sexta-feira, agosto 14, 2015

Datena, Russomanno e Doria Jr candidatos em 2016? É a mídia, estúpido!

Junto com o midiático Celso Russomanno, somam-se para as próximas eleições à prefeitura de São Paulo os televisivos José Luiz Datena e João Doria Jr. Cientistas políticos vêm interpretando esse fenômeno como crescimento do conservadorismo de uma cidade que em outros tempos elegeu Maluf, Celso Pitta e Ademar de Barros. Ou como reflexo do “vácuo político” decorrente da judicialização da Política feita pela Operação Lava Jato. Mas haveria algo mais, um projeto que estaria sendo gestado e que tornaria São Paulo o laboratório de uma experiência de vanguarda: a midiatização total da vida pública. Esses personagens midiáticos representam a quintessência do imaginário paulistano: justicialismo, meritocracia e consumo. Mas desta vez, sem intermediários: diferente dos políticos, ainda presos na cena teatral, Datena, Russomanno e Doria Jr. vivem na cena midiática -  pelo menos sabem ler um teleprompter e se posicionam bem diante das câmeras.

O blogue Cinegnose vem considerando em postagens recentes que São Paulo é um enclave conservador dentro do Brasil. Exemplos disso seriam os protestos e resistências a medidas civilizatórias globais como a construção das redes de ciclovias e a redução da velocidade dos carros. E, o que é pior, protestos que muitas vezes associam essas medidas a um suposto totalitarismo bolivariano cuja solução final seria um golpe militar.

Mas, temos que dar a mão à palmatória. Na verdade, São Paulo está na vanguarda. Um exemplo desse vanguardismo estaria na praça ecologicamente correta chamada de Praça Victor Civita - sincronicamente localizada ao lado da decadente Editora Abril, da sucateada Sabesp e do fétido Rio Pinheiros). Como esse blogue observou em outra oportunidade, a praça é mais do que um símbolo da sustentabilidade: é o símbolo da vanguarda de um projeto que pretende se expandir para todo o País – por meio do sucateamento deliberado do Estado, tornar escasso todos os bens tidos como universais (água, educação, energia etc.) para, depois, serem entregues à regulação do mercado como simples mercadorias – sobre isso clique aqui.

segunda-feira, agosto 10, 2015

Um salto para o fundo infinito da mente no filme "Nothing"


Com inegável influência do grupo inglês de humor Monty Python, “Nothing” (2003) acompanha a vida de dois amigos que inexplicavelmente pulam para uma outra dimensão onde apenas restaram eles próprios e a casa, cercados pelo Nada – um aparente gigantesco fundo infinito branco. Ou será que estão prisioneiros no interior de suas próprias mentes? Dirigido por Vincenzo Natali (diretor do cult de terror “Cube”), o filme é uma experiência minimalista com argumento PsicoGnóstico: naquele nada, acharam que viraram deuses, capazes de deletar qualquer coisa de que não gostem (inclusive suas memórias). Mas há um perigo: poderão deletar a si mesmos. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, agosto 08, 2015

Por que salas de cinema atraem atiradores?

Atiradores que abrem fogo em escolas e salas de cinema já tornaram-se eventos icônicos na cultura pop atual. Acompanhamos nas últimas semanas dois episódios nos EUA envolvendo salas multiplex: Lafayette (onde exibia o filme “Trainwreck” – “Descompensada” no Brasil) e em Antioch (em cartaz o filme “Mad Max: Estrada de Fúria”). O Brasil também teve tiros em sala de cinema num shopping em 1999 onde era exibido “O Clube da Luta”. Por que salas de cinema atraem atiradores? O tom que a mídia aborda esses episódios é monocórdico: sempre retratados como atiradores solitários, sem conexões, e que de repente decidem abrir fogo contra uma plateia. Há algo mais por trás desses eventos? É o que pretende demonstrar as hipóteses do Efeito Copycat, do Sincromisticismo e sobre secretas conexões entre Cinema e Guerra.

