terça-feira, julho 24, 2012
O Coringa e o massacre do Colorado
terça-feira, julho 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Os pensamentos são coisas”
(antigo aforismo oriental)
Desde que o ator Jack Nicholson falou “Eu o avisei!” após a morte do
ator Heath Ledger pouco depois de interpretar o Coringa no filme “Batman: o
Cavaleiro das Trevas”, estranhas “coincidências” passaram a cercar esse
personagem. Nicholson havia interpretado o Coringa em versão anterior do Batman
do diretor Tim Burton. Parecia que ele já havia experimentado a estranha força
desse personagem, espécie de alter ego invertido do protagonista Batman. O
massacre provocado por um atirador na estreia do novo filme do Batman em um
cinema em Aurora, Colorado (EUA), reabre essa discussão: será que esse episódio
é um eco de uma realidade mais profunda que se tenta esconder?
James Holmes foi preso pouco
depois dos disparos e afirmou ser o Coringa para os policiais. O fato de que
muitos fãs foram fantasiados à estreia de “Batman: O Cavaleiro das Trevas
Ressurge”, permitiu ao agressor passar despercebido com máscara de gás e uma
escopeta AR-15.
O próprio pai de Heath Ledger, Kim
Ledger, apressou-se a dizer que “não devemos culpar Heath Ledger ou o
personagem”. A pressa com que Kim Ledger fez essa declaração e o próprio
interesse imediato dos jornalistas em saber o que ele pensava sobre tudo isso revelam
um ato falho: há algo de mais profundo nesse episódio, para além do controle de
armas e munições. Ainda estamos em uma discussão sobre as relações de
causa-efeito. A “loucura” de Holmes encontrou farta disponibilidade de armas e
bombas para se materializar. Mas fica em suspenso a questão: que espécie de “loucura”
é essa?
Dentro do histórico de
atiradores e serial killers na cultura norte-americana, dois elementos chamam a
atenção: primeiro, o atirador não se matou (ou pelo menos não houve tempo para
isso); segundo, faltou o elemento narcísico: o atirador não deixou nenhum vídeo
destinado à divulgação pelas mídias sobre “explicações” do porquê do seu ato.
Parece que o caso do massacre do Colorado não se enquadra no script de casos
anteriores como Columbine. Podemos formular uma hipótese: e se esse caso do
Colorado for a expressão mais dramática e mortal de um fato que é mais
corriqueiro do que imaginamos? Explicando melhor, será que Holmes levou a sua
performance ao extremo em uma sala de cinema onde muitos estavam fantasiados
com os personagens do filme Batman? Ele levou à sério demais seu personagem?
segunda-feira, julho 23, 2012
Um passeio pelo consumo subliminar no curta "Supermercado"
segunda-feira, julho 23, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Finalista do “Vimeo Awards 2012” o curta-metragem brasileiro “Supermercado”
faz um bizarro tour em um centro de compras onde um consumidor “surta” e
transforma-se em um imundo “monstro” que passeia calmamente empurrando seu
carrinho de compras diante de clientes perplexos. O que os publicitários chamam
de identificação do consumidor com o produto e a marca, o curta leva às últimas
consequências: a revelação de que grandes centros de compras como supermercados
são locais de manipulação subliminar tanto da arquitetura quanto da percepção.
Entramos em um supermercado
através de um plano sequência pelo ponto de vista do interior de um carrinho de
compras. Passamos pelos corredores formados pelas gôndolas de produtos. A lente
em grande angular só reforça a poluição visual da parafernália de cores,
displays e embalagens. Um homem todo vestido de branco empurra esse carrinho.
Ele se detém diante de uma prateleira de refrigerantes, pega uma pet, abre e
despeja o conteúdo calmamente na cabeça.
Esse é o início do curta-metragem
brasileiro “Supermercado” que foi um dos finalistas do “Vimeo Awards 2012”. Seus
realizadores Eduardo Srur e Fernando Huck descrevem o curta como “uma intervenção
no supermercado que caminha por várias nuances, do prazer absoluto a repulsa
total, um surto dentro de uma prisão chamada consumo. O espaço público é
utilizado como palco da subversão e dialetiza com os consumidores de forma
pacífica, mas contundente.”
De fato, o protagonista “surta”: despeja em sua cabeça camadas e mais
camadas de achocolatados, mostarda, creme de leite e assim por diante, até
adquirir a aparência de um monstro imundo no ambiente asséptico de um supermercado. E continua calmamente empurrando
seu carrinho diante de perplexos clientes.
Embora o argumento do curta-metragem baseie-se em clichês
psicologizantes das tradicionais análises sobre o consumismo (o consumidor como
um ser passivo e indefeso, a sociedade de consumo como uma prisão – reforçada
pelo ponto de vista interno do carrinho que faz uma analogia com as celas de
uma prisão, etc.), a narrativa apresenta interessantes insights acerca do verdadeiro espaço subliminar que é um
supermercado.
quinta-feira, julho 19, 2012
Uma dura lição para as crianças em "A Era do Gelo 4"
quinta-feira, julho 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Férias escolares com chuva e frio. Em metrópoles como São
Paulo uma das poucas opções nessas situações são os shoppings e seus cinemas
multiplex. Pelas associações (chuva, água e frio) veio a ideia de levar os filhos para assistir “A Era do Gelo 4”.
