segunda-feira, novembro 28, 2016

Curta da Semana: "Poet Anderson: The Dream Walker" - como escapar das armadilhas dos sonhos?


O cinema sempre mostrou um interesse pelo mundo dos sonhos. Certamente por que o dispositivo cinematográfico (projetor e tela) simula a “tela mental” dos sonhos - o mundo onírico como projeções dos nossos próprios medos, desejos e fantasias. Porém, a inconsciência dessa tela mental pode nos tornar prisioneiros do “terror noturno” ou das formas-pensamento plasmadas no mundo etérico. Esse é o tema do curta de animação “Poet Anderson – The Dream Walker” (2014) dirigido por Tom DeLonge, ex-guitarrista da banda Blink-182. O curta é mais um exemplo da tendência recente da abordagem dos sonhos no cinema e audiovisual: a abordagem mais hermética e esotérica sobre os sonhos lúcidos. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

“No mundo dos sonhos, o poder e a aventura pertencem aos Sonhadores Lúcidos, enquanto os terrores noturnos assombram os perturbados e os desamparados. Alguns poucos sortudos são vigiados por guardiões misteriosos. Os protetores de nossas vidas inconscientes compartilhadas são conhecidos como... Dream Walkers”.
Essa é a abertura do curta Poet Anderson – The Dream Walker (2014) escrito e dirigido por Tom DeLonge, guitarrista do Blink-182 e atualmente guitarra e vocal da banda Angels & Airwaves. O argumento do curta explora as conexões paranormais entre o chamado “terror noturno”, desordens do sono e os conceito de “sonho lúcido” estudado por místicos e esotéricos.

No curta (animação que mistura a estética dos vídeos da banda Gorillaz com um toque de Laranja Mecânica) vemos o protagonista Poet Anderson perseguido nos seus sonhos pelo Terror Noturno – um monstro terrível que surge repentinamente após abrir uma passagem no tecido do mundo onírico. Poet conhecerá o seu protetor, um Dream Walker, entidades que conseguiram a habilidade de ter sonhos lúcidos e que por isso conseguem manipular as formas plásticas do mundo etérico.

Gradualmente essas mesmas habilidades vão sendo despertadas em Poet Anderson, ao ponto que o seu Dream Walker o deixa por conta própria lidar com o seu Terror Noturno. Há algum tipo de organização no universo dos sonhos que vê em Poet um próximo Dream Walker em potencial.


Seguindo o storytelling clássico da jornada do herói, Poet resiste inicialmente a essa missão: amedrontado, não quer mais dormir, mas apenas “descansar”. Acompanhado de sua namorada, recorre a uma clínica especializada em desordens do sono. Mas a Ciência não conseguirá dar conta de forças maiores que a racionalidade.

Sonhos lúcidos


 Desde a franquia A Hora do Pesadelo (1984), o cinema recente tem mostrado um appeal especial sobre esse tema do universo dos sonhos: de monstros que podem representar perigos reais como A Hora do pesadelo, Sonho Mortal (1988) ou A Morte nos Sonhos (1984) até uma aproximação mais esotérica dos sonhos lúcidos como Vanilla Sky (2001), A Origem (2010), Ink (2009) ou Waking Life (2001).

Todos esse filmes mais recentes lidam com uma questão principal do problema dos sonhos: assim como na vida dita real, também no mundo onírico somos prisioneiros das ilusões – a chamada “tela mental”.

Como no velho axioma da filosofia hermética (a Lei da Correspondência – “O que está acima, é como está embaixo. O que está dentro é como está fora”), o mundo dos sonhos reserva as mesmas mazelas do mundo da vigília. Se aqui temos a tela da TV e do Cinema que encobre a realidade através da ilusão, no mundo dos sonhos cada um cria sua própria tela mental na qual são projetados medos, culpa, desejos, fantasias que podem materializar-se no mundo etérico em formas-pensamento bem convincentes e, muitas vezes, assustadoras.


Por exemplo, em Vanilla Sky o protagonista vive em um sonho criado por uma empresa especializada que juntou todas as suas recordações (de capas de discos a lembranças de momentos significativos da vida) para montar um mundo idealizado; ou em A Origem, a narrativa do sonho é projetada a partir das referencias da vida do sonhador (no qual os protagonistas querem inserir uma importante sugestão). Mas tudo pode ser posto a perder pela intromissão da própria tela mental do protagonista Cobb (Leonardo DiCaprio).

Sem lucidez (autoconsciência ou autodistanciamento), a tela mental cria um fluxo no qual o sonhador perda a consciência por estar imerso e interagindo com as imagens e formas-pensamento, assim como se estivesse com algum dispositivo 3D ou em alguma sala de projeção em 4D ou 5D.

Prisioneiro da própria tela mental, o sonhador não consegue abrir-se conscientemente à realidade dos mundos para além dos sonhos – dimensões espirituais.

Como escapar das armadilhas dos sonhos?


Os Dreams Walkers do curta Poet Anderson  lembram bastante os personagens chamados “storytellers” do filme Ink, os “guardiões dos bons sonhos”, que protegem os sonhadores dos Incubus, seres de uma organização do mundo astral que absorve a energia do medo, humilhação e culpa dos pesadelos dos vivos – sobre o filme clique aqui.

Essa curta é mais um exemplo da atual sensibilidade gnóstica sobre o tema dos sonhos. A certa altura do curta, o Dream Walker fala para Poet Anderson: “O Terror Noturno é seu. Ele persegue você, não eu.”


Muito diferente da abordagem tradicional dos sonhos (monstros oníricos como Fred Krueger seriam tão reais como os monstros da vigília), aqui há uma abordagem hermética ou esotérica dos sonhos como algo artificialmente criado pelo próprio sonhador.

Enquanto o sonhador não alcançar a lucidez, a tela mental plasma potentes formas-pensamentos no mundo etérico capazes de nos aprisionar e aterrorizar.

Como escapar dessa inconsciência onírica?

O pensador gnóstico, fundador do Movimento Gnóstico Cristão Universal, Samael Aun Weor, chamava essa condição de “sonho na consciência”- nos identificamos com objetos e representações da tela mental e caímos na “fascinação” e inconsciência.

Para superar esse estado e alcançar o sonho lúcido Weor propõe um exercício contínuo de auto-observação e autoconhecimento, desde antes do sonho, no próprio momento de vigília no dia-a-dia. Weor fala em auto-observação em três partes: sujeito, objeto e lugar.

Sujeito: auto-vigilância constante das nossas emoções, hábitos e palavras;

Objeto: minuciosa observação dos objetos ao nosso redor que por meio dos nossos sentidos chegam à mente.

Lugar: observação diária de nossa casa, de nosso quarto, como se fosse algo novo. Perguntar-nos diariamente: como cheguei aqui? A este lugar? A este mercado? A este escritório? Etc.

Para Weor, o exercício diário desses três aspectos nos momentos de vigília, propiciaria sonhos lúcidos: acostumado ao exercício da observação em três partes (sujeito, objeto, lugar), começamos a fazer as mesmas perguntas nos sonhos: Por que estou nesse lugar? De onde venho? O que são esses objetos ao meu redor? O que estou fazendo aqui? - leia o livro de Samael Aun Weor, Sim há Inferno. Sim Há Diabo. Sim Há Carma. clique aqui.

Disso decorre que a inconsciência nos sonhos é um reflexo da nossa própria inconsciência quando despertos nos afazeres do cotidiano. Do automatismo do dia-a-dia.


O que está acima é como está embaixo.


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