domingo, março 23, 2014
"Aurora" supera "A Origem" e inova as representações do inconsciente no cinema
domingo, março 23, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
É inevitável a
comparação entre “Aurora” (Vanishing Waves, 2012) da lituana Kristina Buozyte
com “A Origem” (Inception, 2010) de Christopher Nolan: enquanto a produção
hollywoodiana abordava o mundo onírico pelo viés das neurociências
(jamais a palavra “inconsciente” era citada), a produção lituana aborda o mesmo
tema, mas fiel ao ponto de vista freudiano sobre a dinâmica do psiquismo, inovando as representações do inconsciente no cinema através de
engenhosos efeitos inspirados em MC Escher e expressionismo alemão. Se Freud
considerava o inconsciente como o “Isso” e o “Estranho”, “Aurora” mostra como
uma neurociência atual munida de interfaces digitais e mapas neuronais tenta
ignorar essa origem de toda atividade humana impossível de ser apreendida pela
ciência racionalista.
Em postagem
passada quando discutíamos o filme A Origem (Inception, 2010)
observamos que a grande deficiência do filme de Nolan era abordar o tema dos
estados imersivos de alteração de consciência e o mundo onírico dos sonhos sob
um ponto de vista associado à engenharia do espírito das neurociências: embora
tudo ocorresse no mundo dos sonhos, nunca se tocava na palavra inconsciente e o
psiquismo era abordado pela possibilidade pragmática de manipulação
neurocientífica comandada por interesses corporativos.
O que tornou A Origem num filme estéril e assexuado
onde a presença feminina tornou-se masculinizada ou, então, um objeto abstrato
tal como uma princesa de contos de fadas. Bem diferente é o filme da lituana
Kristina Buozyte Aurora (Vanishing Waves) em que a narrativa
revisita alguns conceitos das viagens no mundo dos sonhos de A Origem. Porém, em Aurora, o psiquismo do mundo dos sonhos é uma mix de surrealismo e
de uma primitiva psicossexualidade que faria Freud ficar corado. Kristina se
aproxima muito mais do funcionamento do psiquismo humano do que Nolan ao
capturar como a experiência real do sonho pode ser assustadora e desagradável,
mesclada com primitivas e incontroláveis fantasias eróticas. O que torna Aurora um filme diferenciado no gênero
de ficção científica: uma erótica e surreal viagem mental.
quinta-feira, março 20, 2014
Documentário "O Abraço Corporativo": o jornalismo está nu
quinta-feira, março 20, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma das maiores
barrigas da grande mídia passou despercebida para o grande público e na época
sua repercussão acabou restrita a veículos especializados em jornalismo e
revistas acadêmicas. O documentário “O Abraço Corporativo” (2009) do jornalista
Ricardo Kauffman descreve o passo a passo da criação de uma “pegadinha” sobre
um suposto executivo de Recursos Humanos que estaria introduzindo no Brasil uma
revolucionária terapia motivacional baseada nos poderes curativos de um simples
abraço. Explorando os vícios de uma imprensa baseada no jornalismo declaratório
que está sempre em busca de bons personagens, o suposto representante da
chamada “Confraria Britânica do Abraço Corporativo” expôs as mazelas de um
jornalismo onde a ambição de ascensão na carreira de jornalistas está na
relação direta com a sua precarização profissional.
O filósofo Louis
Althusser dizia que ideologia é quando as respostas precedem as questões. Se
isso for verdade, então a prática jornalística se tornou a maior indústria de
produção ideológica, mais perigosa que o entretenimento porque opera sob a
chancela da informação e da realidade. Raramente o jornalista “descobre”. Na
maioria dos casos ele sempre encontra o que procura: tenta confirmar uma ideia,
uma hipótese ou, então, encaixar acontecimentos a um certo script que já tem em mente.
E para mostrar que
não está enganado, a melhor forma é produzindo um personagem por meio de uma
calculada busca de “desconhecidos”. Seus rostos na tela podem ser
desconhecidos, mas seus personagens são familiares. Um atentado? Procure um
bombeiro heroico e uma pessoa que por um lapso do destino não estava no local
da explosão porque acordou naquela manhã cinco minutos mais tarde. Uma manifestação?
Procure o líder (mesmo que ele não exista) ou aquele manifestante que saiu às
ruas pela primeira vez. Greve de ônibus? Procure uma mulher simples e ofegante,
desesperada porque seu patrão pode despedi-la caso não chegue ao trabalho.
segunda-feira, março 17, 2014
Em Observação: "Olhos de Rinoceronte" (2003)
segunda-feira, março 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme “Olhos de
Rinoceronte”, estreia de Aaron Woodley, sobrinho do famoso diretor canadense
David Cronenberg, é uma excelente oportunidade para se discutir como os filmes
gnósticos atuais exploram na sua estética a combinação de elementos do gênero
barroco e romântico, resultando naquilo que alguns autores chamam de “neobarroco”:
um protagonista que vive imerso num gigantesco depósito de antiguidades e
relíquias alugadas para produções cinematográficas, onde o amor por uma
cenógrafa tentará arrancá-lo daquele mundo de ilusões. Mas os objetos, em
bizarras animações em stop motion, tentarão mantê-lo prisioneiro naquela alegoria de caverna platônica.
