terça-feira, abril 30, 2013

O Grau Zero da Política


Por que o PT é tão assertivo nas questões sociais e reticente quando se trata da Lei dos Meios e monopólios midiáticos? O verdadeiro ato falho do ministro da Educação Aloízio Mercadante ao sair em defesa ao “seu” Frias frente às denúncias da Comissão da Verdade representa aquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de “grau zero da política”: as esquerdas nunca quiseram chegar ao Poder e, dizia Baudrillard, se um dia chegassem não haveria perigo porque o poder, de fato, não existe. Ele estava sendo profético.

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      À primeira vista, talvez o tema dessa postagem (política partidária) cause estranheza ao leitor em um blog especializado na discussão sobre cinema e gnosticismo. As últimas discussões sobre a Lei dos Meios e os monopólios de mídia e a reticência do governo atual em debatê-la lembram um conceito de influência gnóstica do pensador francês Jean Baudrillard: a reversibilidade simbólica, o gênio maligno presente em todos os sistemas – todos os sistemas chegam a um ponto de desenvolvimento e complexidade que acabam inviabilizando sua própria finalidade, voltando-se contra si mesmo. É o caso do sistema político que chegaria ao chamado “grau zero”, onde a finalidade social foi substituída pela simulação e sedução. É a “transparência do Mal”.

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Em carta ao jornal Folha de São Paulo o ministro da educação Aloízio Mercadante saiu em defesa da memória de Octávio Frias de Oliveira, falecido dono da “Folha”, após um delegado dos tempos da ditadura militar dizer, na Comissão da Verdade, que ele colaborou ativamente na repressão e tortura aos “terroristas” e “subversivos”. Esse episódio parece que foi a gota d’água para muitos que ainda, pacientemente, esperavam que após 10 anos de governos de esquerda a questão do monopólio midiático no país já tivesse sido, pelo menos, confrontada.

sábado, abril 27, 2013

E o Verbo se fez carne de celebridade no filme "Antiviral"


Em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando vírus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Assistindo ao filme canadense “Antiviral” (2012) percebemos que o diretor Branon Cronenberg sugere o elemento religioso por trás da nossa civilização das imagens e das celebridades. Mais precisamente, o mistério do “dogma revelado” (a misteriosa união entre o Verbo e a carne representada por Jesus Cristo) estaria motivando todo o culto fetichista pelas imagens na atual indústria do entretenimento, mas dessa vez não mais por meio de uma comunhão simbólica através da hóstia e vinho, mas agora por meios tecnológicos e mortais.

Na Bíblia o Evangelho Segundo João nos oferece dois versículos que são fundamentais para entendermos os mecanismos arquetípicos presentes na atual cultura das celebridades repercutida pela civilização das imagens: “E o Verbo se fez carne”, diz o versículo 14 do capítulo primeiro; “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”, versículos 51-71 do capítulo 6.

Se o pesquisador em Midiologia, o francês Regis Debray, estiver certo de que há uma linha de continuidade entre a civilização das imagens atual e os Concílio de Nicéia no ano 787 que estabeleceu o mistério da Encarnação de Cristo (o Eterno que se tornou carne, o Infinito que se tornou finito) e a representação do Invisível por meio de imagens, então Hollywood deveria erguer uma estátua em homenagem a São João.

quarta-feira, abril 24, 2013

A ficção midiática contamina o atentado de Boston


Há uma ambiguidade nas imagens que envolveram o atentado de Boston, geradora tanto da espiral de interpretações conspiratórias (“Operação False Flag e autoterrorismo) quanto as rotineiras versões genéricas sobre terrorismo de “facções radicais”. A ambiguidade fundamental dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, carregadas de clichês retóricos) associada a uma série de sincronismos e coincidências revela, em seu conjunto, um estranho sintoma do verdeiro contínuo midiático atmosférico que domina a nossa cultura: a contaminação da realidade pela ficção midiática.

Para quem lida com análise fílmica e estrutura de roteiro como esse autor, é impossível não perceber um estranho mix entre ficção e realidade no incidente das bombas detonadas junto à linha de chegada na Maratona de Boston: o timing de todos os acontecimentos subsequentes até a captura dos “suspeitos” (estranha expressão porque desde já estão condenados à morte), os fatos encadeados como em um clássico roteiro com a narrativa dividida em três atos (atentado/perseguição/captura) com timing de filme de ação hollywoodiano, a facilidade de captação de imagens de toda a ação pelas mídias, e, por fim, as clássicas e emotivas imagens de velas sendo erguidas em homenagem à vítimas e pessoas histéricas gritando “USA! USA!” enquanto o “suspeito” sobrevivente era levado preso.