Duas semanas depois de um atirador ter aberto fogo contra a plateia em um cinema em Lafayette, Louisiana nos EUA, outro atirador armado com espingarda e um machado, no dia 05 de agosto, foi abatido por policiais em um cinema que exibia Mad Max: Estrada da Fúria em Antioch, no Tenessee.

O atentado anterior, no dia 23 de julho, foi há exatamente três anos do atentado em Aurora, Colorado, onde James Holmes atirou na plateia que assistia ao filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

quarta-feira, agosto 05, 2015

Filtro-bolha da Internet aprisiona usuários em "mônadas" virtuais


Com o cálculo infinitesimal e o primeiro sistema numérico binário, o filósofo e matemático Leibniz criou as bases metafísicas do ciberespaço e Internet no século XVII. E também a Monadologia: a busca da unidade última e indivisível do Ser. Quando Mark Zuckerberg diz que na Internet “saber que um esquilo está morrendo no seu quintal pode ser mais relevante para seus interesses nesse momento do que saber que pessoas morrem na África”, inadvertidamente está realizando através da tecnologia o projeto metafísico das “mônadas” de Leibniz. Uma pista disso é a fala do ciberativista Eli Pariser no “TED Talks” alertando sobre como as moderações algorítmicas nos sites de busca e redes sociais estaria criando o “filtro-bolha” – para cada usuário, resultados de busca e timelines diferentes de acordo com a sua vida online. A Internet estaria gerando bolhas viciosas e virtuais, impedindo que usuários tenham acesso a outras notícias, filmes ou informações que supostamente não façam parte do seu interesse. Como escrevia Leibniz, mônadas não possuem janelas.

domingo, agosto 02, 2015

Amor e paradoxos quânticos no filme "Em Algum Lugar do Passado"


Por que um filme tão odiado pela crítica especializada na sua época como “Em Algum Lugar do Passado” (Somewhere in Time, 1980) em pouco tempo tornou-se um novo clássico e um fenômeno cult? Diferente de outros filmes sobre viagem no tempo com forte ênfase social, “Em Algum Lugar do Passado” é uma tragédia amorosa, melodramática sob a trilha onipresente de Rachmaninoff. Porém, há algo mais pulsando por trás de camadas e camadas de romantismo hollywoodiano: o primeiro filme a aproximar o tema do amor aos paradoxos quânticos do tempo, assim como hoje fazem filmes como “Interestelar” de Nolan ou “Amantes Eternos” de Jarmusch.

sexta-feira, julho 31, 2015

Virada gramatical tenta curar tiro no pé da grande mídia

Depois de décadas de jornalismo adversativo onde dominavam conjunções como “mas”, “porém”, “contudo” etc. para minimizar impactos negativos e, com os governos petistas como oponentes, inverter o sinal e as adversativas minimizarem impactos positivos, a grande mídia dá uma virada gramatical: adjuntos adverbiais de concessão como “apesar da crise, indústria cresce...” ou “mesmo com a crise, setor de informática vende mais...” passam a se repetir ao ponto de tornarem-se bordões ridicularizados em redes sociais. Por que essa virada gramatical? Depois de 12 anos em uma cavalgada suicida querendo provar que o País está no abismo econômico detonando bombas semióticas da crise autorrealizável, a grande mídia chegou ao limite: a presunção da catástrofe volta-se contra ela própria, com queda de audiência e anunciantes. Depois do tiro no pé a grande mídia parece tentar sinalizar ao mercado: “apesar da crise, anuncie aqui!”.

Lá pelo final do século passado, em plena crise do Plano Real com as maxidesvalorizações logo depois da reeleição presidencial de Fernando Henrique Cardoso, um helicóptero da TV Globo sobrevoava os pátios lotados de veículos das montadoras da região do ABC paulista. A voz ao vivo do repórter aéreo falava em pátios lotados, crise e férias coletivas. Corta para o estúdio. E o apresentador Chico Pinheiro contemporizou: “Mas quem ganhará é o consumidor com os descontos que as concessionárias oferecerão...”.

