sábado, julho 20, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um homem corre pela sua vida através de um túnel entre dois trens; uma
figura encapuzada emerge de fissuras na parede para empurrar incautos
passageiros nos trilhos do metrô; uma enigmática jovem fantasiada de urso
assombra as paisagens labirínticas do metrô. A rede ferroviária do metrô de Budapeste
se transforma em um fac-símile da comédia humana no filme “Kontroll” (2003),
estreia do diretor Nimród Antal (“Temos Vagas”, 2007; “Predadores”, 2010) e
sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho. Antal retoma o arquétipo platônico
da caverna, representado no cinema por metrôs, porões, subsolos,
estacionamentos subterrâneos, becos etc., para descrevê-lo como um microcosmo onde
o protagonista é prisioneiro e uma enigmática jovem tenta resgatá-lo. A
integração de drama, suspense, comédia e sátira resulta numa experiência visual
única e alternativa.
Antes
de dirigir típicos filmes com todas as convenções de gênero hollywoodianas como
“Temos Vagas”(Vacancy, 2007) e “Predadores” (Predators, 2010), Nimród Antal
(filhos de pais húngaros, nascido em Los Angeles e que iniciou sua carreira
cinematográfica na Hungria), dirigiu e escreveu uma pequena pérola
cinematográfica: “Kontroll” (o primeiro filme húngaro em vinte anos a ser
exibido e premiado em Cannes – Prêmio da Juventude em 2004), um estranho e
fascinante conto que mistura a crítica social ambientada nos túneis do segundo
mais antigo metrô do mundo (Budapeste) e um mundo subterrâneo repleto de
analogias místicas e gnósticas.
A
estreia de Antal como diretor não poderia ser mais promissora: o filme está
repleto de referências de outros diretores como Andrey Tarkovsky (longas
sequências com misteriosos cenários em ruínas e desolação lembrando o filme
“Stalker”), Stanley Kubrick (cenas elegantemente iluminadas com ângulos agudos,
simetrias e pontos de fugas e gangues urbanas que lembram os “Drugs” de “Laranja
Mecânica”), e o humor negro de Terry Gilliam.