Dessa vez o trio central de amigos (o mamute Manny, o tigre
dente-de-sabre Diego e o bicho preguiça Sid) vai enfrentar uma gigantesca
catástrofe geológica: a separação dos continentes provocada pelo esquilinho
Scrat na sua busca incansável pela noz. A estreita faixa de terra e gelo em que
vivem está sendo empurrada para o oceano por um gigantesco paredão de rochas. A
única chance de sobrevivência é escapar por uma ponte de rochas e terra
vislumbrada no horizonte. É o início da fuga de todos os animais liderados pela
família de mamutes protagonistas. Para complicar, Amora, filha de Manny e
Ellie, está na adolescência e naquela fase de busca da própria independência e
desafiando a autoridade dos pais.
Amora sente-se atraída por um jovem mamute que pertence a um
grupo de “rebeldes” que sempre estão em lugares perigosos para viverem
experiências de diversão radicais pouco recomendadas pelos pais. Situação
suficiente para criar diálogos conflituosos como “eu queria que você não fosse
meu pai!” que precederá a uma grande avalanche que separará a família: Manny,
Diego e Sid cairão no oceano sobre um imenso bloco de gelo cuja corrente
oceânica os levará para longe de Amora e Ellie.
Amora se sentirá culpada pelo desaparecimento do pai depois
de ter dito palavras tão duras, enquanto Manny e seus amigos empreenderão uma
épica luta enfrentando piratas e outras ameaças para poder retornar à família
ameaçada pela catástrofe.
Culpa, renúncia e sacrifício são as palavras-chave dessa
continuação da franquia “Era do Gelo”. Comparado com os temas dos episódios
anteriores da série (o valor da amizade, respeito às diferenças, a coragem e a
ajuda ao próximo), os temas dessa continuação parecem ser mais duros, sérios,
como se tivesse uma mensagem para todos: se preparem para os tempos duros que
virão e mantenham a família e amigos juntos e disciplinados!
terça-feira, julho 17, 2012
"Ad-Gnose: a Engenharia do Espírito na Publicidade" será discutida na COMUNICON 2012
terça-feira, julho 17, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Foi aceito o resumo expandido de um artigo científico desse
humilde blogueiro submetido à comissão de avaliação do II Congresso Internacional
Comunicação e Consumo - COMUNICON 2012, evento que será realizado nos dias 15 e
16 de outubro na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo com o
tema “Comunicação, Consumo e Ação Reflexiva: caminhos para a educação do
futuro” (clique aqui para ver a programação). O resumo expandido refere-se ao artigo “Ad-gnose: a engenharia do
espírito na publicidade”.
O artigo será apresentado dentro do Grupo de Trabalho"Comunicação, Consumo e Cultura Contemporânea; Imagem, Cidade e Juventude"
“Ad-gnose” foi um conceito criado a partir das pesquisas
nesse blog sobre a linguagem publicitária contemporânea: as estratégias publicitárias atuais
estão para além do comportamental, subliminar ou da captura das fantasias
compulsivas ou impulsivas. Atualmente busca-se um nível mais profundo: o
repertório da simbologia arquetípica da espécie humana. A fase “Este é o
produto, agora compre-o!” foi deixada no passado para, em seu lugar,
consolidar-se a prospecção dos simbolismos mais profundos da alma humana que
procura apresentar o consumo como uma experiência espiritual de
autoconhecimento.
A
Publicidade parece que assimilou todas as críticas feitas a ela ao longo da
história (consumismo, superficialidade, frivolidade, materialismo etc.) e
procura demonstrar que mudou, se espiritualizou e não vê mais o consumo como
mero ato de aquisição, mas de enriquecimento espiritual.
É claro
que esse conceito de “Ad-Gnose” (advertising + "gnosis", iluminação espiritual) é crítico e irônico: buscar a experiência
espiritual (a transcendência) numa troca econômica (imanência) que pressupõe
todo um sistema econômico e político que se impõe como um princípio de
realidade é, na verdade, confinar as aspirações contidas nos arquétipos,
transformando-as em dócil e resignada motivação para o consumo.
Leia
abaixo o resumo expandido do conteúdo a ser discutido na COMUNICON 2012:
Demiurgo prisioneiro do tempo em "Crimes Temporais"
terça-feira, julho 17, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Como fazer um filme
sobre um tema tão revisitado e com tantas versões como viagem no tempo? Na
época estreando em longa-metragens, o espanhol Nacho Vigalondo, escreveu e
dirigiu o filme “Crimes Temporais” (Los Cronocrimenes, 2007) que dá uma
resposta criativa e inovadora ao gênero ao misturar o voyeurismo de Hitchcock
no clássico “Janela Indiscreta” com uma curiosa sacada metalinguística onde o
diretor faz o próprio cientista que perde o controle de uma experiência
temporal – cientista, roteirista e diretor, todos demiurgos prisioneiros de
limites análogos: na Física as leis da entropia e inércia; no roteiro, as
regras narrativas e a verossimilhança. Física e roteiro governados pelo mesmo
inimigo implacável: o Tempo.