Essa era ainda a época do jornalismo adversativo. Embora o jornalismo sempre tenha vivido da presunção da catástrofe (o acidente, o bizarro e o endêmico prendem a atenção do espectador), a utilização das conjunções coordenadas adversativas (mas, porém, contudo, todavia etc.) sempre tiveram duas funções primordiais.

terça-feira, julho 28, 2015

Em Observação: "Cosmodrama" - A metafísica no espaço

Sete astronautas despertam do sono criogênico em uma estranha espaçonave que parece ter saído de alguma série sci fi dos anos 1960. Eles não sabem qual o propósito de estarem ali, de onde vieram e para onde vão, e a nave parece funcionar automaticamente Essa é a premissa do filme francês “Cosmodrama” (2015), uma tragicomédia com uma evidente alusão sobre a condição humana nesse planeta. Estreou esse ano no Festival Internacional de Rotterdam e a crítica especializada vem definindo o filme como “a metafísica no espaço”. A cada cena, a tripulação tenta formular teorias físicas, religiosas, filosóficas ou semióticas sobre a natureza da espaçonave onde estão prisioneiros. Por isso, “Cosmodrama” tem um evidente sabor gnóstico.

domingo, julho 26, 2015

Em Observação: "Crumbs", um filme AstroGnóstico da Etiópia

Uma nave alienígena paira no céu por décadas após o apocalipse que varreu o planeta Terra. E no interior da Etiópia, um homem acredita receber um sinal daquela nave de que deve retornar para ela, deixar a Terra e voltar para a sua verdadeira casa. Mas terá que enfrentar o medo e vilões como guerreiros mascarados, nazistas e... Papai Noel. Esse é “Crumbs” (2015), o primeiro filme de ficção científica de uma nascente indústria cinematográfica da Etiópia e já premiado em festivais do cinema Fantástico nesse ano. Uma jornada épica pós-apocalíptica com um evidente sabor AstroGnóstico. Assista ao trailer.

sábado, julho 25, 2015

Medida de redução da velocidade em SP atinge "zeitgeist" do carro e das marginais

Há algo além do ódio político-partidário no verdadeiro “freak out” dos motoristas paulistanos e grande mídia contra a medida de redução a velocidades das marginais Tietê e Pinheiros em São Paulo. Parece que a Prefeitura atingiu o coração ideológico e imaginário das verdadeiras “pièce de résistance” do enclave conservador em que se tornou a cidade: o automóvel e as marginais. No automóvel, a representação da velocidade como o último símbolo de distinção e poder; e nas marginais, os tristes portais de entrada na cidade que representam uma modernidade fracassada na qual ainda os paulistanos nostalgicamente se agarram.

FREAK OUT!!! Talvez essa expressão em inglês  (alguma coisa entre “surtar”, “baratinar” ou “perder o bom senso”) seja a que melhor sintetize a reação de motoristas paulistanos com a determinação da prefeitura da cidade de São Paulo em reduzir a velocidade máxima nas vias expressas, centrais e locais das marginas dos rios Tietê e Pinheiros – de 90 km/h para 70km/h ou até 50 km/h dependendo do local.

Reações indignadas nas redes sociais postam vídeos com ciclistas ultrapassando automóveis nas marginais: “quando bicicletas terão placas e restrição de velocidade?”, protestam. Nas viciadas enquetes dos telejornais da grande mídia, selecionam comentários como “vai travar o trânsito”, “vai piorar o trânsito”, “vou perder tempo” e assim por diante – como se diariamente as principais vias da cidade já não estivessem costumeiramente travadas, obrigando motoristas a andarem a menos de 20 km/h.

terça-feira, julho 21, 2015

Cinegnose sem atualizações por tempo indeterminado


Esse humilde blogueiro encontra-se no litoral de Sao Paulo. A fonte de alimentacao do computador queimou, tornando-se impossível atualizar o blog. Retornando a Capital esse blogueiro levara a maquina para a assistência técnica... Por isso esperemos o diagnostico do tecnico. Ate la esse humilde blogueiro entrara em estado de meditação zen... e desculpe a falta de alguns acentos... o computador e emprestado.

