sábado, novembro 26, 2022

Mídia preguiçosa não quer recuperar símbolos nacionais roubados pela extrema-direita



Nesse momento de Copa do Mundo no Catar, grande mídia e mercado publicitário estão fazendo a cobertura esportiva e veiculando comerciais na TV dentro do espírito “o verde-amarelo é de todos”. Supostamente tentando recuperar as cores e símbolos nacionais apropriados pela estratégia de comunicação “alt-right”. Que veste grupos que agora bloqueiam e fazem atentados em estradas. Mas será que tentam recuperar mesmo? Para eles, a torcida brasileira unida na Copa por si só resolveria tudo: uma simples transposição dos símbolos nacionais do extremismo político para o esporte, apenas com os sinais trocados. Porém, essa preguiçosa contraofensiva semiótica é insuficiente frente à sofisticada estratégia de dessimbolização da extrema-direita internacional. Como demonstrado na Finlândia quando o extremismo se apoderou do símbolo nacional do leão e da cruz. Ou será que grande mídia não quer mesmo é se livrar do ativo sociopolítico que representa o “Exército Psíquico de Reserva”. Que poderá ser útil no futuro?

quinta-feira, novembro 24, 2022

Natto, mapo tofu, macarrão lamen e autoconhecimento erótico no filme 'Sexual Drive'



O que iguarias da culinária japonesa como natto, mapo tofu e um macarrão lamen com gordura extra têm a ver com sexo? Tudo, principalmente numa sociedade de consumo que promove os alimentos como forma fetichista e regressiva de realização compulsiva e ilusória de desejos: comemos demais e fazemos sexo de menos. Porém, a comédia de humor negro “Sexual Drive” (2021), exibido na MUBI, vai no sentido contrário: transforma esses três produtos da cozinha japonesa em formas de autoconhecimento psíquico e erótico. São três contos centrados em cada uma dessas iguarias que se tornam objetos de excitação. Estórias sobre sexo, mas sem nunca o mostrar.

terça-feira, novembro 22, 2022

Filme 'Cadáver': luzes, câmera... e Inteligência Artificial!


Todos conhecem o papel da Inteligência Artificial (“machine learning”) de plataformas como Netflix que “aprende” com as escolhas e comportamento do usuário, customizando sua “experiência”. Mas hoje a IA faz mais do que isso: analisa e prevê as avaliações dos filmes, interferindo nos estágios iniciais da fase da produção criativa, ajudando decisivamente na produção de roteiros. Economizando tempo e dinheiro. Reversibilidade irônica: uma plataforma de comunicação que não mais comunica. Apenas sinaliza e informa, retroalimentando o repertório do usuário. Um exemplo é o filme de terror norueguês “Cadáver” (Kadaver, 2020): num mundo pós-apocalíptico, uma peça de teatro num hotel com jantar incluído atrai uma multidão faminta. Que descobrirá da pior maneira possível que o preço do ingresso é uma cilada mortal. Um pastiche de “tropos” do gênero que torna tudo previsível e inverossímil – feedback tautista. Porém, para usuários que conheceram o cinema a partir do streaming, essa incomunicabilidade talvez não seja perceptível.

sábado, novembro 19, 2022

Live #82: Siouxsie and The Banshees; Universo é uma simulação?; Baudrillard e Marx explicam freak out do 'mercado'


O Mercado mostra suas garras. Mas a Live Cinegnose 360 segue em frente com a edição #82, nesse domingo (20/11), às 18h, no YouTube. Nos vinis do humilde blogueiro foi encontrada a banda Siouxsie and The Banshees: a releitura dark do psicodelismo. Também vamos discutir a série “The Peripheral” (a colonização ciberpunk do Tempo pelo Capitalismo) e o filme “Dois Minutos Além do Infinito” (a onda japonesa dos filmes “nagamawashi”). Cada vez mais Física e Cosmologia estão levando a sério a hipótese do Universo como uma gigantesca simulação computacional. E na crítica midiática: Grau Zero da Política e Grande Reset do Capitalismo explicam o nervosismo do mercado com Lula; jornalismo metonímico na COP-27; Andrew Korybko: EUA vão usar cavalo de troia para implodir governo Lula; Janja para Evita Perón?; Grande Mídia em pânico com tamanho do Gabinete de Transição; Apertem os cintos... Bolsonaro sumiu!; Para jornalismo corporativo, Lula faz “promessas”; é possível o resgate semiótico do verde-amarelo? É nesse domingo! 

