quarta-feira, setembro 04, 2013

Em Observação: "Sapphire & Steel" (1979-1982)


Imagine uma série como "Dr. Who" misturada com alquimia e ocultismo. Foi a antiga série televisiva britânica chamada "Sapphire & Steel". Com baixo orçamento e filmado quase totalmente em cenários interiores, criou uma abordagem totalmente diferente sobre os problemas metafísicos que envolvem o Tempo. Ao contrário da abordagem tradicional que o cinema faz baseada nos paradigmas da Física (relatividade, continuum tempo-espaço, universos alternativos etc.), essa antiga série cult abordava o tema a partir de referenciais alquímicos e ocultistas. Telecinese e Psicometria convivem com transmutações e seres elementais que são, na verdade, guardiões do Tempo que assumem formas humanas. Elementais que parecem ter saído de uma Tabela Periódica de química e que lutam contra entidades malignas que querem explorar os pontos fracos dos corredores do Tempo.


Sapphire & Steel Série de TV (1979-1982)
Diretor: Peter J. Hammond
Plot: “Sapphire & Steel” foi uma série de ficção científica da TV britânica estrelando David McCallun como Steel e Joanna Lumley como Sapphire. A narrativa é centrada nesse casal de agentes interdimensionais. Ao longo da série pouco é revelado sobre seus propósitos ou origens, mas com o passar dos episódios percebemos que eles são uma espécie de guardiões da ordem. Mais precisamente, eles devem manter a integridade do Tempo. Eles são seres elementais (aço e safira) que assumem a forma humana para manter o fluxo do
Tempo. Como é explicado na locução em of do início de cada episódio, o Tempo é como se fosse constituído por corredores que envolvem a tudo. Nesses corredores há pontos fracos que podem ser quebrados por forças malignas, criaturas que existem desde o início dos tempos. Eles podem atravessar esses pontos de ruptura e capturar coisas e pessoas.
Esses pontos fracos seriam produzidos por “anacronismos”: uma canção de ninar, uma fotografia adulterada que mistura elementos contemporâneos e de época, uma casa decorada para copiar um estilo dos anos 1930 etc. Investigadores vão analisar a situação e, se a intervenção for justificada, entram em ação os seres elementais sob a forma humana. Existem 127 agentes, incluindo 12 “elementos transurânicos”, todos com nomes de elementos como chumbo, prata, cobre etc.
Por que está Em Observação? – Certamente a versão atual de “Dr. Who” inspirou-se nos enigmáticos episódios dessa série cult da TV britânica. Tudo é enigmático, com uma atmosfera teatral, efeitos especiais do início da era do vídeo e narração de eventos que despertam mais perguntas do que respostas. Há uma mistura de terror e ficção científica com fantasmas e uma espécie de enfoque alquímico do Tempo. “Sapphire & Steel” lembra muito um livro de Stephen King “The Langoliers” que depois teve a versão cinematográfica “Fenda no Tempo” (1995): um avião de passageiros entra em uma anomalia temporal onde todos acabam ficando presos no meio de uma espécie de fenda entre os diversos “frames” do tempo. Lá também encontram seres elementais responsáveis pelo fluxo do Tempo.
Talvez essa série seja uma das poucas narrativas que encara a ontologia do Tempo por um plano alquímico e não através dos paradigmas da Física – relatividade, continnum tempo-espaço, paradoxos etc. Tanto Sapphira como Steel se utilizam de recursos químicos para manusear a textura temporal: congelamento ao zero absoluto, transmutação, soldar metais, fusões etc. Tudo isso combinado com telepatia, telecinésia e psicometria.
É evidente o pressuposto ocultista da série com a figura dos agentes e especialistas que lidam com o Tempo como seres elementais. No ocultismo os elementais são seres que não são criados, mas “emanados” do Absoluto para iniciar seu processo de desenvolvimento incorporando-se à matéria para iniciar sua jornada de aprimoramento através dos reinos minerais, vegetais, animais para, posteriormente chegar ao estado humano. Gnomos, gênios, fadas seriam expressões em cada cultura sobre a presença desses seres operosos que carregariam nos ombros os nossos karmas (abusos e destruição do planeta) ao trabalharem de forma invisível pela ordem da Natureza.
Outro ponto interessante que merece uma análise melhor é o conceito de “anacronismo” que possibilitaria um ponto de fraqueza no corredor do Tempo. Nitidamente percebe-se que a série não possui uma visão pós-moderna do Tempo como múltiplas realidades alternativas como um intertexto. Embora composto por diversos corredores, é um fluxo único, a seta do Tempo como passado, presente e futuro. A nostalgia através da arquitetura e decoração, fotografias e contos de ninar provocariam essa fraqueza pelo desejo humano em se prender a determinados pontos do passado. Isso lembra a noção freudiana de trauma - ficar preso a uma cena no passado que se repete no psiquismo fazendo o resto da vida se tornar uma redramatização da “cena primitiva”, como denominava Freud.
Também é interessante que no final dos anos 1970 iniciava-se um período que muitos definiram como “Pós-moderno”: uma estranha nostalgia que dominou a cultura através de remakes e pastiches na arquitetura, cinema, moda, decoração e de toda cultura pop. Casas que estilizavam estilos de arquiteturas de décadas ou períodos históricos do passado, filmes que se tornavam pastiches ou colagens de gêneros dos anos 1940 e 1950 (Blade Runner de 1982 é um bom exemplo) e a compulsão em querer voltar ao passado para encontrar um sentido para o presente – “Em Algum Lugar do Passado” (1980), “Peggy Sue- Seu Passado a Espera” (1986) de Coppola ou mesmo “De Volta para o Futuro” (1985).
O que esperar? – Assistindo a alguns episódios o leitor perceberá que está diante uma série incomum, estranha e cheia de enigmas. As performances teatrais que beiram a uma canastrice proposital somados aos antigos efeitos especiais que inundavam os primeiros vídeos clips da MTV na época, oferecem uma deliciosa e estranheza. A narrativa é enxuta (cada episódio dura 25 minutos), mas repleta de referências alquímicas e ocultistas. Para quem curte esses temas, verá em “Sapphire & Steel” um prato cheio. Os baixos custos da produção e o fato de quase todos os episódios serem em espaços interiores confere um clima claustrofóbico com estranhas trilhas musicais.

Como assistir? - No Youtube há temporadas completas com legendas em inglês. No site OpenSubtitles.org o leitor poderá encontrar legendas em espanhol e para alguns episódios legendas em potuguês de Portugal. Todas as temporadas podem ser encontradas em torrent no PirateBay.

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