sábado, outubro 05, 2019

Uma batalha de deuses no plano astral da humanidade na série American Gods

Quem surgiu primeiro: os deuses? A humanidade? Nós os criamos ou fomos criados por deidades cósmicas. Essas questões perpassam as duas temporadas da série da Amazon "American Gods" (2017-): acompanhando um protagonista ex-presidiário, vamos descobrindo as camadas mágicas que compõem o mundo no qual deuses antigos caminham livremente sobre a Terra misturados com os humanos em atividades banais como, por exemplo, uma garçonete de beira de estrada – divindades nórdicas, celtas, hindus, eslavas, egípcias, africanas e babilônicas. Pagãs e sagradas. Todas encontram-se nos Estados Unidos, trazidas pelos corações e mentes dos imigrantes de todo o mundo, e que lá descobriram os novos deuses: os deuses do Mercado, da Mídia e do Dinheiro. Deuses impiedosos que querem destruir as antigas deidades, numa batalha cósmica travada no plano astral da humanidade. A série é uma grande metáfora parapolítica dos tempos atuais: a propaganda política e o marketing das marcas e do consumo manipulam formas-pensamentos que se transformaram em entidades invisíveis e autônomas. O controle ideológico-político ou psíquico tiraria sua força e letalidade de uma luta travada no plano astral humano.

terça-feira, outubro 01, 2019

Seminário internacional "Democracia em Colapso?" ignora Ciência da Comunicação


Ativistas, sociólogos, filósofos, cientistas políticos e psicanalistas participam do Seminário Internacional “Democracia em Colapso?”, que ocorrerá em outubro no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Discutirá as perspectivas históricas e políticas da democracia atual. A oportunidade do seminário é obviamente o cenário atual da ascensão da chamada “direita alternativa” - Brexit, Trump, Bolsonaro etc. Mas há um sintoma nesse evento: a ausência de pesquisadores da área da Ciência da Comunicação. Se a questão da Comunicação está no centro das crises das democracias atuais (a forma como, através da manipulação das novas mídias, plataformas e dispositivos de convergência de maneira relacional e fática, pegou de surpresa todo o espectro político), causa espanto a ausência da pesquisa em Comunicação no evento. Certamente a Comunicação entrará nos debates. Porém, será sempre uma “sociologia da comunicação”, “filosofia da comunicação” ou uma “psicanálise da comunicação”. A Comunicação analisada “a posteriori”, sem entender o fenômeno como evento autônomo e silencioso. Que passa à margem da representação. É o sintoma de que a esquerda ainda não entendeu a centralidade dos fenômenos comunicacionais na atualidade. 

sábado, setembro 28, 2019

O todo nunca é a soma das partes no filme "The Square: A Arte da Discórdia"


Distraído por uma afluente vida pós-moderna, cercado por mantenedores de arte milionários e artistas e instalações conceituais, um bem-sucedido curador de um museu de Estocolmo vive em uma bolha social. Lá fora, o crescente problema dos refugiados e sem-tetos deitados nas limpas calçadas suecas. Até que o roubo da sua carteira e celular e a chegada de uma enigmática exposição chamada “O Quadrado” fazem o caos invadir a vida do protagonista:  um incidente catastrófico de relações públicas para o museu somado ao inferno pessoal o fazem descer à realidade. Esse é o novo filme do diretor sueco Ruben Östlund “The Square: A Arte da Discórdia” (2017), no qual a arte continuará alienada da realidade enquanto acreditar que a soma de boas intenções individuais poderá mudar o mundo. Porque o todo é muito maior do que a soma das partes.  

quarta-feira, setembro 25, 2019

Cinco novas ferramentas semióticas de manipulação em tempo de paz de cemitério


O Jornalismo possui duas funções no Sistema: alarme (“jornalismo de guerra”) e autorregulação sistêmica (unir o jornalismo à linguagem publicitária e do entretenimento em períodos de “paz” - de cemitério - para manter o equilíbrio e normalidade do cotidiano). Desde o desfecho bem-sucedido da guerra híbrida brasileira com o impeachment de 2016, a função de alarme deu lugar ao de autorregulação na grande imprensa dos jornalões e telejornais – manter na normalidade o moral do distinto público e a agenda neoliberal nos trilhos. As bombas semióticas do período de guerra dão espaço a cinco novas ferramentas do kit semiótico de manipulação da opinião pública: Naturalização, Empirismo, Contaminações Metonímicas, Rocamboles Informativos e Metalinguagem - autorreferência. É como se diariamente o jornalismo afirmasse para nós: “Não olhe muito de perto!”; “Aqui não há nada demais para se ver!”; “1 + 1 é sempre igual a 3”; “A culpa é mesmo do povo” e, diariamente, “Tenha um bom infotenimento!”

