terça-feira, fevereiro 21, 2017
Comercial vende carro e ética na política detonando bomba semiótica
terça-feira, fevereiro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Bombas semióticas 2, A Missão! O Império
Contra-ataca! Após as recentes pesquisas revelarem que Lula está mais vivo do
que nunca, liderando com folga todos os cenários eleitorais para 2018, e que ainda
seus principais adversários estão se desgastando com a evaporação do mar de
rosas que, acreditava-se, seria o País pós-impeachment, o complexo
jurídico-midiático reage. Depois de novos vazamentos seletivos e busca de mais
espécimes assustadores do “Brasil profundo” para figurar na capa de revistas
semanais, retiram mais uma vez do paiol midiático a artilharia pesada das
bombas semióticas. Dessa vez, em um comercial para TV da GM Brasil no qual se
posiciona sobre temas como “ética” e “política” para vender o novo Chevrolet
Cruze. Mais uma vez, a tática de engenharia
de percepção – por meio de gestalt, cores e a palavras metonimicamente
contaminadas, bombas semióticas criam um pano de fundo para tornar mais crível
o cenário político do momento. Reforçam subliminarmente pautas, slogans e
clichês disseminados liminarmente pela grande mídia. Um exemplo de como a
criação publicitária torna volátil a fronteira entre consumo e cidadania.
domingo, fevereiro 19, 2017
Curta da Semana: "The Crossing" - os subterrâneos do terror
domingo, fevereiro 19, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma mulher tenta desesperadamente ligar para
seu namorado, sentindo-se culpada por um desentendimento que poderá colocar fim
na relação. É tarde da noite, e ela desce as escadarias de uma passagem
subterrânea para, lá dentro, encontrar o Mal. Ou a si mesma. Esse é o curta
russo “The Crossing” (2016) que explora um dos temas preferidos do terror: os
subterrâneos. Porões, metrôs, garagens subterrâneas, tuneis etc., ao mesmo
tempo que nos fascinam, também nos apavoram. O medo que pode ser tanto
interpretado como um arquétipo gnóstico (a metáfora da condição humana
prisioneira nesse mundo), como compreendido pelo viés psicanalítico: nos
subterrâneos está o nosso inconsciente – culpas e traumas dos quais queremos
nos livrar. Mas o reprimido sempre retorna, transformado em monstros e pesadelos.
sábado, fevereiro 18, 2017
Por que o mundo tem que acabar?
sábado, fevereiro 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diariamente o mundo acaba diante dos nossos
olhos, seja no cinema na atual safra de filmes-catástrofe, em séries de TV
sobre Nostradamus, previsões “científicas” de algum tipo de futura catástrofe
ambiental ou em algum “hoax” descrevendo cometas, asteroides ou planetas
errantes que cairão sobre a Terra. A última, foi sobre um pedaço do Planeta X
que supostamente cairia no último dia 16. Por que o mundo tem que ser
destruído? No passado, todas religiões possuíam uma Escatologia: alguma
narrativa sobre o fim dos tempos onde os maus seriam punidos e os bons salvos.
Mas essas religiões se tornaram “líquidas”: sob os escombros das antigas
religiões salvacionistas viraram pastiches que se rendem ao utilitarismo das
necessidades do presente: “teologia da prosperidade”, “cabala do dinheiro” ou o
islamismo dos homens-bomba. Esqueceram-se do futuro. Por isso, essa nova
religião “líquida” e ecumênica precisa criar uma nova Escatologia, uma
narrativa midiática sobre o “fim dos tempos” que junte convicções
eco-ambientais, geofísica e astrofísica. A “Neoapocalíptica” como estratégia de
marketing.
quinta-feira, fevereiro 16, 2017
Abelhas, ocultismo e TV em "Wax or The Discovery of Television Among The Bees"
quinta-feira, fevereiro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O primeiro filme feito para a Internet que estava apenas começando e produzido numa inédita ilha de edição não-linear. No longínquo ano de 1991 o
diretor David Blair produziu “Wax or The Discovery of Television Among The
Bees” um estranho filme para cinéfilos
corajosos o suficiente para se aventurar em bizarrices hipertextuais sobre
abelhas da Mesopotâmia, ocultismo esotérico, histórias da Bíblia, Guerra do
Iraque e simuladores de voo militar da NASA. Esse filme independente é um
documento histórico da motivação tecnognóstica e esotérica que sempre esteve
por trás do desenvolvimento da ciência computacional, ciberespaço e
cibercultura. Em tom de documentário, Blair conta a história do neto de um
entusiasta de uma sociedade dedicada à comunicação com os mortos, engenheiro de
software na base de mísseis de Los Alamos, EUA, que cria uma conexão mística
com abelhas (através da “BeeTV”). Para depois ser transportando para uma dimensão
mística (o ciberespaço?) na qual verá a Guerra do Iraque sob o ponto de vista
do carma e reencarnação... e receberá uma importante missão.
