quarta-feira, outubro 23, 2013

A bomba semiótica do resgate dos cães de laboratório


Em tempos de atmosfera politicamente mais leve, certamente o resgate por ativistas de 178 cães de um instituto de pesquisas farmacêuticas em São Roque (SP) seria relegado pelas redações da grande mídia aos blocos noticiosos de notícias diversas. Mas o suposto descontrole das lideranças que viram ativistas quebrando portões, depredando e levando os cães para, depois, receberem a “ajuda” de black blocks elevou o evento à pauta nacional, para ser submetido ao script da engenharia das bombas semióticas: “era uma vez uma manifestação pacífica e...” Mas aqui temos uma novidade: a exploração da relação mágica e mítica que nós temos com os animais, relação didaticamente mostrada no filme “As Aventuras de Pi”.

Primeiramente quero me desculpar com os leitores desse humilde blogueiro pela insistência sobre o tema bombas semióticas. Para quem se dedica à pesquisa em meios e processos audiovisuais é impossível ficar indiferente à atmosfera cada vez mais saturada e pesada semioticamente – e por consequência politicamente. No futuro, pesquisadores certamente irão transformar os acontecimentos pelos quais passamos em objetos de dissertações e teses. Essa parece ser a miséria das ciências da comunicação: só conseguimos entender os acontecimentos a posteriori, isto é, interpretamos depois os acontecimentos como fenômenos filosóficos, psicológicos ou sociológicos. Nada conseguimos compreende-los no momento, no “aqui e agora” dos eventos, quando eles são acontecimentos comunicacionais.

                Nesse momento, representado pela metáfora do “gigante que despertou”, uma histeria das manifestações toma conta da agenda midiática: incêndio no Itamaraty, agressão a jornalistas, pedidos de intervenção militar, protestos dos médicos contra a “escravidão de médicos cubanos”, planos detalhe de carros virados e incendiados, Batmans Black Block do bem e uma infindável série de eventos iconicamente anabolizados pela mídia.

sábado, outubro 19, 2013

Tem alemão no Campus? Repórter sofre acidente com bomba semiótica na USP


A ansiedade em corresponder a uma pauta pré-estabelecida fez uma repórter da rádio CBN detonar precipitadamente uma bomba semiótica que estava sendo montada na cobertura de uma greve dos estudantes no Departamento de Letras da USP. Graças a uma “barrigada jornalística” (a repórter confundiu a mensagem “Alemão no Campus” de uma professora do Departamento com uma mensagem cifrada da malandragem ao enfrentar inimigos), a repórter expôs sem querer o mecanismo de funcionamento e a técnica de montagem de mais uma das bombas semióticas usadas na guerrilha semiológica midiática atual onde se pretende criar uma atmosfera de caos e pré-insurgência que supostamente estaria dominando o País. Além disso, foi criado um surpreendente evento sincrônico: um acidente com uma bomba linguística em um espaço justamente dedicado ao estudo, ensino e pesquisa da linguagem.

Uma repórter da rádio CBN foi vítima de um acidente durante a montagem de uma bomba semiótica na gravação de uma matéria, na USP, sobre a greve dos estudantes na manhã do dia 11 de outubro. Ansiosa por corresponder à pauta já pré-estabelecida pelos seus editores-chefes (criminalizar e desmoralizar as ações e discursos dos grevistas para transformá-los em exemplares do caos e desordem que estaria dominando o País), a repórter acabou dando uma “barrigada” (no jargão do Jornalismo, uma matéria falsa ou errada publicada com o estardalhaço de uma grande novidade). O arquivo foi prontamente retirado do ar pela emissora, reeditado e agora disponível sem a “barrigada” que detonou precipitadamente a bomba semiótica. Esse é a íntegra do áudio da matéria:
“Na Faculdade de Letras, grevistas montaram piquetes com cadeiras empilhadas para impedir o acesso às salas de aula. No interior do prédio, onde a gente conseguiu entrar, havia também um recado de uma das professoras, que dizia “Alemão no Campus”, uma referência ao termo dado nas favelas ao falar dos inimigos. Ela dizia também que os alunos deviam ficar atentos aos e-mails, para saber das próximas atividades.(...)”
Não é necessário muito esforço dedutivo para interpretar que “Alemão no Campus” dentro do departamento de Letras da FFLCH refere-se aos cursos extra-curriculares de língua alemã oferecidos a públicos internos e externos, assim como outros cursos oferecidos à comunidade acadêmica - “Italiano no Campus” ou “Francês no Campus”. E que os e-mails aos quais a professora se referia nada tinham a ver com informações de táticas de combate contra os “inimigos” ou “alemães”, mas sobre próximas datas do curso.

sexta-feira, outubro 18, 2013

Ao sul do futuro no curta "Why Cybraceros?" e no filme "Distrito 9"


Matéria-prima do cinema de ficção científica, as especulações sobre o futuro estão desaparecendo. Em filmes como “Distrito 9” ou no curta “Why Cybraceros?” de Alex Rivera o futuro transformou-se em uma projeção hiperbólica do presente. Mundos utópicos ou distópicos que estariam esperando por nós no futuro são substituídos por hipo-utopias: a precarização do trabalho e dos direitos humanos e a sociedade transformada em um sistema estruturado em rede com uma interface digital contínua semelhante a um jogo que apagaria as tensões étnicas e raciais. É a chamada “ficção científica do Sul”, conjunto crescente de filmes produzidos nas margens de Hollywood e que vêm projetando no futuro próximo ou distante as mazelas do presente criadas pelas economias globalizadas. E que guarda muitos paralelos com a ideia de Zygmunt Bauman sobre "modernidade líquida".