domingo, setembro 22, 2019

Curta da Semana: "Rust in Peace" - perto de Deus, rejeitado por Ele

Um robô velho e enferrujado desperta em um depósito de ferro-velho. Ele se levanta e vai em direção a um deserto para dar início a sua caminhada solitária em busca do seu criador. O curta metragem “Rust in Peace” (2018) adiciona um novo ângulo ao tema clássico das relações disfuncionais entre criador e criatura. Robôs, androides ou replicantes são revivals modernos do impulso humano da “teurgia”: tentar aproximar-se de Deus ao criar vida, assim como a Alquimia e a Cabala idealizavam seres como o “Homúnculo” e o “Golem”. Mas desde Frankenstein de Mary Shelley, o homem decepcionou-se com o seu criador, ao descobrir que, na verdade, ele é um Demiurgo que nos rejeita. Assim como o pobre robô de “Rust in Peace” descobrirá na sua jornada solitária: ele revive a própria condição humana gnóstica.

terça-feira, setembro 17, 2019

Guerra Criptografada: Prefeitura faz limpeza semiótica nas ciclofaixas de São Paulo


“Requalificação”, “manutenção”. Assim o prefeito Bruno Covas vem justificando a retirada da pintura em vermelho das ciclofaixas da cidade de São Paulo. De repente incensado pela imprensa progressista como “moderado” e “conciliador”, com esses neologismos Covas na verdade requenta a querela do “vermelho subliminar do PT” das ciclofaixas do prefeito Haddad, como alertou em 2014, imbuída de urgente “dever cívico”, a professora de Semiótica da PUC/SP, Lúcia Santaella. Não importa se a cor é uma convenção internacional justificada pelas pesquisas de percepção visual. A uberização dos desempregados em bikes de entregas de comida por aplicativos e os transportes alternativos de start ups tecnológicas, colocaram em evidência as ciclofaixas. Por isso, se faz necessário uma “limpeza semiótico-ideológica” dessas vias. E dar mais um lance no xadrez da atual guerra semiótica criptografada, para manter em constante estado de beligerância e adrenalina alta as milícias digitais e físicas dentro do sombrio projeto político do clã Bolsonaro.

domingo, setembro 15, 2019

O preço sombrio da felicidade em "A Porta"


Por trás de uma grande fortuna há um crime. O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo e consertar decisões erradas? Essas duas ideias são combinadas em um curioso filme sobre viagem no tempo, sem o tradicional tom sci-fi e muito mais com uma atmosfera de conto de fantasia ao estilo “Alice no País das Maravilhas”. É o filme alemão “A Porta” (“Die Tür”, 2009) sobre um artista plástico bem-sucedido remoído pela culpa com a morte da sua filha, destruindo seu casamento e a si mesmo. À beira do suicídio, descobre uma estranha porta nos fundos de um jardim que o conduz ao dia exato da morte da sua filha. É a chance de consertar o erro. Mas também descobrirá que há um preço sombrio a pagar pela felicidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

sábado, setembro 14, 2019

Satanás é o último dos humanistas na série "Lucifer"


Séculos de desinformação e mentiras, das religiões até filmes e livros, fizeram nos confundir a figura de Lúcifer com o próprio Mal – com “Satanás” ou o “Diabo”, o príncipe dos infernos e da perdição. Como um produto audiovisual mainstream, a série “Lucifer” (2015-) parte dessa visão estereotipada para, ao longo dos episódios das quatro temporadas, retornar ao significado original dos antigos ensinamentos gnósticos: Lúcifer como a “Estrela da Manhã”, “o portador da Luz” – o anjo da Luz que com seu intelecto individual se rebela contra autoridades obscuras externas. Na série, Lúcifer volta à Terra depois de se entediar como governante do Inferno, um castigo imposto pelo seu Pai, o Criador. Vai para Los Angeles e se torna dono de uma badalada casa noturna e consultor de uma detetive da LAPD. Torna-se então um estudioso da natureza humana, um "humanista": seus crimes e sentimentos de culpa. Ou seja, aquilo que nos faz criar o Inferno dentro de nós mesmos.

