sábado, maio 09, 2015
"Chappie", a consciência e a seringa hipodérmica
sábado, maio 09, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois
do favelão e lixo nos quais o futuro se transformou em “Distrito 9” e “Elysium”,
dessa vez com o filme “Chappie” (2015) Neil Blomkamp visita a pedra filosofal do
gênero ficção científica: a Inteligência Artificial. O subtexto político dos
filmes anteriores continua (África do Sul, Globalização e apartheid), mas dessa
vez parece que Blomkamp cedeu ao “product placement” (inserção subliminar de
produtos e marcas) e à agenda que orienta as produções do gênero pelos grandes
estúdios: o tecnognosticismo - a ambição pós-humana de nos livrarmos da carne e
do orgânico através de uma suposta transcendência espiritual possibilitada pelo
escaneamento da consciência e a sua conversão em bytes. Ao contrário do filme
“AI” (2001), também uma alusão à fábula de Pinóquio (uma máquina que quer se
transformar em ser humano), aqui Chappie tenta emular sentimentos humanos, mas
dessa vez através de uma consciência que se assemelha à metáfora da “agulha hipodérmica”.
Se em “A.I.” a máquina queria acreditar naquilo que não podia ser visto ou sentido,
em Chappie a máquina não tem sonhos – ela quer apenas imitar - filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho.
Chappie,
do diretor Neil Blomkamp (Distrito 9
e Elysium), é um filme dentro de um
subgênero do sci fi que os pesquisadores chamam de “ficção científica do Sul”:
filmes em estilo realista monckmentary
(feitos em estilo documentário mas em tom paródico) com atores e empresas de
países considerados periféricos e com temas ligados às mazelas da globalização
sócio econômica – privatização, imigrantes ilegais, favelização, exclusão,
máfias internacionais etc.
O tom mais marcante desse subgênero é mostrar como
a alta tecnologia (robótica, nanotecnologia etc.) convive de forma conflitiva
com favelas, deterioração urbana, lixo, precarização do trabalho e sucateamento
do Estado. O que torna os filmes desse subgênero potencialmente críticos em
relação ao atual status quo da
Globalização.
domingo, maio 03, 2015
Dez evidências de que o politicamente incorreto dos anos 80 e 90 moldou o século XXI
domingo, maio 03, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nos anos 80 e 90 parecia que tudo era permitido: de apresentadoras de programas infantis da TV em trajes sumários a matinês com centenas de meninas rebolando tentando imitar os passos da banda “É o Tchan”. Tudo isso interrompido por intervalos publicitários onde marcas de chocolate eram associadas a meninos vencedores que conquistavam muitas namoradas. Essas décadas “politicamente incorretas” marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y, cujos membros são os líderes de opinião na atualidade. Qual a parcela de contribuição dada por essa cultura supostamente permissiva para a atual visão de mundo dessa geração? Foram décadas que, vistas pelo olhar politicamente correto atual, brindaram-nos com produtos culturais que sugeriam erotização precoce, pedofilia e exploração sexual em plena mídia de massas. A partir de uma lista de dez evidências de uma época onde “tudo era permitido”, vamos tentar encontrar influências da infância politicamente incorreta na mentalidade atual da Geração Y.
Apresentadoras de programas infantis em trajes
sumários apresentando bandas de hits com refrões de gosto duvidoso; nos
intervalos publicitários, comerciais mostrando crianças ostentando
orgulhosamente produtos e ridicularizando o telespectador-mirim que ainda não
os compraram; anúncios publicitários que
comparavam uma boa apólice de seguro com um uísque de qualidade que lhe dá um
ótimo dia seguinte; matinês em casas de shows onde meninas levadas pelos pais
rebolavam sensualmente ao som da banda É o Tchan; comerciais infantis
associando um chocolate com as conquistas amorosas em série em um acampamento
cheio de meninas, etc.
Estamos falando das décadas de 80 e 90 que, para o
nosso olhar atual globalizado e sensível a questões éticas e morais, foram
épocas decididamente politicamente incorretas. São décadas que marcaram a
infância e adolescência da chamada Geração Y – conhecida também como “geração
do milênio” ou “geração da Internet”, nascidos após 1980 e, segundo outros, em
meados dos anos 1970.
sexta-feira, maio 01, 2015
"Tropa de Elite" e "Guerra ao Terror": o São Jorge do BOPE e um Dragão que nunca existiu, por Claudio Siqueira
sexta-feira, maio 01, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O
que há em comum entre os EUA, com seu exército que massacra o Oriente Médio sob
o pretexto de “Guerra ao Terror” e o BOPE ocupando as favelas cariocas? Além de
serem endossados pela mídia em reportagens tendenciosas e filmes como “Tropa de
Elite” e “Guerra ao Terror”, ao mesmo tempo está presente, nas formas mais sutis, o arquétipo de São Jorge e o Dragão.