domingo, julho 19, 2015

Alucinações pós-digitais no filme "O Congresso Futurista"

Se hoje discutimos o destino do cinema com a era da digitalização, o filme “O Congresso Futurista” (The Congress, 2013) já está bem à frente: em uma era pós-digitalização o cinema tal qual conhecemos deixaria de existir. A indústria do entretenimento apenas forneceria estímulos químicos e eletrônicos e o “espectador” criaria sua própria alucinação, transformando-se na celebridade que quisesse. Em uma espécie de versão feminina do filme “Quero Ser John Malkovich”, a atriz Robin Wright (“House of Cards”) interpreta corajosamente sua própria carreira num híbrido de “live-action” e animação mostrando o destino do ator num futuro onde as pessoas irão querer se exilarem numa espécie de Caverna de Platão produzida por alucinações químicas e solipsistas.

Hollywood produz sonhos e ilusões. Mas nem por isso deixa de viver as mazelas de uma indústria qualquer, com os costumeiros conflitos entre capital e trabalho – no caso do cinema, toda a estrutura que se arma em torno dos atores, a mão-de-obra do negócio: agentes, rompimentos de contratos, drogas, depressão, fracassos, amantes etc.

E se na indústria convencional o capital precisa controlar o trabalho por meio da automação e demissões, na indústria dos sonhos não é diferente: o desenvolvimento tecnológico digital não objetiva outra coisa senão controlar o trabalho dos atores até chegar ao ponto, num futuro bem próximo, em que o próprio ator será um personagem digital (propriedade do estúdio), dispensando o ator real que será despachado para o ostracismo.

quarta-feira, julho 15, 2015

Euro crise e a Metafísica vingam-se da Grécia

Há um fantasma que assombra a História, o fantasma da Metafísica. Há uma ironia sincromística na crise econômica de um país que contribuiu com a Metafísica de Sócrates, Aristóteles e Platão e que agora cai de joelhos diante da Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), representantes de um sistema financeiro do capital volátil e especulativo, sem lastros com a “economia real”, mas com forte poder de destruição. Foram necessários 25 séculos de Filosofia para a Metafísica realizar-se – do “Logos” de Heráclito, passando pela metafísica platônica e a Trindade de Santo Agostinho até chegar à abstração das transações simultâneas, do cálculo probabilístico das transações financeiras e equalização das tendências das bolsas de valores:  tornou-se o no “Logos” (ou no álibi) em nome do qual falam economistas ou técnicos para empurrar goela a baixo a suposta racionalidade das austeridades. O ator Jeremy Irons parece ter percebido isso em um talkshow na TV portuguesa.

O “Não” do povo grego em plebiscito contra as medidas de austeridade da Troika foi saudado como a primeira intervenção da “vontade popular” contra a chantagem da receita neoliberal da financeirização. No país que contribuiu com a Democracia para a história da filosofia política, nada mais natural que a voz do povo vencesse o medo e a chantagem.

Mas a renúncia do Ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis (figura “mal vista” pela Zona do Euro) um dia depois do “Não” foi o prenúncio do que viria: a humilhante capitulação final do governo grego  de Alex Tsipras diante da plutocracia financeira representada pela chanceler alemã Angela Merkel.

domingo, julho 12, 2015

Efeito Heisenberg da mídia destrói futebol brasileiro

Depois de um ano do histórico vexame de 7 X 1 contra a Alemanha na Copa do Mundo o cenário do futebol brasileiro é de decadência técnica e financeira com um ex-presidente da CBF preso pelo FBI, estádios vazios em um campeonato longo e desinteressante sob o rígido controle do monopólio midiático das Organizações Globo. A imposição de datas, horários dos jogos, fórmulas de campeonatos de acordo com os interesses comerciais da emissora é apenas a superfície da questão. Mais do que isso, a própria transformação do futebol brasileiro à imagem e semelhança da linguagem do telejornalismo da TV Globo está destruindo a qualidade do próprio produto que ela pretende vender. É o chamado “Efeito Heisenberg”, efeito midiático das coberturas extensivas onde as mídias não retratam mais realidades, mas a si mesmas e o impacto delas sobre os fatos.

