segunda-feira, junho 24, 2013
O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"
segunda-feira, junho 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David
Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall
Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma
alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma
Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a
falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira.
Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da
informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte
dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática
estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras.
Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.
Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário
príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos
escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo
em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.
Porém, a cidade vive o caos com a visita do
presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do
perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA
parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.
Todas as suas operações financeiras são monitoradas
a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade
uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo
do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a
valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a
falência.
quarta-feira, junho 19, 2013
Apertem os cintos... a Esquerda sumiu
quarta-feira, junho 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A escalada de manifestações nas ruas em todo o país parece expressar um
profundo mal estar dos jovens em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à instituição
da Política como representação de
qualquer demanda social. Desconfiam que por trás da Política ou do Poder não existe
nada mais do que ardil, simulação, blefe. Mas a mídia tem horror ao vácuo: para
manter o ardil da simulação os meios de comunicação precisam encaixar as manifestações
em um script, assim como um novo roteiro
de um filme publicitário que oferece mais do mesmo para o mercado.
As interpretações dos cientistas e comentaristas
políticos crescem na mesma proporção que os protestos nas ruas. Em toda essa
espiral interpretativa há um ponto que todos parecem concordar: a incrível
flexibilidade e rapidez da logística das mobilizações nas ruas através das
redes sociais contrasta com os lentos canais de comunicação representativos de
partidos políticos, Executivo e organizações classistas. A UNE, por exemplo,
desapareceu. Qualquer identificação partidária no meio das passeatas é vista
com maus olhos e rejeitada pelos manifestantes.
Mas essa questão logística de comunicação é apenas
o sintoma: os jovens na rua estão expressando um profundo mal estar em relação
não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à Política – o
questionamento da própria ideologia política como representação de qualquer
demanda social. Em outras palavras, os jovens desconfiam que por trás da
Política ou da ideologia não existe nada e que tudo é um ardil, uma simulação,
um blefe.
terça-feira, junho 18, 2013
OVNIs e parapolítica no filme "Wavelength"
terça-feira, junho 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um prato cheio de mistérios, OVNIs, coincidências e conspirações. “Wavelength”
(1983) de Mike Gray (documentarista e ativista político) e produzido por um
advogado não menos ativista é um daqueles filmes estranhamente esquecidos por
críticos e cinéfilos. No momento atual em que autoridades vêm a público cobrar
dos governos que o fenômeno OVNI seja assumido oficialmente, “Wavelength” é
relembrado como um filme supostamente baseado em um caso real ocorrido em
Hunter Liggett, sul da Califórnia. Principalmente após declaração de um físico
que trabalhava em laboratório de pesquisas do governo dos EUA e uma testemunha do incidente que se diz surpreendido
com a precisão da narrativa do filme: “Quem fez esse filme estava lá ou conheceu alguém que esteve lá”.
O filme “Wavelength” é um prato cheio para os
teóricos da conspiração especializados nas conexões entre OVNIs e governos, a
chamada “parapolítica”. Tanto pelo conteúdo da narrativa do filme e, principalmente, pelos eventos e coincidências que cercaram a sua produção que
pesquisadores como Christopher Knowles qualificam como “sincromísticos”.
Esse sci-fi
independente e de baixo orçamento foi esquecido pelo público e até mesmo pelos
cinéfilos ao longo dos anos. Relembrar desse obscuro filme e dos eventos em
torno dele é oportuno, principalmente depois que duas autoridades que ocuparam
posições-chave em governos manifestaram a necessidade de ser assumido
oficialmente a existência dos OVNIs: o ex-ministro de defesa do Canadá, Paul
Heyller (acusou os EUA de “acobertamento”), e o ex-presidente russo Dmitry
Medvedev que falou sobre “arquivos secretos oficiais sobre o assunto” em um
rede de TV daquele país.
sábado, junho 15, 2013
O oportuno "Moonrise Kingdom" em tempos de jovens protestando nas ruas
sábado, junho 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Partindo do princípio de que o mix emocional de exaltação e melancolia da
adolescência representa o último grito de um espírito que nega a adaptação ao
futuro, “Moonrise Kingdom” (2012) constrói uma elaborada fábula sobre a inadaptabilidade
do jovem a um mundo onde os adultos dizem “somos tudo o que vocês têm”.
Enquanto filmes como a da franquia “Crepúsculo” ou “Harry Potter” representam
esses aspectos depressivos da adolescência de forma solipsista e platônica (a
felicidade só poderia ser alcançada nos sonhos ou em mundos mágicos e
sobrenaturais), “Moonrise Kingdom” constrói um elaborado simbolismo permeado de
misticismo e gnosticismo que não só desconstrói as formas de “cura” da revolta
adolescente como aponta para a felicidade como uma chama interior que deve ser
mantida acesa no mundo adulto que o aguarda. Um filme oportuno em tempos em que
jovens estão tomando as ruas em protestos.