Desde o “Livro dos Mortos” egípcio, passando pela propaganda do império Romano
até chegar na indústria do entretenimento atual dos filmes e HQs (Superman,
Ultraman, Batman etc.), todos têm no ícone do “São Jorge, O Santo Guerreiro” a
reedição por séculos de um poderoso arquétipo. Todos caçando monstros que só
existem em sonhos.
* Claudio Siqueira é Estudante de Jornalismo, escritor, poeta, pesquisador de Etimologia, Astrologia e Religião Comparada. Considera os personagens de quadrinhos, games e cartoons como os panteões atuais; ou ao menos arquétipos repaginados.
* Claudio Siqueira é Estudante de Jornalismo, escritor, poeta, pesquisador de Etimologia, Astrologia e Religião Comparada. Considera os personagens de quadrinhos, games e cartoons como os panteões atuais; ou ao menos arquétipos repaginados.
Em Guerra ao Terror, filme
vencedor de seis prêmios, Kathryn Bigelow fez o caminho inverso ao de James
Cameron com seu Avatar, que mostra a
vitória do oprimido; da favela, do Oriente Médio, do povo nativo contra o
invasor. Não por acaso, ganhou apenas três.
Mas nada se compara ao filme Tropa
de Elite. Por mais irônico que pareça, foi um sucesso por parte dos
guerrilheiros urbanos citados no início deste ensaio. A continuação, Tropa de Elite 2, foi a maior bilheteria
da história do cinema nacional, tendo sido o único a superar a marca de dez
milhões de espectadores desde 1976, feito atingido por Dona Flor e Seus Dois Maridos.
sábado, abril 25, 2015
Retrospectiva 50 anos tenta exorcizar fantasmas da TV Globo através do "tautismo"
sábado, abril 25, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Competentes jornalistas como Caco Barcelos e Ernesto Paglia
colocados frente a frente numa mistura de “Roda Viva” da TV Cultura com o “Galeria
dos Famosos” do Domingão do Faustão. E todos confrontados com suas imagens do
passado (mais novos, mais magros e com mais cabelos) na expectativa de que
depois a câmera em close arranque algum tipo de emoção dos experientes
profissionais. A retrospectiva “Jornal Nacional – 50 Anos de Jornalismo”,
projeto idealizado pelo apresentador William Bonner (ansioso e sempre meneando
a cabeça na tentativa de exorcizar os fantasmas da história da TV Globo),
mostra de forma didática em seus cinco episódios o que foi o início e o que
será o fim da hegemonia da emissora: o modelo melodramático de jornalismo que
ajudou a encobrir informações no auge da ditadura e o tautismo (tautologia +
autismo) atual como manobra desesperada para sobreviver aos novos tempos de
queda de audiência.
Quando
fazia a faculdade de jornalismo lá pelo início da década de 1980, minha geração
via na TV Globo uma referência negativa para qualquer estudante que iniciava a
carreira. Brincávamos com o tique melodramático dos repórteres que buscavam
muito mais os sentimentos do entrevistado do que depoimentos objetivos da realidade.
“O que você está sentindo?...”, era a pergunta clichê feita para a vítima de
uma enchente no Sul do País naquele momento, com água até a cintura, dirigida
por um repórter da Globo em uma canoa, protegido por uma capa de chuva e o
rosto consternado.
terça-feira, abril 21, 2015
O Top 10 do bestiário neoconservador para o século XXI
terça-feira, abril 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Explosão
populacional, antropologia criminal do século XIX, o hype dos assexuados,
fantasmas vermelhos soviéticos e a fantástica revelação de que a Terra é plana
e que há uma conspiração para esconder de todos essa verdade extraordinária.
Prepare-se! O futuro poderá ser construído a partir de ideias que supostamente
teriam sido superadas pelo progresso científico, processo civilizatório ou
simplesmente pelas transformações políticas e sociais das últimas décadas.