Após ser indicado para o Oscar em 2004 com seu curta “7:35 De La Mañana”, o diretor e roteirista espanhol Nacho Vigalondo pôs em prática seu projeto de filmar um “roteiro
enlouquecido sobre viagens no tempo com muitos paradoxos temporais que jamais
imaginava que pudesse realizá-lo”. Uma estória intrincada sobre viagem no tempo
com escassos deslocamentos espaciais e temporais: deslocamentos ao passado de
uma hora com toda ação acontecendo dentro de um espaço limitado a um quilômetro.
Vigalondo inspirou-se em uma cena do filme “De Volta Para o
Futuro 2” (Back To The Future 2, 1989) onde Michael Fox tem que se esconder do
seu próprio “eu” futuro para montar um roteiro com três pistas narrativas (com
a possibilidade final de uma quarta!). Um homem de meia idade chamado Hector
(Karra Elejalde) muda-se com sua esposa Clara (Candela Férnandez) para uma casa
em uma região rural de Cantábria no norte da Espanha.
Enquanto estão às voltas com móveis, tintas e reformas,
Hector tem sua atenção despertada para um bosque. Pegando um binóculo no meio
das caixas da mudança, Hector concentra-se naquela área vizinha e descobre que
uma bela jovem está tirando a roupa por trás das árvores. Aproveitando que
Clara saiu de carro para comprar alimentos para o jantar, guiado pelo impulso
de curiosidade e atração sexual, Hector vai até o bosque para encontrar a
desconhecida mulher. Hector acaba encontrado-a deitada, nua e desfalecida até
ser atingido por um golpe no braço com uma tesoura desferida por uma estranha
figura com a cabeça envolvida por ataduras vestindo um pesado casaco negro.
sábado, julho 14, 2012
Vidro e cultura da interface em "A Day Made Of Glass"
sábado, julho 14, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O vidro talvez tenha
sido um dos objetos que mais representaram a Modernidade na arquitetura, design
e decoração. Da transparência, passando pelo fumê e espelhado dos shoppings e
mansões dos novos ricos, hoje chegamos à opacidade definitiva – a conversão em tela
touchscreen. O curta publicitário “A Day Made Of Glass” apresenta de forma
sintética a ideologia por trás dessa transformação do vidro em interface: da
transparência como uma janela aberta para o mundo e para si mesmo (telescópios
e espelhos), o vidro transforma-se em tela onde ícones e diagramas fazem a
mediação com o real criando a ilusão de controle e funcionalidade. Cada vez
menos nosso interesse em objetos, pessoas e eventos é orientado pela
curiosidade da descoberta, e muito mais pelo interesse operacional e logístico.
Como será o futuro? A Corning, uma empresa norte-americana
que fabrica vidros protetores de alta resistência, produziu um curta chamado “A
Day Made Of Glass” (Um Dia Feito de Vidro) com cenários futuros do que seria o
dia-a-dia das pessoas: como será a interação da humanidade com os eletrônicos
através de interfaces de vidros, logicamente produtos da empresa. Para a
Corning os dispositivos touchscreen
serão parte integrante do cotidiano, não apenas em computadores, mas em
celulares, espelhos no banheiro, fogões, outdoors.
Curtas como esse, ainda mais publicitários, são sempre muito
interessantes porque estamos diante de um produto cultural altamente
concentrado e sintético: retórica, ideologia e visão de mundo sintetizados em
um curto espaço de tempo. Por isso, torna a visão de mundo ideológica
explícita, sem as camadas de linguagem como nos filmes longa-metragem.
Além dos aspectos retóricos evidentes da linguagem
publicitária (os planos e fotografia lembram um grande comercial da família
feliz com cereais matinais e os personagens elaborados a partir dos tipos
ideais que lembram os modelos sorridentes da cidade de “Seaheaven” do filme
“Show de Truman”), o que chama atenção é que o vídeo não é uma “visão de um futuro
próximo”. É na verdade um wishfull thinking,
isto é, uma projetação em um futuro hipotético dos próprios desejos da empresa Corning
no presente. O que torna esse vídeo não uma utopia (o vislumbre de novos mundos
diferentes dos atuais), mas uma “atopia”: o futuro como uma espécie de
metástase da visão de mundo pré-existente.
quinta-feira, julho 12, 2012
Góticos, darks e emos vagam pelos shoppings
quinta-feira, julho 12, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O poder dos símbolos e divindades pagãs é estetizado há décadas pela
indústria do entretenimento, por exemplo, através do imaginário dark, gótico ou
de todo um "sub-zeitgeist" que fascina sucessivas gerações. Seria o sintoma ao mesmo tempo de tendências depressivas principalmente de jovens e adolescentes e do anseio pela "experiência
religiosa imediata". Com o esvaziamento da mitologia política, temos agora o Sagrado e o Religioso como um novo imaginário para canalizar a angústia por transcendência do jovem.
