso, Martin Baron (editor retratado no filme “Spotlight”) deu o verniz investigativo
necessário para jornalistas que confundem investigação com checagem de vazamentos.
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