Pobre Jô!,
atacante corintiano que fez um gol com o braço e determinou a vitória do
Corinthians sobre o Vasco no último domingo. A Globo, com a sua tradicional
máquina de moer reputações para confirmar a pauta do jornalismo, elegeu o
atacante como caso exemplar de todas as mazelas que o País precisa sanar na sua
cruzada moralizadora anticorrupção. Lava Jato no futebol, pela honestidade no
esporte! Implantado na Alemanha e Portugal, lá o árbitro de
vídeo é uma decorrência da evolução natural da tecnologia no esporte. Mas aqui,
é resultado da narrativa global da "Pan Lava Jato" na qual todas as editorias do
jornalismo da emissora precisam ser encaixadas. Imolado em praça pública, Jô
foi mais uma vítima do “modus operandi” da TV Globo: escândalo moral de uma
suposta vitória injusta, o bate-bumbo dos seus apresentadores e comentaristas,
o pronto julgamento moral e sentença do atacante corintiano e, no final, a "delação premiada" do Jô para tentar se safar da condenação.
O País agoniza
não apenas na contínua crise política e econômica. Mas também afunda na fúria
moralizadora para a qual a única saída é o enquadramento de qualquer coisa em
algum princípio ético ou moral. De preferência religioso e conservador
turbinado por algum instrumento legal – cancelamento de exposições artísticas
ou peças de teatro (a negação da Justiça de Porto Alegre contra ação popular de
reabertura do “Queermuseu” e a proibição da Justiça de Jundiaí/SP de uma peça
de teatro sobre Jesus no SESC) ou a recente concessão de liminar da Justiça
Federal que permite psicólogos tratar o homossexualismo como uma “doença”.
Numa atmosfera
de conduções coercitivas, delações premiadas e meganhagem da Justiça mandando
diariamente policiais federais nas ruas em alguma operação com nome insólito (e
prontamente açodado pela grande mídia), o futebol não poderia mesmo ficar de
fora. Afinal, esse esporte está no âmago da cultura nacional. E no processo
atual do desmonte e venda a preço de banana do patrimônio do País, o futebol é
mais um item que vai embora.
E, para quem
ainda tinha alguma dúvida sobre a ingerência da TV Globo nesse amplo processo
que varre o País, o escândalo moralista perpetrado pelo jornalismo esportivo da
emissora sobre o gol de braço do atacante do Corinthians Jô liquida com
qualquer dúvida.
Escândalo tão
barulhento que a CBF decidiu antecipar a implementação do árbitro de vídeo nas
partidas que restam do Campeonato Brasileiro, mesmo questionando-se: e os times
supostamente prejudicados em lances duvidosos nos jogos anteriores? Como
ficarão?
Árbitro de vídeo na cruzada anticorrupção
E o caso do
atacante Jô mostra o modus operandi
do tautismo da Globo: escândalo moral sobre uma vitória supostamente injusta e
sem mérito, o bate-bumbo dos seus apresentadores e comentaristas, o pronto julgamento
moral e sentença do pobre atacante
corintiano, a delação premiada do Jô para o jogador se safar da condenação e,
enfim, antecipação forçada da arbitragem por vídeo que era somente aguardada
para o ano que vem.
Se na Europa a
arbitragem por vídeo surge pela evolução tecnológica natural das mídias, aqui
no Brasil se dá através da cruzada anticorrupção da Globo.
Lava Jato no
futebol! Porém, seletiva. Moralização em tudo, menos onde a Globo mais teme:
nos obscuros esquemas de compra dos direitos nacionais e internacionais de transmissão
da emissora.
Em postagem
anterior discutíamos o chamado “Projeto Lance Limpo” lançado pelo jovem e
solerte apresentador do Globo Esporte, Ivan Moré. Que demonstra nos últimos
tempos ansiedade em também encaixar a editoria esportiva da emissora na
campanha de apoio irrestrito à Lava Jato e a caçada seletiva de corruptos – clique aqui.
Segundo Moré,
um projeto que objetiva apresentar “exemplos nobres de lealdade, companheirismo
e honestidade”. E na oportunidade completava, diante de um apoplético Galvão
Bueno: “que a Verdade prevaleça!”. Para Galvão Bueno, “um projeto necessário
num país que precisa ser passado a limpo...”.
O Projeto abriu
com o glorioso exemplo no clássico São Paulo e Corinthians em abril: após o
juiz ter dado o cartão amarelo ao alvinegro Jô por causa de um suposto pisão no
goleiro adversário, o zagueiro tricolor Rodrigo Caio alertou ao árbitro que ele
tinha sido o autor do choque involuntário e de que a punição seria injusta. O
juiz voltou atrás e Rodrigo Caio tornou-se a pièce de resistance do projeto do eufórico Ivan Moré – Sim!