Nesses últimos dias a grande mídia nos lembrou por matérias especiais que há um ano o futebol brasileiro sofreu uma das suas maiores humilhações: a derrota de 7 X 1 contra a Alemanha em uma edição da Copa do Mundo realizada no próprio País. Um ano depois, temos um ex-presidente da CBF preso pelo FBI na Suíça à espera de extradição, um campeonato brasileiro acontecendo em estádios vazios com jogos de qualidade técnica em rápido declínio e a progressiva queda de audiência dos jogos televisionados pela TV Globo.

quarta-feira, julho 08, 2015

"Uma Aventura Lego" faz evangelho gnóstico pop


Por trás da inocência de uma animação infantil podem estar antigas mitologias que ainda repercutem em nossos corações e mentes. “Uma Aventura Lego” (“The Lego Movie”, 2014) já foi interpretado como uma grande comercial de 100 minutos do brinquedo Lego ou uma sátira metalinguística da cultura pop atual que faz uma mistura maluca de “Matrix”, “Toy Story” e “Os Simpsons”. Mas na verdade é um evento religioso: um evangelho gnóstico pop onde é apresentada uma crítica mordaz às noções de Verdade, Deus e Salvação. Um tirano controla todos os mundos Lego passando-se como o único construtor daquele universo. Mas a resistência secreta formada pelos “mestres construtores” sabe que “o cara lá de cima” enviará um Salvador: Emmet, um operário comum com a cabeça tão vazia que, somente ele com seu "silêncio" interior, poderá ouvir a voz da Verdade.

Com as férias escolares esse humilde blogueiro tem a oportunidade de acompanhar os filhos ao cinema e exposições assistindo a uma série de curtas e animações, como os leitores devem já ter percebido nas últimas postagens do Cinegnose. E assistindo a esse conjunto de audiovisuais não dá para passar despercebido como cada vez mais produções atuais voltadas, a princípio, para o público infanto-juvenil  são baseadas em argumentos filosóficos e/ou místicos.

Uma Aventura Lego (The Lego Movie, 2014) é mais um exemplo desse mix de entretenimento com viés gnóstico que, de início, parece ao espectador como alguma coisa entre o non-sense e o surreal. A melhor primeira impressão que a animação pode passar foi dada por Susan Wlosczyna no site de crítica de cinema Roger Ebert. com:  “imagine Toy Story feito por Mel Brooks depois de comer cogumelos mágicos enquanto lia 1984 de George Orwell”.

segunda-feira, julho 06, 2015

"Divertida Mente" transforma pesquisas de controle da mente em entretenimento


A crítica especializada vem considerando a nova animação da Pixar, “Divertida Mente” (Inside Out, 2015), como a mais criativa e emocionante do estúdio. Certamente comprova como a Pixar é capaz de transformar em entretenimento um conteúdo politicamente sério: as pesquisas do psicólogo Paul Ekman, pioneiro dos estudos das conexões entre as emoções e expressões fisionômicas – estudos iniciados pela CIA e Departamento de Defesa dos EUA para criar modernos detectores de mentira em suspeitos de terrorismo. Dessa maneira, “Divertida Mente” é mais um produto midiático que reflete a atual agenda tecnocientífica: o projeto das cartografias e topografias da mente – criar modelos de simulação baseados nas neurociências, Cibernética e ciências da computação que desvendem o funcionamento da mente e da consciência.  Por trás do entretenimento há um propósito muito mais sério: controle e manipulação da mente, seja pela via fármaco ou pelo controle de massas através de dispositivos como o Neuromarketing.