Ideias conservadoras que no passado foram criadas para deter mudanças ou revoluções, hoje são resgatadas pela mentalidade neoconservadora sob uma
nova roupagem high tech, nova nomenclatura e o charme das teorias
conspiratórias. O “Cinegnose” fez uma lista dos 10 principais renascimentos de
ideias antigas e até sinistras que parecem encontrar o fértil terreno no
radicalismo e fundamentalismo atuais.
sábado, abril 18, 2015
"Lost River": o estranho filme incompreendido pela crítica
sábado, abril 18, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vaiado no
Festival de Cannes e trucidado pela crítica, o filme de estreia na direção do
ator Ryan Gosling, “Lost River” (2014), teve um destino injusto. Filmado em
Detroit, Gosling transformou-a numa cidade gótica que lembra Louisiana pós
furacão Katrina – crise econômica, ruínas e um mistério que envolve uma parte
submersa pela construção de uma represa na fictícia cidade de Lost River. Por
trás das camadas de estilizações da fotografia, personagens e cenografias (que
fizeram a crítica chamar o filme de “um David Lynch de segunda mão”), estão
alusões à crise econômica dos EUA pós explosão da bolha especulativa de 2008
combinados com misticismo gnóstico: qual o mistério que torna os protagonistas
prisioneiros daquela cidade? O filme tem estreia prevista nos cinemas
brasileiros em julho desse ano.
Recentemente
poucos filmes foram tão destruídos pela crítica como Lost River, produção que marca a estreia na direção do ator Ryan
Gosling - A Passagem (2007) e Drive
(2011). Quando estreou no Festival de Cannes em 2014 foi muito mal recebido
pelo público: nos créditos finais a plateia respondeu com assovios e vaias como
uma torcida irritada em um estádio de futebol. Depois disso Gosling e seu filme
desapareceram e nada foi falado deles por dez meses.
Mas
agora Lost River reaparece com nova
edição (foram retirados 10 minutos da edição original) para ser exibido em
alguns cinemas selecionados em Nova York e Los Angeles, além de canais de TV
pay-per-view e arquivos torrent na Internet – no Brasil é esperado nos cinemas
em julho.
sexta-feira, abril 17, 2015
"Whiplash" fala de qualquer coisa... menos de música
sexta-feira, abril 17, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Corremos
diariamente contra o tempo para atender aos valores da eficiência, desempenho e
produtividade que regem a sociedade atual. Ao contrário, na música o tempo é
uma ferramenta de expressão artística e não um inimigo. E também um meio para a
improvisação e surpresa. Mas no filme "Whiplash" o tempo não é musical: é
disciplina e performance – um baterista de Jazz iniciante tem que tocar cada
vez mais rápido até sangue e suor caírem sobre o set do instrumento. Em um
conservatório de Nova York, alunos de Jazz vivem sob o fascínio dos grandes
virtuoses do passado sob a regência de um professor ditatorial e manipulador.
Para eles, a música é disciplina e os mestres do passado se tornaram virtuoses do Jazz porque
foram disciplinados através aprendizado pela dor e humilhação. Em "Whiplash", a
música se rende ao “no pain, no gain” – “sem dor, sem recompensa”, ao pé da letra – princípio
opressivo da meritocracia atual.
Na
música, e principalmente no Jazz, a expressão artística manifesta-se através de
quatro recursos: Tempo, Sensação,
Dinâmica e Prática. O Tempo é um
recurso, é o ritmo através do qual nos entregamos à música; a Sensação é como o Tempo nos envolve – a
sensação sinestésica da batida transformando o corpo do músico e o instrumento
em uma coisa só; a Dinâmica são as
forças que produzem o movimento determinando o quanto tal alto ou baixo tocamos
ou cantamos; e a Prática tem a ver
com disciplina e tenacidade.
A Prática refere-se a como o músico vai passar incontáveis
horas aperfeiçoando sua arte para comunica-se sem esforço com aqueles ao redor,
plateia e outros músicos. Assim como na linguagem oral e fonética, o músico
passa muito tempo desenvolvendo seu vocabulário para ter capacidade de
expressar sentimentos e emoções em um nível mais profundo.
sábado, abril 11, 2015
O Homem-Aranha e a auto derrota do PT
sábado, abril 11, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma das suas
intermináveis lutas na franquia Homem-Aranha, o super-herói, cansado e perplexo
depois de mais uma batalha contra vilões bizarros, desabafa: “de onde vem toda
essa gente?”. Diante das manifestações Anti-Dilma as esquerdas parecem tentar
responder à mesma pergunta perplexa do Homem-Aranha:de onde vêm os manifestantes? Eleitores do Aécio?