quarta-feira, setembro 11, 2019

Ao invés de conquistar corações e mentes, Esquerda prefere ser o cão de Pavlov


O “cão de Pavlov” foi o protagonista de uma experiência que revolucionou a propaganda política e a publicidade do século XX. Há 100 anos o médico russo Ivan Pavlov descobriu o reflexo condicionado: apenas o som de uma sineta fazia o cão salivar de fome, mesmo sem ter na sua frente um prato de comida. Diante da repetição de estímulos diários através de bravatas, provocações escatológicas, chulas e autoritárias do Governo, a guerra semiótica criptografada tem jogado a esquerda e oposições num labirinto de informações desconexas, transformando-as em um cão de Pavlov pós-moderno que reage de forma reflexa aos estímulos. Saliva de ódio e reage com o fígado, ficando apenas nas trincheiras da “guerra cultural”. Enquanto o patrimônio nacional é rapidamente vendido na xepa do mercado. Em sua guerra particular, esqueceu das massas silenciosas, supostamente anestesiadas. Anestesiadas porque não conseguem ver as relações causa-efeito entre a xepa e a sobrevivência cotidiana uberizada. Sem nenhuma iniciativa de comunicação didática para esclarecer ao brasileiro comum essa relação causal e conquistar corações e mentes, prefere assumir o confortável papel de cão de Pavlov. 

sábado, setembro 07, 2019

Por que rimos no filme "Iron Sky - The Coming Race"?


Em 2012 o filme “Iron Sky” (em português “Deu a Louca nos Nazis”) foi um fenômeno cult: produzido através de crowdfunding, ganhou uma legião de fãs. Mais uma vez, com o financiamento coletivo dessa legião de adeptos, o diretor finlandês Timo Vuorensola fez a sequência “Iron Sky – The Coming Race” (2019) – um pastiche alucinado sobre uma base nazista secreta no lado oculto da Lua, Teoria da Terra Oca, Atlântida, Ocultismo Nazi, energia esotérica do Vril, conspirações reptilianas na política etc.  Um humor que chega às raias do non sense. Porém, o que torna tudo tragicômico é que a maioria das ideias inverossímeis de “Iron Sky” foram retiras das doutrinas que inspiraram grupos radicais políticos do início do século XX que culminaram no nazi-fascismo, Segunda Guerra Mundial e Holocausto. “Iron Sky” virou um cult imediato porque arranca seu humor da atual onda anti-intelectualista criada pela chamada “direita alternativa” (“alt-right”), na qual a Teoria da Terra Plana é o seu principal hit de sucesso.
“Rimos para o fato de que não há nada de que se rir”
(Adorno e Horkheimer)

quarta-feira, setembro 04, 2019

Cada hora de telejornal da Globo rende pouco mais de 10 minutos de "notícias reais"


Em 2003 o pesquisador Martin Howard no seu livro “We Know What You Want” descobriu que em cada hora de notícias da CNN, o noticiário transmitia pouco menos de cinco minutos de “notícias reais” (fatos espontâneos, históricos, externos à existência da mídia) – o restante é ocupado por metalinguagem e autorreferências. Sem falar no chamado “Efeito Heisenberg”: a mídia não consegue mais reportar o real – transmite apenas os efeitos que ela produz ao cobrir os eventos e, também, o esforço que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia. O “Cinegnose” aplicou essa mesma metodologia na análise de quatro edições do telejornal local “Bom Dia São Paulo” da Globo. E chegou a resultados próximos: duas horas de telejornal resultam em 27 minutos de “notícias reais” – ou média de 13 minutos de notícias por hora. No restante, o telejornal passa o tempo falando de si mesmo – metalinguagem, autorreferencialidade fática e efeito Heisenberg.  Resultando num híbrido de jornalismo e propaganda. Infotenimento.

domingo, setembro 01, 2019

A burrice e estupidez do futuro já estão entre nós em "Idiocracia"


O filme que originalmente era uma comédia e que se tornou um documentário. Assim é definido o filme “Idiocracia” (“Idiocracy”, 2006) do diretor e escritor Mike Judge (“Beavis e Butthead” e “O Rei do Pedaço”): um casal acorda de uma longa hibernação criogênica de 500 anos para encontrar um mundo no qual a burrice, estupidez e preguiça (e suas consequências como o machismo e a intolerância) se tornam virtudes. O presidente dos EUA é um ex ator pornô e lutador de Telecatch e a água potável foi substituída por um isotônico produzido por uma gigantesca corporação, gerando uma catástrofe ambiental. E a política se confunde com entretenimento e vídeo-game. Um filme tão profético que o próprio estúdio 20th Century Fox resolveu boicotar o lançamento da sua própria produção, escondendo “Idiocracia” das grandes redes de exibição. “Idiocracia” é visionário: como uma sociedade inteira não percebeu que emburrecia enquanto as expectativas sobre o que é ser inteligente cada vez mais diminuíam com o avanço tecnológico e da indústria do entretenimento. 