sexta-feira, novembro 18, 2022

Grau Zero da Política e Reset do Capitalismo mostram as garras para Lula


Bolsa derrete! Dólar sobe! De onde vai sair o dinheiro da PEC da Transição?”. Grande mídia mostra as garras e repete um velho script, vinte anos depois da primeira posse de Lula. Afinal, por que todo “freak out” depois de Lula ter sido arrastado para o segundo turno para que sua vitória tivesse um alto custo semiótico (como acompanhamos nesse momento)? Não deu tudo certo? Depois de dois mandatos, ele não seria o presidente mais previsível dos últimos anos? A verdade está em outra cena, muito além da espuma midiática. “Teto de Gastos”, “Responsabilidade Fiscal” ou as pragas do Egito das bolsas derretendo, dólar e inflação subindo são apenas racionalizações de algum imperativo mais estrutural. Imperativo que envolve a sinergia de dois fatores: o “Grau Zero da Política” e o chamado “Grande Reset do Capitalismo”.

quinta-feira, novembro 17, 2022

Somos escravos do futuro em 'Dois Minutos Além do Infinito'

Filmado apenas com um Iphone em um único plano sequência, ambientado em um café real da cidade de Kyoto, o filme japonês “Dois Minutos Além do Infinito” (Dorosute no Hate de Bokura, 2020 – disponível na HBO Max) é uma das experiências cinematográficas mais inovadoras dos últimos anos. Kato, o proprietário do café, descobre que na tela do computador em seu apartamento no andar de cima está sendo transmitido, via Zoom, diretamente do café abaixo, sua versão dois minutos à frente no futuro. O filme explora um dos aspectos mais interessantes da viagem no tempo: os loops temporais e seus paradoxos. Principalmente, a dicotomia filosófica entre livre-arbítrio e necessidade. Afinal, seríamos escravos do futuro? Essa seria uma séria questão quando acrescentamos ao tema o tempo recursivo e a profecia autorrealizável.

quarta-feira, novembro 16, 2022

Depois do espaço, o capitalismo quer colonizar o tempo na série 'The Peripheral'


“Eu anexaria os planetas, se pudesse”, queixava-se o homem de negócios colonialista britânico Cecil Rhodes na década de 1930: o mundo já estava todo parcelado e colonizado. Portanto, onde o Capitalismo encontraria novos mundos para colonizar. A guerra sempre foi uma solução paliativa. Se os espaços de conquista acabaram, resta o Tempo. Se hoje a microinformática é a ferramenta para as negociações em tempo real do financismo global, a imaginação do escritor sci-fi William Gibson pensou na mecânica quântica como um novo salto: a colonização das realidades paralelas nas diversas linhas do tempo. A série Amazon Prime “The Peripheral” (2022-), baseada no romance de 2014 de William Gibson, traz para a ficção científica esse realismo capitalista. Uma jogadora de games em RV testa uma versão Beta de um novo jogo que na verdade transfere seus dados de consciência para um futuro alternativo na qual um Instituto de Pesquisas oferece uma solução político-econômica inédita: a colonização do Tempo.

sábado, novembro 12, 2022

Live Cinegnose 360: Os Mulheres Negras e vamos arriscar a vida desmontando uma bomba semiótica ao vivo!