O filme “Distrito 9” (2009) talvez seja a parte mais visível de uma tendência de filmes que alguns pesquisadores em cinema têm definido como “ficção científica do Sul”. O curta digital on-line “Why Cybraceros?” (1997) e “Sleep Dealer” (2008) do diretor Alex Rivera, por exemplo, seguem essa tendência de filmes em estilo mockmentary (filmes feitos em estilo documentário com tom paródico) e com características globais, seja pelos atores e empresas de produção de países considerados periféricos, ou pela temática ligada às mazelas da globalização sócio-econômica – imigrantes ilegais, xenofobia, racismo e intolerência.

São filmes de ficção científica onde a alta tecnologia (ícone característico do gênero) convive com favelas, deterioração urbana, precarização do trabalho e muito lixo que, muitas vezes, se confunde com seres humanos que necessitam ser controlados, confinados, descartados ou eliminados – imigrantes e estrangeiros humanos ou de outros planetas.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Cultura geek e tecnognosticismo nas animações "Hora de Aventura" e "Apenas um Show"


O non sense, surrealismo e o humor muitas vezes sombrio das animações “Hora de Aventura” e “Apenas um Show” (sugeridas pelo nosso leitor Paulo Massa) causam estranheza nos adultos, embora as crianças as compreendam muito bem. Essas animações são produtos culturais criados por representantes de uma geração que cresceu vendo “Os Simpsons” e jogando "Dungeons and Dragons". Seus criadores Pedleton Ward e J.G. Quintel são os mais acabados representantes de uma cultura geek que conseguiu mesclar a tecnociência com o misticismo e magia – o “tecnognosticismo”. Por isso conseguem dialogar com uma geração de crianças cuja sensibilidade se altera com o entretenimento em plataformas móveis como Ipods, tablets e celulares.

Hits do canal Cartoon Network, as animações “Hora de Aventura” (Adventure Time) e “Apenas um Show” (Regular Show) podem ser considerados produtos culturais criados por uma geração que cresceu vendo “Os Simpsons”, jogando o RPG e game de computador Dungeons and Dragons. E quem afirma isso são os seus próprios idealizadores, respectivamente Pedleton Ward e J.G. Quintel.

São típicos produtos de uma cultura geek que cresceu em contato com tecnologias de convergência e interfaces digitais e muita navegação em ambientes fragmentados por hipertextos. Acostumados que estamos com narrativas tradicionais em três atos, com muitas gags visuais, correria e perseguições ao melhor estilo slapstick dos desenhos animados tradicionais, assistir a esses novos produtos é uma experiência de estranhamento pelo total surrealismo e non sense.

terça-feira, outubro 08, 2013

A maldição do filme "Blade Runner - O Caçador de Andróides"



Clássico do cinema de ficção científica, “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (1982) é marcado por coincidências significativas que muitos interpretam como uma “maldição”: as empresas que colocaram seus logos e produtos no filme tiveram ao longo da década problemas financeiros, queda de receita ou simplesmente faliram. Sabendo-se que o filme foi baseado no livro do escritor gnóstico Philip K. Dick e o título do filme retirado de livros dos autores undergrounds William Burroughs e Alan Nourse, propomos uma hipótese sincromística: poderia o filme “Blade Runner” ter se tornado um cavalo de Tróia que sob uma embalagem comercial inoculou em Hollywood uma egrégora gnóstica de contestação aos demiurgos corporativos?

Pesquisando o campo do Sincromisticismo e motivados pela nossa última postagem do blog sobre as estranhas coincidências nas últimas tragédias em Washington (vela links abaixo), resolvemos voltar nossa atenção para estranhas coincidências que podem ser encontradas no campo da produção cinematográfica. É uma área rica em sincronicidades ou “coincidências significativas”, talvez por trabalhar com tantos arquétipos, formas-pensamento e egrégoras do inconsciente coletivo da humanidade. Muitas vezes esses sincronismos são popularmente denominados como “maldições”.

Um dos mais conhecidos são as coincidências que envolvem o personagem do Coringa na série Batman, principalmente após a morte do ator Heath Ledger: a sombra do poderoso arquétipo teria feito mais uma vítima, suspeita que ficou ainda mais forte após a declaração do ator Jack Nicholson: “Eu o avisei!”. Nicholson já havia interpretado o sinistro personagem no “Batman” na versão de Tim Burton (1989) e parecia saber de algo mais.

domingo, outubro 06, 2013

Sincromisticismo na onda de tragédias em Washington DC


Um atirador mata 12 pessoas em uma Base Naval em Washington DC. Poucos tempo depois na mesma cidade um carro força a barreira de segurança da Casa Branca e o Serviço Secreto mata sua motorista. No dia seguinte, um homem ateia fogo a seu próprio corpo em uma esplanada próxima ao Capitólio. E para completar, um incidente que quase passou despercebido pelas agências de notícias: com duas horas de diferença, em Houston, Texas, um homem tentou fazer a mesma coisa, mas foi contido por populares que lhe arrancaram o isqueiro depois dele se encharcar com gasolina. Segundo Loren Coleman, pesquisador sincromístico e psicólogo social especialista nos fenômenos de suicídios e assassinatos seriais, há estranhas coincidências significativas que conectariam esses eventos a um inconsciente coletivo repercutido pela própria cobertura midiática.

