quinta-feira, dezembro 29, 2016
Em "Lua de Fel" a contagem regressiva de fim de ano é uma bomba-relógio
quinta-feira, dezembro 29, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um final de ano e outra contagem
regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como fosse uma bomba
relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean Baudrillard até
chegarmos ao filme “Lua de Fel” (“Bitter Moon”, 1992) de Roman Polanski. A
poucas horas da festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro
triângulo amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem
destruído pela paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se
Polanski. A aproximação que o diretor faz dessa questão com a festa do
réveillon, sugere uma resposta: a percepção do tempo como bomba-relógio cria as
doenças espirituais contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
terça-feira, dezembro 27, 2016
Na série "The OA" a obsessão científica pelas experiências de quase morte
terça-feira, dezembro 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde “ET” e “Contatos Imediatos do Terceiro
Grau” Spielberg transformou os subúrbios de classe média dos EUA, com suas
bikes BMX e jovens aventureiros, em ícones da cultura pop, revividos de forma
retro em séries atuais como “Strange Things”. Na série Netflix “The OA” (2016)
esses ícones são retomados, porém de forma sombria: casas com famílias cada vez
mais vazias que tentam manter à força a coesão. Até surgir uma jovem que ficou
desaparecida por sete anos e mudar a vida de um grupo de inadaptados àquela
comunidade suburbana. Uma protagonista que sobreviveu a sucessivas Experiências
de Quase Morte (EQM) feitas por um cientista obcecado em provar cientificamente a
existência pós-morte. Mas por algum motivo ela pretende retornar àquele
pesadelo científico para recuperar alguma coisa de natureza espiritual que lhe
foi roubada. A série “The OA” é mais um exemplo de como o Netflix vem arriscando em
temáticas estranhas e gnósticas narradas em linguagens pouco convencionais.
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Seis filmes para pensar o Natal
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em sete anos de existência o blog “Cinema
Secreto: Cinegnose” sempre quis homenagear o Natal com sugestões e análises de
filmes e curtas metragens que celebrassem com muito humor negro e surrealismo
não apenas a data festiva mas também a controversa figura do Papai-Noel.
Afinal, os leitores do “Cinegnose” merecem um olhar alternativo para uma data
tão previsível como um Roberto Carlos Especial de todo final de ano na TV. Aqui estão
seis sugestões de filmes que farão o leitor refletir sobre os simbolismos e
ícones natalinos.
Das crianças sírias ao atentado em Berlim o rastro dos não-acontecimentos
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que em fotos vemos policiais sorrindo no meio da tragédia da feira de natal em Berlim? De novo, um documento de identidade do terrorista encontrado na cena de um atentado? Outra vez, o autor do atentado era um conhecido pela polícia e agências federais de inteligência. Repete-se o roteiro dos atentados de Boston, Bataclan, Nice e Boate Pulse etc. – as mesmas anomalias, lacunas, ambiguidades, coincidências e sincronismos, sugerindo um tipo especial de “não-acontecimento”: o “meta-terrorismo” – ambiguidades narrativas propositalmente criadas para tornar virais vídeos e fotos. O mesmo acontece com as imagens das supostas crianças sírias vítimas da guerra naquele país. Reforçando a hipótese de que o atentado de Berlim, ao lado da guerra na Síria, faz parte de elaborada engenharia de percepção (não mais “de opinião”) pública – a exploração do emocional para criar um curto-circuito na análise racional e senso crítico.
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Estranho objeto cai na China e lembra filme "Show de Truman"
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No dia 12 de dezembro moradores de um remoto
vilarejo no interior da China foram surpreendidos com um enorme estrondo. No
local, encontraram uma cratera em chamas e ao redor inúmeros fragmentos
metálicos. Entre eles um grande anel de metal no qual foram encontrados
letras e números gravados. Lixo espacial? OVNI? Nave extraterrestre? O irônico
é que o episódio faz lembrar da famosa sequência do filme “Show de Truman”
(1998) quando o protagonista é quase atingido por um objeto que cai do céu,
também com uma misteriosa inscrição, e que marca o início da descoberta de que
sua vida não passava de um gigantesco reality show televisivo. Até que ponto a
narrativa ficcional de Truman guarda analogias com a nossa vida supostamente
real? Nossas vidas e o planeta inteiro estariam, de certa forma, na mesma
situação do infeliz protagonista Truman Burbank?