Mesmo com mercados nervosos, Bolsa caindo e dólar subindo, nesse domingo (13/11) acontece a edição #81 da Live Cinegnose 360, às 18h, no YouTube. Depois da sessão dos comentários aleatórios, entraremos na sessão híbrida CDs/Vinil com “Os Mulheres Negras”: o underground pós Vanguarda Paulista e movimento Diretas Já. Também vamos discutir dois títulos da Netflix: “O Enfermeiro da Noite” (o Mal como efeito colateral de um sistema de saúde privatizado) e a minissérie “Inside Man” (a simbólica jornada de Ulisses com humor negro). Depois, esse humilde blogueiro vai colocar a vida em risco: ao vivo, vamos desmontar e fazer a engenharia reversa de um artefato bélico semiótico recolhido, com muito cuidado, de uma manifestação golpista e isolado no estúdio da Live Cinegnose 360. E na crítica midiática da semana, como o PMiG está colocando em modo de espera seu Exército Psíquico de Reserva para futuras guerras híbridas e Lula demarca território e acaba com a lua de mel com a grande mídia. Venha conspirar também na Live Cinegnose 360!  

sexta-feira, novembro 11, 2022

Paralelo ao Governo de Transição, PMiG deixa no modo de espera Exército Psíquico de Reserva


Todos sabem que não haverá golpe. Para o PMiG (Partido Militar Golpista) já é página virada e para a grande mídia foi a “festa da democracia”. Todos sabem... menos os fanáticos enrolados na bandeira nacional chorando e orando em voz alta diante de quartéis pelo país. Outros, tentam bloquear estradas, como fanáticos milenaristas à espera da salvação. Porém os “apitos de cachorro” dizem o contrário, elevando o moral da patuleia. Porque eles têm que ser mantidos em “stand by”: é o Exército Psíquico de Reserva. No passado, estava na Deep Web. Agora, dá as caras à luz do dia, com apoio logístico empresarial. Entrarão em “hibernação”, no modo de espera. Para serem novamente acionados por cripto-comandos em futuras guerras híbridas. Que parecem não estar muito distantes, depois do fim da lua de mel após o inflamado discurso de Lula no Governo de Transição.

quinta-feira, novembro 10, 2022

Minissérie 'Inside Man': ciência e religião na jornada simbólica de Ulisses


Um prisioneiro (um brilhante ex-professor de Criminologia) no corredor da morte numa prisão dos EUA e uma mulher algemada no porão da casa de um respeitável vigário em uma vila inglesa. Duas histórias distantes, mas que irão se entrelaçar das formas mais inesperadas, lembrando os ardis de Hannibal Lecter e a cadeia de equívocos catastróficos como no filme “Fargo”. Essa é a minissérie de suspense e humor negro da Netflix “Inside Man” (2022) que oferece interessantes metáforas: o representante da Ciência, com sua lógica dedutiva e precisa, prisioneiro; e um vigário (a Religião) livre, porém preso à compulsão de se tornar um mártir. Afinal, representa “a única religião em que Deus morre no final”.  Ciência e Religião: as duas encarnações da Razão na jornada da civilização ocidental. Jornada semelhante à de Ulisses, na “Odisseia” de Homero.

quarta-feira, novembro 09, 2022

Em 'O Enfermeiro da Noite' o Mal é o efeito colateral de um sistema de saúde privatizado


O filme “O Enfermeiro da Noite” (The Good Nurse, 2022) é mais um filme de uma recorrente abordagem no cinema do Mal como viral e exponencial. Não pela monstruosidade do Mal, mas como efeito colateral de um sistema intrinsecamente corrompido. No caso, o sistema hospitalar dos EUA, visto pelo olhar de um diretor que veio de um país (Dinamarca) com assistência médica púbica e a saúde universalizada: ao contrário, nos EUA a saúde tornou-se um negócio centrado em ter pacientes, não em ajudá-los. Contando com o silêncio de um sistema privado temeroso por ações judiciais, um enfermeiro serial killer deixa um rastro de dezenas de pacientes mortos por envenenamento em diversos hospitais nos quais trabalhou. Baseado no caso real do assassino serial considerado o mais mortal da história do país.

sábado, novembro 05, 2022

Cocteau Twins; o filme proibido de Jerry Lewis; Biden, Lula e o "Capitólio Rodoviário". É na Live de domingo