sexta-feira, julho 03, 2015

Curta "Rabbit and Deer" atualiza a Alegoria da Caverna de Platão

O que aconteceria se indivíduos que vivem em um mundo plano e bidimensional acidentalmente descobrissem que existe um universo alternativo tridimensional, até então invisível para eles? Qual a reação deles ao descobrir que seu mundo plano não passa de um fino papel que esconde uma vasta realidade tridimensional? Essa é a proposta de um surpreendente curta de animação húngaro “Rabbit and Deer” (2013) com mais de 100 prêmios em festivais por todo o mundo. O curta faz uma releitura da Alegoria da Caverna de Platão por um ponto de vista dimensional – mais uma evidência de como cresce a sensibilidade gnóstica na indústria do entretenimento atual, desde que a Relatividade e a Mecânica Quântica atualizaram na ciência antigas mitologias gnósticas.

O leitor deve conhecer a Alegoria da Caverna de Platão, onde o filósofo descreve a situação em que a humanidade se encontra e a proposta de um caminho de salvação: a crença de que o mundo revelado pelos nossos sentidos não é o mundo real, mas apenas uma pálida cópia – a condição humana seria como a de prisioneiros acorrentados em uma caverna vendo sombras  projetadas na parede de objetos que passam diante de um fogo atrás deles. As sombras são tão próximas que passam a designar nomes para elas e toma-las como fossem a própria realidade.

Agora imagine essa alegoria por um ponto de vista dimensional: os homens acorrentados e as sombras pertenceriam a um mundo bidimensional, enquanto o fogo e os objetos que passam diante dele estão no plano tridimensional – mesmo que se virassem, seres da segunda dimensão seriam incapazes de verem o fogo ardente tridimensional. Platão dizia que o brilho do fogo os cegaria. Do ponto de vista dimensional, a tridimensionalidade simplesmente se tornaria invisível para esses seres planos prisioneiros das suas correntes em duas dimensões.

quarta-feira, julho 01, 2015

Pegue a pipoca vermelha: Cinegnose atualiza a lista dos melhores filmes gnósticos


O Cinegnose apresenta a atualização dos melhores filmes gnósticos da história do cinema, que agora conta com 66 filmes. É uma atualização da lista anterior de 2013 onde constavam 41 filmes.  Atualmente esses filmes apresentam uma grande variação de interpretações da mitologia gnóstica clássica espalhado por diversos gêneros fílmicos.   Por isso, nessa atualização trouxemos uma novidade metodológica na classificação dos filmes: dividimos em subcategorias (CosmoGnósticos, PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, AstroGnósticos e CronoGnósticos) e apontamos em cada filme os principais temas gnósticos abordados.

segunda-feira, junho 29, 2015

Por que jornalistas estão migrando para programas de entretenimento?

Em 1983 Sérgio Chapelin deixou a Globo para apresentar o “Show Sem Limites” no SBT. Mas depois voltou ao telejornalismo global. Agora a migração para o entretenimento não tem mais volta: tudo começou com Fausto Silva nos anos 80 e atualmente a tendência cresce com Fátima Bernardes, Pedro Bial, Patrícia Poeta, Britto Jr., Ana Paula Padrão, Zeca Camargo e o recente anúncio da saída definitiva de Tiago Leifert do jornalismo esportivo para um programa de entretenimento na TV Globo. Como explicar essa onda migratória? Maneira mais fácil de ganhar dinheiro com merchandising? Mas também pode representar o sintoma de um duplo fenômeno que assola um jornalismo terminal diante do crescimento das tecnologias de convergência: o infotenimento (informação + entretenimento) e o tautismo (tautologia + autismo).

Quando o colombiano Juan Carlos Osorio chegou ao Brasil para ser o novo técnico do São Paulo Futebol Clube, ao vivo o jornalista Tiago Leifert não se conteve : “vamos fazer uma matéria especial com Osorio, ele é um personagem!”, disse o apresentador do Globo Esporte, sobre um técnico com o seu curioso método de entregar bilhetes aos jogadores, escritos ora com caneta vermelha, ora com caneta azul... canetas que depois são enfiadas em cada meia.