sexta-feira, março 14, 2014
Videocassete, controle remoto e as oportunidades perdidas
sexta-feira, março 14, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O DVD passou e já
estamos na geração do Blu-Ray. Mas parece que no Brasil ninguém entendeu as
potencialidades de antigos dispositivos tecnológicos como o controle remoto e o
finado videocassete. As promessas do controle remoto de “se livrar de
comerciais chatos” graças à “magia negra da eletrônica”, como era divulgado o
novo dispositivo na década de 1950, se equivalem às perspectivas de que o
videocassete era a “libertação do vídeo” e que transformaria o espectador no “senhor
da TV” na década de 1980. Muitas teorias conspiratórias sustentam que foi muito
conveniente para o monopólio televisivo da Rede Globo que tais inventos não
fossem compreendidos na sua plenitude pelo telespectador. Com a possibilidade de gravações programadas que o videocassete oferecia, certamente
a grade de programação da Globo (introjetada tão profundamente no psiquismo do
brasileiro que foi capaz de diminuir a taxa de natalidade) certamente sofreria
grande impacto. Mas essa oportunidade foi perdida.
O ano era 1972.
Após o sucesso editorial do Manual do
Escoteiro Mirim (publicação infantil inspirada na atividade do escotismo dos
sobrinhos do pato Donald, Huguinho, Zezinho e Luizinho), a editora lançava o Manual do Professor Pardal no qual eram
contadas as histórias de muitas invenções, sempre ilustradas pela presença do
simpático personagem da galeria Disney.
Folheando as coloridas páginas com várias
curiosidades do mundo dos inventores e invenções, a certa altura deparamo-nos com
um pequeno texto sobre o videocassete, até então uma invenção recente da Sony e
introduzida no mercado norte-americano um ano antes. O texto sobre o novo
dispositivo tecnológico tinha um tom futurista e revolucionário que prometia
mudar a televisão tal como até então se conhecia:
segunda-feira, março 10, 2014
A nostálgica bomba semiótica do retrofascismo
segunda-feira, março 10, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois das
manifestações de rua onde foram produzidas bombas semióticas pontuais (fusca
incendiando, coreografia desafiadora dos black blocs etc.) acompanhamos a mídia
repercutir imagens de racismo, linchamentos, intolerância e crimes cometidos
por menores principalmente por meio de vídeos amadores produzidos por telefones
celulares. Todas as imagens seguidas de comentários alarmistas em telejornais
que incitam soluções ainda mais radicais. Sob a aparência neutra de informação,
as imagens a longo prazo suscitam uma estranha nostalgia que se espalha na
grande mídia e redes sociais. “Marcha da Família”, depreciação da política e
intervenção militar ou o revival de alucinadas conspirações comunistas cubanas e Guerra Fria são sintomas de um complexo psíquico mais profundo e preocupante: o
protofascismo colocado em movimento por meio do mecanismo semiótico do “retrofascismo”
– nostalgia pós-moderna + protofascismo.
· O jogador Arouca, disputando uma partida em Mogi Mirim/SP pelo time do
Santos, assim como o árbitro Márcio Chagas em jogo pelo campeonato gaúcho foram
alvos de insultos racistas por parte de torcedores;
·
Após o episódio de defesa do ato de linchamento contra um garoto negro
que havia cometido furtos em um bairro no Rio de Janeiro, a apresentadora de um
telejornal do canal SBT Rachel Scherazade sai nas redes sociais apoiando a
convocação da “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade” para o dia 22 que
defende, entre outras coisas, a destituição da presidenta Dilma e do vice
Michel Temer, dissolução do Congresso Nacional e intervenção militar,
ressuscitando antigos fantasmas como conspirações cubanas e comunistas;
sábado, março 08, 2014
Há um fantasma na máquina no filme "Ela"
sábado, março 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No filme “Ela” (Her, 2013 - Oscar de melhor roteiro original), o diretor Spike Jonze retorna ao tema da
intimidade e incomunicabilidade das relações humanas abordadas pelo filme
“Quero Ser John Malkovich” (1999). Só que dessa vez sem alegorias, mas com a
mediação tecnológica de um sistema operacional que parece adquirir inteligência
e desenvolver emoções autênticas. Será que o software desenvolve uma verdadeira
inteligência ou será que nós estamos rebaixando nossas expectativas sobre a
inteligência para as máquinas parecerem mais espertas? Se isso for verdade,
isso não prejudicaria também nossas expectativas em relação aos relacionamentos
e o amor? Mas para Spike Jonze há um fantasma na máquina que pode subverter as
programações algorítmicas e encontrar uma dimensão espiritual no espaço
quântico entre o “0” e o “1” da codificação binária.