Depois do transe da eleição, nada melhor do que se acalmar e refletir na Live Cinegnose 360 #80, nesse domingo (06/11), às 18h, no YouTube. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro vamos discutir o dream pop da banda Cocteau Twins e o álbum “Treasure”: a sonoridade celta antes da cultura “glocal” da Globalização. Depois, vamos analisar dois filmes com o tema “Riso”: o terror “Sorria” (a positividade hipócrita é o Mal viral) e “The Day The Clown Cried”, o filme proibido de Jerry Lewis e jamais exibido. A bomba semiótica do “Capitólio Rodoviário”: a formação do “Exército Psíquico de Reserva” para golpes futuros. E na crítica mídiática: Lula ganhou porque Biden não quer mais golpes no seu quintal; Grande mídia dá indício de que lua de mel com a “festa da democracia” não vai durar muito; Alckmin para presidente?; Com a vitória de Lula, “colonistas” descobrem que existe teto fiscal; Depois da chantagem fiscal, a chantagem ambiental; Grande mídia não quer saber do “follow the money” do “Capitólio Rodoviário”. É nesse domingo... venha participar!

sexta-feira, novembro 04, 2022

Da positividade hipócrita ao riso maligno e viral no filme 'Sorria'


No terror “Sorria” (Smile, 2022) há duas linhas de diálogo que são chaves de compreensão do filme: ““Faça uma cara feliz. Você fica mais bonita quando sorri” e na cena clássica da protagonista diante do monstro: “por que você está fazendo isso comigo?” “Porque sua mente é tão convidativa!”, responde a entidade com um sorriso psicótico. Dessa maneira, “Sorria” incorpora as origens antropológica ambíguas do riso: de um lado como inversão e desestabilização diante da positividade hipócrita da sociedade; e do outro, as origens sardônicas do riso na violência e crueldade: o riso como fenômeno demoníaco. Mas numa sociedade mediada pela Internet e redes sociais, o riso maligno só pode ser infeccioso e viral, cuja força está no trauma, culpa e ressentimento.

quarta-feira, novembro 02, 2022

O "Capitólio rodoviário": Joe Biden não quer mais golpes no seu quintal


É irônico ver o senhor das guerras híbridas e cognitivas nos oito anos como vice de Obama, Joe Biden, cumprimentando Lula (alvo da “primavera” brasileira patrocinada por Washington) e o felicitando pelas eleições “livres e confiáveis”. E mais irônico ainda é ver o “Brasil Profundo” (abduzido pelas PsyOps da guerra híbrida) não conseguir mais sair do personagem e viver numa realidade paralela achando que o ministro Alexandre de Moraes foi preso e os militares farão uma “intervenção constitucional” em meio ao “Capitólio rodoviário”. Biden não quer mais golpes no seu quintal. Agora é a agenda neoliberal progressista. Que levou Lula ao segundo turno e a vitória sob condicionante e chantagens – a maior delas, a ameaça de “trancredização”. Enquanto isso, aparecem os primeiros indícios de que a lua de mel da grande mídia com a “festa da democracia” será curta.

sábado, outubro 29, 2022

Jorge Mautner, teoria das bombas semióticas, debate da Globo e apuração da eleição. Tudo na Live de domingo


É à espera de que acordemos de um pesadelo que começaremos a Live Cinegnose 360 #79, nesse domingo (30/10), às 18h, no YouTube. Na sessão dos vinis desse humilde blogueiro, vamos conversar sobre o pensador, compositor e cantor maldito Jorge Mautner: sempre presente, e sempre invisível. Depois, vamos discutir a série Netflix “Bem-Vindos à Vizinhança” (o pesadelo no sonho americano) e a comédia trash “UltraChrist!” (Jesus retorna como um super-herói gnóstico). Também vamos nos aprofundar nos meandros sociológicos e tecnológicos das bombas semióticas da extrema direita. E na crítica midiática, uma análise do último debate na Globo e comentários acompanhando a apuração dos votos. Venha também acordar do pesadelo aqui, na Live Cinegnose 360! 