terça-feira, fevereiro 14, 2017
A celebração da troca do desejável pelo possível em "La La Land"
terça-feira, fevereiro 14, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que “La La Land - Cantando Estações” é o
grande favorito ao Oscar? Porque está sintonizado com o espírito do tempo desse
início de século: nostálgico, vintage, metalinguístico e com um amargo
realismo. O filme capta a essência do gênero musical clássico, levando o clichê
de “quebra e retorno a ordem” (pessoas que dançam, cantam e sonham, mas que
depois voltam à realidade como se nada tivesse acontecido) ao limite. A nostalgia pela era de ouro de Hollywood
e do jazz são o consolo para um casal que vê seus sonhos desapontados. Misturando
alusões a filmes musicais clássicos, “La La Land” é uma fábula de como o amor
nos dá força para realizar o possível. Mas, ao mesmo tempo, pode entrar na
contabilização dos sacrifícios de termos perdido tudo aquilo que era desejável.
domingo, fevereiro 12, 2017
Sete filmes que anteviram a crise da segurança no Espírito Santo
domingo, fevereiro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema e o audiovisual parecem ter o
estranho poder de prever cenários futuros: a eleição de Donald Trump, o
atentado ao WTC em 2001, o atentado na Maratona de Boston em 2013, a hegemonia
econômica da China etc. em filmes e séries como “”Os Simpsons, “Americathon” ou
“Lone Gunmen”. No auge do neoliberalismo de Reagan e Thatcher nos anos 1980,
filmes como “Robocop” e “Max Headroom” apresentavam futuros distópicos, efeitos
colaterais das políticas de austeridade e privatizações que agora acompanhamos
ao vivo nas ruas do Estado do Espírito Santo – no vazio do poder público
sucateado, as ruas são dominadas por crimes, saques e assassinatos. O Exército
chegou para ocupar as ruas. Mas será que o próximo passo, seguindo a cartilha
neoliberal, é a privatização das forças de segurança, assim como a OCP
(“RoboCop”), MNU (“Distrito 9”), Tetravaal (“Chappie”) ou a NYPC (“From The
Future With Love”)? Acompanhe a lista de sete filmes que anteviram cenários
futuros nos quais o Brasil está entrando.
sábado, fevereiro 11, 2017
Em "Black Mirror" a tecnologia é espelho sombrio de nós mesmos
sábado, fevereiro 11, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A narrativa corporativa e publicitária sobre
as tecnologias da informação sempre foi a da “estrada para o futuro”, uma
estrada que supostamente nos conduzirá ao paraíso da comodidade, no qual todo
conhecimento que necessitarmos estará ao
alcance de um clique ou de um toque na tela. Mas a série britânica Black
Mirror (2011- ) vai na contra mão: sem ser tecnofóbica, mostra futuros próximos, mas estranhamente atuais, onde paradoxalmente a tecnologia evoluiu tanto que
atingiu um ponto de inutilidade e disfuncionalidade. Os seis episódios da
terceira temporada de 2016 mostram o “vanish point” de gadgets como mídias
sociais, realidade aumentada, dispositivos móveis e games: o ponto de viragem
tecnológico no qual a racionalidade se converteu em mal estar psíquico, crime,
ódio e anomia. A expansão das redes de informação foi muita mais rápida que a
produção de conteúdo (conhecimento). E a lacuna foi preenchida por espelhos sombrios de nós mesmos.
quarta-feira, fevereiro 08, 2017
Os mortos da escravidão ainda assombram o Brasil em "O Diabo Mora Aqui"
quarta-feira, fevereiro 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“O Diabo Mora Aqui” (2015), de Dante Vescio e
Rodrigo Gasparini, filia-se a uma nova safra de filmes de terror brasileiros
como “Quando Eu Era Vivo”, “Trabalhar Cansa” e “Mar Negro” – produções
nacionais que procuram uma terceira via entre a paródia e o “filme de arte”:
filmes com “cara de cinema” por seguirem as convenções do gênero, porém com uma
abordagem brasileira com folclore, religiosidade e lendas urbanas nacionais.