O diretor Wes Anderson é conhecido por criar um
universo bem particular: em todos os seus filmes anteriores como “Os
Excêntricos Tenembauns” (2001) ou “O Fantástico Sr. Raposo (2009) ele é capaz
de criar um microcosmo onde os eventos e ações começam a ocorrer dentro de suas
própria regras e tudo começa a ser impulsionado por emoções e desejos tão convincentes
que se tornam mágicos.
Dessa vez o novo mundo criado por Anderson é uma
ilha em algum lugar na costa da Nova Inglaterra nos EUA, onde as casas,
fazendas, faróis, barcos parecem ser reproduções ampliadas de pequenos modelos
ou miniaturas. A composição dos enquandramentos é cheia de simetrias, o
movimento da câmera calculadíssimo e os personagens propositalmente
estereotipados e contidos. Por isso, Anderson é muito criticado pelo estilo dito
“maneirista”. Aqui, pelo menos, esse estilo passa a ter todo sentido: em uma
ilha cujo artificialismo dos personagens, paisagens urbanas e naturais lembram
muito a ilha de Seahaven do filme “Show de Truman” (The Truman Show, 1998)
criam uma sufocante atmosfera de ordem, disciplina e hierarquia, um casal de
adolescentes se rebela e planeja cuidadosamente e executa uma fuga: ela para
fugir da crise conjugal dos seus pais e ele da disciplina e mediocridade de um
campo de escotismo.
quinta-feira, junho 13, 2013
Em Observação: "Mahler no Divã" (2010)
quinta-feira, junho 13, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Percy Adlon é um diretor conhecido por esse blog, principalmente pela
comédia “Rosalie Vai às Compras” que já foi tema de postagem. O filme “Mahler
no Divã” (2010) não trata de um divã real: o compositor Gustav Mahler jamais
esteve no divã de Freud, mas foi analisado por ele de uma forma bem diferente
para a ortodoxia do pai da psicanálise: caminhando. Caminhar como forma de
descobrir a si mesmo tem profundos significados esotéricos e filosóficos. Assim
como a própria figura de Mahler na história da música, considerado como um “romântico
tardio”, pela sua morte prematura e sua música misturar exaltação e depressão.
O filme será exibido dia 19 em São Paulo no Ciclo de Filmes Alemães no Clube
Transatlântico.
terça-feira, junho 11, 2013
Físicos afirmam que o Universo é uma simulação computacional finita
terça-feira, junho 11, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Partindo do princípio
que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores
também o são, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores”.
Essas são as últimas linhas de um artigo publicado por físicos da Universidade
de Cornell, EUA, onde criam as diretrizes iniciais para a comprovação da
hipótese de que o Universo é uma gigantesca simulação computacional a partir de
uma simulação numérica da chamada “grade cromodinâmica quântica”, associada às
forças básicas da natureza que unem prótons e nêutrons no núcleo do átomo. Tal
conclusão leva a importantes implicações filosóficas gnósticas como, por
exemplo, a atualização por meio da tecnologia de uma ambição humana revelada
pela Teurgia e Alquimia na Antiguidade: imitar Deus para tentar encontrá-lo.
Dessa vez, por meio da simulação algorítmica.
Talvez Deus não queira ser observado. Acho que Ele não gosta
de curiosos” (Einstein)
Dessa vez é um grupo de físicos
da Universidade de Cornell, nos EUA, que afirma que conseguiu aperfeiçoar as
diretrizes iniciais de um método que comprovará que o Universo é uma gigantesca
simulação computacional. Não fosse o fato de que pesquisadores da Universidade
de Washington concordaram após investigar os dados da equipe de Cornell,
poderíamos dizer que tudo isso não passa de um boato.
Em novembro do ano passado,
físicos da Universidade de Bonn, Alemanha, anunciaram que procuravam uma
“assinatura cósmica” a partir de uma simulação computacional por meio de
minúsculos espaços cúbicos (grade de Gauge) que forneceria uma nova visão das
partículas de alta energia. Dessa maneira, eles levariam à frente a hipótese do
professor da Universidade de Oxford, o filósofo e matemático Nick Bostrom, que
em artigo publicado em 2003 sustentava uma fórmula probabilística de que uma
outra civilização poderia ter simulado o nosso Universo (veja links abaixo).
Pois em novembro do ano passado
Silas Beane, Zohreh Davoudi e Martin Savage publicaram o artigo “Contraints on
the Universe as a Numerical Simulation” (Cornell University Library, arXiv.org) onde observam as
consequências da hipótese do Universo como simulação numérica a partir da
possibilidade de que a próxima geração de computadores de alta performance possa
simular a chamada “grade de cromodinâmica quântica” e, dessa forma, observar
como os raios cósmico se refletem nessa estrutura.
quinta-feira, junho 06, 2013
Opinião: "Argo", "Ghost Army", "O Mágico de Oz" e "Cristo de Nag Hammadi"
quinta-feira, junho 06, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Iniciamos
com essa postagem uma nova sessão do blog “Cinema Secreto: Cinegnose”:
“Opinião”. Estamos percebendo que nos últimos meses o nível dos comentários dos
nossos leitores vem crescendo, deixando de ser muitas vezes um “comentário”
(intervenções pontuais que são sempre bem vindas para esquentar o debate) para
se tornar “opinião”, fundamentada em referências e informações que,
acreditamos, pode ser de interesse para toda a comunidade de leitores desse
blog.
