Bombas semióticas 2, A Missão! O Império
Contra-ataca! Após as recentes pesquisas revelarem que Lula está mais vivo do
que nunca, liderando com folga todos os cenários eleitorais para 2018, e que ainda
seus principais adversários estão se desgastando com a evaporação do mar de
rosas que, acreditava-se, seria o País pós-impeachment, o complexo
jurídico-midiático reage. Depois de novos vazamentos seletivos e busca de mais
espécimes assustadores do “Brasil profundo” para figurar na capa de revistas
semanais, retiram mais uma vez do paiol midiático a artilharia pesada das
bombas semióticas. Dessa vez, em um comercial para TV da GM Brasil no qual se
posiciona sobre temas como “ética” e “política” para vender o novo Chevrolet
Cruze. Mais uma vez, a tática de engenharia
de percepção – por meio de gestalt, cores e a palavras metonimicamente
contaminadas, bombas semióticas criam um pano de fundo para tornar mais crível
o cenário político do momento. Reforçam subliminarmente pautas, slogans e
clichês disseminados liminarmente pela grande mídia. Um exemplo de como a
criação publicitária torna volátil a fronteira entre consumo e cidadania.
Depois dos resultados da pesquisa CNT/DMA
mostrando que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva venceria as eleições
2018 em todos os cenários, acendeu-se a luz amarela do maior partido de
oposição na era lulo-dilmista: o complexo grande mídia e Judiciário.
Mesmos com todos os escândalos associados ao
PT denunciados pela Operação Lava Jato, com todas as manchetes diárias sobre um
grandioso triplex no Guarujá, um suntuoso sítio em Atibaia e, agora, um curso
para o filho de Lula supostamente pago pela Odebrecht, mesmo assim Lula
continua favorito com folga para as próximas eleições. E o que é pior: revelando
o desgaste dos oponentes Temer, Aécio e Alckmin – corroídos pela crise
econômica que contrariou a expectativa de um mar de rosas após o impeachment e
os respingos das delações premiadas e vazamentos nos outros partidos.
E pior ainda: colou-se à imagem de Lula, além
do “sebastianismo” (sobre esse conceito messiânico na política clique aqui), a nostalgia de um país
que viveu tempos melhores com o crescimento da Classe C, a expansão do crédito
e do consumo.
A reação do complexo jurídico-midiático foi
imediata: a ministra Carmen Lúcia decide pelo sigilo das delações que estavam
sob custódia de Teori Zavascki – será que ele pagou com a própria vida? (clique aqui) Aliás, por que as
investigações sobre as causa do suposto acidente aéreo desapareceram da mídia?
Claro, a decisão pelo sigilo é a senha para
iniciar a estratégia dos vazamentos seletivos que atingirão alvos selecionados,
de acordo com a conjuntura política do momento. E Lula novamente é o alvo da
vez depois dos alarmantes números das pesquisas.
Espécimes de águas turvas
A segunda reação é novamente buscar no
fundo das águas turvas do Brasil profundo exemplares obscuros, psicóticos e
paranoicos, como fez a revista IstoÉ:
a utilização de um espécime chamado Davincci Lourenço que teria levado uma mala
cheia de dinheiro para Lula num período em que supostamente viveu na intimidade
da cúpula da construtora Camargo Correia. Enquanto isso, Davincci fazia vídeos
com gravíssimas denúncias sobre pernilongos geneticamente alterados pelo PT
para criar a epidemia de Zika e desviar a atenção do povo dos problemas de
corrupção da Dilma, além de posar como sniper, vestindo camiseta do FBI e com o
símbolo da Polícia Federal de fundo...
Agora, do fundo do paiol da grande mídia,
ressurge a grande arma detonada durante a crise política iniciada pelas grandes
manifestações de rua de 2013: as bombas semióticas.
A General Motors do Brasil estreou nova
campanha publicitária nesse domingo (19) se posicionando sobre os temas da
“ética” e “corrupção” como estratégia de promoção de vendas dos novos Chevrolet
Cruze hatch e sedan.
O comercial
Exibido nos canais Globo, Band, AXN e Sony,
o comercial mostra planos gerais de ruas desertas do Centro do Rio de Janeiro
que logo depois são ocupadas com manifestantes empunhando placas e faixas
exigindo ética e combate à corrupção, com a indefectível presença de policiais
de choque com escudos. “Somos um povo que aprendeu a exigir mudanças e que está
mudando para servir de exemplo”, inicia a locução feminina em off.
“Que não aceita menos que o justo”,
continua com imagens estilizadas de engravatados sendo conduzidos por agentes
também estilizados da PF com locuções de telejornal ao fundo dizendo: “esquema
de corrupção iniciado em 2009...”.
“Que cansou da malandragem...”, a palavra
“malandragem” com tom jocoso, entrando com som de cuíca ao fundo e um gari
varrendo “santinhos” de políticos no chão de uma calçada. “E que acelera na
direção certa!”, conclui a parte político-ideológica do comercial para depois,
metonicamente, o comercial associar mudanças políticas com a troca do seu carro
pelo novo Chevrolet Cruze.
O que são bombas semióticas?
Bombas semióticas não se prestam à
inculcação político-ideológica: isso já é feito diariamente pela pauta do
jornalismo e colunistas da grande mídia. Sua função pertence à engenharia de
percepção mais ampla e atmosférica – reforçar o noticiário dominante criando
subliminarmente um pano de fundo, um horizonte de eventos ou uma paisagem de
signos com gestalts, cores e sutis alusões a slogans e clichês do cenário
político do momento.