Lula descobre as estratégias alt-right de desconstrução de debates. Será tarde?


Nervoso, numa noite particularmente beligerante, perdendo o controle e exigindo até um inédito direito de reposta do mediador William Bonner. Pisando em falso e quase se desequilibrando. Procurava sempre na palma da mão a colinha com duas palavras chaves fatais que teimava em esquecer: “décimo terceiro” e “férias”. Um candidato visivelmente incomodado, porque viu o oponente Lula utilizando as mesmas técnicas de desconstrução trumpista e pós-moderna que a alt-right sempre se primou: metalinguagem, comunicação indireta, técnica de dissociação e desautorização do interlocutor. Talvez, um reflexo do “efeito Janones”: apropriar-se do mesmo ímpeto desconstrutivista do adversário e lutar no mesmo campo semiótico que sempre a extrema direita atuava sem ninguém incomodar. Até agora. Resta saber se essa novidade tardia veio a tempo suficiente para evitar o pior.

sexta-feira, outubro 28, 2022

Na série 'Bem-vindos à Vizinhança' a obsessão e o pesadelo invadem o sonho americano


O deserto e os subúrbios de classe média fazem parte da mitologia norte-americana. Numa sociedade de origem puritana, são lugares que contrastam com vida urbana cosmopolita, sinônimo de caos e degradação moral. Mas mesmo nesses lugares, o Mal está à espreita, aproveitando-se dos pontos fracos morais das pessoas. Essa é a quintessência do gótico americano, representado pela minissérie Netflix “Bem-Vindos à Vizinhança” (The Watcher, 2022), sobre o sonho americano que se transforma em pesadelo: um casal novaiorquino compra uma linda casa em tons pasteis em subúrbio de classe média. Quando começam a receber cartas ameaçadoras de um anônimo que conhece todos os detalhes do cotidiano daquela família. Até a racionalidade ser sugada pela paranoia e obsessão.

terça-feira, outubro 25, 2022

Live Cinegnose 360 EXTRA nesta quarta: desmontando as bombas semióticas finais da eleição


Para o Cinegnose, bala de prata só para matar lobisomem... não existe em eleições. O que existe são bombas semióticas, desmontadas na engenharia reversa da Live Cinegnose 360, excepcionalmente na edição EXTRA, nessa quarta-feira (26/10), 18h, no YouTube. Uma Live extra para ficarmos mais atentos na guerra semiótica dessa última semana da eleição. Vamos aprofundar o conceito de bomba semiótica, mais poderosa que as granadas jogadas pelo Bob Jeff na Polícia Federal. Vamos analisar os últimos lances do xadrez semiótico.  


Canastrona False Flag 'Scarface' abre reta final da campanha eleitoral


Se no domingo anterior o ministro Alexandre de Moraes puxou o freio para equilibrar o debate na Band ao mandar excluir o vídeo “pintou o clima”, nesse domingo mais uma vez o ministro entra em cena determinado a prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) que recebeu os policiais federais com pompa e circunstância cinematográficas, ao estilo Tony Montana de “Scarface”. A icônica cena do “Padre” Kelmon ladeado pelo Bob Jeff vestido para a guerra e um agente que mais parecia ter saído de algum conflito do Oriente Médio, aponta para um evento dramaturgicamente coreografado. Com todos os indícios de uma operação “False Flag”: recorrência, sincronismo, canastrice e timing. Bob Jeff, aquele que nada tem a perder se auto-imolando, desempenha seu último papel: o de “apito de cachorro” para desviar a atenção do distinto público do incômodo sincericídio de Paulo Guedes, e chamar os brios do núcleo armado bolsonarista que legitime uma eventual operação de Garantia de Lei e Ordem. Ou antes ou depois da eleição.

sábado, outubro 22, 2022

Live de domingo: Syd Barrett esotérico, Bitcoin é uma religião, false flags e sincericídios na mídia e xadrez eleitoral