Por
isso, essa nova sessão dará destaque aos melhores comentários dos nossos
leitores-comentaristas. Para começar, aqui estão as primeiras opiniões:
terça-feira, junho 04, 2013
O "efeito Heisenberg" na irrealidade midiática cotidiana
terça-feira, junho 04, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A transmissão
televisiva da final do Novo Basquete Brasil parece confirmar aquilo que Neal
Gabler chama de “efeito Heisenberg”, paradoxo quântico onde a mídia, na
verdade, está cada vez mais cobrindo a si mesma e o seu impacto sobre a vida: ao
mobilizar uma serie de signos que forçavam uma analogia com o show business
esportivo norte-americano, a transmissão celebrou muito mais o sucesso da
parceria da TV Globo com a nova liga oficial de basquete do que a transmissão
de uma “jornada esportiva”. E para ficar mais evidente isso, o barulho ensurdecedor
da torcida nas arquibancadas era menos pelos lances na quadra, do que pelo
vai-e-vem das câmeras que comandavam as reações dos torcedores.
Neste último final de semana
assisti pela TV a final do NBB (Novo Basquete Brasil, a liga oficial de
Basquete brasileiro) entre Flamengo e Uberlândia na Arena da Barra no Rio de
Janeiro. Para além dos aspectos técnicos
do jogo, começou a me chamar a atenção a forma como a partida se promovia para
os espectadores e, além, disso, o próprio comportamento dos torcedores nas
arquibancadas.
As belas imagens da arena e da
quadra pareciam forçar uma semelhança com os imensos ginásios esportivos da
Liga de Basquete norte-americana: o placar eletrônico onipresente suspenso
sobre o centro da quadra, mascotes saltitando a cada parada técnica, notas musicais
em som de órgão entoadas a cada anúncio de troca de jogadores, shows musicais
com cantores nos intervalos etc. Uma atmosfera de show business, muito mais do
que esporte: entretenimento.
Somado a isso o tom do
comportamento da plateia parecia ser dados pelas câmeras que deslizavam por
sobre as arquibancadas. Percebia-se que uma área da plateia, antes formada por
torcedores sentados e concentrados no jogo, ao verem a proximidade da câmera se
levantavam, pulavam e torciam de forma mais enérgica. Alguns homens mais
empolgados beijavam suas companheiras ao serem surpreendidos pela proximidade
da câmera...
domingo, junho 02, 2013
Sobre realidade, jardins e TVs no filme "Muito Além do Jardim"
domingo, junho 02, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Muito Além do Jardim”
(Being There, 1979), um clássico com Peter Sellers, teve sérios problemas para
ser finalizado: o diretor Hal Ashby entrou em sério desentendimento com a produtora
Lorimar Films para impor um final que seria um dos mais polêmicos da história
do cinema (o final "andando sobre as águas"), um final tão cético que beira o ateísmo, isso após uma sequência
onde aparecem símbolos maçônicos no mausoléu de um dos protagonistas. Mas
“Muito Além do Jardim” é antes de tudo um filme sobre como a TV é capaz de
moldar nossa percepção do real, assim como todos projetam suas percepções e
interesses no protagonista. Uma fábula sobre a paradoxal incomunicabilidade em
uma cultura moldada pelos meios de comunicação.
Nunca um filme teve um título em
português tão bem acertado: “Muito Além do Jardim”. O título designado para
“Being There” do diretor Hal Ashby, é perfeito porque a narrativa de quase duas
horas em um ritmo elegante (ou lento, de acordo com a referência
cinematográfica do espectador) vai pouco a pouco aprofundando as consequências
na vida de um homem que se vê de repente despejado na rua após perder o emprego
de uma vida inteira (jardineiro) e como o acaso vai construindo o seu destino
em uma trajetória que o faz adentrar acidentalmente em círculos cada vez poderosos
até chegar ao presidente dos EUA.
Da história de um homem simples
cuja percepção da realidade foi moldada pela TV, passando pela forma como
inesperadamente se torna um “insider” dos altos círculos do poder de Washington
até o final onde símbolos esotéricos sugerem teorias conspiratórias na política
e um inesperado, ambíguo e perturbador final que potencialmente pode por em
xeque tudo que acabamos de assistir.