Impressiona como a ambiguidade dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, com forte carga retórica como o detalhe em close de uma sacola com a bandeira dos EUA em uma calçada manchada de sangue) acaba produzindo uma espiral de interpretações tanto conspiratórias (a “operação false flag” ou autoterrorismo) quanto um atentado arquitetado por “facções radicais”.

domingo, abril 21, 2013

Deus está nos números no filme "Número 9"


Três personagens em três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August  faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua verdadeira identidade.

Chris Carter, criador da série “Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade, probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.

Nesse episódio de Arquivo X a personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.
Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a libertação.

sexta-feira, abril 19, 2013

Em Observação: "Número 9" (2007) e "Antiviral" (2012)

Paranoia pela onipresença do número 9 e um protagonista ao mesmo tempo prisioneiro e criador de mundos como um arquiteto de videogames e diretor de programas de TV. Para o pesquisador em sincromisticismo Christopher Knowles o filme "Número 9" explicitaria variantes do Gnosticismo Cristão. E no filme "Antiviral", em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando virus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Dirigido por Brandon Cronenberg, filho do conhecido diretor David Cronenberg, parece seguir os passos do pai: uma crítica social ao desenvolvimento tecnológico mesclado com situações bizarras e perversas. Esses são os filmes na mira do blog nessa semana.

segunda-feira, abril 15, 2013

Somos todos aliens no filme "Earthling"


O tema “alienígenas” encontra a sua maturidade no cinema no filme indie “Earthling” (2010). Nesse filme abandonamos os temas da invasão, dominação e submissão para entrarmos em um campo mais metafísico e gnóstico: será que todos nós seríamos aliens aprisionados nesse mundo? Alienígenas aos poucos vão despertando nesse planeta e descobrem que na verdade não são quem pensavam ser. Um acidente de carro e um incidente em uma estação espacial são os acontecimentos que despertarão nos aliens humanos o desejo de retornar à suas origens. Seríamos todos nós estrangeiros nesse planeta e a nossa condição de estranhamento e alienação sintomas dessa verdade? Esse é o tema central de um subgênero que podemos nomear como filmes AstroGnósticos.

O Gnosticismo clássico nos ensinou que os seres humanos são criaturas celestes prisioneiras de um Demiurgo sádico e louco. Somos prisioneiros nesse planeta apenas para acalmar seu ego ferido. Todos nós, incluindo o Demiurgo, seriamos emanações do Pleroma ou da Plenitude e de lá fomos expulsos devido a uma espécie de terrível aborto cósmico: a Criação.

Por sua vez, o Gnosticismo Cristão nos ensina que Cristo era um ser puramente espiritual, um “aeon” que foi enviado a nós diretamente do Pleroma com o objetivo de nos despertar para a realidade de que somos prisioneiros de um Deus cego auxiliado pelos seus Arcontes. Despertarmos através do conhecimento trazido por Ele sobre a nossa verdadeira natureza e identidade.

sábado, abril 13, 2013

O "bug" da Microsoft e o mal


Como interpretar o "bug" fatal da atualização do Windows 7 que fez inúmeros computadores entrarem em looping sem conseguir iniciar o sistema operacional? Como explicar um erro em proporções exponenciais partindo de uma corporação como a Microsoft? Conspiração mercadológica para forçar a atualização para o até aqui fracasso de vendas do Windows 8? Simples erro de sintaxe algorítmica de alguma linha de comando? Talvez o "bug" revele algo que nos escapa, apesar de sentirmos os seus efeitos no dia-a-dia: o desenvolvimento tecnológico estaria se aproximando a um estágio tal de complexidade que criaria uma reversibilidade fatal e maléfica e, ao mesmo tempo, irônica: a "hipertelia".

Fui mais um dos usuários vítimas da verdadeira bomba informática que foi a atualização "2823324" do Windows 7. Sem perceber, o Windows fez uma atualização automática que criou um “fatal system error” como sinistramente diagnosticou o próprio computador para mim. O sistema operacional não mais iniciava entrando em um looping, deixando-me em xeque diante dos prazos de entrega de artigos e modelos de provas para a Universidade onde leciono.

