sábado, outubro 28, 2017

Madonna e Bono Vox fazem o País cair na real


Surreal ironia: enquanto o motorista da Universidade Federal conduzia este humilde blogueiro para uma palestra no Rio no dia 24, orientado por um aplicativo que em tempo real envia alertas de locais com tiroteios, assaltos e arrastões, lá em cima, em cerimônia no Cristo Redentor, estavam membros da elite artística e tecnológica global. Entre eles, Madonna, Bono Vox e Elon Musk, convidados para o casamento de uma modelo brasileira com um empresário da indústria do entretenimento mundial. No dia seguinte, Madonna posou na Rocinha com roupa de camuflagem ao lado de policiais orgulhosamente exibindo armas. Enquanto, na turnê brasileira, Bono Vox e o U2 hastearam a bandeira nacional em um telão sob a exortação “censura nunca mais!”. Casamentos-ostentação sempre ganham espaço na grande mídia em épocas de crise e acirramento da desigualdade. Mas dessa vez, o momento é especial: o ativismo-clichê de Bono Vox e a euforia de Madonna em área de violenta conflagração parecem querer transmitir uma mensagem para o mundo: Vejam! O Brasil voltou à normalidade – desempenhar o eterno papel de “país do futuro” enquanto oferece como “city tour” para turistas as mazelas da violência e apartheid social.

quinta-feira, outubro 26, 2017

"Cinegnose" debate na UFRRJ como o País foi psiquicamente envenenado pela grande mídia


Como foi possível uma ação midiática organizada ter não só desestabilizado um governo para jogar o País numa surreal crise política, mas também ter envenenado psiquicamente a esfera pública de opinião, travando o debate político racional pelo ódio e intolerância. Esse foi o tema central das discussões durante a apresentação que esse humilde blogueiro proferiu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na cidade de Seropédica, nessa última terça-feira. Sob o tema “Mídia, Hegemonia Política e Intervenção Social”, este editor do “Cinegnose” procurou articular os conceitos de “Bomba Semiótica” e “Guerra Híbrida” para entender os momentos em que a grande mídia nacional interveio politicamente, desde o golpe militar de 1964 até os atuais movimentos táticos da Guerra Híbrida. Como se forma uma engenharia de opinião pública e as possíveis táticas de “guerrilha antimídia”. E como as novas tecnologias e a blogosfera podem ser os instrumentos desse tipo de ação direta.

domingo, outubro 22, 2017

Editor do "Cinegnose" debate Mídia e Hegemonia Política na UFRRJ


Este editor do “Cinegnose” participa de mesa de debates “Meios de Comunicação e Intervenção Social” às 18h do dia 24/10 dentro do II Seminário Qualidade de Vida, Sustentabilidade e Economia Alternativa na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), na cidade de Seropédica. Irei expor o tema “O Poder Político da Mídia Hegemônica” no qual descreverei os efeitos socialmente letais daquilo que as pesquisas desse blog chamam de “bombas semióticas” dentro de uma guerra geopolítica mais ampla – a “Guerra Híbrida”, nesse momento impactando o contínuo midiático nacional e por trás das diversas “primaveras” que rondaram o planeta nos últimos anos. E também uma avaliação das oportunidades de contra-hegemonia perdidas e a possibilidade de uma guerrilha semiótica anti-mídia.

sábado, outubro 21, 2017

Replicantes, mulheres empoderadas e o Feminino Divino em "Blade Runner 2049"


Por que as mulheres são as personagens principais de “Blade Runner 2049”? Depois de os replicantes amarem a própria vida mais do que os humanos a si mesmos, descobrem que ser inteligentes, fortes e resistentes só os tornam ainda mais escravos dos humanos. Os replicantes Nexus 8 vão ao encontro daquilo que é essencialmente humano, embora esquecido por todos nós: amor, nascimento e alma. Fiel ao Gnosticismo de Philip K. Dick no livro que inspirou a saga “Blade Runner”, Denis Villeneuve e o roteirista Hampton Fancher constroem uma narrativa baseada na oposição central da Cosmologia Gnóstica: a diferença entre “Criar” e “Emanar”: a Wallace Corporation cria ou fabrica replicantes, enquanto os replicantes descobrem tudo aquilo que pode ser “emanado” – aquilo que não se cria, mas nasce: amor e alma. Esse é o centro do conflito de “Blade Runner 2049”, no qual o mito gnóstico do Feminino Divino (assim como em “Mother!” de Aronofsky) é fundamental. Mulheres empoderadas, tanto para o bem quanto para o mal. 