Após o incidente com o atirador na Base Naval que matou 12 pessoas, Aaron Alexis, a mídia teve a atenção capturada para outro incidente bizarro em Washington DC em frente à Casa Branca: uma mulher tentou ultrapassar com o seu carro uma barreira de segurança e por causa disso começou uma perseguição por parte do Serviço Secreto (órgão encarregado pela segurança do presidente) em que ocorreram vários disparos. O veículo preto se chocou contra a área de controle de acesso ao Capitólio e foi rodeado por vários policiais armados que retiraram uma criança de um ano e a motorista morta.

Loren Coleman, um pesquisador em fenômenos sincromísticos, consultor do Maine Youth Suicide Program e um especialista nos estudos sobre as conexões entre a mídia e suicídios-atentados, observou uma série de aparentes coincidências entre os casos:

sábado, outubro 05, 2013

Em Observação: "O Segundo Rosto" (Seconds, 1966)


O ano é 1966, o olho do furacão de uma série de transformações comportamentais, culturais e políticas que estavam ocorrendo no mundo em meio à Guerra Fria e a corrida espacial. O rebelde diretor John Frankenheimer faz o filme “O Segundo Rosto” (Seconds) que será o precursor no cinema de narrativas sobre protagonistas (em geral na meia-idade) que despertam do sonho americano e descobrem a mediocridade da vida e dos valores – “Beleza Americana” (1999) e “Vidas Em Jogo” (1997) são alguns exemplos posteriores. Mais do que um filme sobre a identidade (ou a perda dela), o filme toca em um tema potencialmente gnóstico: se a vida social está baseada no artificialismo de papéis e expectativas dos outros (ou do Outro), quem afinal somos nós? A reposta poderá estar em uma perigosa jornada interior que pode se transformar em pesadelo.

sexta-feira, outubro 04, 2013

A luz que nos cega no filme "El Topo" de Jodorowsky


Um filme cercado de lendas, algumas verdadeiras. John Lennon exigiu que a Apple comprasse seus direitos para exibi-lo em Nova York. Em pouco tempo o filme tornou-se um Cult nas sessões de meia-noite no circuito underground. “El Topo” (aka “The Mole”, 1970), uma produção mexicana do diretor franco-chileno Alejandro Jodorowsky narra em estilo “western spaghetti” de Sérgio Leone a jornada espiritual de um pistoleiro em desoladas paisagens repletas de alusões e alegorias a Jung, Freud, misticismo, esoterismo, filosofias e mitologias bíblicas. Cada plano, cena ou detalhe é um desafio para o espectador tentar resolver os enigmas que se acumulam em cada imagem baseada em fragmentos de textos antigos, fábulas e contos zen. O diretor parece querer que tanto o protagonista quanto o espectador tenham o mesmo destino da toupeira: à procura do Sol ela cava até a superfície. Quando vê o Sol, ela fica cega.

Um homem trajando negro da cabeça aos pés em pleno deserto incandescente cavalga um cavalo negro carregando um guarda-chuva sobre sua cabeça e trazendo atrás na sela um menino nu, exceto por um chapéu de cowboy. O homem para, amarra o cavalo em um poste solitário na areia e vemos nas mãos do menino um urso de pelúcia e uma fotografia em um porta-retrato. O homem diz: “hoje você faz sete anos. Você agora é um homem. Enterre seu primeiro brinquedo e o retrato da sua mãe”. Ele pega uma flauta e toca enquanto o menino segue suas instruções.  Para o espectador, essa cena de abertura será a mais normal e compreensível de todo o filme.

“El Topo” do franco-chileno diretor Alejandro Jodorowsky é cercado de histórias e lendas: suas técnicas de filmagem não eram o que poderia se dizer ortodoxas - normalmente utilizava nativos da região da filmagem como atores e obrigava-os a se submeter a experiências de esgotamento físico diante das câmeras. Rumores dizem que fazia os atores experimentarem o sangue um do outro e de expô-los a violência real. Segundo consta, o próprio Jodorowsky matou os 300 coelhos com as próprias mãos para uma cena do filme.

domingo, setembro 29, 2013

De Hitler aos Hippies: a Kombi no cinema em dez filmes


A Volkswagen anunciou o encerramento da produção da Kombi no Brasil, o último país que ainda produzia esse veículo. Junto com o fusca, a Kombi transformou-se em um arquétipo moderno e o significante cultural de uma constelação de conceitos que vão da esfera política às noções espirituais de jornada e liberdade. A presença da Kombi no cinema vai refletir esse imaginário irônico onde, apesar de nascido de um projeto nacionalista de Hitler e depois sintonizado com o lazer e o consumo individualista de pós-guerra, transformou-se em ícone da contracultura e representante de um estilo de vida antimaterialista e solidário. Abaixo, uma lista de dez filmes onde a Kombi é um personagem cinematográfico com seus múltiplos simbolismos.