terça-feira, dezembro 20, 2016
Tautismo da Globo ainda não engoliu vitória de Trump
terça-feira, dezembro 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A vitória de Donald Trump pegou de surpresa a
mídia internacional. Mas para jornalistas, comentaristas e colunistas da Globo
foi devastador. Colocou em xeque o tautismo (autismo + tautologia) da emissora
– a maneira pela qual a Globo interpreta a realidade que está além dos seus muros a
partir da descrição que ela faz de si mesma. O triunfo de Trump parece que
desmentiu o que a emissora entende como o seu destino manifesto: cobrir como a
História cria fatos exclusivamente para a Globo transmitir. Mas o que acontece
quando a História contraria as apostas da emissora? Tenta encaixar aquilo que é
dissonante no seu roteiro, projetando nos outros países as mazelas
brasileiras que a própria Globo ajuda a criar. Torce para que o roteiro
pré-fabricado pela emissora também dê certo nos outros países. Um roteiro dividido em
três atos: o “clima de incertezas”; o “caos”; e a “virada de mesa”. Com direito
a um ato adicional: a vidente que disse que Trump “será o fim”.
domingo, dezembro 18, 2016
Curta da Semana: "Monkey Love Experiments": amor, macacos e corrida espacial
domingo, dezembro 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Corrida espacial entre EUA e URSS nos anos
1960. Enquanto os americanos mandavam para o espaço macacos, na Terra um
cientista fazia cruéis experiências para estudar a privação do amor maternal e
social com filhotes de macacos rhesus. Essa situação paradoxal da Ciência
inspirou o curta “Monkey Love Experiments” (2014) que emula os famosos vídeos
das experiências do Dr. Harry Harlow sobre a natureza do amor. Um pequeno
filhote em sua cela agarrado a sua mãe artificial sonha em ser mais uma macaco
que será enviado para o espaço. O curta sugere duas discussões: os rituais de
sacrifício aos quais sociedade submete a infância; e como Ciência, para estudar
o amor, não deve amar o próprio objeto que estuda.
sábado, dezembro 17, 2016
Na série "Westworld" o labirinto da mente bicameral das máquinas e humanos
sábado, dezembro 17, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos raros exemplos em que a refilmagem
supera o original – o filme de 1973 “Westworld – Onde Todos Não Têm Alma”
baseado no livro de Michel Crichton, criador do subgênero tecno-thriller depois
de se inspirar em uma visita que fez à NASA e Disneylândia em 1970. Mas a série
HBO “Westworld” (2016) foi além do filme clássico, ao associar o drama dos
“hospedes” humanos e “anfitriões” androides em um parque temático “high tech”
com a mitologia gnóstica, cientificamente baseada na arqueologia da consciência
do filósofo Julian Jaynes – a Teoria da Mente Bicameral. Diferente de 1973, a
série concentra-se na jornada espiritual interior dos androides, na busca da
consciência através de simbolismos xamânicos como o labirinto, a espiral e a
serpente: romper com a narrativa das linhas algorítmicas de programação como
uma voz externa divina e descobrir a narrativa interior em cada um de nós,
androides e humanos.
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Pesquisa coloca Brasil entre países mais "ignorantes" do planeta
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certa vez o sociólogo francês Pierre Bourdieu
provocou: “a opinião pública não existe”. A pesquisa “Perils of Perception 2016”
(Perigos da Percepção) do instituto britânico Ipsos Mori parece confirmar isso:
na verdade a opinião confunde-se com percepção, assim como nos telejornais
atuais as notícias são confundidas com “sensações”, seja dos jornalistas ou dos
telespectadores. O resultado da pesquisa foi a criação do “Ranking da
Ignorância” – a distância entre a percepção que as pessoas têm da realidade em
que vivem e os dados oficiais de cada país. O Brasil ocupa os primeiros
lugares, atrás da Índia, China e EUA. Entre os países menos “ignorantes”,
Holanda e Coréia do Sul. Incapacidade de entender estatísticas, preconceito, atalhos
mentais, ignorância racional e o “poder das anedotas” das mídias estão entre os
fatores apontados pela disparidade entre percepção e realidade. Também há um
fator comum entre os países primeiros colocados: o monopólio midiático.