Em meados da
década de 1990 um hacker americano em
Berlin e um colega francês colocaram em prática uma curiosa experiência em
ciber-sexo: criaram um traje especial para o corpo imergir numa
experiência de sexo à distância. Uma perfeita máquina de ciber-sexo que
possibilitaria uma relação sexual virtual entre Paris e Berlin. O experimento foi divulgado e atraiu uma
multidão nas duas cidades. O que se sucedeu foram pessoas vetorizando seus
corpos, supostamente sentindo toques e penetrações de seus parceiros remotos
como fossem experiências presenciais.
Mas algo curioso aconteceu. Ao final do segundo dia um ciber-parceiro de
Paris mandou uma mensagem dizendo que estava tendo um problema com os códigos:
uma falha na programação estava fazendo o programa funcionar em loop, em um feedback fechado. O que significava que em dado momento o usuário
não estava mais fazendo sexo com algum parceiro remoto, mas com suas próprias
sensações digitalizadas em looping. E
os participantes estavam adorando! Em síntese, a experiência europeia de
ciber-sexo converteu-se em um evento autístico, uma ciber-masturbação (leia
KROKER, Arthur. Hacking the Future.
New York: St. Martin Press, 1996).
quarta-feira, março 05, 2014
Futebol e a decadência do entretenimento dominical
quarta-feira, março 05, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Às vésperas de uma
Copa do Mundo no Brasil, fica evidente que existem dois tipos de inimigos do
futebol: os mortais e os morais. Ambos professam uma nova religião em ascensão
graças a ética da penúria favorecida pelo quadro de recessão internacional. Uma
religião que vê a realidade como uma existência dura e triste e que o pecado do
futebol é proporcionar a alienação e fuga dessa verdade. Mas não percebem que na atualidade
o futebol, tanto no estádio como na TV, transformou-se no espelho da decadência
do entretenimento dominical – o futebol não afugenta a realidade, mas, ao
contrário, a reproduz de forma repetida e amontoada. O futebol atual deixou de
ser uma festa de participação popular, um teatro grego ou alguma espécie de
catarse coletiva para ser conectado ao quadro de austeridade global. O futebol
deixou de ser um espaço lúdico de fuga da realidade para ser algo inseparável
do dia-a-dia.
Às vésperas da
realização da Copa do Mundo no Brasil, podemos perceber que existem basicamente
dois inimigos do futebol: os mortais e os morais.
Os inimigos
mortais dizem que o futebol é uma fuga. Para eles nada deve escapar da
realidade. O único tipo de vida reconhecível seria o fardo da vida adulta, o
chumbo da razão. Quem lograr fugir será morto pela inconsistência e
infantilização.
segunda-feira, março 03, 2014
Oscar 2014 apresenta sincronicidades e recorrências
segunda-feira, março 03, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O esperado duelo
entre os filmes "Gravidade" e "12 Anos de Escravidão" na categoria Melhor Filme
acabou se confirmado na 86o Cerimônia do Oscar. O prêmio da
categoria acabou confirmando uma recorrência observada pelo menos desde 2010: além
do fato que a Academia parecer não gostar muito de premiar filmes em 3D,
percebe-se que filmes de História sempre vencem. Como explicar esse padrão?
Talvez começando por uma curiosa sincronicidade que envolve a comediante Ellen
DeGeneres e Hollywood: ela sempre é convidada a apresentar cerimônias um ano
após grandes tragédias nacionais. Talvez aí encontremos uma conexão ideológica
entre os filmes-catástrofe, os chamados filmes históricos e o atual quadro
econômico mundial recessivo.
Desde o primeiro
cinema se estabeleceu a oposição entre ficção e realidade, ilusão versus
documentário: de um lado os irmãos Lumiére que acreditavam que a verdadeira
natureza da câmera era documental; do outro lado o ilusionismo das trucagens,
cortes e sobreposições das imagens do ex-mágico Méliés que acreditava que a
essência do cinema era ficcional. De um lado o realismo documental das imagens da
saída de operários no final de um dia de trabalho captadas pelos Lumiére; e do
outro, os efeitos mágicos da primeira viagem à Lua criados por Méliès.
Não é à toa que os
primeiros gêneros populares no primeiro cinema fossem tão opostos: o fervor
religioso dos filmes sobre a paixão de Cristo versus prazer voyeurístico das
primeiras imagens pornográficas. Ficção e não-ficção, ilusão versus realidade e
formalismo versus realismo foram oposições que a história do cinema acabou
criando, ajudando a construir uma forma de entretenimento não totalmente “irreal”,
mas carregado de verossimilhança e plausibilidade. Uma forma de entretenimento
que divertiria, mas, ao mesmo tempo, seria capaz de dizer “verdades”.
domingo, março 02, 2014
Em Observação: Oscar 2014 - "É a economia, estúpido!"
domingo, março 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao contrário de 2013, esse ano há poucos filmes entre os indicados ao
Oscar que abordam temas mitológicos, místicos ou religiosos. Se no ano passado
tivemos “Django Livre”, “As Aventuras de Pi”, “O Mestre” entre outros, no Oscar
2014 temos apenas o filme “Gravidade”, “Ela” e a animação japonesa “Vidas ao
Vento” de Hayao Miyazaki (“A Viagem de Chihiro”, 2001). Por que essa mudança
conceitual entre os filmes indicados ao prêmio máximo da indústria do cinema?