quarta-feira, agosto 28, 2019

Amazônia na guerra criptografada: bomba semiótica do "Sim!" e a vidraça quebrada


Enquanto a esquerda “campeã moral” vive mapeando arrependidos que deixaram de apoiar Bolsonaro, a “esquerda namastê” (com luxuoso apoio do programa “Papo de Segunda” do canal GNT da Globo) comemora a “diluição da polarização” ao ver a atriz Maitê Proença nos protestos contra a queima da Amazônia, ao lado de Caetano Veloso e Sônia Braga. Desarmada intelectualmente, a esquerda não consegue decodificar a criptografia da atual guerra simbólica, dentro do redesenho da geopolítica do aquecimento global na qual a Amazônia torna-se o principal alvo dos países ricos. Com a questão ambiental tornando-se foco da grande mídia, as manifestações começam a dançar a música tocada pela Guerra Híbrida: a “bomba semiótica do Sim!” e a tática da “vidraça quebrada” – como criar consenso imediato numa estratégia de terra arrasada intencionalmente criada pelo Governo para a opinião pública aceitar no futuro a intervenção externa. Se quer vender a bomba, em primeiro lugar deve vender o medo. 

domingo, agosto 25, 2019

Quando multiversos e mecânica quântica se tornam mortais em "Tangent Room"

Presos em uma sala nos subterrâneos de um complexo de observatórios no Deserto do Atacama, Chile, quatro brilhantes cientistas correm contra o tempo para impedir um colapso cósmico do universo. Eles devem trabalhar juntos e resolverem uma sequência de números e equações envolvendo Cosmologia, mecânica quântica e eletromagnetismo, antes que seja tarde demais. Esse é o filme sueco “Tangent Room” (2917), um thriller científico envolvendo as mais recentes teorias cosmológicas, como o Big Bang, Teoria das Cordas e Universo Inflacionário. Mas o que aqueles cientistas não sabem é que experimentarão na prática os efeitos dos mundos em colisão na Teoria dos Multiversos: cada um deles experimentará os mesmos efeitos quânticos de uma partícula no mundo subatômico – telestransportes, bilocação e sobreposições, revelando que a Física moderna cada vez mais se aproxima da milenar cosmologia gnóstica. Filme sugerido pelo nosso vigilante leitor Felipe Resende.

sábado, agosto 24, 2019

Capitalismo e Comunismo prisioneiros em um loop temporal em "Excursion"


A lista de filmes que exploram paradoxos da viagem no tempo é extensa e até parece que todas as possibilidades já foram exploradas. Mas as conexões entre as causas e efeito de fatos políticos históricos associados a paradoxos temporais é um campo ainda pouco abordado. Séries como “The Man in the High Castle”, sobre realidades alternativas, nazismo e Segunda Guerra Mundial, é um dos poucos exemplos. O filme indie britânico “Excursion” (2019) junta-se a essa abordagem política da viagem no tempo, com um roteiro ousado e complexo, explorando dois paradoxos tempo-espaço famosos: o paradoxo do avô e do loop de informação. Um homem no presente é despertado pela sua versão mais jovem vinda do passado: um militante do Partido Comunista da extinta União Soviética de 1987. Sua missão era viajar no tempo para testemunhar como o comunismo iria prosperar no futuro. Ao ver que nada disso ocorreu e o Capitalismo triunfou, acredita que houve algum erro: um loop entre 1987 e 2019 que deve ser revertido a todo custo. Para que aquela linha do tempo não interceda na linha de 1987 na qual supostamente o Comunismo venceria. Filme sugerido pelo nosso leitor Dudu Guerreiro.

quarta-feira, agosto 21, 2019

"Isso a Globo Não Mostra", chantagem ambiental e apertem os cintos... a esquerda sumiu!