Ao lado do fusca, foi o veículo que fez parte do imaginário de uma geração. A Kombi (abreviação da expressão alemã “kombinationsfahrzeug” – traduzindo, “van cargo-passageiro”), nos EUA chamada de VW Bus, acabou tornando-se mais do que um veículo de transporte: deu colorido e ressonância à cultura moderna, transformando-se em um arquétipo cultural, significante de uma constelação de conceitos que vai da esfera política (contracultura e a ética anticonsumista) à espiritual (viagem e liberdade).

                O Brasil era o único país que ainda produzia esse veículo. Mas, segundo a Volkswagen, a produção será encerrada dia 31 de dezembro desse ano com a produção de uma última série limitada e comemorativa unindo todas as características de design das várias versões da Kombi nesses 63 anos.

sexta-feira, setembro 27, 2013

Hollywood produz mais filmes-catástrofe em épocas de crise global


Pesquisando o banco de dados das produções cinematográficas por gênero do IMDB (Internet Movie Data Base) descobrimos uma curiosa recorrência: os filmes-catástrofe, gênero fílmico surgido na década de 1970, encontra seu pico de produção a cada contexto de crises econômicas globais. Vivemos atualmente a terceira grande onda de filmes desse gênero que coincide com a crise da Zona do Euro. Será apenas coincidência? Historicamente Hollywood moldou o imaginário social por meio de uma tática de deslocamento: a transformação em “objeto fóbico” de tudo aquilo que nos causa medo e repulsa. Com os filmes-catástrofe temos a confirmação disso: a naturalização das crises por meio dos cataclismos geológicos ou cósmicos ficcionais e a criação de uma fobia ou medo coletivo por qualquer aspiração por mudança.

O cinema sempre teve uma íntima ligação com os momentos históricos de crise, sejam elas econômicas, políticas ou sociais. Podemos considerar o cinema um perfeito sismógrafo das tendências implícitas da sociedade que o produz, como solução imaginária de tensões sociais ou ainda como sintoma coletivo. A análise dos filmes, principalmente no que se refere à evolução dos seus gêneros (terror, sci-fi, drama etc.), são excepcionais por revelar verdadeiros sintomas sociais. Como veremos, é o caso do gênero disaster movies, ou “filmes-catástrofe”.

Desde o início, nos dois lados do oceano Atlântico, o cinema mostrava essa excepcional característica sismográfica. Filmes expressionistas alemães como “O Gabinete do Dr. Caligari” de Robert Wiener (1920), “Nosferatu” de F.W. Murnau (1922), “Dr. Mabuse, O Jogador” (1922),  “Metrópolis” (1926) e “O Vampiro de Dusseldorf” de Fritz Lang com suas atmosferas de pesadelo dominadas por linhas e planos tortuosos coincidiam com a turbulenta fase da República de Weimar na Alemanha e anunciavam a chegada iminente do nazismo.

quarta-feira, setembro 25, 2013

A condição humana entre a loucura e transcendência no filme "K-Pax"


Filme precursor de um subgênero chamado “psicodrama alt. Sci-fi” (filmes que usam argumentos sci-fi para, na verdade, discutir temas bem terrestres com baixos orçamentos e nenhum efeito especial), “K-Pax - O Caminho da Luz” (K-Pax, 2001) foi injustamente esquecido pela crítica e público. Um homem é internado em hospital psiquiátrico afirmando ser um visitante de um planeta distante. Astrônomos e psiquiatras tentam encaixá-lo em algum script racionalizante que tente explicar seus conhecimentos, mas os paradoxos colocados pelo seu comportamento colocam em xeque todos ao redor: será que uma vida inteira dedicada à ciência terá sido para nada?

Um filme que acabou esquecido pelos críticos e público, principalmente por ter sido lançado a pouco mais de um mês depois dos atentados de 11 de setembro em Nova York. Talvez poucas pessoas estivessem interessadas em discussões filosóficas em torno de um potencial visitante de outro planeta que nos visita sob a forma humana, chamado Prot (Kevin Spacey) e que se encontra preso em um hospital psiquiátrico em Manhattan. Se ele é de fato um visitante do planeta K-Pax ou apenas um louco “com a história mais convincente que eu já vi”, como confessa o psiquiatra que tenta “curá-lo”, é a dúvida que acompanhará o espectador até a última cena, cabendo a ele fazer uma contabilização das pistas deixadas ao longo da narrativa.