Será que a expressão “É a economia, estúpido!” sintetizaria essa guinada de
Hollywood para esse ano?
Comparado com a premiação do Oscar do ano passado, a presença de filmes
indicados com temas mitológicos, religiosos, místicos e esotéricos é
sensivelmente menor. Em 2013 tínhamos filmes como Django Livre (o encontro do spaghetti-western de Tarantino com
temas bíblicos e vingança), Indomável
Sonhadora (a jornada do herói de uma menina lutando contra a ameaça do caos
e das águas), O
Mestre (a história da espiritualidade contemporânea através da ascensão
de uma seita chamada Cientologia) e ainda As
Aventuras de Pi (onde os relatos de diversas religiões nada mais são do
que signos diante de um cosmos hostil e violento que cria no protagonista uma
nova experiência do sagrado).
sábado, março 01, 2014
Por que celebramos a velocidade?
sábado, março 01, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Quicklube”, “Quick Cash”, “American Express”, “Federal Express”, “Mach 3”, “Slimfast”, “Speedo”, “Speed Dial”, “Crédito Rápido”. “Entregamos em 20 minutos ou você não precisa pagar por ele”. “Você precisa agir AGORA!”. “Corra! Restam alguns dias. Acabarão muito em breve!” Ser veloz é moralmente bom, como diariamente nos dizem as mensagens publicitárias. Se a velocidade tornou-se uma força psicológica que afeta nossas relações com o mundo, como uma sociedade pode pretender humanizar o trânsito e a vida urbana se ela mesma promove a celebração da velocidade e da aceleração? Através dessa celebração da velocidade e da glamorização da lei do menor esforço, a obsessão pelo "maior é melhor" é substituída pela compulsão do "mais rápido é melhor“. Situações velozes se tornam significantes naturais do desejo, superioridade e eficiência, enquanto a lentidão é sinônimo de frustração e impotência.
Onde Guy Debord via a “sociedade do espetáculo”, Paul Virilio (urbanista
e pensador francês) via uma “sociedade da velocidade”. Nesta abordagem,
velocidade é um meio ambiente e uma força sócio-psicológica que transformam o
que fazemos, como o fazemos, como nós pensamos e sentimos e, assim, como nos
tornamos.
Os estados velozes se tornam o significante do desejo, capacidade,
superioridade, eficiência, energia libidinal, performance e inteligência. Ao
contrário, lentidão torna-se o significante da frustração, falta,
inferioridade, deficiência, impotência, fraqueza, ou ainda – pensando em termos
infantis – retardamento mental.
Velocidade se torna um novo imperativo cultural, disciplina, forma de
dependência e submissão. Virilio também vê a velocidade como uma força
psicológica e social ou uma pressão que altera a visão de mundo,
desorienta-nos, deixa-nos num estado de concussão mental e promove uma profunda
crise que afeta nossas relações com o mundo, sociedade e democracia. Para ele,
a natureza não é apenas destruída por uma poluição química ou térmica mas
também por uma poluição dromosférica – uma invisível poluição através da
velocidade (veja VIRILIO, Paul. “Velocidade e Política”).
terça-feira, fevereiro 25, 2014
Não existe almoço grátis para o remake "RoboCop"
terça-feira, fevereiro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Não existe almoço
grátis”, diz uma frase popular americana que sintetiza bem o espírito pragmático
daquele país. E José Padilha, diretor brasileiro de Tropa de Elite (2008), deve
ter comprovado isso ao ser convidado pelos estúdios da MGM para dirigir o
remake do clássico de ficção científica “RoboCop” dirigido pelo holandês Paul
Verhoeven em 1987. Atravessando séria crise financeira, o estúdio não quis se
arriscar em fazer uma refilmagem com o mesmo tom crítico visceral da versão
original: os temas da ganância corporativa, do desmanche e da privatização da
segurança pública estão diluídos em um roteiro onde os vários coadjuvantes se
equivalem em meras opiniões ou pontos de vista. Mais ainda, o filme parece
apresentar um estranho ato falho: ao colocar o papel da mídia como o principal
instrumento de manipulação corporativa, sugere que o próprio filme estaria
mostrando que o seu herói RoboCop poderia ser o instrumento de um lobby bastante
atuante em Hollywood, o da indústria de armas.
Na verdade o filme seria dirigido por Darren Aronofsky ("Cisne Negro" e "Pi"), que abandonou o
projeto no meio do caminho (o roteiro já estava pronto) diante das sérias
dificuldades financeiras do estúdio – segundo a revista Financial Time a MGM possui uma dívida atual de 3,7 bilhões de
dólares e grande parte dos seus lucros são atualmente drenados para o pagamento
dos juros – sobre isso clique aqui. As especulações
sobre o motivo da desistência de Aronofsky foram muitas: resistências fazer um
filme em 3D, recusa da MGM em pagar alto salário a um consagrado diretor e
rejeição do estúdio pelo roteiro apresentado por Aronofsky.