Segundo a própria Microsoft, a atualização combateria a uma vulnerabilidade na segurança do sistema que permitiria a um atacante ter acesso físico ao computador para explorá-lo. Mas, ironicamente, a atualização feita em nome da segurança realizou o sonho de qualquer hacker: produzir um efeito viral ou sistêmico e derrubar redes e computadores.

Para aprofundar ainda mais a ironia, de fato a atualização realmente deixou o computador mais seguro, mantendo-o incomunicável não só com a Internet (a fonte da ameaça) mas com o próprio usuário que não saberia que estaria sendo invadido. Cortou o mal pela raiz!

sexta-feira, abril 12, 2013

A trivialização da catástrofe no filme "Sound Of My Voice"


Filmes cuja premissa parece ser de ficção científica como viagens no tempo ou universos alternativos. Mas esses temas são apenas o pretexto para discutir questões existenciais e relacionamentos. "Sound Of My Voice"(2011), sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik, segue essa tendência que os críticos definem como "psicodramas alt.sci-fi". Aqui a narrativa sobre uma estranha seita cuja líder teria vindo do futuro põe em discussão a chamada "mentalidade da sobrevivência", forte traço da mentalidade atual: a nossa difusa sensação de abandono e insegurança em relação ao futuro que alimentaria a frenética busca contemporânea por seitas, religiões e técnicas de autoajuda e autoconhecimento alardeadas pela cultura midiática. 

Uma mulher é encontrada vagando pelas ruas de Los Angeles apenas trajando um lençol enrolado pelo corpo, sem memória e apenas trazendo como marca visível do passado uma tatuagem de uma âncora com o número 54 ao lado.
Um jovem casal decide fazer um documentário sobre uma estranha seita, cuja líder é aquela mulher que foi encontrada vagando pelas ruas. Agora ela afirma vir do futuro, mais precisamente do ano 2054 – ela teria chegado a essa conclusão depois de estranhos flahs de memória e o número 54 tatuado.
         Uma menina com traços de autismo brinca sempre solitária em seu quarto, fazendo estranhas figuras com blocos de montar.

terça-feira, abril 09, 2013

O programa "CQC" e a correia de transmissão


Iscas mirins, repórteres dublês de humorista e câmeras escondidas são hoje as principais armas de uma onda de moralismo seletivo que domina as telas de TV, como no caso exemplar que envolveu o deputado José Genoino e o programa “CQC”. Mas há algo de mais profundo nessa onda moralizante do que o atual jogo de cena político-midiático. Por trás da onda de programas televisivos representado pelo “CQC” (programas, por assim dizer, “sensacionalisticamente corretos”) esconderia a própria natureza do funcionamento da indústria cultural que no passado pesquisadores como Adorno e Horkheimer tematizaram: a ritualização de uma espécie de correia de transmissão na sociedade onde “aquele que é duro contra si mesmo adquire o direito de sê-lo com os demais e se vinga da própria dor”. O sensacionalismo seletivo que prefere despejar toda indignação nos “pequenos” que desde o início já estão derrotados e condenados do que nos poderosos seria a ritualização de um prazer voyeurista e sádico do espectador.

O episódio que protagonizou o “repórter” mirim usado como isca para que o programa "CQC" (Custe O Que Custar da TV Band) arrancasse de José Genoino algumas palavras (ele se recusa a conversar com os dublês de repórter/humorista do programa) esconde algo de mais profundo. Condenado pelo julgamento do chamado “mensalão” e exposto extensivamente ao linchamento midiático como um caso exemplar da onda de defesa da moralidade que varre o país, há algo de simbólico na figura de um político acuado em sua sala no Congresso, a portas fechadas deixando entrar uma criança oferecida como isca a alguém isolado e, talvez, carente por simpatia – a criança se dizia filho de militante do PT.

O CQC pareceu querer requentar uma notícia já passada, “chutar cachorro morto”, tentar tripudiar em cima de uma figura já julgada e condenada por chicanas jurídicas e pelo veredito midiático. Em outras palavras, ofereceu para os espectadores alguém supostamente fraco e derrotado para o deleite público da humilhação.

domingo, abril 07, 2013

A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"


O que acontece quando o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"? Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011), um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano? É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.

Quando Sam Reimi escreveu e dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited” movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.