Classe média branca? Conspiração de magnatas do petróleo dos EUA de olho no
pré-sal? Há um “elemento de auto derrota” histórico nas esquerdas, como afirmava
o filósofo Herbert Marcuse – o pragmatismo e o economicismo que ignoram a base
imaginária e psíquica do funcionamento das ideologias. Enquanto isso, a Direita
sabe “de onde vem toda essa gente”: ouve a sociedade profunda por meio de
pesquisas etnográficas que perscrutam os novos perfis psicográficos chocados
pelo neodesenvolvimentismo do PT.
Depois
de enfrentar o Homem-Areia que tentava roubar o dinheiro de um carro-forte, o
Homem-Aranha dispara sua teia e salta para um topo de um prédio. Exausto, tira
sua máscara e as botas cheias de areia depois de ter sido obrigado a se
engalfinhar com o vilão. E então, o herói desabafa: “de onde vem toda essa
gente?...”.
Essa
é uma sequência do filme Homem-Aranha 3,
mas o estado de espírito do herói ao mesmo tempo cansado e perplexo guarda suas
analogias com as reações das esquerdas ao ver a escalada neoconservadora que
culminou com os protestos anti-Dilma do dia 15 de março.
sexta-feira, abril 10, 2015
Em Observação: "Antes de Dormir" (2014) - o sono gnóstico do esquecimento
sexta-feira, abril 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinema,
percepção e memória têm uma longa parceria temática: se a percepção humana
funciona como um mecanismo cinematográfico, como dizia o filósofo Henri
Bergson, compreende-se o fascínio pelo tema da amnésia no cinema. De
Hitchcook a “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004, “Antes
de Dormir” (2014) é mais um filme dessa longa tradição. Lembra o clássico “Amnésia” (2000) de Nolan – uma mulher não
consegue manter as memórias por mais de um dia e diariamente acorda sem saber
onde está e também sem saber quem é o
homem que dorme ao seu lado. Perda das memórias levam sempre os protagonistas à
condição paranoica. A paranoia é um estado alterado de consciência que pode
levar tanto à autodestruição quanto à libertação das aparências que encobrem a
realidade. A paranoia pode abrir duas portas: a narcísica ou a gnóstica. E é isso que o “Cinegnose”
vai conferir no filme.
sábado, abril 04, 2015
Viajantes, Detetives e Estrangeiros vagam por Hollywood em "Mapas Para as Estrelas"
sábado, abril 04, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Hollywood tem
uma tradição de filmes que mostra a cidade dos sonhos como um inferno de
ganância, narcisismo e perversões. A crítica especializada tem considerado
“Mapas para as Estrelas” de David Cronenberg como mais um filme com esse viés
moralista sobre a indústria do cinema. Porém, ao lado do roteirista Bruce
Wagner, Cronenberg foi muito além disso: conseguiu criar uma pequena galeria de
personagens que consegue sintetizar os principais arquétipos que dão vida aos
nossos sonhos: Viajantes, Detetives e Estrangeiros. E também a fragilidade
emocional por trás de profissionais bem pagos para produzir o nosso
entretenimento: a busca desesperada por amor, adoração e aceitação
incondicional. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
Cronenberg
sempre foi fascinado pelas metáforas da invasão do corpo e a fragilidade da
carne diante da tecnologia em filmes como Videodrome,
Scanners, Crash ou eXistenZ. Seus filmes até podem sugerir
cenas de horror, mas na verdade o diretor transita entre a comédia, o humor
negro e o drama. Cronenberg está menos interessado em sangue, e muito mais na
natureza monstruosa das nossas obsessões e desejos, na dificuldade de
escaparmos de nós mesmos e como a sociedade cruelmente explora esse ponto fraco
humano.