O fato é que José Padilha acabou trabalhando com o roteiro do estreante
Joshua Zetuner e como protagonista escolheu o sueco Joel Kinnaman. As locações
foram feitas fora dos EUA, no Canadá – as más línguas diriam que todas essas
alternativas mais em conta teriam sido escolhas naturais de um estúdio
pendurado sobre um abismo financeiro.
sábado, fevereiro 22, 2014
A miséria da estética e da linguagem do trabalhador precarizado
sábado, fevereiro 22, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No passado era o
proletariado, os explorados e os excluídos. Hoje temos os precarizados:
trabalhadores terceirizados, estagiários, temporários e todo um conjunto de
profissionais treinados espontaneamente para suas funções através da
manipulação de ícones em telas de celulares e mensageiros instantâneos usados no dia-a-dia, desde o velho ICQ até o atual Skype. Participantes incautos de uma ordem que foi secretamente gestada no interior de gigantescos prédios espelhados, com o apoio de uma estética e linguagem igualmente
precarizadas criadas por planilhas eletrônicas e elegantes gráficos e tabelas
projetadas em reuniões onde orgulhosos gestores professam discursos que
misturam efeitos de ciência, religião, misticismo e fenômenos da natureza.
“Aquele que é duro consigo mesmo também é com os demais” (Theodor
Adorno)
No início foi o gerundismo dos telemarketings e SACs de empresas que
invadiu a fala cotidiana. Ao mesmo tempo, imensos prédios corporativos em concreto
e vidros espelhados tomavam a paisagem urbana como fossem bunkers isolados do
contato com o mundo exterior por meio de seguranças privados e sistemas
centrais de climatização.
E no interior desses prédios foi secretamente gestada uma nova ordem
estética e linguística para dar sentido imaginário a um novo tipo de organização
de trabalho: a precarização – trabalhadores terceirizados, temporários, por
tempo parcial, estagiários, trabalhadores da “economia subterrânea” etc.
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
Quando fantasmas aparecem quem você chama: The Ghost Busters ou Ghostbusters?
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Poucos sabem, mas
o filme “Ghostbusters” de 1984 foi inspirado em uma série de TV exibida em 1975
nos EUA e no Brasil, chamada “The Ghost Busters”. Baseado no humor “pastelão” e
“trash” a série contava as aventuras e desventuras de um trio (entre eles um
gorila!) que perseguia fantasmas e seres sobrenaturais com um “desmaterializador
de fantasmas”. O roteiro original do
filme “Ghostbusters” escrito por Dan Aykroyd e Harold Ramis (mais fiel ao
espírito da série de TV de 1975) foi recusado pela Columbia Pictures e recriado
dentro de um tom bem diferente, dessa vez cínico e marcado pelos valores do “cinema
recuperativo” dos anos 1980 – os valores do empreendedorismo, individualismo,
fama, sucesso e ambição misturados com os fantasmas que deveriam ser
exorcizados em um país que tentava se reerguer através do neoliberalismo após a recessão da década de 1970.
Se o historiador francês Marc Ferro estiver certo de que o filme pode
ser considerado um verdadeiro documento primário por expressar por meio de
imagens e movimento o imaginário e sensibilidades de uma determinada época,
então encontraremos uma expressão cinematográfica das diferentes sensibilidades
de cada década em remakes ou
adaptações.
Podemos fazer um exercício dessa análise comparativa com dois filmes, o
original e o remake, dentro do subgênero “caçando fantasmas”: a série original The Ghost Busters (1975) e Ghostbusters (1984).
Esse verdadeiro subgênero tem uma longa tradição no cinema
norte-americano onde fantasmas ou seres sobrenaturais surgem para perturbar a
ordem do mundo dos vivos para depois serem caçados por heróis especializados
nos fenômenos paranormais (ou nem tanto) e despachados para o outro mundo de
onde não deveriam ter saído.
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Por que somos seduzidos pelo virtual?
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“É a verdade... a digitalização da vida real. Você não vai só a uma festa. Vai a uma festa com uma câmera digital. E seus amigos revivem a festa on line.” Essa afirmação de Sean Parker (criador do Napster, interpretado no filme por Justin Timberlake), que aparece solta nas frenéticas linhas de diálogo no filme “A Rede Social” (The Social Network, 2010), é a síntese do “desejo de virtualidade”, essa motivação individual que sustenta todo o projeto tecnognóstico que domina a atual agenda tecnológica e científica. O desejo pela digitalização da vida seria a recorrência de uma milenar aspiração gnóstica pela transcendência da carne e a imortalidade da espécie. Mas essa aspiração por transcendência transforma-se em má consciência ao ser capturada por sistemas econômicos e políticos. Transforma-se em ideologia, como questiona o pesquisador canadense em ciência política, tecnologia e cultura Arthur Kroker.
sábado, fevereiro 15, 2014
Projeto inédito no Brasil promete imersão real do espectador no cinema
sábado, fevereiro 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
3D, 4D, 5D, IMAX. A indústria
cinematográfica atual vem mobilizando toda uma parafernália tecnológica para
capturar o desejo de quebra da rotina e fuga da realidade do espectador.