                Provavelmente o filme “K-Pax” pode ser considerado o precursor de uma espécie de subgênero que sob o pretexto de abordar temas caros da ficção científica (visitantes extraterrestres, viagem no tempo, eventos cósmicos etc.), através de filmes com baixo orçamento e praticamente sem nenhum efeito especial discute temas bem terrestres e familiares: dilemas dos relacionamentos, a alteridade, conhecimento, hierarquia e autoridade. O nosso leitor Ricardo Afonso percebeu a essência desse novo subgênero: “A cena em que ele [Prot] simula uma viagem no tempo simplesmente nos faz rir de nossa própria limitação, quando acreditamos que para tal empreitada seriam necessárias luzes, cenas e cenários dignos de ficção cientifica de Hollywood”.

domingo, setembro 22, 2013

Conheça as dez maiores conspirações no cinema


Estariam as estrelas de Hollywood sendo assassinadas em série por um sinistro grupo oculto? Alguns filmes foram de fato amaldiçoados por forças malignas de outro mundo? Ou trazem mensagens cifradas sobre comandos de controle da mente ou desafios diretos ao Illuminatis? Kubrick teria dirigido o filme “O Iluminado” para espalhar pistas sobre o falso pouso da Apolo 11 na Lua que ele próprio teria ajudado a produzir? Esse é o estranho mundo das mais bem elaboradas e paranoicas teorias da conspiração envolvendo o cinema. Para seus autores, ir ao cinema é uma perigosa aventura onde o espectador desatento poderá ser programado por mensagens ocultas. Por que tantas conspirações cinemáticas? Talvez porque um produto cultural que atinge tão diretamente nossos corações e mentes seja, afinal, produzido por uma indústria de entretenimento anônima e corporativa.

quarta-feira, setembro 18, 2013

As imagens seduzem e iludem no filme "Cópia Fiel"


“Cópia Fiel” (Copie Conforme, 2010) é um curioso olhar etnográfico de um diretor iraniano para a cultura das imagens ocidental: Abbas Kiarostami vai ao polo irradiador do cânone da ilusão figurativa das imagens (a Itália dos museus, igrejas e arte sacra) para mostrar, paradoxalmente por meio do artifício (um escritor que promove um livro sobre o valor das cópias em relação a obra artística original e que voluntariamente participa de um “role-playing” proposto por sua admiradora), que as imagens são intransitivas, não remetem a nada fora delas mesmas, seja uma suposta natureza divina ou real. Elas sempre foram meros simulacros.

Artifício, ilusão, simulação, mentira. Essas são algumas críticas feitas à civilização ocidental das imagens feitas por autores como Guy Debord (Sociedade do Espetáculo), Jean Baudrillard (Simulacros e Simulações) chegando a filmes como “Matrix” onde a imagem tecnológica alcança o paroxismo ao criar mundos virtuais onde o homem torna-se prisioneiro.

        O aclamado diretor iraniano Abbas Kiarostami vai ao centro irradiador dessa cultura da imagem no Ocidente (a Itália, repleta de arte sacra, afrescos religiosos renascentistas e ícones cristãos por todos os lados em pequenas capelas, Igrejas e lojas de antiguidades) para fazer uma reflexão dos problemas filosóficos que envolvem as imagens que nos cercam e a nossa percepção delas. E talvez mais do que isso: mostrar como fomos seduzidos pela ilusão.

domingo, setembro 15, 2013

O cacoete jornalístico e a agenda invisível


Continuando nossa incansável e perigosa busca de “bombas semióticas” na mídia, encontramos outra de uma nova espécie, dessa vez involuntária, produzida por uma espécie de cacoete jornalístico: o furor em estabelecer conexões, religações ou cadeias de causa-efeito entre notícias distantes. O que o Jornal “Hoje” da TV Globo quis nos dizer ao aproximar a notícia de um incêndio em uma fábrica no interior de São Paulo com a sessão do tempo prevendo altas temperaturas e baixíssima umidade? De tanto forçar a barra na interpretação do noticiário político e econômico a partir de uma espécie de agenda nacional e global invisível que reina nas redações das grandes mídias, acabou criando um "modus operandi", um cacoete em que mesmo os "fatos diversos" acabam sendo involuntariamente tratados da mesma forma pelos jornalistas - como a materialização de um script político-ideológico pré-estabelecido.

Quinta-feira, 12 de setembro de 2013. O telejornal “Hoje” da TV Globo já havia apresentado os primeiros blocos noticiosos das chamadas hard news (política e economia) e entrava na sua parte final com o que se chama em jornalismo faits divers (fatos diversos – notícias locais, curiosidades, cultura, tempo etc.). De repente, entra um link ao vivo: incêndio de grandes proporções em uma fábrica de bebedouros na cidade de Itu, interior de São Paulo. Atrás do repórter vemos grossos rolos de fumaça negra subindo a dezenas de metros de altura contra um profundo céu azul. Corta para o estúdio. Sandra Annenberg imediatamente convoca a jornalista do tempo Michelle Loreto e pergunta: “vai cair alguma gota de chuva naquela região?”. Michelle responde negativamente e explica apresentando em um mapa as zonas de alta pressão e temperaturas elevadas esperadas para grande parte do país. Após a rápida previsão do tempo, Sandra Annenberg finaliza com uma expressão grave: “é... e não chove há uma semana naquela região...”

sexta-feira, setembro 13, 2013

A Internet demasiado humana no filme "Disconnect"


Um soco emocional. Assim pode ser definido o filme independente “Disconnect” (2012): três histórias baseadas em fatos reais tendo como cenário Facebook, Twitter, smartphones, tablets e laptops. Cyberbullyings, crimes cibernéticos e sites eróticos que exploram menores encontram pessoas fragilizadas emocionalmente cujas relações com parentes e amigos são superficiais e vazias enquanto toda a atenção se volta aos gadgets tecnológicos. O filme “Disconnect” representa a destruição do segundo mito da Internet: depois do fim da utopia das empresas “ponto com” em 2000, agora a diluição do mito do novo mundo trazido pela “inteligência coletiva” digital. A tecnologia apenas ampliaria as velhas mazelas da condição humana. A Internet ainda continua humana, demasiado humana.