Mais do que isso, talvez não imaginasse que nesse meio tempo o mainstream hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em “Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em “Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky, Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema comercial.

Somente é possível compreender integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011) colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões críticas no meio do mainstream hollywoodiano, como no caso desse filme.

sexta-feira, abril 05, 2013

A arquitetura subliminar de Victor Gruen no documentário "Gruen Effect"


Ele criou um conceito que mudaria radicalmente a sociabilidade e a percepção humana contemporânea. Inspirado em planejamento socialista e nas memórias dos espaços de convivência europeus com seus cafés e comércio de rua, um imigrante vienense foragido do nazismo cria nos EUA os primeiros Shopping Malls na década de 1940. Ele acreditava que seria a solução para a democracia americana em meio à alienação e solidão criadas pela expansão econômica pós-guerra. O arquiteto Victor Gruen mais tarde renegaria publicamente sua invenção ao vê-la convertida em “máquinas subliminares de venda”. Mas o seu nome acabou sendo associado ao principal efeito psicológico que o design arquitetônico dos centros comerciais criaria na mente dos consumidores: o chamado “Efeito Gruen Transfer”. Esse é o tema do documentário alemão “Gruen Effect: Victor Gruen and the Shopping Mall” (2012).

Ele definitivamente associou o automóvel ao consumo e alterou drasticamente o horizonte urbano das grandes cidades do mundo. Inventou o conceito de Shopping Mall (centros comerciais) cuja arquitetura acabou involuntariamente produzindo um efeito que os pesquisadores em comunicação subliminar chamam de “Gruen Transfer”: no momento em que os consumidores entram em um shopping são envolvidos por um layout arquitetônico intencionalmente confuso, fazendo-os esquecerem das suas intenções iniciais e tornando-os vulneráveis ao bombardeio sensoriais de sons, aromas e luzes – veja RUSHKOFF, Douglas. Coerction, N. York: 2000 e HOWARD, Martin. We Know What You Want. N. YorK: Desinformation, 2005.

O termo “Gruen Transfer” refere-se ao arquiteto austríaco Victor Gruen que, sem perceber, criou conceitos que mudariam radicalmente o desenvolvimento urbano do planeta. Um imigrante europeu que de forma dramática fugiu de uma Viena controlada pelos nazistas em 1938 e que, nos EUA em plena expansão da sociedade de consumo pós-guerra e paradoxalmente inspirado no planejamento socialista e de suas memórias sobre os espaços comunais dos cafés e lojas de ruas europeias, criou os primeiros shopping centers na década de 1940.

segunda-feira, abril 01, 2013

Em Observação: "The Cabin In The Woods" (2011)


Sugerido pelo nosso leitor Marcelo Sousa, o filme “The Cabin In The Woods” é definido pela crítica como um mix de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” com “Matrix”. Ele não se limita a fazer exercício de desconstrução do gênero terror, mas quer oferecer respostas: por que os assassinatos são tão ritualísticos? Por que o Mal pune os desobedientes e os bons sempre sobrevivem? O filme interessou ao Blog, pois promete questionar a própria representação do Mal nesse gênero cinematográfico: o chamado clichê da “quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem”.

sexta-feira, março 29, 2013

Geografias Interiores: cartografias e topografias da mente


A cinematografia desse início de século parece expressar nas suas narrativas fílmicas uma agenda tecnológica contemporânea onde não apenas generaliza o modelo computacional como fosse o próprio modelo cognitivo de funcionamento da mente, mas também pretende criar modelos simulados de funcionamento cerebral a partir de verdadeiras cartografias e topografias da mente. O esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da Informação para não só desvendar o funcionamento da mente como também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la. Filmes que parecem expressar essa agenda tecnocientífica ao empreenderem uma verdadeira geografia alegórica dos processos mentais. Tal agenda culmina hoje no reforço de um novo tipo de sujeito das novas redes tecnológicas digitais: o sujeito fractal e a sua compulsão em representar cartograficamente seus pensamentos, hábitos, relacionamentos e projetos pessoais por meio de verdadeiras “geografias interiores”.

