Paranoia pela onipresença do número 9 e um protagonista ao mesmo tempo prisioneiro e criador de mundos como um arquiteto de videogames e diretor de programas de TV. Para o pesquisador em sincromisticismo Christopher Knowles o filme "Número 9" explicitaria variantes do Gnosticismo Cristão. E no filme "Antiviral", em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando virus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Dirigido por Brandon Cronenberg, filho do conhecido diretor David Cronenberg, parece seguir os passos do pai: uma crítica social ao desenvolvimento tecnológico mesclado com situações bizarras e perversas. Esses são os filmes na mira do blog nessa semana.
Número 9
Diretor: John August (2007)
Plot: Um ator com problemas emocionais se isola em uma casa com uma supervisora aparentemente neurótica, neste lugar desencadeando amizades e suspeitas. A resposta chega com dois segmentos posteriores, onde o mesmo personagem aparece como um criador de programa de televisão e um arquiteto de videogame.
Por que está “Em Observação”?: Em um artigo sobre os chamados filmes “AstroGnósticos” (subgênero dos filmes gnósticos onde o ser humano é apresentado como o resultado de uma experiência alienígena que nos aprisionou nesse planeta – clique aqui e leia o post sobre esse tema), Christopher Knowles chamou a atenção para esse filme de John August como “um dos mais potentes filmes com narrativa AstroGnóstica, onde explicíta uma variante do Gnosticismo Cristão. Por si só isso já foi o suficiente para o Blog
se interessar em conferir esse filme.
O filme parece lidar com dois elementos do gnosticismo: a paranoia como um estado alterado de consciência que pode abrir a possibilidade da gnose (iluminação espiritual) e a relidade como um “constructu” – não é à toa que o protagonista faz três personagens em três segmentos dieferente, personagens que envolvem criações de realidades: o ator, o diretor de programa reality show e um arquiteto de video games.
A crítica comenta que o filme dirigido por John August (roteiristas dos últimos filmes de Tim Burton) possui uma premissa de início absurda, uma narrativa difícil que desperta incômodo, mas que, no último segmento, tudo é compensado: as pistas soltas ao longo do filme (principalmente o significado onipresente presença do número 9 que desperta a paranoia no protagonista) passam a ter significados fascinantes s
obre religião, fé e “deus ex machina”.
O que promete?: O filme promete uma narrativa cheia de entrelinhas e significados e garante dar um novo significado à questões clássicas sobre a existência ou não de um Deus e a existência de uma possível força que dê sentido à existência do homem na Terra. Não é pouca coisa! Isso sem falar de um roteiro imaginativo e subversivo, apesar da irregularidade dos episódios. Por isso, vale a pena o Blog conferir se tudo isso que a crítica fala sobre “Número 9” confere.
Antiviral (2012)
Diretor: Brandon Cronenberg
Plot: Syd March trabalha em uma empresa que oferece enfermidades contraidas por celebridades para serem inoculadas em clientes fãs que querem viver e se sentir como eles. Até na doença! Para tanto, Syd inocula em seu corpo cada uma dessas doenças até que um dia se encarrega pessoalmente de tirar uma amostra de uma estranha enfermidade da celebridade mais famosa do planeta. Decide inocula-la em seu corpo até descobrir que a doença é fatal e matou a própria celebridade, mudando drasticamente a sua sorte.
Por que está “Em Observação”?: Brandon Cronemberg é filho do conhecido diretor canadense David Cronemberg, famoso pelos seus temas mórbidos e sombrios envolvendo as relações entre o corpo e as novas tecnologias. Brandon se apropria de um tema muito abordado por seu pai – o tema da mutação corporal associadas à tecnologia – e associa a uma crítica à sociedade e a mídia. Em um futuro próximo, a relação com as inatingíveis celebridades passa a ser tão obsessiva que fãs estarão dispostos a pagar muito para terem a mesma enfermidade do ídolo. No filme chamam isso de “comunhão biológica”. Esses verdadeiros transplantes de doenças têm o
devido cuidado de proteger os “direitos de reprodução”, garantindo que a doença não passará para nenhuma outra pessoa. O virus será exclusivo daquele que pagou.
Há aqui uma evidente crítica não só à cultura das celebridades, mas uma reflexão às tecnologias: dos sistemas antipiratarias à irônica condição da “hipertelia tecnológica” – sobre esse conceito clique aqui e leia o post. Isto é, em um ambiente o mais asséptico possível (no filme tudo é branco, prateado e frio), ironicamente até os virus e doenças transformam-se em mercadorias. Isso sem falar, a também irônica referência à condição “viral” das celebridades atuais em redes sociais.
O que promete?: A crítica salienta que Brandon Cronenberg segue as pegadas do pai com estranhezas, argumentos bizarros e um conceito forte elaborado em cima de uma crítica social ao desenvolvimento tecnológico. Ambientes frios e brancos que, logo depois, são desconstruídos com litros de sangue! Por exemplo, algumas ideias bizarras seriam de embrulhar o estômago como a carne processada a partir das células de celebridades. Segundo consta, diversas pessoas deixaram a sala no Festival de Cinema de Toronto na segunda metade do filme...