Como veremos adiante (aviso de
spoiler) a sequência final, que quase custou o emprego do diretor Hal Ashby que
insistiu em colocá-la na edição final do filme mesmo sob ameaça de demissão
pela produtora Lorimar, é uma das mais polêmicas da história do cinema: podemos
interpretá-la ou como um final poético sobre a pureza do protagonista ou como
um brutal ceticismo que confirmaria as intenções do diretor em inserir algumas
simbologias esotéricas na narrativa.
quinta-feira, maio 30, 2013
"Argo" e "Ghost Army": a simulação uniu Guerra e Cinema
quinta-feira, maio 30, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os inimigos dos EUA sempre os atacaram ou com o fundamentalismo
religioso-ideológico (islamismo, comunismo etc.) ou com a tática da guerra
total (os nazis na Segunda Guerra Mundial). E os americanos responderam com sua
principal arma: a simulação. Diferente das táticas ideológico-militares de dissimulação,
os EUA encontraram uma arma ainda mais insidiosa no interior da sua própria
cultura: do “Studio System” de Hollywood às mesas de pôquer de Las Vegas a arma
da simulação e do blefe. Os casos históricos de “Argo” em 1979 no Irã e a
inusitada tática de uma unidade militar chamada “Ghost Army” na Segunda Guerra
Mundial ilustram bem essa complexa conexão entre Guerra e Cinema que explica
porque a simulação conquistou o mundo.
Estamos acostumados a pensar o
cinema hollywoodiano como instrumento ideológico do complexo
governo-militar-diplomático dos EUA. Exemplos não faltam das evidências disso: desde os filmes patrióticos, a promoção dos novos heróis
pós-depressão econômica de um país revitalizado pela vitória na Segunda Guerra
Mundial e a “política de Boa Vizinhança” com Carmem Miranda e Zé Carioca para
agradar e cooptar os países da América do Sul na época da Guerra Fria e a
ameaça comunista; até os filmes e minisséries dos anos 1960-70 que tornaram o
american way of life desejáveis para nós e os filmes de ação de Rambo e Braddock
da era Reagan para levantar a imagem militar de um país derrotado no Vietnã.
Nesses casos
temos a submissão da produção cinematográfica às estratégias de dissimulação dos
interesses do Estado. É importante entender esse conceito de dissimulação: é a situação onde alguém
afirma não possuir algo que, na verdade, está escondendo. É o campo da mentira,
da manipulação e da ideologia.
Mas ao longo da
história das complexas conexões entre Cinema e Estado podemos encontrar uma
situação inversa onde o complexo governo-militar-diplomático se submete à lógica
do sistema cinematográfico, procurando imitá-lo em uma estratégia de simulação.
quinta-feira, maio 23, 2013
O espectro do tautismo ronda a TV Globo
quinta-feira, maio 23, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A linguagem da TV
Globo sempre abusou das metalinguagens como exercício de demonstração do seu
poder tecnológico e financeiro: passar a maior parte do tempo transmitindo a
sua própria transmissão. Porém, nessa semana percebemos a recorrência de um
fenômeno novo, desde a notícia da morte de turistas brasileiros na Turquia. Um
fenômeno que o pesquisador francês Lucien Sfez chama de “tautismo”: um processo
de comunicação sem personagens que só leva em conta a si mesmo, resultando em
uma situação simultânea de autismo e tautologia. Isso seria o resultado final
de todo sistema complexo que começa a fechar-se em si mesmo, tornando-se cego
ao ambiente externo. Sem conseguir estabelecer a diferença entre “dentro” e “fora”,
“ficção” e “realidade”, o sistema torna-se autofágico. O tautismo poderia ser o
sinal decisivo do fim da hegemonia da TV Globo?
Um fantasma ronda os corredores
da TV Globo. É o espectro do tautismo. Esse neologismo criado pelo pesquisador
francês Lucien Sfez através da combinação das palavras “tautologia” (do grego tauto, o mesmo) e “autismo” (autos, si mesmo) talvez nomeie uma
estranha recorrência nesses últimos dias na programação da emissora.
Em um espaço de menos de uma
semana em uma amostragem bem aleatória, encontrei uma repetição de eventos,
sejam eles conteúdos de ficção ou não-ficção, onde sempre há um princípio de auto-referência.
quarta-feira, maio 22, 2013
Em Observação: "Muito Além do Jardim" (1979)
quarta-feira, maio 22, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um filme que merece ser revisitado por esse blog. Há muito tempo assisti ao filme e, pelo que parece, passei tanto tempo sem assisti-lo de novo talvez porque a própria crítica especializada o esqueceu: raramente encontramos o filme "Muito Além do Jardim" em listas dos melhores filmes. Embora a própria crítica reconheça que seja uma das melhores críticas à sociedade e à mídia feita pelo Cinema. Peter Sellers faz essa comédia dramática tentando separá-lo da imagem do Inspetor Closeau depois do sucesso comercial da série "A Pantera Cor de Rosa" nos anos 1970. Muitos o associam ao tema do filme "Forrest Gump" (1994), porém com uma diferença: se no filme com Tom Hanks as tiradas filosóficas sobre o nada são levadas à sério, aqui Peter Sellers utiliza todo cinismo e ironia para mostrar como as pessoas começam a levar à sério alguém que unicamente repete os clichês despejados pela TV.