O filme pode ser considerado um verdadeiro documento primário por expressar através de imagens e movimento o imaginário e sensibilidades de uma determinada época. O historiador Marc Ferro, um dos principais nomes da chamada “Escola dos Annales”, acredita que a relação cinema-história tem um importante papel no campo historiográfico: "o imaginário é tanto história quanto História, mas o cinema, especialmente o cinema de ficção, abre um excelente caminho em direção aos campos da história psicossocial nunca atingidos pela análise dos documentos" (FERRO, 1992, p.12). Não importa se o filme refere-se a um passado remoto ou imediato, pois sempre vai além do seu conteúdo:

domingo, março 24, 2013

A canastrice dos sete dispositivos da propaganda


"Mera coincidência" (Wag The Dog, 1997)
Em 1940 um artigo denunciava os chamados “sete dispositivos da Propaganda” e exortava os leitores a detectá-los por ser uma necessidade absolutamente vital para não serem enganados. Setenta e três anos depois esses dispositivos continuam ativos apesar da absoluta obviedade, exagero, “overacting” e, principalmente, canastrice dos intérpretes desses verdadeiros scripts que são reeditados sob uma roupagem moderna e descolada por marqueteiros e publicitários. Como é possível que depois de tanto tempo esses dispositivos continuem na linguagem da mídia, da Política, do Marketing e da Publicidade? E, apesar da explícita natureza fake e não-espontânea desses dispositivos, continuam a pautar a sociedade e conquistar corações e mentes. Qual a causa dessa invasão da canastrice na política e na esfera pública?

Nesse final de semana um amigo mostrou-me um antigo exemplar de uma revista de artes gráficas norte-americana chamada “Print - A Quartely Journal of the Graphic Arts” de setembro de 1940. É muito mais do que uma revista, pois combina delícias visuais e belíssimas fotografias com textos pesados e com foco sério.

A revista abre com um ensaio intitulado “Propaganda e Artes Gráficas – a influência na opinião pública para a Unidade Nacional” de William E. Rudge. O texto nos oferece diversos exemplos de “mensagens positivas”, abordando como o design gráfico pode ser uma ferramenta para “condicionar o comportamento humano”. Rudge escreve: “é absolutamente vital distinguir, através da compreensão e análise, a boa e a má propaganda. Não se deixe enganar!”.

sexta-feira, março 22, 2013

Em Observação: "Disconnect" (2012)


Nosso leitor “!3runo” sugeriu o filme “Disconnect” que imediatamente passou a interessar o blog: sua tese central é a de que o massivo acesso às redes sociais e a natureza viciante das comunicações instantâneas estão nos tornando desconectados em relação às pessoas em torno de nós. As três inter-relacionadas histórias do filme que envolvem exploração pornográfica na internet, cyberbullying e fraudes com cartões de créditos revelam não só o potencial criminógeno das novas tecnologias. Seriam a face mais sensacionalista do fenômeno subterrâneo da incomunicabilidade em plena era da informação.

segunda-feira, março 18, 2013

A contradição secreta da Publicidade em "The Greatest Movie Ever Sold"


Uma hilária experiência de meta-cinema. “The Greatest Movie Ever Sold” (2010) foi a solução encontrada pelo diretor Morgan Spurlock para abrir as portas das secretas táticas da publicidade, marketing e gestão de marcas: criar um meta-filme onde o tema é a própria campanha de Spurlock para encontrar empresas que aceitassem fazer co-promoção através do “product placement” – inserção subliminar de produtos e marcas no seu próprio filme. Através da observação participante Spurlock nos mostra como esse negócio transformou-se no Santo Graal do marketing e, ao mesmo tempo, expõe a natureza da Publicidade atual: contraditória ao ter que negar a si mesma; e paradoxal por ter que se tornar cada vez mais invisível em um mundo de visibilidade.

Depois de apresentar as batas fritas transgênicas do McDonald’s (“Super Size me”, 2004) que jamais deterioram e denunciar a procedência suspeita da carne dos hambúrgueres da rede de fast food forçando-a a fazer uma massiva campanha mostrando como seus sanduíches estão mais “verdes”, o diretor Morgan Spurlock escolhe outro alvo: o marketing subliminar. Mais precisamente o chamado “product placement”, como a publicidade insere produtos nas cenas de filmes e produtos audiovisuais. Em uma sequência de “Homem de Ferro” (Iron Man, 2008) vemos o personagem Tony Stark dirigindo velozmente um Audi conversível; ou em “Homen Aranha” vemos o protagonista Peter Parker cruzando uma avenida de Nova York tendo ao fundo letreiros e outdoors de diversos produtos.