Ansiedade, palpitações, frio na barriga, mão suando frio, insônias... Entramos na última semana de campanha eleitoral! Então venha se acalmar e refletir na Live Cinegnose 360 #78, nesse domingo, às 18h, no YouTube. Depois dos comentários aleatórios, temos a sessão dos vinis do humilde blogueiro, com Syd Barrett: por que aconteceu a pior tragédia do rock britânico? Também vamos discutir dois filmes: “O Telefone do Sr. Harrigan” (Telefone e o Oculto no início da Era da Informação) e “Speak No Evil” (Por que perdemos a capacidade de enunciar e enfrentar o Mal?). Cinco evidências de que a Bitcoin é uma religião e o motivo da explosão da próxima bolha financeira. E depois a Crítica Midiática da semana: quem ganhou o debate da Band foi o “Xandão”; Lula no Flow confessou sua perplexidade com as estratégias alt-right; um xadrez dos blocos político-econômicos na reta final da campanha eleitoral; False Flag com Tarcísio na favela Paraisópolis; cresce inadimplência, mas grande mídia passa pano; Por que, apesar de tudo, tanta gente vota em Bolsonaro?; Dois sincericídios: GloboNews confessa que Bolsonaro não pode ser contido e a “desindexação” de Paulo Guedes. É tudo nesse domingo!

sexta-feira, outubro 21, 2022

Perdemos a capacidade de enunciar o Mal em 'Speak No Evil'


Discursos sobre a superioridade moral do Bem nos cercam. As ideias de progresso, Democracia, positividade, racionalidade etc. criam uma sociedade asséptica, profilática, no qual a morte e a violência foram embranquecidas. Tornando-nos impotentes e vulneráveis à presença do Mal. O Mal existe porque o permitimos, ao nega-lo, seja no campo do micro-orgânico ao macropolítico. Esse é o subtexto do filme dinamarquês “Speak No Evil” (2022): uma família de classe média alta dinamarquesa, culta, polida e politicamente correta, aceita o convite de uma família holandesa que conheceu nas férias. O que poderia dar errado num idílico final de semana numa casa rural? Tudo! Quanto mais educados tentam ser diante de anfitriões que se tornam cada vez mais desagradáveis e manipuladores, mais o Mal começa a se impor. Revelando como nossa sociedade asséptica gera a própria virulência, impotente diante da presença do Mal.

quinta-feira, outubro 20, 2022

'O Telefone do Sr. Harrigan': há certas ligações que jamais podem ser atendidas


Certamente o conto de Stephen King “Mr. Harrigan’s Phone” (sobre o fantasma de um recém-falecido que se comunica através de um telefone com o amigo que deixou entre os vivos) inspirou-se na bizarra invenção de Thomas Edison em 1920: uma espécie de “disque fantasma” ou “telefone espiritual” para os mortos poderem se comunicar com os vivos. Um exemplo de como o Oculto misturou-se com a Ciência no início da Era da Informação. A produção Netflix “O Telefone do Sr. Harrigan (2022) adapta o conto de Stephen King indo muito além do sobrenatural: mais do que informar, os meios de comunicação acabaram se tornando reflexos dos nossos próprios fantasmas interiores. 

segunda-feira, outubro 17, 2022

Timing perfeito do TSE salva o debate de domingo e agenda da grande mídia para segundo turno


Quem ganhou o debate da Band? Lula? Bolsonaro? Não, foi o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que salvou o dia com um timing perfeito: depois de uma live de Bolsonaro no início da madrugada, rouco e consternado, horas antes do debate domingo o ministro determinou a exclusão do vídeo do “pintou o clima” e de que os petistas “se abstivessem de novas manifestações”. Tudo que a mídia hegemônica quer é manter um contexto de estabilidade e que os debates apenas retroalimentem a agenda dominante (pandemia, corrupção etc.), sem intromissões ou surpresas. Como o “efeito Janones”, por exemplo. Manter um quadro de estabilidade com números de pesquisas que pouco mudem. É bom ficarmos atentos ao jogo de freios e contrapesos para manter um quadro diversionista de uma suposta estabilidade. Desviando a atenção das anomalias que levaram a eleição ao segundo turno... e que poderão se repetir. 