Guerra
psíquica (Scanners), o domínio mental
da TV (Videodrome) e games digitais
mortais (eXistenZ) são algumas
amostras dessa temática recorrente de como a sociedade é capaz de criar
sistemas que envolvem tanto a carne como a alma. Mapas para as Estrelas é mais um filme desse veio crítico de
Cronenberg. E dessa vez é o alvo é Hollywood, tal como descrito pelo roteiro de
Bruce Wagner: um inferno de ganância, narcisismo e perversidade sexual.
quarta-feira, abril 01, 2015
Ação e Reação na crise da telenovela "Babilônia"
quarta-feira, abril 01, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que há em
comum entre a física newtoniana e os estudos sobre psicopatologia do
psicanalista Wilhelm Reich? Tudo, pelo menos no caso da atual crise de
audiência da novela da TV Globo “Babilônia”. A rejeição de telespectadores e
grupos evangélicos pregando o boicote à telenovela nas redes sociais (tudo
motivado pelo beijo de um casal de idosas lésbicas) tem uma relação direta com
a pesada atmosfera política atual alimentada diariamente pela TV Globo através
do telejornalismo e teledramaturgia. Lei newtoniana de ação e reação: clima de intolerância e radicalismo político converte-se em
conservadorismo moral, sexual e de caráter que atinge em cheio o principal
produto da grade da TV Globo – a novela do horário nobre. Além disso, a crise
de “Babilônia” guarda paralelos com outra crise global: a da novela “O Dono do
Mundo” de 1991, também de Gilberto Braga, em um contexto pré-impeachment de
Fenando Collor de Mello.
Toda ação resulta numa reação oposta e de igual intensidade. Não há como deixar de lembrar desse princípio clássico da física newtoniana na atual crise que envolve a novela do horário nobre da TV Globo chamada Babilônia. Depois dos 46 pontos que a novela anterior Império marcou na sua última semana, Babilônia despencou para 23 pontos. Portanto, abaixo da novela das 19h e do reality Big Brother Brasil. Isso, no horário mais caro da TV brasileira.
A novela de Gilberto Braga surge nas telas
num momento onde se acirra a contradição vivida pela TV Globo: de um lado, nos
últimos anos vem assumindo o papel de partido de ferrenha oposição política ao
Governo Federal; e do outro, a necessidade comercial de reerguer a audiência em
queda com a crescente concorrência da Internet e os novos dispositivos móveis
de comunicação.
domingo, março 29, 2015
Cinco filmes amaldiçoados pelo sincromisticismo
domingo, março 29, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O “Clube do 27” (formado por Amy Winehouse, Heath Ledger, Kurt Cobain etc.) e as “maldições” em filmes como “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “O Exorcista” e “Superman”. Estranhas mortes prematuras de atores e celebridades e as lendas sobre filmes “amaldiçoados” seriam a camada narrativa mais superficial do lucrativo negócio da indústria do entretenimento que explora o inconsciente coletivo (arquétipos e formas-pensamento) e que muitas vezes o resultado é imprevisível, com mortes acidentais ou eventos que se transformam em verdadeiros rituais públicos de sacrifícios. Para pesquisadores sincromísticos, Hollywood atualmente é um centro de recrutamento e treinamento de atores (“médiuns” com personalidades divididas) para incorporação de formas-pensamento que ganham vida em escala global. Uma lista de cinco filmes onde a análise sincromística tenta revelar o que está por trás de narrativas feitas para o entretenimento.
domingo, março 22, 2015
Feitiço do Tempo paralisa ciclovias de São Paulo
domingo, março 22, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Não existe terceiro turno. Estamos todos presos no dia 26 de
outubro de 2014, em uma cilada do tempo que nos condena a repetir o mesmo dia,
tal qual no filme “O Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, 1993). Os resultados da
eleição presidencial nunca são totalizados e retornamos sempre à disputa de uma
eleição sem fim. Com isso abriu-se um vórtice tempo/espaço que está sugando o
futuro, nos condenando a viver um eterno presente. O exemplo recente da
paralisação judicial da construção das ciclovias em São Paulo é mais um sintoma
dessa anomalia temporal onde de cosmopolita a cidade de São Paulo tornou-se um
enclave neoconservador. Através de um texto adjetivado e vago, o pedido de
paralização das ciclovias feito pelo Ministério Público é uma peça exemplar da
atual mentalidade neoconservadora que se fundamenta na percepção de terra
arrasada e na aposta do quanto-pior-melhor.
Esse
humilde blogueiro que vos escreve é um usuário diário de bicicleta como meio de
transporte para o trabalho pelas ciclovias/faixas da cidade de São Paulo. Desde
o início das suas atividades em 2009 este blog "Cinegnose" tem se posicionado a favor da
bike como esporte, lazer e transporte por razões políticas (clique
aqui), gnóstico-filosóficas (clique
aqui) ou cinematográficas (clique
aqui) – sem falar no fator pragmático de que com bicicleta numa cidade
como São Paulo sempre temos a certeza que chegaremos no horário a um
compromisso.