“The Greatest Movie Ever Sold” faz ao mesmo tempo um documentário e uma sátira de como os filmes hollywoodianos deixaram de ser patrocinados para serem, agora, vendidos a investidores para que se tornem vitrines de produtos e marcas. É o Santo Graal do marketing: a co-promoção. A produção de “Homem de Ferro”, por exemplo, foi associada a 14 marcas. Elas tornam-se co-produtoras e última palavra na aprovação até em questões artísticas como roteiro e narrativa que, aliás, têm que inventar sequências para a exposição das marcas parceiras.

sexta-feira, março 15, 2013

Mas afinal, quem é o dono do hardware?

Após resultados positivos nas investigações sobre a interface cérebro/máquina, o cientista Miguel Nicolélis vai além: em artigo publicado na “Cientific Reports” anuncia o sucesso na conexão entre cérebro/cérebro. O arco de benefícios iria desde aplicações médicas como reparos eletrônicos em tecidos cerebrais até o surgimento do primeiro “computador orgânico”, uma Internet formada por cérebros conectados em tempo real. Essas promessas tecnocientíficas adquirem um aspecto messiânico ao serem divulgadas pela mídia de forma descontextualizada e solta em uma espécie de vácuo das boas intenções. Mas quem financia a pesquisa? Qual o destino dessas descobertas ao transformarem-se em comodities em uma sociedade de mercado? Para além das aplicações pontuais, que tipo de paradigma ou modelo de individualidade as neurociências repercutem na cultura? E o principal: mas afinal, quem é o dono do hardware?


Nicolélis tem nobres intenções: ele quer fazer tetraplégicos andarem através da interface cérebro/máquina e tecidos cerebrais lesionados se reconstituírem através da tecnologia e plasticidade inerente às redes neuronais. Nicolélis se deixa fotografar com camisas discretamente abertas para que possamos perceber uma camisa verde e amarela por baixo. Ele faz questão de declarar que todo o know how tecnológico dos laboratórios da Universidade de Duke nos EUA foi trazido para o Instituto de Neurociência de Natal, Rio Grande do Norte. Nicolélis é um nacionalista, sinal do crescente protagonismo do Brasil no cenário internacional após anos de governo Lula e Dilma.

Os avanços tecnocientíficos parecem estar acima de qualquer juízo de valor ou crítica por serem o resultado prático do esforço coletivo do intelecto humano. Esses avanços fascinam pela potencial utilidade e benefícios que podem trazer ao gênero humano: quem poderá ser contra a possibilidade de paralíticos voltarem a andar e cérebros lesionados recuperarem suas funções?

segunda-feira, março 11, 2013

Em Observação: "Black Mirror" (2011-2013)


Nosso leitor Nelson Job indicou a série inglesa exibida no Channel 4 “Black Mirror”. Com duas temporadas compostas por três episódios cada, nos apresenta as potencialidades sombrias de tecnologias já existentes como biochips, Internet e mídias sociais. Criada pelo jornalista e roteirista Charlie Brooker (notável pela sua crítica ácida aos formatos televisivos como em “Dead Set” onde zumbis invadem um reality show) “Black Mirror” está “Em Observação” pelo Blog por dois motivos: primeiro: por fazer uma crítica midiática-política-social de tecnologias portáteis atuais (aplicativos, widgets, apps etc.) que querem fazer nossa identidade e, segundo, a irônica condição dessa série: feita por uma produtora que pertence ao grupo Endemol, notória pela criação de games televisivos e reality shows como o “Big Brother”, formatos criticados pela própria série.

sexta-feira, março 08, 2013

Quem você vai encontrar depois de morrer?


As representações da vida pós-morte no cinema são um verdadeiro sismógrafo do que se passa entre os vivos aqui na Terra. As sucessivas mudanças das representações cinematográficas do céu e da morte ao longo das décadas parecem refletir ansiedades culturais, avanços tecnológicos e importantes fatos históricos. Ao fazer um cruzamento do conto “Os Fantasmas de Scrooge” de Charles Dickens com a chamada “Teoria dos Seis Graus de Separação” o filme “As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu” (Five People You Meet In Heaven, 2004) comprova essa tese ao nos apresentar um cenário pós-morte onde pessoas criam seus próprios “céus”, como fossem anjos decaídos imersos em si mesmos. Seria o reflexo da virtualização atual do eu no ciberespaço onde avatares se transformam em espécies de divindades criadoras?