terça-feira, maio 21, 2013
A lógica publicitária do "Papai Noel" no filme "Gente Louca"
terça-feira, maio 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em crise criativa, um
publicitário bem sucedido descobre que passou grande parte da vida mentindo
para ganhar dinheiro. Começa então a fazer o que ele chamará de “Publicidade
honesta”: “Linhas Aéreas United: nossos aviões caem menos que o da concorrência”
ou “Cigarros Amalfi: Câncer? Talvez. Sabor? Com Certeza!” são algumas das pérolas
que são vistas por todos na Agência da Madson Avenue como criações de alguém
que enlouqueceu. Logo o protagonista se vê internado em um manicômio, onde fará
uma nova agência de publicidade, dessa vez com os pacientes do hospital. “Gente
Louca” (Crazy People, 1990) com o comediante britânico Dudley Moore é uma
comédia romântica sem pretensões, mas que desenvolve um supreendente pano de
fundo crítico. O filme é uma ótima oportunidade para ilustrar a irônica
natureza da lógica da crença publicitária sugerida pelo pensador francês Jean
Baudrillard: a “Lógica do Papai Noel”.
Um filme despretensioso, uma
comédia romântica daquelas que passavam nas sessões da tarde da TV brasileira
quando espectadores ociosos (e talvez desempregados) ficam preguiçosamente na
frente da televisão digerindo o almoço. “Muito Loucos” (Crazy People, 1990)
certamente passaria despercebido pelo blog e nem faria parte do nosso foco de
interesse se ele não contivesse um brilhante insight: e se um publicitário
resolvesse da noite para o dia contar apenas a verdade dos produtos que anuncia
e da própria Publicidade?
Mais do que isso, e se ele
começasse a mostrar ao consumidor a verdadeira motivação que o faz querer
comprar determinados produtos, motivação que nada tem a ver com necessidades
reais ou racionalidades? Que o consumidor adquire muita coisa pela sua própria
inutilidade?
Pois essa é o argumento provocativo
no interior de um filme que é obviamente estruturado pelas convenções do gênero
e se perde nos clichês da comédia romântica com desencontros amorosos que têm
uma reconciliação final.
domingo, maio 19, 2013
O paradoxo de um prisioneiro no curta "Room 8"
domingo, maio 19, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Premiado no Tribeca Film Festival desse ano, o curta “Room 8” desafia o
protagonista e o espectador a um paradoxo lógico: qual a verdadeira prisão em
que os personagens se encontram? Quando uma caixa é aberta no interior de uma
cela, eventos surreais começam a acontecer que colocam em xeque a natureza não
só da prisão como a da própria realidade. O paradoxo lógico proposto pelo curta
teria solução?
Situado em uma cela de prisão
russa em um momento qualquer da Guerra Fria, um prisioneiro britânico é
transferido para uma nova cela (“sala 8”) onde encontra um compatriota e uma
misteriosa caixa vermelha sobre a cama. Quando a caixa é aberta uma série de
acontecimentos surreais e incríveis oferecem a ele a oportunidade de escapar.
A trama nos remete diretamente à
atmosfera das narrativas da antiga série “Além da Imaginação”. Dirigido pelo
inglês James W. Griffiths e tendo como base o roteiro do vencedor de um Oscar,
Geoffrey Fletcher, a trama de sete minutos tem uma parte de thriller, uma parte
de ficção científica e uma parte de horror.
sábado, maio 18, 2013
As raízes ocultas do filme "O Mágico de Oz"
sábado, maio 18, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que o filme “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939) teve um impacto tão duradouro na cultura e
comportamento (da música, passando pela moda até chegar no movimento GLBT) após
diversas gerações de crianças e adultos? A imagem de Dorothy com seus amigos em
uma estrada de tijolos amarelos tornou-se uma complexa associação de simbolismos.
Muito do impacto desse filme estaria nas raízes no Ocultismo no livro escrito
por Frank Baum “The Wonderful Wizard of Oz” há mais de cem anos. Baum era um
reconhecido membro da Sociedade Teosófica de Madame Blavatski e um profundo
conhecedor das escolas herméticas e esotéricas.
Ao longo dos anos o filme “O
Mágico de Oz” de 1939 transcendeu sua condição de produto cinematográfico para
se firmar como um poderoso arquétipo cultural de pelo menos três gerações de crianças
e adultos. Lançado simultaneamente com o filme “E o Vento Levou” (“Gone With
Wind”), foram consideradas na época duas grandes produções hollywoodianas: a
primeira voltada para crianças e a segunda para adultos. Mas a imagem de
Dorothy e seus amigos (o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão) caminhando em
uma estrada de tijolos amarelos tornou-se muito mais complexa em associações e
simbolismos do que o romantismo de “E o Vento Levou”.