quarta-feira, dezembro 14, 2016
"Elle Brasil" une Cabala e Tecnognosticismo com modelo robô
quarta-feira, dezembro 14, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na edição de dezembro a revista de moda “Elle
Brasil” figurou na capa a robô Sophia, um dos projetos de inteligência
artificial mais avançados do mundo. Clicada pelo fotografo Bob Wolfeson, a
ideia do editorial era apontar versões para o futuro da indústria da moda. Mas
um robô vestindo roupas vitorianas nada mais fez do que revelar as arquetípicas
e milenares origens da Moda, Estilismo e manequins na longa tradição esotérica
e hermética da Teurgia, Alquimia e a Cabala Extática – uma longa e secreta
história de seres artificiais mágicos como homúnculos, golens e frankensteins.
Até chegar aos atuais manequins das vitrinas de shoppings e modelos vivos das
passarelas – seres ainda “não formados”, à espera do “espírito” (o Estilo) que
lhes dê vida. Assim como o código binário que dá "vida" à robô Sophia. A atual agenda tecnognóstica se encontra com a Moda. Pauta sugerida pelo nosso leitor Nelson Job.
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Em "A Chegada" o homem está incomunicável no Universo
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A exemplo de “Interestelar”, o filme “A
Chegada” ("Arrival", 2016) é uma ficção-científica desafiadora. Enquanto no filme de Nolan a física
quântica e a relatividade buscavam conciliação num ponto distante da galáxia, em
“A Chegada” o desafio está naquilo que nos mantêm presos à Terra, assim como a
gravidade: a linguagem. Como nos comunicar com visitantes vindos de um ponto
distante do Universo através de uma linguagem que nos aprisiona a um
tempo-espaço tridimensional? De repente o homem descobre que está incomunicável no Universo. A linguagem não serve apenas
para dar nome a coisas e acontecimentos. Traz consequências: nos aprisiona no
tempo e memórias. E para nos libertar da realidade construída pela linguagem,
somente um salto de fé. Mas não existe almoço grátis. Mesmo um filme tão intelectualmente
ambicioso, teve que pagar o preço político-ideológico de uma produção
hollywoodiana.
domingo, dezembro 11, 2016
Curta da Semana: "World Wide Woven Bodies" - sexo e Internet nos anos 90
domingo, dezembro 11, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitos ainda devem lembrar do indefectível
som do dial-up fazendo a conexão com a Internet ou daquele protetor de tela no
qual apareciam canos em 3D. Eram os anos 1990 e a Internet começava a chegar
nos lugares mais recônditos do mundo. No interior da Noruega, um jovem começa
simultaneamente a descobrir a sexualidade e a Internet. E encontra na seminal rede
de computadores um mundo livre de censura que desperta ainda mais a curiosidade
sexual instintiva. Esse é o curta norueguês “World Wide Woven Bodies” (2015)
com um design de produção que reconstitui de forma precisa aquela época. Um
momento único na história onde o tecnológico e o espiritual se fundiram, no qual
foi vivido mais plenamente do que hoje a tensão entre os reinos analógico e o
digital.
sexta-feira, dezembro 09, 2016
A estranha "linguagem crepuscular" no acidente aéreo da Chapecoense
sexta-feira, dezembro 09, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Assim como trágicos eventos como o Massacre
do Colorado, o atentado à Maratona de Boston e os ataques na França, o acidente
aéreo que vitimou o clube Chapecoense na Colômbia também está cercado de
coincidências ou sincronismos envolvendo mídia, nomes e lugares. Momentos que
antecedem trágicos eventos parecem sempre revelar coincidências envolvendo
nomes, aniversários e simbolismos. Para o senso comum, não passariam de conexões
causais aleatórias. Seria como se a realidade sofresse algum “espasmo”
momentâneo antes da tragédia, para depois voltar ao “normal”. Para a chamada
hipótese sincromística esses “espasmos” escondem uma rede formada pelo inconsciente coletivo cuja
dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. É a “linguagem
crepuscular”, conhecida pelo budismo tibetano (por meio de mandalas, mantras
etc.) e que no Ocidente pesquisadores em Sincromisticismo buscam estudá-la através
da Onomatologia (estudos da origem dos nomes) e Toponímia (origem dos nomes dos
lugares) procuram recorrências e padrões nos acontecimentos. O que a tragédia
aérea do clube brasileiro poderia revelar?