As representações do cinema sobre a existência pós-morte revelam muitas mais as mazelas da vida terrena do que qualquer verdade extra-corpórea. Como nenhum cineasta conseguiu voltar da morte com takes para um documentário sobre a vida após a morte, o tema acabou tornando-se um espelho das ansiedades culturais, avanços tecnológicos e crises religiosas e espirituais de cada época.

Apesar das representações do céu, da morte, e da existência pós-vida se alterarem de acordo com o imaginário de cada época, uma fórmula básica se mantém, a partir da qual se criam diversas narrativas e variações: personagem principal morre, chega no “céu” (algum espaço intermediário entre a Terra e o céu, limbo, ante-sala celestial ou a própria plenitude celeste etc.)  e é submetido a algum tipo de julgamento (revê sua própria vida, mentores ou entidades superioras o julgam, retorna para a vida para uma “segunda chance” etc.).

segunda-feira, março 04, 2013

Blog "Cinegnose" foi tema do Terceiro "Hangout Gnóstico" da Sociedade Gnóstica Internacional


Neste último domingo (03/03) tive a honra de ser entrevistado no “Terceiro Hangout Gnóstico” dentro do tema “Cinema Gnóstico” e as contribuições que esse blog tem oferecido ao campo das discussões sobre o  gnosticismo. O evento é uma iniciativa da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba (PR) que aproveita a ferramenta Hangout do Google + (sistema que permite videoconferências) para aproximar as pessoas objetivando construir uma comunidade em torno da espiritualidade gnóstica.

Seu presidente, Giordano Cimadon, define essa iniciativa como “uma forma de promover um contato entre gnósticos de diferentes partes do mundo e estabelecer um formato mais atualizado de apresentação da cultura gnóstica”.

Na entrevista acompanhada de debates e questionamentos, pude descrever a trajetória do blog “Cinema Secreto: Cinegnose” como uma resultante do projeto de mestrado sobre o Cinema Gnóstico, a evolução desse gênero cinematográfico até a atualidade e a possibilidade de a mídia cinematográfica possibilitar a experiência da gnosis, projeto atual de doutorado onde procuro relacionar esta experiência transcendente com o “acontecimento comunicacional” e suas potencialidades políticas no sentido de quebra de uma ordem do cotidiano do espectador - assista ao hangout completo no vídeo abaixo.

domingo, março 03, 2013

Drogas, discoteca e 3D: o atalho pop para o Sagrado


Dos primeiros espaços sensoriais multimídia das discotecas dos anos 70 ao cinema 3D da atualidade, acompanhamos diante dos nossos sentidos a materialização tecnológica de toda uma dimensão mística e sagrada: a materialização dos simbolismos arquetípicos da espécie diante dos nossos sentidos por meio da convergência das mídias através das tecnologias digitais. Se no passado era necessário a ascese e disciplina espiritual para vivenciar essa dimensão metafísica, hoje as tecnologias sensorias prometem um atalho. Qual o destino da milenar aspiração mística e religiosa por transcendência num ambiente altamente tecnologizado sob o controle de grandes corporações?

Em uma aula da disciplina Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi discutia com meus alunos as referências visuais de cada década. Em relação aos anos 70, apresentava as referências visuais da Disco Music: moda, comportamento e, principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas geométricas randômicas, gelo seco etc. Em termos de comportamento, sabemos que, ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop. Na era da Disco Music acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a ascensão das drogas "speed" como a cocaína. Diante de tanto estímulo sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira.

sexta-feira, março 01, 2013

A urgência da destruição no cinema norte-americano

O poder financeiro e tecnológico da indústria cinematográfica norte-americana parece ter uma relação direta com a escala de destruição exibida em seus filmes: de catástrofes em proporções planetárias a micro-desastres cotidianos como perseguições seguidas de explosões e choques de automóveis, destruição de bens e descartabilidade de objetos. Em um pequeno insight solto  em uma frase do livro clássico “Monopoly Capital” de 1966 os economistas Paul A. Baran e Paul M. Sweezy sugerem uma conexão entre essa verdadeira cultura da destruição fílmica e a chamada obsolescência planejada, estratégia dos oligopólios e monopólios de propositalmente fabricar e distribuir produtos que em pouco tempo ficarão obsoletos ou não-funcionais, forçando o consumidor a adquirir uma nova geração de produtos evitando, assim, a estagnação dos mercados. Poderiam as destruições em série no cinema ser a proto-narrativa que naturaliza e torna aceitável essa descartabilidade generalizada de bens? Ou seria apenas a expressão de um “espírito de época”?