Há algo de oculto e misterioso
em um livro infantil escrito há mais de 100 anos, que resultou na adaptação
cinematográfica definitiva em 1939 e que criou um impacto ao longo das décadas
em todos os setores da cultura, moda e comportamento. Linhas de diálogo do
filme como “Estou derretendo! Estou derretendo!”, “Nunca mais voltaremos para
Kansas” aparecem em variados filmes e gêneros como “O Campo dos Sonhos”,
“Avatar”, “Matrix” e “Depois de Horas” de Scorsese onde um personagem gritava
outra linha de diálogo (“Renda-se Dorothy”) toda vez que tinha um orgasmo.
Elton John com o disco e o hit
“Goodbye Yellow Brick Road” de 1971, os sapatos mágicos de cristal de Dorothy
em uma óbvia referência para a moda Disco dos anos 1970 e o fato de Judy
Garland ter se tornado um ícone gay em um filme repleto de simbolismos para o movimento
GLBT. O enigmático filme de ficção científica “Zardoz” de John Boorman cujo
título é uma contração dos termos “Wizard” e “Oz”. Isso sem falar na mãe de
todos os boatos e teorias conspiratórias sobre o filme: a suposta sincronia
entre o disco do Pink Floyd “The Dark Side of the Moon” de 1973 e o timing da
edição do filme “O Mágico de Oz”.
quarta-feira, maio 15, 2013
O gnosticismo pop está à frente dos gnósticos?
quarta-feira, maio 15, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vinicius Aldino, instrutor gnóstico (?), fala em uma emissora de TV no
Rio Branco, Acre, sobre gnosis e o workshop “Meditação e Qualidade de Vida”.
Para esse blog, acostumado com as representações da gnose e do Gnosticismo nos
chamados filmes gnósticos como momentos radicais de iluminação espiritual que
levam ao questionamento não só do status quo mas também daquilo que entendemos
como “realidade”, surpreendeu a fala de Aldino: a meditação, como ferramenta
para alcançar a gnosis e, ao mesmo tempo, melhora da concentração e eficiência
profissional e dos afazeres do dia-a-dia, o que contraria toda uma filosofia historicamente herética, perigosamente aproximando-se das técnicas terapêuticas de autoajuda. Será que, paradoxalmente, o
gnosticismo pop está à frente da própria prática gnóstica atual? Ou será que estamos
enganados e Aldino pretende, na verdade, colocar um “Cavalo de Tróia” no
interior do imaginário das técnicas de autoajuda?
Para aqueles que pesquisam o
renascimento atual do Gnosticismo na cultura pop, como faz esse blog
particularmente com o Cinema, a gnose dos protagonistas das narrativas
ficcionais e toda a mobilização de simbologias e temas do esoterismo e
hermetismo em filmes são encarados como decisivos momentos de autoconsciência e
iluminação espiritual que desafiam sistemas opressores e explodem com aquilo
que chamamos de “realidade”. Momentos de virada e transformação não só de
personagens na ficção, mas, potencialmente, com os próprios espectadores desses
filmes gnósticos. Apesar de serem filmes comerciais dentro dos preceitos dos
gêneros hollywoodianos, eles virtualmente podem incutir a desconfiança em
relação a instituições, expressar o mal estar da nossa cultura e a crítica.
Paradoxalmente, parece que esse
renascimento pop do Gnosticismo apresenta um ímpeto mais transgressivo (e por
isso fiel à sua história como tradição filosófica herética) do que o dos
próprios gnósticos.
Pois nesta semana recebi um link
com uma entrevista dada por Vinicius Aldino para uma emissora de TV em Rio
Branco, no estado do Acre - veja o vídeo abaixo. O gancho da entrevista era um workshop que Aldino
daria no Sesc local sobre técnicas de relaxamento e meditação. A introdução da
entrevista feita pela apresentadora era essa: “saiba como melhorar a qualidade
de vida sem gastar dinheiro. Quem explica como é Vinicius Aldino, instrutor
gnóstico (?)”.
domingo, maio 12, 2013
IMDB apresenta lista de 41 filmes gnósticos
domingo, maio 12, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O IMDB (Internet Movie Database - base de dados online sobre cinema, séries de TV e games de computador) apresenta uma lista intitulada "Filmes Gnósticos". É uma lista de 41 filmes dos mais diversos gêneros canônicos hollywoodianos (drama, thriller, terror, ficção científica etc.).