Quando a televisão surgiu era rotineiramente acusada por devorar a atenção das pessoas e destruir a comunicação. Produtora de solidão, emburrecedora e responsável por distúrbios oculares eram o mínimo de que se acusava a TV. Com a Internet alarmes semelhantes retornam, porém com um outro viés: os caminhos dessa terra de ninguém são potencialmente perigosos – alguns são predadores, outros são viajantes ingênuos que se aventuram por territórios dominados por tribos e cibercriminosos. O risco de ser emboscado, espoliado e humilhado é considerável. Muitas vezes a aplicação da lei é incapaz de apanhar os trapaceiros, que se mantêm sempre à frente do jogo.

Esse é o tema do filme “Disconnect” do documentarista Henry Rubin (do documentário “Murderball”) em sua estreia em um filme com narrativa ficcional. A partir de um roteiro escrito por Andrew Stern, Rubin apresenta um verdadeiro soco emocional para aqueles que convivem diariamente com Facebook, Twitter, Skype, webcams e smartphones: um retrato da crueldade desencadeada por ladrões que alegremente se escondem por trás de falsas identidades virtuais, desenterram informações pessoais e com algumas teclas pode ser capaz de destruir a vida de uma pessoa.

quarta-feira, setembro 11, 2013

A bomba semiótica das pegadinhas do "Fantástico" e "CQC"


Ensinar lições de moral e cidadania através de simulações. Mais precisamente através de “pegadinhas”, dessa vez “do bem” e na TV. Cuidado! Sob o pretexto de nobres propósitos programas como o “Fantástico” da Globo e “CQC” da Band estão detonando mais uma “bomba semiótica”, dessa vez sob a forma do “infotenimento” (informação + entretenimento), com situações do cotidiano simuladas para flagrar contraventores da ordem, da moral e dos princípios de cidadania para nos ensinar que o bem sempre compensa. Ambos os programas alinham-se à pauta atual imposta pela mídia: a pauta da moralidade e do combate à corrupção, o último papel de protagonismo que lhe resta no cenário político atual.

Vamos desmontar mais uma “bomba semiótica”. Porém esta é de um tipo sofisticado e difícil de lidar semioticamente, pois envolve um elemento “meta”: a simulação, e não simplesmente uma simples manipulação ou encobrimento de fatos como habitualmente estamos acostumados a ver em telejornais ou revistas impressas.

O “Fantástico” estreou recentemente um quadro chamado “Vai Fazer o Quê?” no qual o repórter Ernesto Paglia conduz uma série de “experiências” para descobrir como reagem as pessoas diante de situações polêmicas como pit boys que ofendem um mendigo e tentam expulsá-lo de uma praça pública ou uma cuidadora que maltrata seu paciente idoso. O repórter privilegia mostrar aqueles que atuaram corretamente, pede desculpas ao estresse que os atores criaram na simulação, constrange os cidadãos menos valorosos que nada fizeram com perguntas do tipo “você ficou ali olhando, mas não reagiu...” e discorre como os espectadores devem agir em uma situação dessas.

domingo, setembro 08, 2013

Dez sinais de que você participa de uma seita.


Acreditamos que só loucos e estúpidos fazem parte de cultos ou seitas. Mas não se engane: esse é um estereótipo midiático mostrado pelas notícias sensacionalistas que nos apresentam fanáticos fazendo parte de cultos comandados por gurus enlouquecidos. Desde a década de 1930 quando a literatura de autoajuda começou a abandonar o campo da psicologia e flertar com o misticismo e esoterismo até transformar-se em técnicas motivacionais, os dispositivos de controle mental dos cultos começaram a se espalhar por empresas, movimentos políticos, grupos de autoajuda e outros tipos de organizações. Fique atento aos dez dispositivos de controle mental das seitas, sejam elas de culto a líderes, metas ou missões. Você pode estar dentro de uma delas e não sabe...

Quando ouvimos a palavra “culto” lembramos de religiões neopentecostais, manipulações religiosas de estranhas seitas ou obscuros cultos de grupos místicos cujos símbolos somente os iniciados podem compreender. Vêm-nos à mente fanáticos desequilibrados, líderes carismáticos manipuladores e suicídios grupais por causas bizarras.