quinta-feira, outubro 19, 2017

Para a CIA Plano Astral existe e é potencial arma de Parapolítica


Após dois anos de batalha judicial na qual ativistas processaram a CIA através da FOIA (Freedom of Information Act), a Agência foi obrigada a disponibilizar 800 mil documentos em sua biblioteca virtual disponível na Internet. Entre as 13 milhões de páginas revela-se o interesse da Inteligência militar por investigações sobre percepção extra-sensorial (ESP) e o Plano Astral. Dois documentos se destacam. O primeiro faz um resumo das investigações da CIA sobre o Plano Astral. E o segundo, um pequeno manuscrito sobre os perigos que envolvem essas pesquisas com referência a Aleister Crowley e o “ocultismo profano” Nazi. É sabido que durante a Guerra Fria os EUA fizeram intensas pesquisas sobre visão remota para espionagem. Mas os documentos dos anos 1980 sugerem algo além: contato com “energias inteligentes e não corporais” de outras dimensões e projeções da consciência ao passado e futuro. Será que, assim como no ocultismo nazi, também a Inteligência militar dos EUA tenta manipular potenciais armas de Parapolítica?

terça-feira, outubro 17, 2017

A Caverna de Platão vai ao espaço em "Órbita 9"


Um thriller romântico que simula ser um thriller de ficção científica. Num futuro onde a única esperança para os humanos é colonizar um planeta distante para fugir da Terra esgotada em seus recursos naturais e climáticos, uma astronauta solitária espera a chegada de um técnico que consertará o sistema de ventilação da nave ameaçada de esgotar o estoque de oxigênio. Será o primeiro ser humano que verá em toda a sua vida, reclusa naquela nave desde que nasceu. Esse é o filme espanhol “Órbita 9” (2017) que logo no início do filme revela para o espectador o segredo que envolve o Projeto de colonização, sugerindo uma espécie de “Show de Truman” sci-fi com alusões à Alegoria da Caverna de Platão. Mas na medida em que a narrativa avança passa a hibridar gêneros, pondo o foco em uma simples história de amor impossível. Mesmo assim, “Órbita 9” suscita outros temas como bioética e clonagem.

segunda-feira, outubro 16, 2017

Curta da Semana: "The Disappearance of Willie Bingham" - quando a justiça é privatizada


A atual agenda internacional das privatizações toma conta da grande mídia e do discurso de políticos e economistas. Preocupado com o alcance e consequências dessa panaceia que toma da opinião pública, o diretor australiano Matt Richards imaginou um futuro próximo no qual as privatizações alcançariam o sistemas judiciário, prisional e o próprio Estado de Direito. Resultado: o Direito e a Justiça viram commodities. E os limites entre a civilização e a barbárie começam a desaparecer. Combinando sci-fi, horror e humor negro, o curta “The Disappearance of Willie Bingham” (2015) mostra num futuro próximo na Austrália a “Amputação Progressiva”, nova forma de punição criada por um sistema judiciário privatizado que substitui a pena de morte, no qual a concessionária busca formas socialmente “sustentáveis” de punição: traga lucro para a empresa gestora, sirva de exemplos para “escolas problemáticas” e satisfaça o impulso de vingança das vítimas.

domingo, outubro 15, 2017

A noite, a insônia e a vingança em "Animais Noturnos"


“Animais Noturnos” (Nocturnal Animals, 2016) é uma delicioso conto de vingança. Não pelo sabor da violência da vingança em si, mas pelo caminho pela qual ela trilha: a insônia e as memórias. Ao fazer uma adaptação do livro de Austin Wright, o diretor Tom Ford produz mais um filme de uma recorrente mitologia gnóstica que envolve a insônia e a noite no cinema – momentos em que as ilusões e as aparências do dia são dissolvidos pelo silêncio noturno. A privação do sono como desencadeador daquilo que queremos esquecer: as diversas camadas de realidade do presente e do passado – culpa, remorso e as oportunidades perdidas de uma protagonista que esqueceu o idealismo da juventude em troca de uma vida materialmente bem sucedida como empresária do mercado de arte. Até receber os originais de um novo romance, um thriller brutal sobre uma família perseguida por uma gangue no Oeste do Texas que a fará fazer uma acerto de contas com suas escolhas na vida.