Após décadas convivendo com a impaciência de motoristas e com um
trânsito cada vez mais ríspido e intolerante, sintomas de uma mentalidade
paulistana cada vez mais envolta em uma rinocouraça,
foi com otimismo que testemunhamos o crescimento da malha de ciclofaixas/vias
em São Paulo e a promessa da interligação de uma rede de 400 km.
sábado, março 21, 2015
As estranhas forças por trás do filme "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus"
sábado, março 21, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Existem forças em ação nesse filme. Referências sobre a morte estavam no roteiro original e isso para mim é que é assustador”, disse o diretor Terry Gilliam sobre o filme mais estranho da sua carreira, “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” (2009). Foi marcado para sempre pela morte de Heath Ledger no meio da produção do filme, após atuar vivenciando dois fortes arquétipos ocultistas: o “Joker” no filme “Batman” e o “Enforcado” no filme de Gilliam. Ironicamente a morte de Ledger confirmou o forte niilismo gnóstico presente em “Dr. Parnassus” e mantido na sua última produção “O Teorema Zero” (2014): um ex-monge budista faz sucessivas apostas com o Diabo desde tempos imemoriais – o Bem e o Mal vistos como entidades reversíveis, onde um precisa do outro para manterem-se relevantes. E os personagens (e todos nós) seriam meras peças inocentes e prisioneiras de um jogo que se confunde com a própria eternidade.
A
tradicional câmera inquieta com pontos de vista delirantes com lentes grande
angulares que deformam a perspectiva, criando atmosferas grotescas, é a marca
registrada do ex-integrante do grupo Monty Python Terry Gilliam. Tudo isso para
realçar um tema recorrente do diretor: heróis que através da força da
imaginação e da fantasia conseguem enfrentar e vencer realidades opressivas.
Mais uma vez, no filme O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, estão presentes esses
elementos narrativos. Mas há algo mais que tornou esse filme de Gilliam
estranho e misterioso. O filme começa com um homem vestido como Mercúrio (ou
Hermes dos gregos ou Toth dos egípcios) anunciando a entrada do Dr. Parnassus,
um monge segurando uma flor de lótus, símbolo do misticismo oriental.
domingo, março 15, 2015
Série "House of Cards" surfa na onda do neoconservadorismo
domingo, março 15, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Netflix
possui atualmente 17 lobistas em ação nos EUA representando seus interesses no
Congresso e Governo Federal. Ao mesmo tempo produz uma série chamada "House of Cards" que descreve as
relações anti-éticas entre lobistas, políticos do Congresso e imprensa. Narra a trajetória do líder dos Democratas no Congresso, um príncipe
maquiavélico que articula ardil, traição e mentiras para chegar ao suposto
centro do Poder, o Salão Oval da presidência. Qualquer análise sobre essa série
que tornou-se o hit da Netflix deve partir dessa aparente contradição – na
verdade a série reforça velhos mitos da Política: o Mito do “Mr.
President”, o Mito do “Príncipe Maquiavélico” e o mito do “L’État, c’est moi”. Assim a Netflix esconde a verdadeira natureza do Poder do qual usufrui, e ao mesmo tempo
mercadologicamente surfa na atual onda neoconservadora dos EUA e do Brasil: lá,
a alienação em relação à Política num país onde o voto não é obrigatório; e
aqui, uma trilha ficcional para aqueles que estão seduzidos pela aventura do
Impeachment.
Primeira
série originalmente produzida para a Web pela plataforma de streaming Netflix, House of Cards mostra através do seu
protagonista Frank Underwood (Kevin Spacey) os bastidores do Congresso dos EUA
e suas relações promíscuas entre lobistas, imprensa e congressistas.