No entanto essa é apenas a aparência sensacionalista e midiática que parece encobrir uma realidade de natureza bem diversa: ao lado das técnicas de manipulação de massas por meio da propaganda e do marketing político, de marcas e de consumo, uma outra forma de manipulação cresceu e vem se expandindo por todos os setores da sociedade – a manipulação das relações humanas por intermédio do controle das relações pessoais por lideranças e pequenos grupos.

sábado, setembro 07, 2013

Monty Python contra o cinismo contemporâneo


Há quarenta e quatro anos ia ao ar pela TV BBC o primeiro “Monty Python’s Flying Circus” com uma trupe de comediantes ingleses cujo humor era marcado pelo absoluto cinismo e non sense. Suas experiências formais (programa estruturado como “fluxo de consciência”) e sketches demolidores influenciam há décadas gerações de comediantes e redatores. Recuperando a melhor tradição do humor físico de Chaplin e Jacques Tati, mesclou tudo isso com um estilo de comédia que desconstruía ilusões e mentiras dos papéis sociais, mostrando de forma engraçada como nossa existência parece ser baseada em mentiras e ilusões. Diante do “cinismo esclarecido” contemporâneo a que se refere o filósofo alemão Peter Sloterdijk, o grupo inglês criou uma técnica de humor que remontava às próprias origens filosóficas radicais da escola dos cínicos: o "kynismo" grego da antiguidade helenística de Diógenes e Pirro.
Quando pensamos em filmes gnósticos, logo imaginamos ficções científicas dramáticas como “Cidade das Sombras” ou “Matrix” com protagonistas procurando saídas de um universo conspiratório em narrativas tensas e repletas de simbolismos enigmáticos. Terror, drama, thriller, suspense ou ficção científica parecem ser os gêneros propícios para questionamento gnósticos sobre a condição humana. Mas e a comédia?  É claro que nesses últimos quatro anos em que esse blog procurou mapear a presença de elementos gnósticos, esotéricos, ocultistas e míticos na produção cinematográfica popular recente, encontramos tais elementos em produções que primam pelo humor negro como no filme “Como Fazer Carreira em Publicidade” (How to Get Ahead in Advertising, 1989) ou em animações como a trilogia “Toy Stories”.
Mas se pensarmos a comédia muito mais do que um gênero, isto é, como técnica de humor (onde elementos como o cinismo, a ironia, a parodia e o sarcasmo podem se transformar em instrumentos de crítica social tão poderosos como a Filosofia e a Psicanálise) podemos encontrar a presença do espírito gnóstico da desmistificação da irrealidade do mundo.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Em Observação: "Sapphire & Steel" (1979-1982)


Imagine uma série como "Dr. Who" misturada com alquimia e ocultismo. Foi a antiga série televisiva britânica chamada "Sapphire & Steel". Com baixo orçamento e filmado quase totalmente em cenários interiores, criou uma abordagem totalmente diferente sobre os problemas metafísicos que envolvem o Tempo. Ao contrário da abordagem tradicional que o cinema faz baseada nos paradigmas da Física (relatividade, continuum tempo-espaço, universos alternativos etc.), essa antiga série cult abordava o tema a partir de referenciais alquímicos e ocultistas. Telecinese e Psicometria convivem com transmutações e seres elementais que são, na verdade, guardiões do Tempo que assumem formas humanas. Elementais que parecem ter saído de uma Tabela Periódica de química e que lutam contra entidades malignas que querem explorar os pontos fracos dos corredores do Tempo.

sábado, agosto 31, 2013

Guia prático de destruição do capitalismo


Vamos dar uma pequena contribuição à escalada de manifestações no Brasil no mundo com um pequeno “Guia Prático de Destruição do Capitalismo” mostrando que o verdadeiro inimigo não está nas vidraças de agências bancárias ou nas lanchonetes símbolos da globalização, sempre alvos de depredações. Está na financeirização e liquidez do capital, símbolos da força e, paradoxalmente, também da fraqueza de um sistema baseado apenas na credibilidade através da nossa participação a cada compra a prazo ou quando pagamos através da socialização dos prejuízos das explosões das bolhas financeiras. E a única forma de libertação existente é através daquilo que o filósofo francês Jean Baudrillard chamava de "aprofundamento irônico e proposital das condições negativas".

And when we kiss we speak as one
With a single breath this world is gone
(Everyone Everywhere, New Order)


Desde o crash da Bolsa de Nova York em 1929 quando quase tudo derreteu e foi para o ralo, o capitalismo aprendeu que a força do capital não estava na exploração local da força de trabalho, mas na industrialização e mercantilização como modelo de vida social para ser expandido de forma sistêmica e planetária. Isso foi conseguido por meio da publicidade, mídia e financeirização do capital. Isso não evitou as crises, que se tornaram cada vez mais periódicas (longos ciclos de prosperidade acompanhados por crises e explosões de bolhas especulativas).

quarta-feira, agosto 28, 2013

O demônio é um anjo caído em "O Advogado do Diabo"


Apesar de flertar com temas místicos e espirituais não ortodoxos, Hollywood ainda precisa manter as convenções dos gêneros cinematográficos. Um dos exemplos dessa dualidade vivida pelo cinema comercial é o filme “O Advogado do Diabo” (Devil’s Advocate, 1997) onde o diretor Taylor Hackford tenta inserir uma visão mais matizada e ambígua da figura do Diabo em meio aos tradicionais clichês satânicos reforçados por efeitos de computação gráfica. Através da inesquecível performance de Al Pacino, o filme nos apresenta uma sutil visão do Diabo como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