sexta-feira, outubro 13, 2017

O gênio da América e do Brasil profundos não quer mais voltar para a garrafa


O atirador de Las Vegas; o vigia que ateou fogo em crianças numa creche em Minas Gerais; o ex-vereador que se passava como policial federal e produtor da TV Globo para extorquir e estuprar e, diz, ainda pretende ser presidente do Brasil para “acabar com a corrupção”. Lá nos EUA como aqui no Brasil o gênio foi tirado da garrafa para eleger um presidente e desestabilizar governos. A grande mídia cobre esses casos como eventos isolados, inexplicáveis, como “fatos diversos” da irracionalidade humana reforçado pelos indefectíveis “especialistas-informação-de-pauta” de plantão. Mas tanto lá como aqui são confirmações de que os pensamentos são coisas: formas-pensamento autônomas que dão ao “mal estar da civilização” (através da grande mídia em seus momentos de conflagração político-ideológica, oposição e guerra para desestabilização política)  uma narrativa, lógica e com sentido. Para o gênio sincromístico sair da garrafa e nunca mais querer voltar.

terça-feira, outubro 10, 2017

Gestão midiática de Doria Jr. promove pobres a biodigestores de lixo orgânico


Vivemos tempos realmente estranhos. Chegamos no futuro e parece que a realidade começa a realizar, de maneira irônica, as distopias sci fi dos anos 1970 como por exemplo, “No Mundo de 2020” (Soylent Green, 1973, com Charlton Heston) no qual uma empresa produzia um tablete verde para alimentar as massas pobres, enquanto somente a elite tinha comida de verdade. Confirmando a vocação paulistana vanguardista de laboratório para o “brave new world”, o prefeito João Doria Jr. anuncia o programa “Alimento para Todos”, numa parceria com a Plataforma Sinergia para processar restos de alimentos que se transformarão em um “granulado nutritivo” para a “camada mais pobre da sociedade” – seguindo a trilha do Japão que já possui “carne de excrementos humanos”. Como “gestor sustentável”, Doria Jr. acredita que todos ganharão: não haverá nem desperdício e nem fome. Se no filme de 1973 tudo era envolto em uma conspiração, hoje tudo é cinicamente explícito através da “Pobretologia” - resolver o problema do Capitalismo que produz restos (pobres, famintos, desempregados, idosos, aposentados, excluídos etc.)  e que precisam ser reciclados de forma cinicamente “sustentável”: desempregados viram empreendedores, idosos se convertem em target de consumo chamado “Melhor Idade” e pobres viram biodigestores de restos orgânicos.

domingo, outubro 08, 2017

Em "Mãe!" o conflito cósmico no psiquismo de cada um de nós


Com “Mãe!” (Mother!, 2017), o diretor Darren Aronofsky (“Pi”, “Fonte da Vida” e “Noé”) confundiu crítica e público: enquanto os distribuidores classificavam o filme como “terror” ou “mistério” para o público, os críticos tentam entendê-lo como alguma coisa entre Polanski e De Palma. Mais uma vez, o diretor desafia a todos com sua hermética simbologia herética e gnóstica com incursões pela mitologia judaica, cabalística e cristã. A novidade é que “Mãe!” alcança o nível mais alto de abstração da carreira cinematográfica de Aronofsky ao transformar um casarão em metáfora do centro do conflito da Cosmologia gnóstica: a tensão entre Sophia (o Feminino Divino) e o Demiurgo (a divindade inferior com os seus agentes, os Arcontes). Conflito que acompanha o mundo desde a sua Queda, Criação, Destruição e Recomeço. E o mistério que envolve os moradores daquele casarão (um poeta e sua esposa) como a parábola de como essa tensão cósmica se reflete no psiquismo de cada um de nós.

sábado, outubro 07, 2017

Engenheiro do Google e Uber funda igreja para criar divindade com Inteligência Artificial