quarta-feira, dezembro 07, 2016
As oportunidades perdidas na série "Under The Dome"
quarta-feira, dezembro 07, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Tinha tudo para dar certo: uma adaptação de
livro do célebre Stephen King e narrativa repleta de alusões gnósticas,
esotéricas e políticas. De repente, de um profundo céu azul, cai sobre
Chester’s Mill uma gigantesca redoma invisível que isola a cidade do resto do
planeta. A redoma testará seus habitantes, retirando deles o melhor e o pior
que a natureza humana pode oferecer. Essa é a série “Under The Dome”
(2013-2015), do mesmo produtor de “Lost”. Mas o intrigante argumento (com a
marca de King ao explorar culpa, medo e o pecado dos personagens) não suportou ao
roteiro: uma colcha de retalhos repleta de eventos aleatórios e ricas alusões
gnósticas e religiosas que foram apenas jogadas para esticar a série por três
temporadas, sem desenvolver de forma consequente nenhuma ideia. O “Cinegnose” analisa as oportunidades perdidas de uma adaptação mal sucedida de Stephen
King.
terça-feira, dezembro 06, 2016
Globo expõe metástase do tautismo na tragédia da Chapecoense
terça-feira, dezembro 06, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Invasão de privacidade e exploração
sensacionalista das emoções são traços generalizados na cobertura de grandes
tragédias pela mídia. Porém, com a Globo há um elemento mais insidioso: depois
de décadas exercendo o monopólio político e comunicacional no País, sua
auto-centralidade entrou em metástase através do tautismo (autismo +
tautologia). A extensa cobertura da tragédia do desastre aéreo do time da
Chapecoense deixou mais explícito esse estado patológico no qual a emissora só consegue
olhar para além dos muros cenográficos do Projac através de referências que faz
de si mesma. Do “turbilhão de emoções” da narração do velório coletivo por Galvão Bueno à
insistência como repórteres e locutores tiveram que demonstrar a si mesmos
emocionados (chegando a fazer “selfies” com celulares), chorando e até
consolados pela mãe de um dos jogadores, é como se o tempo todo repetissem:
“tenho emoções, logo a tragédia é real!”. Chegando a um surreal “Efeito
Heisenberg”: o global Galvão Bueno narrando o outro global Cid Moreira lendo a Bíblia
com a mesma inflexão de voz com que lia as notícias do “Jornal Nacional” e narrava
as peripécias do Mister M.
domingo, dezembro 04, 2016
O "momento decisivo" na foto símbolo da aprovação da PEC 55
domingo, dezembro 04, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Nos dias recentes uma foto por câmera de
telefone celular viralizou na Internet e redes sociais: no salão da Câmara dos
Deputados alegres convivas entre comes e bebes, aparentemente indiferentes ao
que estava acontecendo para além da ampla vidraça: do outro lado do espelho d’água a
violenta repressão aos manifestantes contrários à PEC 55, em meio à fumaça das
bombas de gás. Sua autora, proprietária de uma empresa de comunicação
acostumada ao meio corporativo e relações com autoridades, não tinha a menor
intenção de fazer uma foto de denúncia. Mas, involuntariamente, atingiu aquilo que o fotógrafo Cartier-Bresson
chamava de “momento decisivo” e o semiólogo Roland Barthes de “punctum” - produtos visuais ou audiovisuais podem, dadas
certas condições, ganhar vida própria, tornarem-se autônomos e se desvencilhar
das pretensões informativas ou propagandísticas dos seus emissores. E no Cinema e na Pintura também há vários exemplos disso.