Debates políticos na TV pode se tratar de tudo, menos de aprofundar propostas ou um livre debate de ideias. Pelo menos não quando alguém tem um minuto e meio para responder uma pergunta feita por jornalistas ou correr contra o cronômetro para tentar reverter bordões, silogismos falaciosos, acusações e bravatas do adversário. Especialmente quando se tem pela frente estratégias de comunicação alt-right, especializadas em desautorizar o interlocutor através do cinismo.

As fórmulas dos debates televisivos são especialmente criadas para favorecer franco atiradores, com suas lacrações e mitadas, matéria-prima para posteriores clipes que serão repercutidos nas redes sociais. Mas principalmente, as fórmulas são criadas para desgastar o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais. Principalmente num segundo turno, quando todas as expectativas estão voltadas em saber se aquele que está atrás nas pesquisas poderá virar o jogo.

Em outras palavras, debate na TV é torcida e “secação” do adversário. 

E para a grande mídia, a oportunidade de manter o controle da narrativa, escolhendo perguntas ou dividindo o debate em blocos de temas que, por fim, retroalimentam tautisticamente a agenda imposta pelo próprio jornalismo corporativo. As únicas “surpresas” toleradas em debates são gafes (incapacidade do candidato de lidar com a linguagem televisiva) ou falácias articuladas como fossem graves denúncias.

No todo, deve manter intocada a narrativa. Principalmente num momento em que o PT está sob o “efeito Janones” desafiando a grande mídia: passou a jogar no mesmo campo simbólico da extrema direita, saindo dos trilhos do “PT parlamentar” ou do “PT jurídico” - o trilho da ideologia midiática de que o único antídoto contra fake news é a informação, a “verdade”, e o combate institucional contra as mentiras através dos canais legais.


    

Por isso, o grande vencedor do debate na Band foi o ministro do TSE Alexandre de Moraes. Com o The Last Minute Rescue de mandar retirar das redes o vídeo postado pelo PT que sugeria pedofilia na fala de Bolsonaro sobre venezuelanas menores de idade, “Xandão” evitou que a narrativa do debate fosse deixada nas mãos do imponderável. Isto é, de que a Band (e de resto, o jornalismo corporativo) perdesse o controle da narrativa – perda dos mecanismos de freio e contrapeso através da agenda restrita aos temas da Pandemia, Corrupção, Responsabilidade Fiscal, Orçamento Secreto e Fake News.

Certamente a equipe de Bolsonaro temia o descontrole do candidato no debate: o tema poderia dominar com um efeito desestabilizador para o chefe do Executivo. A live que ele fez no início da madrugada desse domingo, rouco e com a fisionomia crispada, tentando se defender de um “ataque feito com um vídeo que pega um pedaço e inverte tudo isso”, já prenunciava um debate na TV em que o presidente já entraria em desvantagem.

    Mas o ministro Alexandre de Moraes (notório pelos seus coreografados telecatchs com o presidente para tocar o terror da “crise entre podres”), no final da tarde (timing prfeito!), deu sua decisão, diminuindo o estrago da fala e fazendo o candidato entrar autoconfiante no cenário de estilo metaverso do debate da Band. 



Moro e as pastas de Collor

Mas não ficou por isso. Em vingança, a equipe de Bolsonaro leva o ex-juiz e ex-desafeto de Bolsonaro eleito ao senado, Sérgio Moro, como uma espécie de assessor para temas relativos à corrupção do PT – lembram do controle da narrativa?

Parece que a presença de Bolsonaro teve o mesmo efeito daquelas famosas pastas verdes e amarelas (recheadas de folhas em branco) que Collor levou ao debate da Globo de 1989, sugerindo que poderia disparar a qualquer momento uma bala de prata. Para desestabilizar emocionalmente o oponente.

Criados os freios e contrapesos, foram garantidas as condições seguras para a grande mídia manter o controle da narrativa.

Se não, vejamos. Como sempre, o rescaldo do debate foi polissêmico: a extrema direita diz que Bolsonaro ganhou, e por nocaute. Os progressistas mais pessimistas dizem que deu empate. E a esquerda mais otimista afirma que Lula ganhou, mas por pontos. 