O engenheiro por trás do projeto de Inteligência Artificial do carro sem motorista do Google e carros e caminhões autodirigidos do Uber, Anthony Levandowski, criou nos EUA a igreja “Way to the Future”. Seu objetivo: criar uma divindade baseada em IA para, através da adoração e compreensão, “melhorar a sociedade”. Um “Deus Ex Machina” que não só livraria o homem de qualquer responsabilidade ética ou moral dos seus atos mas também serviria de plataforma para a imortalidade humana digital. Com o apoio de igrejas que combinam Trans-humanismo (h+) com redenção cristã, Levandowski é mais um exemplo das motivações místico-religiosas por trás dos empreendimentos do Vale do Silício. Uma estranha combinação entre IA, fundamentalismo cristão e empreendedorismo das startups tecnológicas. E irradiada para todo planeta por meio da mídia corporativa como modelo de progresso para o século XXI.

sexta-feira, outubro 06, 2017

A alma está entre a luz e a matéria em "Anti Matter"


O que nos torna humanos? Personalidade? Memória? A existência da Alma? “Anti Matter” (2016) é mais um filme de ficção científica que busca essa especificidade humana, ao lado de uma tradição que vai da série de TV clássica Jornada nas Estrelas (o episódio “Mirror, Mirror” de 1967), passando pelo drama dos replicantes mais humanistas do que os humanos em “Blade Runner” (1982) até chegarmos ao gnóstico "Cidade das Sombras" (Dark City, 1998) no qual aliens tentam encontrar a alma humana. Poderá um dia a Ciência, através da mecânica quântica, encontrar a alma em algum ponto entre a matéria e a luz numa dobra do contínuo tempo-espaço? Esse é o tema de “Anti Matter”, uma narrativa minimalista, cerebral e com baixíssimo orçamento sobre jovens doutorandos em Química, Física e Computação se deparam com um estranho efeito colateral em um experimento com eletrólitos para baterias: a existência da alma. Mais uma sugestão do nosso ativista leitor Felipe Resende.

terça-feira, outubro 03, 2017

"Fact-Checking" é o jornalismo "hipster" que a mídia corporativa adora

Depois que foi imputada a culpa do surgimento das fake News à campanha eleitoral de Donald Trump e à expansão das redes sociais e mídias alternativas, agora a grande mídia se assanha com o “hip” das chamadas “agências de verificação ou checagem de notícias” – “fact-checking”. Além de estratégia de salvaguardar a notícia como produto que promete a objetividade e isenção e encobrir o fato de que as fake news surgiram no jornalismo de guerra da mídia corporativa, a ferramenta “fact-checking” acirra o processo tautista do próprio Jornalismo atual: metalinguístico, auto-referencial, tautológico e auto-indulgente. Se a notícia é mais um commoditie, as fake News são resultantes da própria contradição da notícias como mercadoria no seu ciclo natural, dentro do Capitalismo, de precarização e busca de diferencial ou "selo de qualidade" que promova a mercadoria jornalística. O frisson em torno da ferramenta “fact-checking” é o sintoma de um jornalismo “hipster”, análogo ao “yuppismo cultural” do jornalismo modelo Folha dos anos 80-90.

segunda-feira, outubro 02, 2017

A capilaridade do Poder em um boteco no filme "O Bar"


Por meio da violência, excesso e humor negro, “O Bar” (“El Bar”, 2017) do diretor espanhol Álex de la Iglesia (conhecido como o “Tarantino espanhol”), é o reflexo dos tempos atuais onde temos a sensação de que a qualquer hora tudo pode vir abaixo. O que poderia acontecer em mais uma manhã rotineira e aborrecida em um bar de Madrid? Repentinamente, um grupo fica preso em um boteco, olhando pela vitrine um cenário semi-apocalíptico. Aos poucos, as pessoas aparentemente normais desse grupo vão se tornando cruéis, misóginas, violentas e fascistoides. Mas o filme evita cair no clichê de uma suposta fatalidade da “natureza humana” – na verdade o bar é um microcosmo no qual os indivíduos, quando confrontados com uma situação de crise com seus medos e reações, simplesmente replicam o discurso que o Estado e a mídia descrevem a própria sociedade. Foucault chamava isso de "capilaridade" ou "microfísica do Poder". Filme disponível no Netflix.  

sábado, setembro 30, 2017

Wokesploitation é a fronteira final do reality show em "Esta é a Sua Morte"