sexta-feira, dezembro 02, 2016
"Abandone a esperança aquele que por aqui entrar", diz o filme "Évolution"
sexta-feira, dezembro 02, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um menino chamado Nicolas vive em uma pequena
comunidade à beira do mar onde só existem mulheres adultas, todas estranhamente
inexpressivas, que cuidam de seus filhos, todos masculinos e da mesma faixa
etária. Ele desenha em seu caderno esboços de experiências que jamais poderia
ter vivido naquela comunidade. Junto com essas memórias, cresce a suspeita de
que todas aquelas mães escondem um terrível segredo: a obsolescência
sacrificial dos jovens. É o filme “Évolution” (2015, co-produção França,
Bélgica, Espanha), uma produção europeia que reúne os cinco elementos básicos
de uma narrativa gnóstica: estranhamento, esquecimento, paranoia e conspiração
de um sistema que não ama aquelas crianças. Lembrando o famoso aviso na entrada do Inferno da "Divina Comédia" de Dante Alighieri: “Abandone toda a esperança aquele que por aqui entrar”.
quarta-feira, novembro 30, 2016
Grande mídia no limiar da Parapolítica com Doria Jr. e Justus
quarta-feira, novembro 30, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em 2010, no programa “Show Business”, João
Doria Jr e Roberto Justus especulavam a possibilidade de ambos serem candidatos
a algum cargo público. Tudo em tom de brincadeira. Hoje, o primeiro já é
prefeito e o segundo cogita ser candidato à presidência em 2018, na esteira
de Trump, também ex-apresentador do reality Show “O Aprendiz”. Enquanto isso, a
crise política criada pelo demissionário ministro do MinC, Marcelo Calero, repercute na vida real o drama ficcional do filme “Aquarius” – Calero tentou faturar
politicamente na entrevista concedida ao “Fantástico” da Globo. Em política não
há coincidências: há conspiração ou sincronismo. E a junção estratégica
desses dois elementos chama-se Parapolítica. Enquanto a Política faz isso de
maneira empírica e irrefletida, a Mídia e Indústria do Entretenimento conseguem
fazer esse alinhamento de forma consciente. Justus, Trump e Doria Jr. têm a
interpretação naturalista: falam o tempo inteiro que não são políticos. São
“gestores” e “administradores”, assim como um ator faz o chamado “laboratório”
de um personagem para representar de forma naturalista o papel. Tão
naturalista, que passa acreditar na própria interpretação. Ao contrário do
político tradicional, que ainda vive a tensão entre a verdade e a mentira – a
dissimulação. É o limiar de um momento histórico: a guinada
para a midiatização da Política (Parapolítica), sem intermediários ainda
apegados ao jogo cênico teatral das aparências dissimuladas.
segunda-feira, novembro 28, 2016
Curta da Semana: "Poet Anderson: The Dream Walker" - como escapar das armadilhas dos sonhos?
segunda-feira, novembro 28, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O cinema sempre mostrou um interesse pelo mundo
dos sonhos. Certamente por que o dispositivo cinematográfico (projetor e tela)
simula a “tela mental” dos sonhos - o mundo onírico como projeções dos nossos
próprios medos, desejos e fantasias. Porém, a inconsciência dessa tela mental
pode nos tornar prisioneiros do “terror noturno” ou das formas-pensamento
plasmadas no mundo etérico. Esse é o tema do curta de animação “Poet Anderson –
The Dream Walker” (2014) dirigido por Tom DeLonge, ex-guitarrista da banda Blink-182.
O curta é mais um exemplo da tendência recente da abordagem dos sonhos no
cinema e audiovisual: a abordagem mais hermética e esotérica sobre os sonhos lúcidos. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sábado, novembro 26, 2016
Filme chinês "Kaili Blues" desafia espectador ocidental com sensibilidade budista
sábado, novembro 26, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Numa dos mais ousados planos-sequência do
cinema recente, 40 minutos acompanhando a viagem do protagonista no interior de
pequenos povoados da China, o diretor Gan Bi busca uma sensibilidade budista
mística sobre os pequenos eventos do cotidiano. O filme “Kaili Blues” (2015) é
um desafio para um espectador ocidental: enquanto estamos acostumados com um
cinema que tematiza as crises existenciais e da perda de identidade, o cinema
chinês de Gan Bi busca, ao contrário, o fluxo e a superfície das águas de um rio
– a crise surge quando tentamos buscar a permanência nas memórias e na própria
identidade. Ilusões que escondem o fluxo contínuo (“samsara”) da vida. Fluxo
tão desafiador como o plano-sequência no qual acompanhamos a viagem de um
médico que retorna a sua terra natal passando por uma estranha cidade.