Frank
é uma espécie de Maquiavel com o charme sulista de um político da Carolina do
Sul e pitadas da frieza de um assassino, responsável em exercer o papel de Chief Whip do partido (o “chefe do
chicote”, o líder que faz tudo para que políticos democratas votem de acordo
com os interesses do partido) – mas ele quer mais: pouco importa o dinheiro que
jorra dos lobistas corporativos que alimentam o jogo político de Washington. Frank quer o verdadeiro Poder - ficar cada vez
mais próximo da presidência dos EUA, até conquista-la por meio de trapaça,
ardil e traições.
terça-feira, março 10, 2015
Cuidado! Os rinocerontes já estão entre nós.
terça-feira, março 10, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Filmes
publicitários são mais do que peças promocionais de produtos e serviços –
refletem a sensibilidade de cada época. E o novo comercial do TNT Energy Drink
não deixa por menos: em efeito digital 3D um rinoceronte com fone nos ouvidos
passeia entre as pessoas nas calçadas para depois entrar numa academia de
lutas, parar diante de um espelho e vermos o reflexo de José Aldo, campeão do
UFC. A ironia é que se no Teatro do Absurdo de Eugène Ionesco (autor da famosa peça
“O Rinoceronte”) a transformação de seres humanos naquele animal era um
impactante simbolismo que denunciava o conformismo, frieza e agressividade do
homem moderno, agora torna-se um modelo positivo de caráter: o esporte
(principalmente os midiáticos) como modelo de educação pela dureza, dor e
severidade, chave para o sucesso. Dessa rino-couraça psíquica resultante emerge um novo tipo-ideal urbano da atual onda de
neoconservadorismo: os Rinocerontes.
Durante
o século XX, todas as vanguardas artísticas, sejam elas no cinema, literatura,
teatro ou pintura, tentaram desafiar o princípio de realidade com simbolismos
obscuros, imagens impactantes e narrativas absurdas. Homens que se transformam
em baratas em Kafka, relógios que se derretem em telas de Dali, situações
teatrais absurdas como pessoas que esperam uma pessoa chamada Godot por horas e
que nunca chega na peça de Becket ou chocantes imagens surrealistas como a
navalha que vaza um olho em um filme de Buñuel.
Kafka,
Dali, Becket e Buñuel tentavam se insurgir contra o mal-estar e desespero do
homem contemporâneo na incipiente sociedade de massas que produz alienação,
conformismo e fascínio pelo irracionalismo e fanatismo coletivo. Por isso,
procuraram a anti-literatura, o anti-teatro, o anti-cinema, o anti-tudo!
sábado, março 07, 2015
Em Observação: "The Man In The High Castle" (2015) - os nazistas ganharam a guerra?
sábado, março 07, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em uma realidade alternativa, Hitler e o imperador Hiroíto ganharam a II Guerra Mundial, invadiram os EUA e dividiram o país em dois estados totalitários controlados pela Alemanha e Japão. Mas grupos de resistência possuem um filme documentário de origem misteriosa que mostra a História tal qual conhecemos: a vitória dos Aliados, o Dia D e a derrota do Japão na guerra do Pacífico. Qual será a verdadeira realidade? A dos EUA divididos? A do filme documentário? E se as imagens históricas da II Guerra Mundial que conhecemos forem estratégias de propaganda que, na verdade, ocultam que todos nós vivemos em uma outra realidade alternativa? Esse é o jogo gnóstico proposto pelo piloto da série televisiva "The Man In The High Castle", baseada no premiado livro homônimo de 1962 do escritor de ficção científica Philip K. Dick. Assista nesse post o piloto da série.
terça-feira, março 03, 2015
"Novos tradicionalistas" são mão de obra da revista "Veja"
terça-feira, março 03, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um repórter da
revista “Veja Brasília” invade um condomínio em São Paulo disposto a fabricar
provas para uma pauta inventada. Pego com a boca na botija, é levado pela
polícia e a família vítima da “reportagem investigativa” faz um BO na
delegacia. Além do episódio ser mais uma contribuição à pesada atmosfera
política atual (a pauta era sobre uma suposta festa infantil de 200 mil reais
pagos em dinheiro vivo pelo ex-presidente Lula), há algo mais: curiosamente o
repórter é um dublê de jornalista e DJ de festas privadas no Lago Sul de
Brasília e clubes que fervem na noite daquela cidade. Está para ser feita uma
pesquisa etnográfica dos novos tipos-ideais do atual neoconservadorismo. Alguns
já podem ser detectados: “coxinhas”, “coxinhas 2.0” e “simples descolados”. E o
intrépido repórter da “Veja” pertence a um novo tipo-ideal: os “novos
tradicionalistas”.
Tudo
começou com uma nota da revista Veja
Brasília redigida por um repórter chamado Ulisses Campbell sobre festa em buffet
infantil na cidade, de um suposto sobrinho do ex-presidente Lula. O custo da
festa teria sido de 200 mil reais pagos em dinheiro pelo ex-presidente. Com os
desmentidos feitos pelo Instituto Lula e comprovada a mentira, o repórter foi
para São Paulo disposto a produzir provas que sustentassem sua bizarra pauta.