"Toda ideologia tem o seu momento de verdade" (Theodor Adorno)
Recentemente
os alunos da disciplina de Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação da
Universidade Anhembi Morumbi produziram seus primeiros Argumentos e Sinopses,
apresentando oralmente suas produções na sala de aula. Uma característica
recorrente nos argumentos das narrativas apresentadas me chamou a atenção: de
14 estórias apresentadas, quase a metade se inseriam em um imaginário gótico e
místico, recheado de simbologias alquímicas, protagonistas esquizofrênicos que
não distinguem ilusão de realidade, lugares subterrâneos e mundos paralelos
atacados por vampiros etc.
Estórias cujos protagonistas em geral adolescentes, que levam uma vida normal até descobrirem que têm estranhos poderes e que são observados secretamente por entidades sombrias. Por que jovens com idades em torno dos 20 anos são fascinados por esse imaginário dark, com tonalidades ao mesmo tempo depressivas e épicas?
É marcante
o constante revival entre jovens deste universo que ao longo
das décadas assume diversos rótulos.
quarta-feira, julho 11, 2012
Terrorismo e a propaganda política no filme "Iron Sky"
quarta-feira, julho 11, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Imagine uma co-produção finlandesa, alemã e australiana que mistura “Star Wars”, bases lunares nazistas, filme “Independence Day”, a republicana Sarah Pallin na presidência dos EUA, Naziexploitation e um astronauta negro símbolo do marketing político dos republicanos que cai nas mãos dos nazistas lunares para ser embranquecido e tornar-se ariano por médicos da SS. Pois essa combinação delirante foi premiada no Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas e no Festival de Berlim. É o filme “Iron Sky” (2012). Pode parecer um pastiche de inconsequente humor negro, mas por trás dessas camadas de puro absurdo estão interessantes insights sobre o terrorismo de Estado e propaganda política além de fazer refletir sobre a natureza das teorias conspiratórias contemporâneas.
“De onde somos? Da Terra. E quando nós saímos? 1945. E para onde nós fomos? Para o lado escuro da Lua!!! Salve Hitler!” Essa é uma das primeira sequências de “Iron Sky” onde acompanhamos uma aula na escola infantil dentro de uma gigantesca base lunar com tecnologia e arquitetura retro e com astronautas trajando roupas que parecem ter saído de algum brechó temático da II Guerra Mundial. Mas é uma base lunar para onde os nazistas fugiram após a invasão Aliada na Alemanha no final da Guerra para se esconder no lado escuro da Lua. Lá planejam a grande invasão à Terra para construir dessa vez o IV Reich.
Tudo vai bem até serem incomodados com a chegada do primeiro astronauta
americano naquela região, James Washington (Christopher Kirby), em uma missão
que é um produto da propaganda política de uma ultraconservadora Sarah
Palin (“Um Negro na Lua. Sim! Ela Pode!” – é o slogan da campanha da presidenta à reeleição).
Prisioneiro, os nazistas roubam seu celular e descobrem uma tecnologia muito
mais avançada que pode colocar em ação a maior de todas as armas: a gigantesca
nave “Crepúsculo dos Deuses” – uma espécie de “Estrela da Morte” como no filme
“Star Wars”.
Mas a bateria do celular acaba. Eles precisam de outro
celular. Decidem enviar um pequeno grupo à Terra, junto com o astronauta James
que, submetido aos tratamentos dos médicos da SS, torna-se ariano (!) – em uma
hilariante referência ao filme “Dr Fantástico” de Kubrick, constantemente seu
braço direito quer fazer a saudação nazi, mas é contido pelo esquerdo...
domingo, julho 08, 2012
A história secreta da Moda e dos manequins
domingo, julho 08, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Os modernos manequins nas
vitrines dos shoppings são herdeiros de uma longa tradição do fascínio humano
por bonecos, fantoches, autômatos e demais simulacros humanos. Esse fascínio
teria suas origens mágicas e herméticas na Teurgia e Alquimia. Se isso for
verdadeiro, a história dos manequins revelaria uma nova narrativa sobre a Moda
que vai além dos tradicionais discursos antropológico e semiótico/linguístico.
Uma narrativa que descreveria a história de como o corpo humano foi ao poucos
transformado em um “golem” (o “não formado”): um corpo inanimado à espera de um
Espírito (o “Estilo”) que lhe traga a vida.
sexta-feira, julho 06, 2012
O que há em comum entre a fotografia e o dinheiro?
sexta-feira, julho 06, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com essa pergunta não queremos falar sobre a profissionalização da fotografia ou sobre os conflitos entre a arte e a mercantilização. Estamos mais interessados em encontrar as semelhanças entre essas duas invenções no plano do imaginário social. Devido à função de representação que eles carregam (representar o real e a riqueza), a sociedade investe neles um alto valor moral: respectivamente objetividade e verdade; gratificação pelo empreendimento pessoal. Porém, a "obesidade" tecnológica parece inverter essa função ao reservar à fotografia e ao dinheiro o destino da dissimulação, simulação e hiper-realidade.