Filmes que revelam a essência do gênero do terror, principalmente o
“exploitation”: um atalho para o inconsciente coletivo de um país e de uma
cultura. No caso de “O Diabo Mora Aqui”, com a clássica narrativa de jovens em
uma fazenda num lugar remoto no interior de São Paulo que sem querer libertam o
Mal, revela como o Brasil supostamente moderno e globalizado ainda é assombrado
pelos fantasmas do seu inconsciente coletivo: o passado escravocrata que não
consegue ser redimido condenando-nos ao ciclo vicioso de ódio e autodestruição.
segunda-feira, fevereiro 06, 2017
"Medo e Delírio em Las Vegas" faz acerto de contas com a utopia psicodélica
segunda-feira, fevereiro 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Medo e Delírio em Las Vegas” (Fear and
Loathing in Las Vegas, 1998) foi o início do acerto de contas do diretor Terry
Gilliam com a sua geração (a utopia psicodélica de que as drogas abririam as
portas da percepção nos libertando de realidades opressivas), encerrado com o
filme “Contraponto” (Tinderland) em 2006. O filme baseou-se no livro
homônimo de Hunter Thompson, o marco do
chamado “Jornalismo Gonzo” no qual a ficção seria mais poderosa do qualquer
tipo de reportagem objetiva. Mas parece que toda uma geração esqueceu do alerta
do escritor maldito Charles Bukowski: atualmente a realidade supera qualquer
imaginação literária. Como centro espiritual de uma cultura planetária, Las
Vegas incorporou (através da tecnologia) todos os delírios lisérgicos, não mais
para libertar, mas agora para fazer as pessoas consumirem e perder dinheiro em
mesas de jogos. Mais tarde, toda a indústria do entretenimento colocaria em
prática a distopia de Las Vegas. Os heróis lisérgicos dos anos 1960-70 acabaram
se transformando em nostálgicos freaks, impotentes diante dos delírios de LSD
emulados pelas casas noturnas e raves.
domingo, fevereiro 05, 2017
Curta da Semana: "Being Batman" - o homem que acredita ser o próprio Cavaleiro das Trevas
domingo, fevereiro 05, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No começo esse humilde blogueiro achava que o
curta “Being Batman” (2016), de Ryan Freeman, fosse mais uma sátira sobre o
super-herói. Até perceber que o curta é um documentário com um personagem real
que vive na cidade de Brampton, em Ontário, Canadá. Um homem que acredita ser o
próprio Batman e que os acontecimentos trágicos da sua vida fizeram-no se
conectar sincronicamente ao personagem fictício de Bruce Wayne. Todas as noites
Stephen Lawrence sai da sua “batcaverna” a bordo de uma réplica do batmóvel do
filme de 1989 de Tim Burton para vigiar as ruas da cidade. No curta “Being
Batman” Lawrence dá depoimentos sobre a sua vida como Batman. Mostra sua casa
transformada em batcaverna, suas armas e a rotina noturna. Isso não é cosplay:
Lawrence diz ser o próprio Batman!
sábado, fevereiro 04, 2017
Para tautismo da Globo Marisa Letícia supostamente morreu
sábado, fevereiro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O tautismo (autismo + tautologia) crônico da
TV Globo chegou a um nível bizarro e surreal com a “morte” de Dona Marisa
Letícia. Enquanto a emissora mostrava imagens de pesar e condolências (minuto
de silencio no Congresso e os pêsames de FHC a Lula), a Globo se apegava ao
“protocolo de morte encefálica” para adiar em 18 horas o anúncio do falecimento
e a palavra “morte”. Uma cobertura, no mínimo, anômala: em se tratando de
políticos, celebridades e artistas o "modus operandi" da grande imprensa diante
da morte sempre foi o sensacionalismo, ilações e especulações. Por que esse
inesperado comedimento, como se repórteres e apresentadores usassem luvas de
pelica enquanto pisavam em ovos? No dia 02 de fevereiro, Dona Marisa Letícia
estava supostamente morta. Para no dia seguinte a palavra “morte” ser anunciada
de forma protocolar. Para quê serviu esse pesar tautista da Globo? Algumas
hipóteses: (a) AVC político, (b) Lula vai ser preso, (c) Sebastianismo e
Eleições 2018, (d) Tática do diversionismo, (e) Corrente de Esperança.