Assim como as mais de 700 pesquisas desse ano sempre apontaram para números estáveis, sugerindo um leitor já decidido (para tudo virar do avesso nos resultados do primeiro turno, depois de uma série de anomalias – clique aqui), também todos os debates promovidos até aqui renderam interpretações polissêmicas. 

Pudera! Sempre os temas mais palpitantes para a opinião pública são deixados de fora para ficar na narrativa monofásica com os temas listados acima. Ou, no máximo, colocar um padre fake como estratégia diversionista.



Assim como, horas antes do debate, um acontecimento palpitante que revelava muito do modus operandi e caráter da extrema direita (a bucha de canhão do “Projeto de Nação” do PMiG – Partido Militar Golpista) foi deixado de fora pela ação do “Xandão do telecatch” que, dessa maneira, salvou o dia.

Colonistas uníssonos

Enquanto no espectro político dominava a polissemia, no campo dos “colonistas” do jornalismo corporativo a interpretação foi, ao contrário, uníssona: Lula ganhou no bloco sobre a pandemia, empatou nas perguntas dos jornalistas e perdeu de goleada no bloco sobre corrupção – supostamente Lula não soube aproveitar seu banco de minutos, deixando mais de cinco minutos livres para Bolsonaro fazer um monólogo. Essa foi a interpretação de dez em cada dez.

Acredito que isso foi deliberado na estratégia de Lula: tentou reverter os previsíveis argumentos de corrupção (mensalão, petrolão etc.) com poucas interrupções, contando ao final com a esperada desarticulação de Bolsonaro em falas longas (frases desescosturadas recheadas de ofensas) que poderiam render pedidos de repostas – Lula ficou frustrado, pois esperava pelo menos dois pedidos aprovados. Apenas contou com um direito de resposta.  



Afinal, por que a interpretação dos “colonistas” ficou tão uníssona? Porque o debate rendeu o feedback tautista que mantém a grande mídia no controle narrativo: confirmou a agenda – Lula ganhou no primeiro bloco porque fez o “match” com a as críticas ao negacionismo feitas pela mídia corporativa contra Bolsonaro durante toda a pandemia. 

 E perdeu para Bolsonaro no bloco sobre corrupção porque, por sua vez, o presidente fez o “match” com todos os bordões criados pela grande mídia no período do jornalismo de guerra: “mensalão”, “o petrolão”, “o maior esquema de corrupção da história” etc. A fala de Bolsonaro, como sempre, foi um pot-pourri fragmentado e apoplético daquilo que a mídia ceivou com muito esmero.

Nesse tema, Lula está condenado a nunca mais ser inocente. Não importa se a Justiça, a ONU, o Papa o absolvam. Não importa o que fale ou a estratégia que utilize: depois de anos de guerra híbrida, “corrupção do PT” virou um meme autoimune, isto é, blindado a qualquer contra-argumento. Porque um meme autoimune não é um argumento: já está no campo da pós-verdade, é evidente por si mesmo.

Ou seja, Alexandre de Moraes foi o freio. E o tema da corrupção (depois os colonistas reclamam que não se discute “propostas”) o contrapeso

Está claro que o plano geral com esses freios e contrapesos é manter um cenário estático e conter quaisquer surpresas que por acaso surjam – como o “efeito Janones”, o bateu-tomou como cura contra fake news, ao invés da “informação profissional” do jornalismo corporativo.

Mas porque a grande mídia quer tanto manter o cenário de estabilidade, sempre com uma pequena vantagem para Lula nas pesquisas?  Será uma estratégia diversionista? Levando-se em conta as estranhas anomalias no primeiro turno por trás da verdadeira ducha de água fria no PT.

É bom ficarmos atentos ao jogo de freios e contrapesos que objetiva manter um quadro diversionista de uma suposta estabilidade. Desviando a atenção das anomalias que levaram a eleição ao segundo turno... e que poderão se repetir. 

 

 

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