quinta-feira, novembro 24, 2016
Por que Wall Street investe na deficitária indústria de Hollywood?
quinta-feira, novembro 24, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Franquias hollywoodianas como “Jurassic World”,
“Star Wars” e “Velozes e Furiosos” são celebradas pela grande mídia como responsáveis por supostos recordes históricos na indústria do cinema dos EUA. Porém, essa é a superfície
de uma auto-imagem que Hollywood faz questão de criar, girando em torno do
glamour do Red Carpet e mansões de atores-celebridades nas colinas de Beverly
Hills. Porém, a realidade é outra: apenas 5% dos filmes a cada ano são
rentáveis. O restantes fica entre pesadas perdas e a falência. Mas desde os
anos 1980 cresce o investimento dos fundos de Wall Street nos grandes estúdios
e independentes, apesar do negócio ser incerto e com lucros decrescentes diante
de filmes com orçamentos e retorno imprevisíveis. Por que os ricos fundos de
investimento de Wall Street continuam a financiar produções do cinema, quando poderiam investir em negócios mais seguros? É a pergunta que faz
o artigo “The Hollywood Economics” de Sophie Leech, do site “The Market Mogul”.
Afinal, qual é o tipo de lucro procurado por Wall Street? Financeiro ou
ideológico e político?
quarta-feira, novembro 23, 2016
Em "As Filhas do Fogo" o mundo dos mortos encontra os vivos em plena ditadura militar
quarta-feira, novembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitas vezes acusado de fazer filmes “vazios”
ou “sem brasilidade”, em pleno processo da abertura política na ditadura
militar o cineasta Walter Hugo Khouri escreveu e dirigiu o filme “As Filhas do Fogo”
(1978) com um casal lésbico como protagonista em uma clássica trama gótica na qual os universos
dos vivos e dos mortos se encontram, sob a trilha musical sombria e hipnótica
do maestro Rogério Duprat. Um momento onde a abertura a temas espiritualistas,
místicos e parapsíquicos andou ao lado da abertura política brasileira. Um
filme que vale à pena ser revisto, principalmente pela forma como Khouri
constrói uma trama que aspira à universalidade nas locações de Gramado e
Canela/RS – objetos, personagens e a natureza circundante que parecem encarnar
arquétipos tanto freudianos quanto gnósticos. Tudo isso no momento em que a
ditadura militar desmontava o cinema brasileiro por meio da Embrafilmes.
segunda-feira, novembro 21, 2016
Vídeo revela surto semiótico-esquizofrênico que se espalha pelo País
segunda-feira, novembro 21, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Compenetrada e
em tom de grave denúncia, um dos manifestantes que invadiram a plenária da
Câmara dos Deputados na semana da passada, pedindo “intervenção militar
institucional” no País, gravou um vídeo no qual aponta para um painel dos 100
anos da imigração japonesa dizendo: “cena nojenta, a nossa bandeira com o
símbolo vermelho...”, numa alusão a um suposto complô comunista para alterar a
bandeira nacional. Na verdade a bandeira era do Japão. E o círculo vermelho, o
simbólico Sol Nascente. O vídeo da manifestante viralizou nas redes sociais
como uma insólita gafe que, no máximo, provocaria apenas vergonha alheia.
Porém, é mais do que isso: é um sintoma de um País doente, um surto
semiótico-esquizofrênico. Patologia que, recentemente, acometeu até uma emérita
professora de Semiótica que viu nas ciclofaixas pintadas de vermelho uma cilada
subliminar do Comunismo em São Paulo. Originado no próprio cotidiano esquizoide
das classes médias (submetidas a mensagens contraditórias da sociedade de
consumo), e após ser açodada pela grande mídia para apoiar o recente golpe
político, hoje a patologia espalha-se endemicamente na sociedade expondo três
sintomas principais: paranoia, hebefrenia e catatonia.
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