Imersão e interatividade são as palavras de ordem da indústria do
entretenimento. Nesse mês uma inédita experiência de imersão cinematográfica em
São Paulo pretende ir além dessas estratégias industriais padronizadas,
mostrando que o espectador pode de fato imergir no espaço das sequências de um
filme: é o audacioso e complexo projeto Cine Imersão. Inspirado no conceito de teatro interativo existente
no Canadá, Austrália e Inglaterra, a fusão de cinema, performances, música e
narrativas ao vivo em um só universo propiciaria uma experiência real de
participação. Bem diferente da imersão tecnológica proposta pela indústria
hollywoodiana onde mente e corpo permanecem passivos todo o tempo.
Filmes em tecnologia 3D e IMAX. Salas de projeção onde cadeiras se mexem
e produzem efeitos reais como aromas, vento, fumaça etc. Tudo isso parece
demonstrar uma coisa: o desejo crescente dos espectadores e não apenas assistir
passivo, mas imergir no próprio filme.
Mas ainda assim nessas tecnologias a imersão é simulada: o corpo do
espectador ainda está passivo na poltrona e ele não pode explorar o espaço. A
tecnologia provoca os sentidos visuais, olfativos e táteis, mas o espaço
permanece inalterado e sem interatividade.
quinta-feira, fevereiro 13, 2014
A rua se tornou uma extensão do estúdio de TV?
quinta-feira, fevereiro 13, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A grande mídia coloca a morte
trágica do cinegrafista Santiago Andrade num quadro mais geral de supostos
“ataques arbitrários a jornalistas” que representaria uma “ameaça à liberdade
de informação”. Esse discurso parece cumprir um duplo propósito: esconder o
fato de que essas manifestações apontam para uma profunda mudança nas relações
entre mídia e sociedade e, também, encobrir o aproveitamento oportunista do episódio
com o objetivo de reforçar ainda mais a escalada da percepção do medo e
instabilidade que colocaria em xeque a legitimidade de um governo
democraticamente eleito. A morte do cinegrafista poderia ser o sintoma de uma
tendência mais generalizada onde as ruas se transformam em extensões do estúdio
da TV e a mídia acaba se transformando na própria notícia. Se isso for verdade,
estamos diante de mais uma bomba semiótica que demonstra que a atual guerra
semiológica travada para a conquista da opinião pública passou para a fase da
guerra total.
Certa vez o teórico e estrategista da ditadura militar brasileira,
Golbery do Couto e Silva, disse: “Tudo, menos um cadáver!”. Era o período
tenebroso da repressão política e do desaparecimento de ativistas políticos.
Aparecer um cadáver que se transformasse em mártir era tudo que a ditadura não
queria naquele momento e, por isso, a mídia era duramente controlada e
censurada.
Era uma época em que a informação era perigosa para o Estado militar. A
informação era um bem escasso, alienado e submetido às formas de dissimulação
como a manipulação, mentira, censura etc.
Hoje, esse cenário de dissimulações da informação foi deixado para trás.
Vivemos o momento da simulação ou daquilo que o pensador francês Jean
Baudrillard chamava de “obscenidade” e “êxtase da comunicação”: não só as
imagens de acontecimentos se proliferam e se multiplicam como, principalmente,
começam a surgir relações cada vez mais promíscuas entre os acontecimentos e as
mídias a tal ponto que não sabemos mais quem transmite e o que é transmitido –
é o império da simulação.
terça-feira, fevereiro 11, 2014
Em Observação: "Computer Chess" (2013) - Inteligência Artificial e cultura nerd
terça-feira, fevereiro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Softwares de xadrez tentam
imitar a inteligência humana enquanto programadores de computador discutem o
que os motivam a procurar a Inteligência Artificial. Ambientado no início dos
anos 1980, “Computer Chess”, o filme faz um mergulho ao mesmo tempo sério e bem-humorado
na cultura nerd dos engenheiros do Vale do Silício: suas motivações,
esquisitices e a estranha relação fetichista com os computadores que estava por
trás do início da explosão da indústria da tecnologia nos EUA. Filmado em preto
e branco, o filme cria uma estranha atmosfera retro como se testemunhássemos a
intimidade de pessoas que acreditavam que a matemática e algoritmos poderiam
reproduzir a complexidade humana.
domingo, fevereiro 09, 2014
Publicidade explora a geometria sagrada subliminar
domingo, fevereiro 09, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Atualmente a inteligência visual
publicitária vem mobilizando técnicas cada vez mais sofisticadas que exploram
recursos não apenas psicológicos ou comportamentais, mas agora atinge uma
dimensão de simbolismo mais profundo: a chamada “geometria sagrada”, expressão
usada pelo esoterismo e gnosticismo para designar toda uma área de estudos de
como as formas geométricas básicas representam conteúdos arquetípicos e padrões
(modelos, ritmos e proporções) que integram o repertório que permite tanto a
Natureza como o psiquismo humano se expressar. Com o auxílio das técnicas da
semiótica visual, círculos, quadrados e triângulos estariam sendo
instrumentalizados para criar uma verdadeira geometria subliminar.