Em outras palavras: reforçar através da
estética e da percepção em filmes, vídeos publicitários, clipes da Internet
etc. a memória do conteúdo já absorvido cognitivamente pelo noticiário – sobre
a série das bombas semióticas analisadas pelo Cinegnose clique aqui e aqui.
E o comercial da GM é um caso exemplar
dessa estratégia semiótica.
(a) O caminho inverso
Em primeiro lugar chama a atenção o caminho
inverso tomado pela aproximação Publicidade/Política. Se em 2013 as
manifestações “espontaneamente” tomaram slogans publicitários como “Vem pra
rua” (comercial da Fiat para a Copa das Confederações) e “o gigante acordou”
(comercial do uísque Johnnie Walker) transformando em palavras de ordem e
hashtags, agora um comercial exorta os brasileiros a não mais tolerarem a
corrupção diante da proximidade das eleições presidenciais 2018.
E convoca novamente os brasileiros irem
para as ruas... com o novo Chevrolet.
A GM faz uma espécie de recall para os
manifestantes e paneleiros, agora silenciosos diante das tentativas do governo
do desinterino Temer em “estancar essa porra de sangria” das investigações da
Lava Jato.
Porém, um recall tão seletivo quanto os vazamentos das delações premiadas,
como sempre, mantidas em sigilo.
(b) Contaminação de cores e gestalt
Todo o comercial faz um jogo de
contaminações metonímicas nas quais imagens e palavras tomadas isoladas tem um
sentido. Mas próximas ou colocadas em sequência tem um significado
completamente outro.
Depois da introdução mostrando
manifestantes nas ruas, que termina com imagem do estádio do Maracanã lotado na
Copa (alusão ao período 2013-2014 das grandes manifestações de rua), entra a
locução “um esquema que começou em 2009” (recorte arbitrário da história da
corrupção brasileira – tudo parece ter começado exclusivamente no período
lulo-petista) para, em seguida entrar o gari que varre santinhos eleitorais na
rua.
A sequência é um primor subliminar de
Gestalt, cores e movimento. Temos o som
de cuíca ao se falar em “esquema de malandragem” – o estereótipo carnavalesco
de “jeitinho brasileiro” associado preconceituosamente a uma suposta índole
brasileira. Mas, contraditoriamente, tudo só começou em 2009...
Nos “santinhos” varridos em plano fechado
vamos a previsível cor vermelha e uma estrela estilizada na mesma cor sob a
sigla PCE de um partido genérico. Pode parecer paranoia desse humilde
blogueiro, mas numa estratégia de engenharia de percepção, vermelho, estrela e
“PC” (“Partido Comunista”) são alusões sugestivas e contaminantes em um
comercial de poucos segundos e com muito movimento e deslocamento de planos de
câmera.
Mais além: ao lado desse “santinho” há um
de outro partido. Nele vê-se uma mulher sorridente. Não se identifica as
iniciais do partido, mas um número bem destacado em amarelo: “73”. Mas a gestalt
torna-se ambígua com o movimento da vassoura que varre o lixo eleitoral – em
movimento a gestalt confunde-se com “13”, número do PT - veja fotos acima.
(c) Acelera!... o Chevrolet ou Doria Jr.?
Mas a alusão mais explícita vem
imediatamente depois: “... e que acelera na direção certa...”. Depois do
vermelho, da estrela e do 13 sendo varridos, temos uma inacreditável alusão ao
slogan de João Dória Jr. (PSDB-SP) na eleição à Prefeitura de São Paulo: a
exortação “Acelera São Paulo!”.
Esse slogan
foi ainda inspirado em outro usado em 2011 num projeto da Secretaria
Estadual de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do governo Alckmin (PSDB-SP)
– “Acelera SP”.
Obviamente o leitor deve estar pensando:
“que blogueiro paranoico! (ou "petralha"?) Você não é muito diferente do espécime usado pela
revista IstoÉ! O comercial pede
apenas para que o consumidor acelere o novo Chevrolet Cruze...”
Esse pensamento somente incorreria numa
ingenuidade semiótica. Ou, pior: em analfabetismo visual. Claro que tomado da
forma literal e isolada, a exortação “Acelera!” é unicamente voltada ao
consumidor. Mas quando “acelera!” vem acompanhado de toda uma digressão
político-ideológico-partidária, o verbo é imediatamente contaminado e, dessa vez, voltado para o cidadão. Como toda
bomba semiótica, apenas reforça subliminarmente
pautas, slogans e clichês disseminados liminarmente
pela grande mídia.
Por isso, quando um comercial pretende se
posicionar sobre ética e política para vender um produto fica a questão: a
mensagem publicitária está dirigindo-se para o consumidor ou para o cidadão?
Certamente para a criação publicitária, essa questão não se coloca. Afinal,
para o universo publicitário no qual acelerar um carro é a mesma coisa que
acelerar um país para o futuro, consumo e cidadania são a mesma coisa. O que
torna-se semioticamente perigoso e volátil: as palavras ficam perdidas em um
reino metonímico no qual slogans de marcas de uísque e de carros facilmente
viram slogans “apartidários” para gente supostamente politizada.
Postagens Relacionadas |