O IMDB os define dessa maneira: "Esses são filmes que têm um ligeiro brilho de Gnosticismo. Gnosticismo é a crença de que o mundo material é uma ilusão que foi criada por um semideus (Jeová, Javé, Yaltaboath, Demiurgo, etc.), e que os corpos humanos foram criados por "archons" (senhores do Universo). Porém, algumas almas que habitam alguns corpos humanos foram inspiradas pelo Altíssimo, e são maiores e mais poderosos do que o semideus que criou o universo e os seus Arcontes. Por esta razão, ele tem um grande ódio pela humanidade e por isso a mantém numa completa ignorância. O "Logos", (Yeshua) que veio na forma humana enviado pelo Pai Altíssimo, que é um Deus incognoscível do lado de fora deste universo material, e a forma Crística vieram para quebrar os grilhões que aprisionam os seres humanos (a prisão do próprio corpo) e trazê-los para o mundo "verdadeiro" ("Gnostic Movies" - IMDB).
sexta-feira, maio 10, 2013
Hollywood e o fetiche das armas no filme "God Bless America"
sexta-feira, maio 10, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"God Bless America" (2011) do diretor Bobcat Goldthwait parece ser um filme que segue a linha do chamado "cinema esquizo" com personagens paranoicos, psiquicamente instáveis e marcados pela revolta e cinismo contra uma sociedade racista, medíocre e xenófoba - a "América profunda". O filme faz um diagnóstico perfeito sobre uma cultura onde reality shows e programas como "American Superstars" são o objeto do desejo de milhões. Porém, Goldthwait parece cair vítima da fetichização das armas que Hollywood promove na atualidade: se o cigarro e as bebidas alcoólicas são extirpados da tela ou colocados somente nas mãos e bocas de vilões, com as armas é o contrário. Observamos uma fila interminável de armas lubrificadas, reluzentes, coldres e metralhadoras empunhadas ao nível da virilha prontas para entrar em ação com muito sex appeal.
Compare dois filmes clássicos com
Vincent Price (O Abominável Dr. Phibes de 1971 e As Sete Máscaras da Morte – Theater
of Blood, 1973) com o “God Bless America”. Nesses filmes com Vincent Price o
protagonista vinga-se de pessoas medíocres, indiferentes, arrogantes com
requintes cruéis, sádicos e com muito humor negro: vinga-se dos médicos que
mataram sua esposa por um erro na mesa de cirurgia e um ator shakespeariano que
despeja sua fúria em cima dos críticos de teatro que o atormentam.
Em “God Bless America” vemos
também protagonistas que querem vingar-se de uma classe média americana racista,
sexista, xenófoba e alheia a valores culturais. As situações de humor negro e
as mortes com requintes cruéis são parecidas. Porém, com uma diferença
fundamental: Vincente Price não usa arma de fogo uma única vez, preferindo
armadilhas e ardis perversamente elaborados; enquanto em “God Bless America” as
armas são a grande estrela do extermínio. Mais do que isso: no filme a arma se
reveste de um valor fetichista como instrumento de justiça, ordem e sex appeal.
domingo, maio 05, 2013
A Semiótica de Che Guevara
domingo, maio 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando o fotógrafo
Alberto Korda selecionou o fotograma de número 40 do rolo Kodak com uma série de
fotos de um evento em Havana, Cuba, em 1960 e deu o nome para ele de “Guerrilheiro
Heroico”, jamais imaginava o destino do personagem Ernesto Che Guevara na
mitologia contemporânea. O ícone atual em alto contraste em carros, baús de
motoqueiros ou bandeiras de torcida de futebol é o resultado de sucessivos
sistemas linguísticos parasitários que foram se sobrepondo e se sedimentando na
cultura de massas, até o simbolismo ideológico se converter em mensagem
motivacional e autoajuda.
Pedalava pela rodovia Raposo
Tavares voltando de mais uma manhã de aulas na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo quando passou por mim um desses carros estilo off road esportivo importado com o pneu estepe na traseira do
veículo. Não pude deixar de perceber na capa protetora que envolvia o pneu
estampada a clássica fotografia de Che Guevara como “Guerrilheiro Heroico”,
estilizada em alto contraste. A subida era acentuada, mas a fadiga pelas
pedaladas mais pesadas não diminuiu a minha perplexidade: o que está fazendo um
ícone político-ideológico revolucionário no estepe de um carro destinado para
motoristas de alto poder aquisitivo? Será que o motorista era algum “burguês
esclarecido”? Alguma coisa estava fora do lugar.
Nessa mesma semana passei,
então, a prestar mais atenção às versões e outros lugares inusitados onde
apareceria a foto do “Guerrilheiro Heroico”. Vi em um baú de entregas de um
motoqueiro, na camisa de um aluno na versão “Chê Madruga” (Seu Madruga da série
cult “Chaves” travestido de boina e o mesmo olhar compenetrado) e na TV em
bandeiras de uma torcida organizada de futebol do time Internacional de Porto
Alegre.
terça-feira, abril 30, 2013
O Grau Zero da Política
terça-feira, abril 30, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que o PT é tão
assertivo nas questões sociais e reticente quando se trata da Lei dos Meios e
monopólios midiáticos? O verdadeiro ato falho do ministro da Educação Aloízio
Mercadante ao sair em defesa ao “seu” Frias frente às denúncias da Comissão da
Verdade representa aquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de
“grau zero da política”: as esquerdas nunca quiseram chegar ao Poder
e, dizia Baudrillard, se um dia chegassem não haveria perigo porque o poder, de
fato, não existe. Ele estava sendo profético.