Quantos
de nós veem? Em uma cultura onde a informação é transmitida numa forma
predominantemente visual, enxergar ou olhar para telas, displays, outdoors,
placas, impressos etc. parece ser uma função natural e espontânea. Não nos
importamos muito com essa função, a não ser nos seus aspectos oftalmológicos
quando necessitamos de lentes corretoras ou de intervenções cirúrgicas.
Continuamos
a enxergar ou olhar, mas, de fato, realmente vemos? Essa simples pergunta
abrange uma longa lista de atitudes ou funções multilaterais como observar,
perceber, compreender, reconhecer, contemplar, descobrir, entre outras.
Pesquisadores como Donis A. Dondis sugerem uma complexa “inteligência visual”
por trás do simples ato de olhar e aponta para a necessidade de uma
“alfabetização visual” para que possamos compreender mais facilmente os
significados assumidos pelas formas visuais - Leia DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual, Martins Editora, 2009.
quarta-feira, fevereiro 05, 2014
Comercial "Eu Sou O Futebol" é uma bomba semiótica?
quarta-feira, fevereiro 05, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O novo vídeo publicitário da Brahma
alusivo à Copa do Mundo no Brasil intitulado “Eu Sou O Futebol” surge no
momento de pesada atmosfera política do “Não Vai Ter Copa” nesse início de ano.
Numa coincidência significativa, o vídeo toma emprestados clichês midiáticos da
cobertura das manifestações para compor o protagonista “Futebol” e a torcida
brasileira nas ruas: o “Futebol” como uma figura encapuzada, vestida de preto e
calçando coturno e a torcida representada através de uma composição visual
ambígua que em alguns planos de câmera parece se assemelhar a manifestantes. O
que significaria essa coincidência? Intertextualidade? Ressignificação de
signos negativos em imagens positivas tal como no vídeo do ano passado? Um ato
falho da criação publicitária? Ou mais uma deliberada “bomba semiótica” para
reforçar o pesado ambiente político?
Nosso
leitor Francisco Freire se diz intrigado com o novo comercial da Brahma intitulado
“Eu Sou O Futebol”, alusivo à Copa do Mundo no Brasil nesse ano. Ele suspeita
que haveria algo de muito errado nesse
filme: uma figura protagonista encapuzada, de coturno carregando uma mala preta
representando o futebol.
Instigado
por esse estranhamento demonstrado pelo nosso leitor, vamos analisar essa peça
publicitária e submetê-la uma análise semiótica: será que o comercial da Brahma
poderia ser mais uma bomba semiótica? E, o que seria surpreendente, dentro do
campo publicitário?!
domingo, fevereiro 02, 2014
Filme "Trabalhar Cansa" disseca as superstições da classe média
domingo, fevereiro 02, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O filme brasileiro “Trabalhar Cansa”
(2011) a princípio confunde o espectador: É terror? Drama social? Realismo
fantástico? A sensação de estranhamento a que são submetidos tanto espectadores
quanto os protagonistas Otávio e Helena ajuda formar um tragicômico quadro dos
pesadelos das classes médias. Ele, um homem de meia idade desempregado enquanto ela se
apega ao ideário do empreendedorismo abrindo um pequeno mercado de bairro.
De um lado Otávio se submete ao irracionalismo da religião autoajuda para
suportar a realidade da precarização do trabalho; e do outro, Helena tenta
compreender fenômenos supostamente sobrenaturais no seu mercadinho onde ao mesmo tempo crescem
tensões trabalhistas. Dois instantâneos de uma classe social ao mesmo tempo
agarrada no racionalismo da meritocracia e na irracionalidade da autoajuda,
magia e astrologia. Na verdade, os dois lados de uma mesma moeda.
Na
sua pesquisa sobre a coluna de astrologia do jornal Los Angeles Times em 1952, o pensador Theodor Adorno (principal
membro da chamada Escola de Frankfurt) chegou à conclusão de que as previsões
que as estrelas faziam para cada signo do zodíaco nada tinham a ver com o
Oculto. Para Adorno, a astrologia de massas se tratava de uma “superstição
secundária”: o oculto deixa de ser “o estranho” para se tornar
institucionalizado, objetivado e amplamente socializado – Leia ADORNO, Theodor. As Estrelas Descem à Terra, São Paulo:
Editora Unesp, 2007.