Depois de explorar as mazelas do sexo e da vida, a última fronteira da TV é a morte. Mas não a das vítimas, mas daqueles que querem dar cabo das suas próprias vidas. Depois de décadas de críticas e sátiras cinematográficas ao gênero televisivo do reality show, “Essa é a Sua Morte” (2017) evoca a tendência atual do “Wokesploitation” – chamar a atenção das injustiças da mídia e sociedade por meio da hiper-violência e muito sangue, como na franquia “Uma Noite de Crime”. Mas é um reality show sobre suicidas endividados através do viés “camp”, “trash” como fosse uma típica “soap opera” norte-americana. Um filme que vai além da crítica ao reality show: mostra a fase terminal da TV, agora obcecada em procurar de forma tautista “a realidade do real” numa sociedade na qual a morte se tornou mais lucrativa do que a vida, seja no sistema econômico quanto no político.

quinta-feira, setembro 28, 2017

Globo vive da crise com sósias de "Os Trapalhões" e "Escolinha do Professor Raimundo"


Parece que o tempo parou ou estamos presos em algum infernal eterno retorno. É essa a sensação ao vermos o canal fechado “Viva” da Globosat: ao assistirmos às reapresentações de novelas e programas de humor dos anos 1980 e 1990 temos uma estranha sensação de atualidade nos personagens, gags e bordões do passado inspirados na crise política e econômica daqueles tempos: desemprego, preconceito, desesperança, corrupção, violência de classes. Tudo continua o mesmo! E para aumentar essa atmosfera de realismo fantástico, agora o canal "Viva" exibe remakes de “Os Trapalhões” e “Escolinha do Professor Raimundo” com atores sósias dos personagens originais revelando uma bizarra dialética: o presente que repete o passado, também recorre aos mesmos bordões e gags anteriormente trágicas, mas que agora ecoam como farsa, fazendo-nos dar amargas risadas pela sensação de que o tempo parece não andar para frente, pelo menos por essas plagas. Mas também revela o “tautismo” da Globo: os Marinhos sabem que o monopólio da emissora está fundamentado na forçada recorrência brasileira da crise e inércia política e econômica.

terça-feira, setembro 26, 2017

O estranho que se esconde no cotidiano em "Survivor Style 5+"


Cinco modos de sobrevivência. Um marido que não consegue matar a esposa; uma dupla de ladrões gays enrustidos; uma criativa que produz vídeos publicitários que só ela consegue gostar; um pai de família que pensa ser uma pomba depois de um show de hipnose mal sucedido; e um assassino de aluguel que faz a mesma pergunta a todos que querem contratá-lo: “qual a sua função na vida?”. Mas sobreviver a quê? Ao cumprimento obrigatório dos papéis familiares, de gênero, profissionais, familiares etc. Esse é o estranho e bizarro filme japonês “Survivor Style 5+” (2004) uma avalanche de alusões, referencias e metalinguagens de “O Iluminado”, “Laranja Mecânica”, Kubrick, Tarantino e Guy Ritchie. Onde, em questão de segundos, a narrativa vai dos extremos do assustador e da comédia. “Survivor Style 5+” revela não só como a cultura pop japonesa liquefaz toda a cultura Ocidental como também, através da estética do chamado “filme estranho” ("Weird Movies"), chama a atenção para o mal estar que coexiste no cotidiano não só japonês, mas da sociedade em geral. 

domingo, setembro 24, 2017

A gnose de um fantasma em "A Ghost Story"


Muitas religiões falam de um ponto entre a vida e a morte no qual vagam, entre os vivos, fantasmas daqueles que por algum motivo não conseguem deixar esse mundo. Mas “A Ghost Story” (2017) nos apresenta um fantasma diferente: um jovem morto prematuramente coberto por um lençol como um fantasma de Halloween. Um observador silencioso preso a uma casa que vê moradores chegando e mudando-se. Um filme sobre a percepção do tempo e a permanência. O que o prende naquela casa, silenciosamente observando os vivos? Talvez, os mesmos motivos que fazem os vivos serem prisioneiros dessa vida, sem jamais alcançarem a gnose. E como as questões nietzschianas como a morte de Deus e o eterno retorno permeiam a angústia existente tanto nos vivos como nos mortos. Outro filme sugerido pelo nosso intrépido leitor Felipe Resende.