******
À primeira vista, talvez o tema dessa postagem (política
partidária) cause estranheza ao leitor em um blog especializado na discussão
sobre cinema e gnosticismo. As últimas discussões sobre a Lei dos Meios e os
monopólios de mídia e a reticência do governo atual em debatê-la lembram um
conceito de influência gnóstica do pensador francês Jean Baudrillard: a
reversibilidade simbólica, o gênio maligno presente em todos os sistemas –
todos os sistemas chegam a um ponto de desenvolvimento e complexidade que
acabam inviabilizando sua própria finalidade, voltando-se contra si mesmo. É o
caso do sistema político que chegaria ao chamado “grau zero”, onde a finalidade
social foi substituída pela simulação e sedução. É a “transparência do Mal”.
******
Em carta ao jornal Folha de São
Paulo o ministro da educação Aloízio Mercadante saiu em defesa da memória de
Octávio Frias de Oliveira, falecido dono da “Folha”, após um delegado dos
tempos da ditadura militar dizer, na Comissão da Verdade, que ele colaborou
ativamente na repressão e tortura aos “terroristas” e “subversivos”. Esse
episódio parece que foi a gota d’água para muitos que ainda, pacientemente,
esperavam que após 10 anos de governos de esquerda a questão do monopólio
midiático no país já tivesse sido, pelo menos, confrontada.
sábado, abril 27, 2013
E o Verbo se fez carne de celebridade no filme "Antiviral"
sábado, abril 27, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em um futuro próximo, a
relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em
"comunhão biológica" comprando vírus e enfermidades exclusivas dos
famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Assistindo
ao filme canadense “Antiviral” (2012) percebemos que o diretor Branon Cronenberg sugere o
elemento religioso por trás da nossa civilização das imagens e das celebridades.
Mais precisamente, o mistério do “dogma revelado” (a misteriosa união entre o
Verbo e a carne representada por Jesus Cristo) estaria motivando todo o culto
fetichista pelas imagens na atual indústria do entretenimento, mas dessa vez
não mais por meio de uma comunhão simbólica através da hóstia e vinho, mas
agora por meios tecnológicos e mortais.
Na Bíblia o Evangelho Segundo
João nos oferece dois versículos que são fundamentais para entendermos os
mecanismos arquetípicos presentes na atual cultura das celebridades repercutida
pela civilização das imagens: “E o Verbo se fez carne”, diz o versículo 14 do
capítulo primeiro; “Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida
do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como
pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”, versículos 51-71 do
capítulo 6.
Se o
pesquisador em Midiologia, o francês Regis Debray, estiver certo de que há uma
linha de continuidade entre a civilização das imagens atual e os Concílio de
Nicéia no ano 787 que estabeleceu o mistério da Encarnação de Cristo (o Eterno
que se tornou carne, o Infinito que se tornou finito) e a representação do
Invisível por meio de imagens, então Hollywood deveria erguer uma estátua em
homenagem a São João.
quarta-feira, abril 24, 2013
A ficção midiática contamina o atentado de Boston
quarta-feira, abril 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para quem lida com análise
fílmica e estrutura de roteiro como esse autor, é impossível não perceber um
estranho mix entre ficção e realidade no incidente das bombas detonadas junto à
linha de chegada na Maratona de Boston: o timing de todos os acontecimentos
subsequentes até a captura dos “suspeitos” (estranha expressão porque desde já
estão condenados à morte), os fatos encadeados como em um clássico roteiro com
a narrativa dividida em três atos (atentado/perseguição/captura) com timing de
filme de ação hollywoodiano, a facilidade de captação de imagens de toda a ação
pelas mídias, e, por fim, as clássicas e emotivas imagens de velas sendo
erguidas em homenagem à vítimas e pessoas histéricas gritando “USA! USA!”
enquanto o “suspeito” sobrevivente era levado preso.
Impressiona como a ambiguidade
dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, com forte carga retórica como
o detalhe em close de uma sacola com a bandeira dos EUA em uma calçada manchada
de sangue) acaba produzindo uma espiral de interpretações tanto conspiratórias
(a “operação false flag” ou autoterrorismo) quanto um atentado arquitetado por “facções
radicais”.
domingo, abril 21, 2013
Deus está nos números no filme "Número 9"
domingo, abril 21, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Três personagens em
três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma
prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games
de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do
diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do
protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é
visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda
vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência
do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo
episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua
verdadeira identidade.
Chris Carter, criador da série
“Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona
temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a
compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade,
probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.
Nesse episódio de Arquivo X a
personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido
e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o
roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao
propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e
sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A
compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a
libertação.
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