Honestidade é possível no futebol.
Desde então, o
Projeto parece que não decolou pela absoluta falta de novos exemplos nobres no
esporte, particularmente no futebol.
Até que nesse
domingo no jogo Corinthians e Vasco, em jogada de Marquinhos Gabriel cruzando
fechado na área nos minutos finais, Jô interceptou o lance praticamente na
linha do gol e garantiu a vitória alvinegra. A questão é que a bola bateu no
braço do atacante.
Se para
emissoras como ESPN, Gazeta e Fox o gol foi “polêmico” e ainda com dúvidas se a
bola já havia cruzado a linha quando Jô interceptou o cruzamento, desde o
primeiro momento para a Globo (TV aberta, Sportv, jornal Extra e Globo) o jogo
estava sentenciado: com gol de braço Corinthians vence o Vasco!
“Lei do Jô”
No mesmo dia o
pobre atacante virou alvo no quadro de gols do Fantástico com a admoestação do
apresentador Tadeu Schmidt: “o vigia estava ali perto e não viu. Mas Deus tá
vendo, Jô!”.
Foi ligada a
máquina de triturar reputações, assim como a Globo costuma fazer com o
noticiário político voltado a criação de climas de opinião pública direcionados
pelos seus interesses corporativos.
Como era
esperado, no dia seguinte o noticioso Globo
Esporte caiu matando em cima da resistência de Jô em admitir sua infração.
“Eu me joguei na bola, não deu pra ver. O juiz deu gol, então não foi”, tentou
inadvertidamente defender-se o atacante diante do modus operandi global funcionando a todo vapor.
Como na
editoria política da emissora, não adianta o acusado dizer que é inocente. Tem
que provar a inocência, contrariando o princípio legal de que o ônus da prova
cabe ao acusador.
E mais. Globo Esporte relembrou a honestidade e
“caráter” de Rodrigo Caio em ajudar Jô no clássico em abril, livrando-o do
cartão amarelo que o suspenderia para o próximo jogo. O tradicional jornalismo
metonímico da Globo em ação: inferir que Jô tem duas caras e é desonesto.
Depois de
outros veículos como o El País
comprarem o viés da Globo e chegar a falar até em “Lei do Jô” (“hipocrisia de
cobrar honestidade dos outros e não enxergar os próprios deslizes” – clique aqui) numa alusão a infame “Lei
do Gérson”, na terça-feira o atacante corintiano capitulou e fez a sua “delação
premiada”. E, finalmente, confirmar a pauta da Globo – a moralização do futebol
através de uma Lava Jato esportiva.
“Vi depois o
lance com mais tranquilidade e pude notar o toque no braço. Não quis fazer nada
errado”, confessou o agora acuado Jô. E olha que esse humilde blogueiro é
santista...
Tautismo e seletividade
E com seu
indefectível óculos escuros e vestido de negro do pescoço até os pés
(lembrando uma certa celebridade jurídica da Vara de Curitiba) o ex-jogador
Casa Grande no seu quadro “Fala Casão” no Globo
Esporte arriscou uma análise geracional: “a malandragem sempre foi
aplaudida no futebol sul-americano. Talvez eu também não falasse, por que sou
de uma geração na qual malandragem era aplaudida. A verdade tem que
prevalecer...”.
A questão é que para a Globo
a implantação do árbitro de vídeo no futebol brasileiro não decorre de uma
evolução natural da tecnologia no esporte. A emissora tem que encaixar o novo
instrumento dentro da narrativa que sustenta principalmente desde 2013 e que
até derrubou um governo: a narrativa do “esse País é uma merda”.
E somente com a moralização
e judicialização generalizada, consubstanciado numa espécie de Pan Lava Jato
(na política, esporte, em tudo!), para salvar o País do seu próprio
subdesenvolvimento espiritual.
E pau no pobre Jô! Escolhido
pela Globo como caso exemplar daquilo que deve supostamente ser eliminado no
País.
Sem treinamento técnico e de
forma atropelada (por que a Globo, dona do futebol, exige para confirmar a
narrativa da Pan Lava Jato) o vídeo entrará na arbitragem brasileira com
consequências imprevisíveis, como dizem especialistas.
Como sempre, a cruzada pela
moralidade da Globo é tautista (a Pan
Lava Jato como macro narrativa na qual quer encaixar todas as editorias do
jornalismo da emissora) e seletiva –
o limite da ética e da moral são as portas trancadas das salas dentro das quais
são feitas as obscuras negociações dos direitos das transmissões esportivas e
planejada a complexa engenharia financeira da “Globo Overseas” em paraísos
fiscais.
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