A fotografia e o dinheiro talvez sejam as principais bases
imaginárias do Capitalismo. A primeira foi a invenção que deu início de toda a
civilização da imagem, do espetáculo e das celebridades; e o segundo foi o
instrumento para a criação de um princípio geral de equivalência, troca e
unidade contábil através da qual todas as qualidades (objetos, valores, desejos
e até sentimentos) podem ser quantificadas em um sistema de calculo universal.
A invenção da fotografia se desdobrou em uma série de
subprodutos: fotojornalismo, foto publicitária, fotografia de viagem, retratos,
foto-arte etc.; e o dinheiro em papel-moeda, cheque, crédito, dinheiro digital
etc..
Embora gêneros de diferentes mundos (o cultural e o
econômico) capazes de assumirem diferentes formas, um princípio único e mais
básico os torna comuns: ambos são exemplos do primado da ordem da representação no Ocidente. Esse “partido
da representação” pode ser formulado da seguinte maneira: em toda e qualquer
forma de representação alguma coisa se encontra no lugar de outra coisa.
Representar significa o outro do outro. Seriam exemplos do desejo humano em
simbolizar, representar o que vê, o que sente e o que produz.
Tanto a fotografia quanto o dinheiro partilham de um poder
de representação, isto é, a existência de uma relação semiótica de similaridade
entre o negativo ou a foto impressa com o referente “real” ou uma relação
semiótica simbólica entre um pedaço de metal ou plástico com uma quantidade de
riqueza econômica correspondente.
terça-feira, julho 03, 2012
Filme "Eva": o que você vê quando fecha os olhos?
terça-feira, julho 03, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A chamada “senha
sagrada”, a pergunta “o que você vê quando fecha os olhos?”, é uma bomba lógica
e fatal para os robôs no filme espanhol “Eva” (2011), usada em situações
extremas quando o robô deve ser imediatamente “desligado”. Com temática
semelhante a “I.A.” (2001) de Spielberg, o diretor Kike Maíllo evitou os clichês dos
mundos sombrios, pós-apocalípticos e distópicos para colocar a questão em um
futuro próximo ao focar os robôs dentro do problema central da inteligência
artificial: a lógica linear e binária dos robôs não consegue entender os
paradoxos lógicos como o que está contido nessa pergunta fatal. Sem vida interior
os robôs somente enxergam a escuridão. Isso até tentarem fazer um robô especial
que seja capaz de ver a Luz da consciência, mas com perversas consequências. Filme sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik.
“EVA” é um desses filmes difíceis de serem resenhados porque
qualquer coisa que se escreva sobre ele corre o risco de transformar-se em um
grande spoiler, matando a graça da narrativa.
Isso porque o filme consegue realizar uma coisa que é o sonho de todo
roteirista: uma narrativa bem amarrada a partir de um gancho perfeito. No caso
de “Eva” o gancho é uma pergunta denominada por um dos personagens como “a
senha sagrada”: “O que você vê quando fecha os olhos?” Uma pergunta que somente
pode ser formulada a um robô em casos extremos, quando não resta outra
alternativa. Em quais casos extremos? Quando robôs irremediavelmente se
danificam, algumas vezes a ponto de ameaçarem seres humanos. Ao ouvir a
pergunta, o robô imediatamente entra em colapso e desliga.
Em um futuro bem próximo, Alex Garel (Daniel Brühl – “Adeus
Lênin” e “Bastardos Inglórios”) é um famoso programador de robôs que retorna à
sua cidade natal dez anos depois para reencontrar sua antiga Universidade de
Robótica e seu amor Lana (Marta Etura), pesquisadora e professora da
Universidade, mãe de uma menina chamada Eva. Agora casada com o irmão de Alex
(David Garel – Alberto Ammann), cria-se um triângulo amoroso que irá se tornar
no tenso pano de fundo do projeto que envolverá todos: a criação de uma nova
linha de robôs livres e autônomos.
Em busca de uma personalidade infantil ideal para servir de
modelo para desenhar um inédito programa de personalidade para esse novo robô,
Alex encontra na menina Eva a criança perfeita: inteligente, perspicaz e
criativa.
domingo, julho 01, 2012
Meios "Quentes" e Meios "Frios" - paradoxos das produções midiáticas
domingo, julho 01, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos aforismos mais conhecidos de McLuhan é "o meio
é a mensagem". Para ele, o conteúdo de uma mensagem não tem uma grande
importância. O meio muda mais do que a soma das mensagens incluídas nesse meio.
As mesmas palavras ditas de forma presencial, impressas em papel ou
apresentadas na televisão fornecem três mensagens diferentes. Oral, escrito ou
eletrônico, o canal primário da comunicação molda o modo como entendemos o
mundo. O meio dominante numa época domina as pessoas. A partir dessa ideia podemos entender os diversos
paradoxos que envolvem a produção midiática e os fenômenos de recepção e das
novas linguagens.