Numa ironia perversa, Bolsonaro pode ser considerado o presidente eleito mais sincero e honesto de todos: ele cumpre à risca tudo o que prometeu durante a campanha eleitoral. Ele é o que sempre foi. A tarde paulistana dessa segunda-feira que virou noite pela fumaça da devastação vinda da Amazônia ou a paralisia de programas federais e ministério pela falta de dinheiro são tragédias anunciadas, no mínimo, desde a campanha eleitoral. O que é assustador é o lento desaparecimento da oposição. Motivada pelo desespero “lacrador” nas redes sociais, blogs compartilham vídeos de supostos arrependimentos da grande mídia com o seu campeão. Sem entender nada sobre a tática conjunta mídia/clã Bolsonaro, a esquerda vive compartilhando vídeos do quadro do Fantástico “Isso a Globo Não Mostra”. Além de não entenderem a piada do título contra a própria esquerda, dá mais pilha à tática diversionista de repercutir tudo aquilo que é acessório e superficial na intencional estratégia de ocupar diariamente a mídia com tosquices e bravatas. Mas, ainda pior, não entendem o segundo objetivo (geopolítico) da guerra criptografada: alimentar a chantagem ambiental para criar o “incêndio do Reichstag” que entregará de vez o País à intervenção externa. 

sábado, agosto 17, 2019

Guerra criptografada: capas da Piauí, temores da Globo e Míriam Leitão e trolagem do livro em branco


Editorial de “O Globo” acusa que Bolsonaro é um “risco para o País”. Ao mesmo tempo, para a jornalista Miriam Leitão, Bolsonaro é um “empecilho para a retomada econômica”. A capa da revista Piauí satiriza os dons de chapeiro de Eduardo Bolsonaro que o “credenciam” a ser embaixador nos EUA. Enquanto isso, as esquerdas se assanham, achando que a “ficha tá caindo” na grande mídia que, desesperada, tentaria se descolar de uma figura tóxica. Simultaneamente é lançado o filme “Eu Sou Brasileiro”, drama de “superação” e autoajuda com muitos atores globais, protótipo do tipo de filme que Bolsonaro quer ver a Ancine fomentar... São instantâneos da atual guerra semiótica criptografada que, como de costume, as esquerdas não conseguem fazer uma leitura, a não ser aquela que a grande mídia e Bolsonaro querem que elas façam. Mas há sinais de inteligência semiótica que as esquerdas deveriam prestar atenção: a trolagem do livro “Por Que Bolsonaro Merece Respeito, Confiança e Dignidade?”, com 198 páginas em branco.

quarta-feira, agosto 14, 2019

Em "Every Time I Die" a gnose como rota espiritual de fuga


“Every Time I Die” (“Cada Vez que Eu Morro”, 2019) confirma duas teses desse blog: primeiro, que é nos filmes independentes que estão atualmente os roteiros mais inventivos e audaciosos; e, principalmente, que os melhores filmes com temática religiosa e espiritualista são aqueles dirigidos por diretores ateus e agnósticos – o que parece garantir sinceridade e objetividade no tratamento fílmico. Dirigido pelo estreante Robi Michael, é um filme sobre obsessão, possessão e reencarnação. Quando Sam é assassinado, sua consciência começa a migrar para os corpos de seus amigos na tentativa de preveni-los do assassino. Sem ter qualquer controle ou consciência desse misterioso processo. “Every Time I Die” aborda um tema recorrente nos recentes filmes com temática gnóstica: a gnose pós-morte como forma de romper o ciclo sucessivo da morte, reencarnação e sofrimento - a rota espiritual de fuga.

domingo, agosto 11, 2019

Livro "Dark Star Rising": como a Magia e o Oculto levaram Trump e Alt-right ao poder


Quando pensamos em magia e ocultismo logo associamos a coisas como feitiçaria, estranhos rituais, incensos, satanismo etc. Porém, a magia moderna está muito além disso.  Desde que, no século XX, o mundo da magia e do oculto, representado por figuras como Julius Evola e Aleister Crowley, se encontrou com a propaganda política e meios de comunicação de massa na conjuntura do nazi-fascismo. Hoje, dentro do cenário da ascensão da chamada “direita alternativa” (alt-right), surge uma nova convergência: a partir de nomes como Steve Bannon e Richard Spencer, a Magia do Caos (corrente esotérica moderna) encontra-se com Internet, redes sociais e a campanha vitoriosa de Donald Trump. Esse é o tema do livro “Dark Star Rising – Magick and Power in the Age of Trump”, de Gary Lachman - pesquisador que investiga as conexões entre Sincromisticismo e Política. Para o pesquisador, assim como crianças brincando com fósforos, a extrema-direita manipula elementos da Magia do Caos (o Caos como método pragmático: “sigilos”, “memes mágicos” etc.) numa rede digital global que substitui o Plano Astral. Com consequências imprevisíveis. A não ser, a conquista do Poder.