sábado, setembro 23, 2017

Resposta ao post "Sexo e Luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras", por Elvis Silva


Publicamos  o comentário do nosso leitor Elvis de Almeida Silva sobre a recente postagem desse Cinegnose de 17/09/2017 “Sexo e Luto: Nietzsche, Wagner e as músicas mais tocadas nas rádios brasileiras” como um artigo, pela sua riqueza de informações e argumentos que ajudam a detalhar aspectos polêmicos da postagem anterior. Principalmente a afirmação de Nietzsche de que “Wagner é uma neurose” e sua implicações com o nazismo. Uma discussão importante para entendermos como a moderna indústria do entretenimento consegue absorver tudo aquilo que em dado momento na arte e na cultura foi vanguardista, inovador e arrojado. Para depois ser padronizado e estereotipado.

quinta-feira, setembro 21, 2017

Curta da Semana: "State of Emergency Motherfucker!" - distraídos venceremos!


Um fantasma ronda o Poder e o Estado. O fantasma da apatia e indiferença das massas para o quê quer eles façam ou planejem. Não por serem “alienadas”. Mas simplesmente porque as pessoas estão absorvidas pela absoluta banalidade da vida. Dois jovens muçulmanos comem kebab em uma lanchonete, concentrados num hilariante relato de uma aventura amorosa do Dia dos Namorados. Absolutamente distraídos e indiferentes à chegada de policiais que os abordam como os suspeitos de sempre, com ações cada vez mais invasivas e violentas. O que se segue é uma narrativa de humor surreal e absurdo: a contradição entre uma animada conversa sobre façanhas amorosas e a violência policial que não consegue quebrar a atenção daqueles jovens adolescentes. Esse é o curta State of Emergency Motherfucker! (Etat D’Alert Sa Mere!, 2017) do belga Sebastién Petretti.

terça-feira, setembro 19, 2017

Atacante corintiano Jô foi vítima da "Pan Lava Jato" da Globo


Pobre Jô!, atacante corintiano que fez um gol com o braço e determinou a vitória do Corinthians sobre o Vasco no último domingo. A Globo, com a sua tradicional máquina de moer reputações para confirmar a pauta do jornalismo, elegeu o atacante como caso exemplar de todas as mazelas que o País precisa sanar na sua cruzada moralizadora anticorrupção. Lava Jato no futebol, pela honestidade no esporte! Implantado na Alemanha e Portugal, lá o árbitro de vídeo é uma decorrência da evolução natural da tecnologia no esporte. Mas aqui, é resultado da narrativa global da "Pan Lava Jato" na qual todas as editorias do jornalismo da emissora precisam ser encaixadas. Imolado em praça pública, Jô foi mais uma vítima do “modus operandi” da TV Globo: escândalo moral de uma suposta vitória injusta, o bate-bumbo dos seus apresentadores e comentaristas, o pronto julgamento moral e sentença do atacante corintiano e, no final, a "delação premiada" do Jô para tentar se safar da condenação.

Mídia contamina fronteira entre sanidade e loucura em "O Sinal"


Desde “A Noite dos Mortos Vivos” (1968), filmes sobre pragas zumbis e contaminações virais se consolidaram como um subgênero do terror com uma característica recorrente: o foco narrativo sempre está nos sobreviventes ou cientistas que tentam salvar o mundo através da racionalidade ou da coragem. “O Sinal” (The Signal, 2007) subverte esse cânone do terror: o que aconteceria se um filme se concentrasse no ponto de vista dos zumbis? Como eles veem a si mesmos? Para eles quais seriam as fronteiras entre normalidade e loucura? O resultado é um filme sem heróis: apenas pessoas normais que não possuem a menor consciência de que foram contaminados por um misterioso sinal transmitido pela TV e dispositivos de áudio como CD players e de comunicação como telefones e rádios. “O Sinal” apaga a fronteira entre a normalidade e a loucura. Mas não espere zumbis canibais se arrastando pelas ruas – apenas pessoas aparentemente normais e até com intenções altruístas. Mas de repente podem matar impiedosamente aqueles que supostamente estejam no caminho da sua felicidade. Outro filme sugerido pelo nosso implacável leitor Felipe Resende.

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