1. Paradoxo Fascinação versus Dispersão
O fato de a
televisão e o rádio terem sido as mídias de massa mais bem sucedidas e
longevas, no século XX é um verdadeiro milagre pelo ponto de vista técnico da
teoria da comunicação. Principalmente no que se refere à televisão: a invenção
desta mídia tinha tudo para dar errado.
Ao contrário
do que pensamos, a história das invenções na área de comunicação é também a
história também das reações negativas e resistências. Desde o surgimento da
fotografia até a apresentação pública da televisão para um público estupefato,
o que vemos é muito menos uma recepção calorosa como se as pessoas estivessem
necessitando delas há muito tempo, e muito mais reações iniciais de
estranhamento e até resistência.
sábado, junho 30, 2012
O sentido do lazer e o lazer sem sentido no curta "Leisure"
sábado, junho 30, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O curta australiano de
animação premiado com o Oscar “Leisure” (1976) e o filme italiano “A Classe
Operária Vai ao Paraíso” (1971) foram repercussões audiovisuais das discussões
da chamada “New Left” (Nova esquerda) nos anos 1960-70 quando, diante do enfraquecimento do movimento operário no capitalismo avançado, sentiu a necessidade de
politizar o “lazer” como a resultante da dominação do tempo livre pela
indústria do entretenimento. Ambos os filmes exploram a situação paradoxal onde
trabalho e lazer ao mesmo tempo se opõem e tornam-se semelhantes.
Muito tempo antes de se falar em “ócio criativo” e as
conexões entre lazer e ócio na sociedade pós-industrial, um curta de animação
era premiado em 1976 antecipando essas discussões. É o curta
chamado “Leisure” do animador e cartunista político australiano Bruce Petty,
premiado com Oscar de melhor curta de animação. Depois o filme ganhou vários
prêmios em festivais internacionais de cinema.
O estilo de animação lembra muito a dos filmes do grupo
inglês de humor Monty Python. O filme traça a trajetória do lazer ou tempo
livre desde a pré-história, mais precisamente a partir do momento em que o
aprimoramento do pensamento racional resultou em uma divisão nas sociedades
humanas entre dois grupos: os que ficam sentados sonhando e resolvendo problemas
e os que ficam em pé trabalhando. Elite e trabalhadores. Esses que ficam
sentados começam a produzir arte e cultura para consumo próprio: surge o
“lazer”.
Com o Iluminismo e a formulação dos direitos e a igualdade
humana, esses trabalhadores são levados para dentro do universo do lazer por
meio da industrialização do entretenimento. Com a popularização da eletricidade
desenvolve-se a indústria de massa de entretenimento nos grandes centros
urbanos o que trará um resultado paradoxal: lazer e trabalho serão
experimentados simultaneamente como opostos e semelhantes – o primeiro mais
prazeroso do que o segundo e as formas de lazer e do próprio estilo de vida nos
centros urbanos serão tão passivos e sem imaginação quanto o trabalho
rotinizado.
quinta-feira, junho 28, 2012
A crise da utopia espacial no curta "Waltz For One"
quinta-feira, junho 28, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Enquanto EUA e URSS
disputam a corrida espacial dos anos 1960, um excêntrico milionário financia
sua própria viagem espacial buscando quebrar o recorde de permanência solitária
em orbita da Terra. Mas um irritante “beep” de mau funcionamento do sistema
somado à claustrofobia e delírio no interior de uma minúscula cápsula ameaçam a
missão. Esse é a sinopse do curta “Waltz For One” (“Valsa para Um”, em uma tradução literal) lançado
esse mês pelo coletivo de artistas “Intellectual Propaganda” que é muito mais
do que uma paródia a clichês e filmes do gênero (entre eles, “2001” de Kubrick):
é uma melancólica desconstrução do gênero ficção científica, enfraquecido na
pós-modernidade porque perdeu a própria essência que o constituía: a visão
confiante e utópica no futuro. Veja o curta no final desse post.
Em uma alternativa década de 1960, enquanto americanos e soviéticos
se engalfinhavam em uma competição política pela conquista da vanguarda na
corrida espacial, um excêntrico milionário chamado Arthur Whitman procura por
sua própria conta a glória estelar. Através de uma viagem espacial
autofinanciada, Whithman pretende quebrar o recorde de permanência no espaço ao
tentar ficar em órbita da Terra por uma semana, solitário em uma claustrofóbica
cápsula.
Cair nas profundezas do espaço já é perigoso o suficiente,
ainda mais solitário e ainda mais quando as coisas começam a dar errado: no
meio da tensa contagem regressiva das horas pelo painel da cápsula em seu teste
de resistência, Whitman perde diversas vezes contato com a base e um irritante
aviso sonoro de mau funcionamento do sistema toca continuamente. Whitman mal
consegue se mexer ou respirar na apertada cápsula.
segunda-feira, junho 25, 2012
A privatização das relações humanas no filme "Amor Por Contrato"
segunda-feira, junho 25, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mesmo confinado dentro dos limites de um gênero hollywoodiano, "Amor Por Contrato" (The Joneses, 2009) tematiza o resultado de táticas híbridas de publicidade que cruzam conceitos como de "marketing invisível" e "reality show": a privatização das relações humanas. Influenciar "alvos" sem parecer ser uma informação comercial por meio de "agentes" ("trendsetters", atores ou perfil fake), o chamado "marketing invisível" exploraria o endosso da credibilidade e autenticidades das relações pessoais em uma época onde os consumidores cada vez menos confiam na publicidade tradicional.