O ano é 1997. Na segunda metade dessa década Hollywood vive uma espécie de guinada metafísica. Desde “Dead Man” (1995) do diretor Jim Jarmusch, um western místico onde as religiões institucionalizadas são ridicularizadas, roteiristas e produtores começam a flertar com temas e abordagens místicas ou espirituais não ortodoxas, tal como o gnosticismo. Nesse ano estão em produção “Show de Truman” e “Cidade das Sombras” (que serão lançados no ano seguinte) e o filme “Matrix” está sendo gestado pelos irmãos Waschowski. Esses filmes fazem parte de uma tendência cinematográfica da época repletas de temas, arquétipos e simbolismos religiosos, mas com uma abordagem mística e gnóstica.

Também, nesse ano é lançado o filme “O Advogado do Diabo” dirigido por Taylor Hackford, adaptação do livro de Andrew Neiderman. Se no livro há uma ambiguidade fundamental em relação ao personagem principal (não sabemos se ele é um louco ou a própria encarnação do Diabo, ambiguidade resolvida no monólogo final), no filme percebe-se uma ambiguidade de outra natureza: o conflito entre as convenções do gênero terror/suspense imposta pelos produtores em apresentar o Diabo na tradicional visão judaico-cristã e a adaptação ao livro que procura apresentar esse personagem de uma forma mais matizada – uma visão alternativa do Diabo, própria da literatura do Romantismo que o via como uma figura prometeica, um anjo caído e condenado pelo Criador por ter apresentado ao homem o fruto do conhecimento.

domingo, agosto 25, 2013

O gnosticismo cult de "Donnie Darko"

Desde o seu lançamento em 2001, o filme “Donnie Darko” do diretor Richard Kelly tornou-se um fenômeno cult: é um dos filmes mais pesquisados e acessados na Internet (atualmente ocupa a 185° do Top 250 do IMDB), em geral espectadores que buscam uma explicação para enigmática narrativa sobre um adolescente problemático com misteriosas visões de um coelho de dois metros de altura chamado Frank que faz uma espécie de contagem regressiva para o fim do mundo. “Donnie Darko” é um exemplo de filme que se tornou atemporal por amarrar em um inteligente roteiro arquétipos contemporâneos e milenares sobre o tempo, destino e redenção.

As primeiras cenas parecem ter todos os ícones dos filmes convencionais sobre adolescentes que moram em subúrbios com problemas existenciais na high school envolvendo namoradas e jovens valentões. Mas aos poucos vamos descobrindo que estamos diante de um filme incomum: uma parábola em humor negro da angústia da Geração X? Um drama sobre um adolescente psicopata? Um filme de ficção científica e fantasia ao estilo da série “Além da Imaginação”? Alguma coisa entre David Lynch e Arquivo X? Nenhuma dessas alternativas consegue dar o tom exato à estranha narrativa. Mas uma coisa é certa: “Donnie Darko” é um desses filmes com inteligentes linhas de diálogo e personagens realistas imersos em uma narrativa com uma atmosfera fantástica que nos compele a ver o filme mais de uma vez.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Dez patentes sobre controle subliminar da mente


Embora questionada por estudos em neurociências e psicologia cognitiva e proibida por leis e códigos de comunicação e consumo, as formas subliminares de controle da mente e do comportamento se expandem. Pelo menos é o que demonstram o crescimento do número de patentes registradas no The United States Patent and Trademark Office sobre técnicas, sistemas e dispositivos subliminares de indução e monitoramento da mente. Isso sem falar da expansão do “neuromarketing” onde novas empresas surgem para explorar as potencialidades subliminares e comerciais de músicas, sons e aromas, como uma nova e ainda imprecisa ciência. O crescimento das patentes confidenciam a ascensão de uma nova forma de controle social, cada vez mais abusiva e invasiva.

Na maioria dos países o uso de mensagens ou publicidade subliminar é proibido por lei e por códigos deontológicos dos profissionais de comunicação. Embora estudos recentes da psicologia cognitiva demonstrem que a possível influência e poder de manipulação dessas estratégias subliminares sejam muito inferiores à expectativa criada, o fato é que na atualidade vendem-se técnicas que são agora nomeadas como “neuromarketing”: “arquitetura de áudio” para estimular vendas em lojas, aromas subliminares vendidos por empresas para criar estados emocionais em consumidores, vídeos subliminares com programas terapêuticos do gênero como emagrecer ou como parar de fumar etc.

Existe pouca literatura confiável sobre o tema, onde se misturam teorias conspiratórias com repetitivos exercícios de psicologia gestalt, como o caso de Wilson Bryan Key que teria descoberto inúmeras mensagens ocultas em anúncios publicitários de uísque associados a sexo e morte em cubos de gelo (CHEN, Adam. Expert discusses the effects of subliminal advertising In: The Tech – on line edition). Na Internet, sites e blogs sobre o assunto mostram intermináveis exemplos de imagens ocultas em anúncios e desenhos animados que mais se assemelham ao teste projetivo de Rorschach – pranchas com manchas de tinta cuja interpretação revelaria projeções de aspectos da personalidade.

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