quinta-feira, fevereiro 02, 2017
Realidade é esquecimento consensual no filme "Os Esquecidos"
quinta-feira, fevereiro 02, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desculpe, caro leitor, o trocadilho
involuntário mas o filme “Os Esquecidos” (The Forgotten, 2004) acabou sendo
esquecido pela crítica e público. E com razão! Foi um filme que explorou
elementos clássicos do gnosticismo pop hollywoodiano. Mas naquele momento, a
safra de filmes gnósticos revelava filmes muito mais memoráveis como as
sequências de “Matrix”, “A Passagem”, “Vanilla Sky” ou “Brilho Eterno de Uma
Mente Sem Lembranças”. O filme conta com um argumento poderoso (a mãe que
lembra do filho morto em um acidente, mas todos ao redor insistem em dizer que
a criança jamais existiu), mas o roteiro é inverossímil sem conseguir definir o
tom narrativo – alguma coisa entre sci fi, mistério e thriller policial. Apesar
disso, “Os Esquecidos” é uma filme didático: mostra como os temas do
esquecimento, paranoia e conspirações são articulados dentro de uma narrativa
gnóstica. Ecoando filmes clássicos como “Dark City” e “Amnésia” de Christopher
Nolan, mostra que a chamada “realidade” pode ser o produto de um esquecimento
consensual.
quarta-feira, fevereiro 01, 2017
Eike Batista: Efeito Heisenberg e lixo midiático reciclado
quarta-feira, fevereiro 01, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A política brasileira parece estar sendo
dirigida pelos misteriosos desígnios das “coincidências”. Os exemplos mais
recentes: a morte do ministro do STF Teori Zavascki no Triângulo das Bermudas da
política em Paraty e a prisão do pobre homem rico “foragido” Eike Batista,
repletos das sempre recorrentes “coincidências” e timings oportunos envolvendo
a onipresente TV Globo. Qualquer tentativa de explicar essas “coincidências”
(rapidamente definidas pela narrativa midiática como “fatalidades” das
“trapaças da sorte”) é logo rotulada como “teoria conspiratória”. Mas o show
midiático da “caça” ao “foragido” Eike Batista acrescenta alguns ingredientes a
mais: o chamado Efeito Heisenberg, no qual a mídia cobre um evento criado por
ela mesma; e o linchamento midiático: depois dos petistas agora são as
celebridades, subprodutos da própria mídia. Linchamento que combina
entretenimento e expiação da dor e introjeção da culpa pelo fracasso
profissional e pessoal de milhões de brasileiros no naufrágio da crise
econômica. Mesmo no seu fim, Eike Batista se tornou útil como um lixo midiático
reciclável no bode expiatório da vez.
segunda-feira, janeiro 30, 2017
I Ching, Cinema e mundos quânticos na série "The Man in The High Castle"
segunda-feira, janeiro 30, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual a relação entre o milenar livro-oráculo "I Ching", o Cinema no século XX e a hipótese dos Múltiplos Mundos da Física
Quântica? A busca dessas conexões é o desafio para o espectador que assiste à
série da Amazon Studios “The Man In The High Castle” (2015 - ) livremente
inspirado no livro do escritor sci-fi gnóstico Philip K. Dick de 1962. Um mundo
invertido no qual os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) ganharam a Segunda Guerra Mundial e os EUA,
destruídos pela Grande Depressão, foram conquistados pelo Reich e o Império do
rei Hirohito. Porém, a posse de estranhos rolos de filmes de procedência
misteriosa passa a ser politicamente importante tanto para Resistência como
para Hitler: neles, outros mundos são revelados. Tal como no I Ching, devemos
encontrar o imutável em mundos fugazes e em constante mutação. Mas pode
tornar-se uma arma política: o controle do Tempo, passado e futuro de toda a
humanidade.