Leia essas duas afirmações abaixo:
(a) “Já estamos cansados de atores com
emoções falsas. Cansados de pirotecnias e efeitos especiais. Aqui não há
roteiros. Não é sempre um Shakespeare, mas é genuíno. É uma vida. Para mim,
vidas particular e pública são iguais. É tudo verdade, tudo real, nada aqui é
falso”
(b) “Sem colocar o produto na vida
real, não há marketing invisível que possa ajudar. Você verá pessoas reais
sendo patrocinadas por companhias. Elas não são superstars, mas pessoas comuns,
e isso será barato, efetivo e com mais credibilidade”
A afirmação (a) pertence ao mundo da ficção e a (b) ao mundo
real. Na primeira afirmação temos a fala de abertura do filme “Show de Truman”
onde Christoff, o produtor de um gigantesco reality show, justifica o programa;
e na segunda afirmação, temos a fala de Jonathan Ressler, pioneiro da
estratégia de “marketing invisível”. Apesar das afirmações provirem de mundos
diferentes, o leitor percebeu a semelhança entre elas?
Tanto e (a) quanto em (b) temos exemplos de “privatizações”
de relações humanas. A diferença está na escala: em Show de Truman, Christoff
privatiza a vida de um indivíduo (confina Truman em um “reality show desde o
seu nascimento) para conseguir audiência de TV; enquanto em (b) temos uma
estratégia de privatização de relações humanas em larga escala por meio de
redes sociais e relações sociais face-a-face para o lucro de empresas e
corporações.
Assistindo a uma revista de notícias na TV, Derrick Borte
(um artista plástico que virou jornalista e depois virou produtor e diretor de
comerciais) viu uma matéria sobre “marketing invisível”: pessoas não sabiam que
turistas mostrando uma nova câmera casualmente em abientes públicos ou uma
menina bonita pedindo determinada marca de vodka em um bar eram atores
contratados para expor produtos a clientes em potencial. Somado ao seu fascínio
por “reality shows”, Borte acabou tendo a ideia do roteiro e dirigiu o filme
“Amor por Contrato”, o seu primeiro filme.
quinta-feira, junho 21, 2012
Os deuses estão mortos no filme "Prometheus"
quinta-feira, junho 21, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A crítica especializada e os fãs de sci fi e da franquia de filmes “Alien” têm se demonstrado decepcionados com “Prometheus” (2012) onde Ridley Scott retorna ao gênero que o consagrou. Todos procuraram nesse filme as explicações para o que se sucedeu antes da chegada da nave Nostromo naquele planeta perdido onde a morte estava à espreita no clássico “Alien” de 1979. Mas parece que Ridley Scott pregou uma peça em todos. “Prometheus” aproxima-se muito mais dos temas do outro clássico “Blade Runner” (1982) que também dirigiu: assim como o replicante Roy buscava seu criador em uma sombria Los Angeles, em “Prometheus” arqueólogos procuram os “Engenheiros” da humanidade. Como em “Blade Runner”, humanos e androides vão encontrar demiurgos tão desiludidos quanto eles mesmos. Descobrirão isso da pior maneira possível.
terça-feira, junho 19, 2012
Edgar Allan Poe, a tortura e a ditadura militar
terça-feira, junho 19, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Dando sequência às adaptações dos contos de Edgar Allan Poe realizadas pelos alunos da disciplina
Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicações da Universidade Anhembi Morumbi,
temos o vídeo “Somos Todos Filhos de Deus”. Inspirado na música “Deus lhe Pague”
de Chico Buarque, transpõe o terror e delírio do protagonista do conto “O Poço
e o Pêndulo” para os porões da tortura durante os “anos de chumbo” da ditadura
militar brasileira. O vídeo consegue captar dois elementos universais do conto
de Allan Poe: a manipulação do tempo e espaço como técnica histórica nas torturas
e inquisições e o simbolismo metafísico do poço, que o autor norte-americano
apenas sugere no conto, mas o vídeo vai explorar até as últimas consequências.
O conto “O Poço e o Pêndulo” do escritor norte-americano
Edgar Allan Poe é um típico exemplo clássico do estilo gótico e de terror
psicológico no qual era mestre. Ao contrário dos demais autores que se
concentrava no terror externo, Poe prestava atenção ao terror originado no
interior do próprio protagonista. Como era do seu estilo, o conto inicia com
uma descrição objetiva de tempo e espaço que vai, aos poucos, misturando-se com
o delírio e terror da gradiente de sentidos do personagem (visual e auditivo no
caso desse conto). Tempo e espaço objetivos misturam-se com tempo/espaço
psicológicos.