quarta-feira, agosto 07, 2019

Tarantino revela alterego e nostalgia pós-moderna no filme "Era uma Vez em... Hollywood"


Quentin Tarantino nunca frequentou uma escola de cinema. Ele viu filmes. Mais do que isso. O que move Tarantino é a sua nostalgia cultural pós-moderna: ele não sente saudades de eras e momentos em que viveu. É nostálgico por tudo que apenas viu em filmes, TV e livros. Saudades daquilo que não viveu. “Era Uma Vez em... Hollywood” (Once Upon a Time... in Hollywood, 2019) é o paroxismo de toda a sua carreira cinematográfica: ambientado na cena de 1969 em que a velha Hollywood do “Studio System” com seus Westerns no cinema e TV desaparecia para dar lugar a Bruce Lee, Steve McQueen, Roman Polanski e a beleza trágica de Sharon Tate – assinada em um massacre perpetrado pela “Família Mason” liderada pelo guru Charles Mason. Sob camadas e camadas de iconografia pop, alusões e intertextualidades, Tarantino não só cria uma nostalgia hiper-real mas faz o filme mais metalinguístico de todos: a ansiedade do protagonista que não sabe o que fazer no futuro é o alterego do próprio diretor – como se reiventar agora, se a nostalgia pós-moderna acredita que o cinema já mostrou tudo o que era mais importante?  

terça-feira, agosto 06, 2019

A tela mental PsicoGnóstica no filme "Rota da Morte"


Uma família viaja de carro na noite de véspera de Natal para se encontrar com os avós. Como em todo ano. Mas dessa vez, eles pegaram um atalho por uma estrada que cruza uma densa floresta e que parece não ter fim. Ou estão andando em algum um tipo de loop tempo-espaço, seguidos por um carro funerário antigo? Uma narrativa-clichê de muitos slasher movies. Mas o filme francês “Rota da Morte” (Dead End, 2003) não é um terror comum: se insere em produções do início de século XXI no qual os filmes gnósticos passam por uma guinada – dos CosmoGnósticos para os PsicoGnósticos. Protagonistas prisioneiros em mundos recriados pela própria tela mental de medos, culpas e sonhos, combinados com as memórias dos últimos instantes na vida. Filme sugerido pelo sempre certeiro colaborador Felipe Resende.

sexta-feira, agosto 02, 2019

Série "The Boys": o poder absoluto corrompe todos os super-heróis


Imagine um mundo em que os super-heróis são reais e um negócio lucrativo: combater vilões rende franquias, “mitagens” nas redes sociais e uma multidão de fãs que se sentem seguros num mundo tão louco. CEOs e advogados de uma megacorporação garantem o silêncio para eventuais escândalos gerados pelos “danos colaterais” provocados pelos superpoderes. A publicidade esconde a personalidade de super-heróis imaturos, narcisistas e amorais. E como o poder absoluto é intrinsecamente corruptor. “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, dizia o Homem Aranha. Mas estes super-heróis estão totalmente corrompidos. A série Amazon “The Boys” (2019-) surge num momento oportuno em que não só a Marvel e DC Comics alcançam altíssimas cifras com filmes e franquias. Mas também como a narrativa dos super-heróis virou um modelo de propaganda política, como denunciou o cartunista criador do herói sem superpoderes “The Spirit”, Will Eisner: “se não fosse Hitler, talvez não tivéssemos super-heróis nas HQs”. 

terça-feira, julho 30, 2019

Filme "Aniara": a tecnologia nos protege, menos de nós mesmos

 
A ficção-científica sueca “Aniara” (2018) é adaptação de um poema homônimo, de 1956, do prêmio Nobel Harry Martinson sobre uma nave que leva colonos para Marte, fugindo de um planeta Terra devastado. Um acidente ejeta a nave para fora do sistema solar, perdendo-se no espaço profundo. Aniara é um gigantesco shopping center espacial que leva para o espaço o mesmo “modus operandi” que destruiu econômica e ambientalmente a Terra: a cultura do supérfluo, do consumismo e, principalmente, a necessidade da simulação – parques temáticos e mundos virtuais tecnologicamente desenvolvidos para embalar os passageiros de Aniara no marketing e propaganda. “Aniara” vem do antigo grego "aniarós" e quer dizer “triste, desesperado”. Os passageiros daquele transatlântico espacial aprenderão da pior forma possível esse significado. E que a tecnologia pode nos proteger de qualquer coisa. Menos de nós mesmos. Filme sugerido pelo nosso leitor Ricardo Julio.

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