Mais
ainda: a busca da felicidade por meio da “supertição secundária” não seria uma
irracionalidade que operaria numa esfera exterior à Razão – ilusão,
viciosidade, dependência emocional etc. Pelo contrário, ela resultaria dos
próprios processos racionais do cotidiano das pessoas: o trabalho, competição,
ascensão social, busca pelo mérito, sobrevivência material e sucesso financeiro.
quinta-feira, janeiro 30, 2014
Crianças chiliquentas e pais frágeis no documentário "Crianças Consumidoras"
quinta-feira, janeiro 30, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A cada ano desenvolve-se uma nova
ciência do consumo que turbina um mercado cujos ganhos se equivalem a soma das
economias de 115 países pobres: é a ciência do consumo infantil, uma verdadeira
“blitzkrieg” contra as crianças através da mobilização de especialistas que vão
de antropólogos e sociólogos a neurologistas e cientistas comportamentais. É o
tema do documentário “Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância”
(2008) que alerta: profundas mudanças no psiquismo infantil estão sendo feitas
nesse momento com o desaparecimento da infância por meio do novo perfil
etnográfico dos “tweens” (a fusão da infância na adolescência) e o reforço
subliminar da “cultura da reclamação” (chiliques, birras etc.) para que
crianças insistentes influenciem cada vez mais a decisão de consumo dos pais. E por trás de
tudo isso, a manipulação da percepção infantil para que vejam seus pais como
seres inseguros, indecisos e frágeis.
Uma
indústria de 15 bilhões de dólares que trabalha dia e noite para minar a
autoridade dos pais se exime de qualquer consequência social do consumismo infantil
alegando que a única responsabilidade sobre o que as crianças comem e compram é
a dos próprios pais. “Seria como se de repente o dono de uma grande frota de
caminhões anunciasse que de agora em diante fosse trafegar por uma estrada
cheia de crianças a 250 km/hora e dissesse: ‘pais, cuidado! É tarefa de vocês
cuidarem para que seus filhos não se machuquem!’”, responde Enola Aird, fundadora
e diretora do Motherhood Project.
Essa
é uma das contundentes declarações de ativistas, pesquisadores e profissionais
no documentário Crianças Consumidoras – A
Comercialização da Infância (Consuming Kids – The Commercialization of Childhood,
2008), um olhar profundo na forma como as crianças são manipuladas e exploradas
em cada detalhe dos seus cotidianos, para não só se tornarem futuras
consumidoras mas, inclusive, influenciar nas próprias escolhas de consumo dos
pais.
terça-feira, janeiro 28, 2014
A bomba semiótica do fusca em chamas
terça-feira, janeiro 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O bordão “Não tem arroz, não tem feijão,
mas assim mesmo o Brasil é campeão” em 1962 e o atual “Não Vai Ter Copa”
demonstram que as bombas semióticas são a principal arma de uma guerra
psicológica. Se no passado a ação era feita através de cinedocumentários exibidos
para as classes pobres por meio de projetores montados em chassis de caminhões
abertos, agora é por meio de produção de eventos com alto rendimento midiático,
causando impacto mesmo em manifestações com baixo número de "manifestantes". O
caso mais recente foram as dramáticas imagens do fusca incendiando e uma
família humilde sendo salva das chamas, em uma rara combinação do oportunismo,
sincronicidades e significados ambíguos, elementos que são o pavio da detonação
de uma típica bomba semiótica.
Em
1990 os telejornais de todo o planeta mostraram chocantes imagens do que
ficaram conhecidas como “o ossário de Timisoara”, na Romênia: a descoberta de
um ossário de quatro mil vítimas que, afirmavam os repórteres, eram vítimas da
ditadura de Ceausescu. E outros milhares de corpos teriam sido dissolvidos em
ácido. As imagens atrozes dos cadáveres alinhados sobre um lençol branco
marcaram para sempre a derrubada do ditador na chamada Revolução Romena de
1989. Mais tarde descobriu-se que tudo tinha sido um cenário montado para
cinegrafistas e fotógrafos: na verdade eram corpos de pobres desenterrados de
um cemitério local e cedidos à TV.
É
irônico que em uma sociedade tão cética como a nossa
onde a máxima “eu só acredito vendo”, que esvaziou simbolicamente as mitologias
e religiões ou até a própria existência de Deus, o olhar e as imagens sejam as principais fontes de
enganos e manipulações.
domingo, janeiro 26, 2014
Em Observação: "O Destino de Júpiter" será um novo "Matrix"?
domingo, janeiro 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com lançamento no Brasil aguardado para
o segundo semestre desse ano, “O Destino de Júpiter” (Jupiter Ascending) não só
representa o retorno dos irmãos Wachowski à mitologia gnóstica da trilogia
Mtarix, mas a ambição de elevar essa mitologia do plano terrestre para o
cósmico por meio de uma space opera. Assim como o personagem Neo era um
entediado programador de computadores que descobria que por trás das camadas da
realidade existia uma terrível conspiração contra a humanidade, Júpiter é uma
entediada limpadora de banheiros que descobre que seu DNA possui uma assinatura
especial que a conduzirá às estrelas. E lá descobrirá que o planeta Terra é uma
pequena parte de uma gigantesca indústria cósmica.
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