Em uma curtíssima passagem que mais parece um insight inserido no final de uma frase, os economistas Paul Baran e Paul Sweezy no livro “O Capitalismo Monopolista” fazem uma surpreendente conexão entre a necessidade de o capital criar obsolescência e descartabilidade dos produtos nos seus esforços por vendas e a obsessão do cinema norte-americano em explorar o tema da destruição generalizada em muito dos seus filmes. Os autores jogam no ar a sugestão de um interessante sincronismo entre um fato econômico e a verdadeira cultura da destruição que marca os filmes norte-americanos: filmes-catástrofes, perseguições que terminam em colisões e explosões, incêndios, desmoronamentos, monstros ou aliens que destroem cidades, sinistros de todas as espécies que levam a destruição de bens e propriedades em larga escala etc.

Cenas de destruição ou descartabilidade generalizada de bens como roupas e automóveis são inseridas em narrativas dos mais diversos gêneros cinematográficos desde formas explícitas (os filmes-catástrofes sobre o fim do mundo) ou formas mais sutis: para onde vão as roupas “civis” do homem-aranha e do super-homem após as suas transformações em becos e cabinas telefônicas? Não importa o gênero de filme: sempre estará lá uma cena de colisão de automóveis, um incêndio, a descartabilidade ou perda de objetos ou bens como automóveis, roupas e casas que parecem não incomodar muito os personagens. Tudo parece que poderá ser reposto ou reconstruído rapidamente.

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Oscar de melhor filme para "Argo": os EUA elogiam sua principal arma, a ilusão

Premiado com o Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e edição, o filme “Argo” (2012), dirigido e estrelado por Ben Affleck, se integra a uma tendência atual de filmes voltados aos anos 1970 (“Super 8”, “Um Olhar do Paraíso” etc.), dessa vez recriando a trama real do resgate pela CIA de seis diplomatas americanos durante a revolução iraniana de 1979 liderada por Ruhollah Khomeini. O filme parece confirmar uma estratégia de resposta imaginária da indústria do entretenimento a cada crise: se nos anos 80 reagiram com a nostalgia das décadas de 1950, agora diante da crise financeira global temos a nostalgia pelos temas da década de 1970. Tudo isso como espécie de reafirmação patriótica: “Sim! Ainda somos poderosos, mesmo com toda crise financeira real ainda dominamos o mundo imaginário, a nossa maior arma”.

A década de 1970 não foi fácil para a política externa norte-americana: a humilhante retirada do Vietnã, a escalada da crise do petróleo e, para culminar, a crise dos 52 diplomatas norte americanos mantidos como reféns por 444 dias após a embaixada dos EUA no Irã ser invadida por uma massa enfurecida em plena revolução iraniana de 1979.

Paralelo a esses problemas do mundo real, sabemos que, mais do que qualquer outro lugar no mundo, os EUA produziram uma cultura onde o entretenimento invadiu todos os setores da sociedade até o momento em que as pessoas passam a ser felizes por reviverem fragmentos do passado por meio das imagens ao invés de enfrentar a realidade diária.

É notório como a indústria do entretenimento norte-americana responde no plano do imaginário às crises políticas e econômicas vividas pelo país desde os anos 1970: primeiro, retornando a imagerie da década de 1950 como os anos dourados e míticos fundadores da autoconfiança americana – desde à retro-fantasia de Star Wars, filmes como “De Volta para o Futuro”, “Peggy Sue Got Married”, “Grease”, “American Graffity”, “Forrest Gump”, “Pleasantville” etc. À crise de autoconfiança, a indústria do entretenimento sugere uma nostalgia paradoxal: ter saudades de épocas que, afinal, não vivemos.

Em resposta à crise financeira global iniciada em 2008 após a explosão da bolha imobiliária nos EUA, Hollywood empreende uma nova onda nostálgica, dessa vez voltada aos anos 1970-80: filmes como “Super 8” (um mix de “Os Goonies” com “ET”), “Um Olha do Paraíso”, “Black Dynamite”, “The Runways” e todo o pastiche dos anos 1970 de “Kill Bill” de Quantin Tarantino.

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