Essa é uma pequena amostra do atual modus operandi do jornalismo baseado não mais em relatos de acontecimentos, mas que agora está em busca de casos e personagens como se editores e repórteres se assemelhassem a roteiristas ou produtores de cinema.

sábado, junho 27, 2015

Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"

Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar – protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”, “Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.  

Os irmãos Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz esse blog Cinegnose, a série apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas míticas do Gnosticismo.

Uma tendência que se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico foi certamente o filme Matrix dos Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A Vida em Preto e Branco (1998), Show de Truman (1998), O Décimo Terceiro Andar (1999), Clube da Luta (1999) entre outros.

segunda-feira, junho 22, 2015

Grande mídia aproxima-se de uma vitória de Pirro?

Ao declarar seu “susto” com o posicionamento da revista “Veja” contra o desarmamento em 2005 no referendo sobre armas, Bárbara Gancia foi uma dos primeiros jornalistas a perceberem uma contradição na grande mídia que vem crescendo desde então: como ser politicamente conservador e ao mesmo tempo liberal nos costumes? O vale-tudo atual da grande mídia de buscar em águas turvas o apoio de setores política e culturalmente retrógrados para desgastar o Governo Federal pode ser uma vitória de Pirro. Serginho Groisman e Jô Soares  estão percebendo isso. E o recente editorial do jornal “Folha de São Paulo” contra o “obscurantismo” do outrora incensado líder da Câmara Eduardo Cunha foi mais um sinal. Para a grande mídia a questão não é apenas política mas trata-se de sua própria sobrevivência diante da tecnologia de convergência que lhe arranca nacos de audiência. Após a vitória final com a terra arrasada, a mídia tradicional encontraria uma nova geração de jovens conectados aos seus dispositivos móveis e Internet e nem um pouco receptivos a uma agenda política baseada no conservadorismo de costumes.

Em 2005, a jornalista Bárbara Gancia percebeu os primeiros sinais de uma tendência de cobertura política da grande mídia que nos anos posteriores só cresceu: a defesa de uma agenda conservadora política e de costumes com uma visão de mundo segregacionista dentro de uma estratégia de vale-tudo para disseminar o ódio contra o Governo Federal e as próprias esquerdas.

“Deu a louca na revista Veja?”, perguntava perplexa a jornalista, ao ver o semanário sair em defesa “histericamente” pela opção do não desarmamento no referendo sobre armas que era realizado naquele momento. “Assino Veja há 20 anos, leio a revista de cabo a rabo e faço parte do grupo que acredita que o governo do PT é um embuste”, afirmava Gancia, sentindo-se traída pelo conservadorismo da Veja que acreditava que andar armado é um direito fundamental do indivíduo.

sábado, junho 20, 2015

Entrelaçamento quântico, moral e livre-arbítrio em "Frequencies"

Co-produção britânica e australiana, “Frequencies” (aka “OXV: The Manual, 2013) foi uma surpresa em festivais de Cinema Fantástico como o Fant 2014 de Bilbao. Embora parta da premissa da atual onda de filmes sci fi distópicos com adolescentes (amores impossíveis em mundos totalitários como em “Divergente”), o filme pretende ser um ambicioso ensaio metafísico sobre o problema da Moral e do Livre-arbítrio: quão livre nós somos em nosso querer agir? Em um mundo onde o conhecimento determina o destino, jovens tropeçam em uma descoberta: o Manual OXV baseado em uma “antiga tecnologia” onde palavras podem interferir nos padrões de frequências que criam entrelaçamentos quânticos entre as pessoas. Isso pode ser usado para o amor... mas também para o mal.

Uma história de amor impossível entre dois adolescentes que vivem em uma ordem social totalitária que impede a concretização dos seus sentimentos. Sintetizando dessa forma o filme Frequencies (aka OXV: The Manual), parece que estamos diante de mais um filme da atual onda de “distopias teens” como Divergente, Jogos Vorazes, Eu Sou o Número 4 etc.