Usando
nomes falsos passou a assediar a família de “Frei Chico”, como é conhecido o irmão
de Lula, através de ligações telefônicas como representante do buffet de
Brasília ou como estudante da USP fazendo uma suposta pesquisa. Após ameaças de
que “publicaria o que quisesse”, invadiu o condomínio da família passando-se
por um entregador de livro para obter de uma babá informações sobre horários de
chegada dos moradores, além de obter RG e CPF dela.
sábado, fevereiro 28, 2015
Morsas e ostras mataram John Lennon?
sábado, fevereiro 28, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A música mais
enigmática dos Beatles aparece no maior fracasso comercial do grupo, o filme
“Magical Mystery Tour” de 1967, hoje reavaliado como obra de arte ao nível do
humor do grupo Monty Python ou do surrealismo de Buñuel. Inspirado no poema “A
Morsa e o Carpinteiro” de Lewis Carroll, a música “I’m The Walrus” composta por
John Lennon apresenta uma letra sombria, obscura e misteriosa com referências a
genocídios, drogas e jovens que seriam seduzidos por uma “Morsa” que estaria
levando-os para a destruição – no poema de Carroll aparecem “jovens ostras” . Será
que a música foi alguma espécie de acerto de contas de Lennon com a culpa e o
remorso de saber ter feito parte de uma gigantesca estratégia de engenharia
social por trás da cultura pop? Em declarações dadas em uma entrevista em 1980,
ele indica evidências, falando de “artesãos” que estiveram por trás dos Beatles
e a ligação entre CIA e a droga LSD. Alguns meses depois, Lennon seria
assassinado.
O
grande e misterioso fracasso dos Beatles: o filme Magical Mystery Tour de 1967. “Beatles Mystery Tour desconcerta os
espectadores”, estampava em uma manchete na primeira página do jornal Mirror da Inglaterra, dizendo que
milhares de espectadores protestaram quando foi exibido na TV pela BBC.
“Bobagem
sem sentido”, “lixo flagrante” e “ultrajante” foram as críticas mais leves
sobre um filme que não se importava com qualquer sentido narrativo: mostrava um
grupo de turistas em um ônibus que iniciava um “misterioso tour” pela Inglaterra
em um ônibus panorâmico, onde “coisas estranhas começam a acontecer”, ao
capricho de quatro magos performados pelos próprios Beatles que tudo observam,
manipulando os acontecimentos.
segunda-feira, fevereiro 23, 2015
Oscar para "Birdman" revela secreta coerência de Hollywood
segunda-feira, fevereiro 23, 2015
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O blog
“Cinegnose” acertou: o favoritismo de “Birdman” confirmou-se com o prêmio de
Melhor Filme no Oscar 2015. O prêmio era aguardado pela recorrência temática
dos filmes premiados pela Academia de Cinema nos últimos anos: metalinguagem,
auto-referência, glamourização da “guerra anti-terror”, conflitos
étnicos e liberdade, temas recorrentes desde a explosão da bolha imobiliária
dos EUA em 2008 e a crise da Zona do Euro. Hollywood mais uma vez demonstra que
é um braço armado do complexo bélico-militar norte-americano. E a indústria do
entretenimento sabe premiar os seus: o diretor mexicano Alejandro Iñárritu (e a
nacionalidade foi um fator ideológico importante) fez uma verdadeira homenagem à indústria
do entretenimento – mostrou uma Broadway que
não mais existe, reforçando a mitologia que ainda dá algum verniz “artístico” a
Hollywood: atores autopiedosos, divas narcisistas que se entregam ao “Método” e
críticos implacáveis que transformam artistas em “gênios incompreendidos”.
Conforme
previsto por esse blog, Birdman
confirmou o grande favoritismo para o Oscar de melhor filme, batendo outro
grande favorito: Boyhood – sobre a
análise do Cinegnose sobre Birdman clique
aqui.
Em
tempos bicudos de crise econômica global pós-explosão da bolha especulativa
imobiliária dos EUA em 2008, o “derretimento” da Zona do Euro e escalada da
propaganda anti-terror pela mídia internacional, Hollywood mais uma vez se
mostra porque é o braço armado da política externa norte-americana. E sua
grande arma é glamourização da própria natureza bélico-militar dos EUA e a
homenagem metalinguística da sua própria indústria do entretenimento.
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