quinta-feira, janeiro 26, 2017
O filósofo Kierkegaard vai a Hollywood no filme "Passageiros"
quinta-feira, janeiro 26, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que diante do precipício ao mesmo tempo em que temos medo, também sentimos o impulso de saltar para o fundo do abismo? Em 1844 o
filósofo S∅ren Kierkegaard disse que isso deriva da ansiedade da descoberta de
sermos livres para saltar ou não saltar. E sempre temos medo daquilo que mais
desejamos. “Passageiros” (Passengers, 2016) retoma essas ideias do filósofo
dinamarquês, inclusive com a referencia do abismo: só, no espaço sideral,
diante do vazio do Universo, o homem teme por descobrir que é livre, como se
retornasse ao mito do Paraíso, antes de Adão e Eva terem descoberto a árvore do
conhecimento. “Passageiros” é mais uma amostra da recente guinada metafísica de
Hollywood sob camadas de entretenimento e efeitos digitais. Assim como a
animação “WALL-E” (2008), também faz uma releitura gnóstica do Gênesis bíblico:
como o homem, prisioneiro numa gigantesca espaçonave-resort que ruma para a
destruição, pode conquistar a liberdade e autoconhecimento.
terça-feira, janeiro 24, 2017
Globo virou black bloc
terça-feira, janeiro 24, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo ainda tinha a tênue esperança de que
delegados dissidentes do Colégio Eleitoral não ratificassem a vitória de Trump.
Mas a cerimônia da posse e o discurso “porrada” do presidente arrasaram
qualquer sonho dos ainda incrédulos correspondentes da emissora nos EUA. Mais
eis que os esquecidos black blocs voltam a ação nas manifestações anti-Trump em
Washington, tirando os analistas da emissora da depressão. Entusiasmada, a
Globo News até reprisou o documentário sobre os black blocs exibido na época
das manifestações de rua em 2013 no Brasil. Agora a Globo assume uma espécie de
anarcotautismo: entrar na onda de turbinar as manifestações contra Trump, assim
como fez nas manifestações anti-Dilma. Mas o tautismo crônico da sua bolha
virtual não consegue perceber os movimentos do “deserto do real” que Trump
representa: a crise do “neoliberalismo progressista” que sustenta a ordem da
Globalização: o alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais
(feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de
negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e
Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a
financeirização.
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo.
sábado, janeiro 21, 2017
Paraty é o Triângulo das Bermudas da política brasileira?
sábado, janeiro 21, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nesses momentos de tragédias que abrem
possibilidades de inesperadas mudanças no cenário político (Quem perderá? Quem
ganhará?) é sempre interessante ver as reações reflexas da grande mídia pega de
surpresa. Ela parece sempre ter uma “narrativa reflexa”, pronta, que se
manifesta como um ato falho: descrever um mundo onde os eventos são sempre
aleatórios, fora de contextos, desconectados e sempre sujeitos a “trapaças da
sorte”. A morte do Ministro do STF Teori Zavascki no acidente aéreo em Paraty
rapidamente foi enquadrada em uma narrativa protocolar como se a grande mídia
já tivesse o resultado antes mesmo das investigações: foi tudo uma fatalidade!
Não importa a existência de estranhas anomalias, depoimentos contraditórios,
sincronismos e o oportuno timing dos acontecimentos. Será que a grande mídia
quer impor à sociedade uma “narrativa reflexa” para criar um fato consumado?
Criar uma atmosfera de pressão política nas investigações oficiais que ora se
iniciam? Ou será que, desde o desaparecimento de Ulysses Guimarães em 1992, a
região de Paraty se transformou numa espécie de Triângulo das Bermudas
brasileiro onde impasses políticos são resolvidos de forma drástica?
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"
sexta-feira, janeiro 20, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre
tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um
bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter
as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina
com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês
hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo,
2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de
robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos
ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três
contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas
transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a
sociedade.
terça-feira, janeiro 17, 2017
Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua
terça-feira, janeiro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se no passado falar que o homem jamais pousou
na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do
Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual
com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de
produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo
Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart
Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar
sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick
envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos
anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele
momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos
envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de
lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de
cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque
vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente
comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos
astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho
da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certo dia um cientista do MIT criou um
“computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas
digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando
como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando
horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais
íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia
toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que
controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma
das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis.
Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a
fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo
real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às
vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.
sexta-feira, janeiro 13, 2017
O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida
sexta-feira, janeiro 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mudança de pensamento”. “Reflexo das
pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova
vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida,
decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas
e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer
digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de
uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial
e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora
transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um
sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é
binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre
foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel
decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o
Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e
hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela
diferença cambial.
quinta-feira, janeiro 12, 2017
A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"
quinta-feira, janeiro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez o colapso econômico da antiga
União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado,
seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”:
manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam
a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida
como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática
copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro
de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal
ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas
pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente”
chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC
“HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história
de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas
desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso,
corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.
Tecnologia do Blogger.