Uma onda de filmes classificados pelo rótulo “ficção científica” pelos seus aspectos mais superficiais do gênero: futuros distópicos, efeitos especiais e alta tecnologia.

segunda-feira, junho 15, 2015

"Veja", Simples Descolados e Coxinhas 2.0 gourmetizam festas juninas

O chamado “raio gourmetizador” atinge também as festas juninas, como mostra matéria da revista "Veja SP" em seu diligente trabalho semanal de elevar a moral da classe média. A complexa retórica dos “ingredientes” e das “harmonizações” agora constrói a mitologia do “rústico”, do “artesanal” e do “nativo” em quermesses e arraiais. Simples descolados e “coxinhas 2.0” (a versão autossustentável do coxinha tradicional) seriam os arautos de uma suposta simplicidade perdida pelo consumismo desenfreado de uma classe C sem educação. Parece que a “Teoria da Classe Ociosa” elaborada há cerca de 100 anos pelo economista Thorstein Veblen torna-se cada vez mais atual: a afetação sócio-linguística da gourmetização como um “trabalho ocioso” que busca reconstituir uma distinção de classes ameaçada pela política econômica neodesenvolvimentista. Com a midiatização da tendência, hoje a gourmetização assumiria um duplo papel: gourmetizar não apenas a elite, mas também as massas como função disciplinar e ideológica.


Chegamos às festas juninas onde nos quatro cantos do País se comemora os santos populares Santo Antônio, São Pedro e São João. Em seu diligente trabalho de elevação da moral de uma classe média que ainda vê nela alguma relevância, a edição da Veja São Paulo de 10/06/2015 quis nos mostrar que as festas juninas já não são mais as mesmas. Daqui em diante, expressões como “arraial” e “quermesse” se confundirão com balada para jovens aspirantes a uma suposta elite descolada.

Esqueça o quentão, o “buraco quente” (pão francês recheado de carne ao molho) com carne louca, o pinhão e a barraquinha de pesca. Pense agora em uísque, “buraco quente” recheado com carne de costela de boi da raça angus (porque “harmoniza” melhor com cervejas artesanais), pista de dança com DJs e sanduíches feitos diretamente de food trucks com letreiros em handshop

sábado, junho 13, 2015

No curta "Alma" o fascínio gótico pelos bonecos e brinquedos

Trabalhando desde 2002 na Pixar, o animador espanhol Rodrigo Blaas resolveu em 2009 colocar em prática algumas ideias pessoais que não podiam se encaixar nas produções comerciais do estúdio. O resultado é o curta “Alma” que trás para uma animação aquilo que a assepsia comercial da Pixar retira dos seus produtos: o Estranho e o Gótico, a essência do fascínio humano pelos bonecos, marionetes e, modernamente, androides, robôs e animações. Blaas devolve ao universo infantil dos bonecos e brinquedos o seu arquétipo central: a rememoração das relações homem/Deus – através da brincadeira e do jogo a rememoração da própria condição humana prisioneira em um universo onde alguém nos manipula.Curta sugerido pela nossa leitora Luiza Hernandez.

Rodrigo Blaas é um artista gráfico espanhol que trabalha nos estúdios da Pixar desde 2002, animando personagens como a Dory em Procurando Nemo, a dupla Luigi e Guido em Carros, as cenas de ação em Os Incríveis e a sequência final da luta do capitão da nave Axion contra o piloto automático em Wall-E. Depois de muito trabalho em equipe e aborrecido em ter muitas ideias que não podiam ser encaixadas nas produções de um estúdio mainstream, resolveu reunir alguns colegas para fazer um curta.

O resultado é Alma (2009), com uma protagonista infantil com olhar doce e um visual que lembra o estilo da Pixar. Mas as semelhanças param por aí: há algo de estranho, tão sinistro quanto a atmosfera dos episódios da clássica série de terror e mistério Além da Imaginação - veja o curta abaixo.

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