“O Poço e o Pêndulo” narra o julgamento e a condenação de um
rebelde que, após receber a sentença dos inquisidores, é atirado inconsciente
em um calabouço onde sofrerá diversas torturas físicas e psicológicas. Ao
tentar reconhecer o lugar onde estava se depara com um poço que lhe desperta os
mais terríveis pressentimentos quanto ao seu destino naquela cela.
domingo, junho 17, 2012
Reflexões sobre um filme da Sessão da Tarde
domingo, junho 17, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma cidadezinha chamada Redbud tenta imitar os personagens e cenários das famosas capas da revista "The Saturday Evening Post" feitas pelo conhecido ilustrador Norman Rockwell. Objetivo: transformar a cidade num cartão postal para atrair incautos compradores de uma fazenda. "Uma Fazenda do Barulho" (Funny Farm, 1988) é uma das típicas comédias românticas de Sessão da Tarde da TV, mas encontramos na sua narrativa uma sequência antológica que apresenta de forma hilária e sintética todas as discussões acadêmicas sobre a contaminação da realidade pelos simulacros e hiper-realidade da civilização das imagens. Redbud tenta tornar-se nostálgica de uma época que jamais existiu.
“Uma Fazenda do Barulho” é uma dessas comédias românticas
que passavam nas sessões da tarde da TV brasileira. O ator Chevy Chase, famoso
na TV americana trabalhando no “Saturday Night Live” durante os anos setenta,
já era um astro que tentava repetir com esse filme o sucesso de “Férias
Frustradas”. Mas acabou sendo um fracasso, embora dirigido por George Roy Hill
de “Butch Cassidy” e “Golpe de Mestre”.
Porém, em “Uma Fazenda do Barulho” há uma sequência ao mesmo
tempo hilária e antológica onde, para tentar desesperadamente atrair
compradores para sua fazenda, o casal de potagonistas Andy (Chevy Chase) e Elizabeth (Madolyn Osborne) elabora
um irônico plano baseado no hiperrealismo das ilustrações do famoso artista
plástico Norman Rockwell, autor das célebres capas da revista norte-americana
“Saturday Evening Post” (veja video abaixo). Essa sequência acabou tornando-se um didático exemplo
para ilustrar as discussões acadêmicas em torno dos conceitos de “simulacro” e
“hiper-realismo” e como, na prática, essas noções invadem o cotidiano.
quinta-feira, junho 14, 2012
Uma Disneylândia mortal no filme "Westworld"
quinta-feira, junho 14, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma Disneylândia hightech para adultos milionários onde todos podem realizar suas fantasias de sexo e violência. Reproduções de mundos do passado habitados por ciborgues programados para serem assassinados ou seduzidos. Do mesmo autor do livro "Jurassic Park", o filme "Westworld - Onde Ningém Tem Alma" (1973) de Michael Crichton parece prenunciar a necessidade ideológica de um mundo onde os parques temáticos esconderiam a infantilidade que já estaria em toda parte. Coincidentemente, esse clássico surge dois anos depois da inauguração da Walt Disney World nos EUA e do "Nixon Shock", conjunto de decisões do então presidente que criaram as bases da transformação do mundo financeiro em um verdadeiro cassino.
“Westworld”, onde nada pode dar errado... exceto quando uma
estranha forma viral de erro na programação das máquinas começa a produzir
disfunções generalizadas no parque e, gradualmente, os ciborgues começam a
adquirir autonomia e passam a se vingar dos milionários turistas. Todos liderados
por um insólito Yul Brynner robótico que revive seu famoso personagem pistoleiro
do filme “Sete Homens e Um Destino” (1960) e que persegue obsessivamente um dos
turistas com sede de vingança.
sábado, junho 09, 2012
Edgar Allan Poe Gnóstico: os vídeos
sábado, junho 09, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Vamos dar início a uma série de postagens com vídeos produzidos pelos meus alunos
da Disciplina Estrutura de Roteiro da Escola de Comunicação na Universidade
Anhembi Morumbi. Foi proposto para eles o seguinte desafio: fazer roteiros literários livremente
adaptados de contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Porém,
deveriam manter o núcleo do argumento, ou seja, as atmosferas góticas e reflexões
metafísicas e gnósticas do autor. Esses são os primeiros vídeos resultantes desses roteiros.
Edgar Allan Poe (1809 - 1849) foi o primeiro escritor do continente
americano a influenciar os rumos da literatura para além do seu país. Se Freud
ao visitar os EUA e avistar a Estátua da Liberdade teria dito “não sabem que
estamos lhes trazendo a peste”, um século antes Allan Poe já havia contaminado
o mundo com o seu gótico “impulso pelo perverso” cuja psicanálise é um dos seus
frutos.
Seus contos e poemas estão repletos de uma metafísica
gnóstica: um dualismo radical que vê a alma como aprisionada na materialidade
do mundo como uma prisão e a única forma de escapar é através de um supremo ato
de autoconhecimento, a gnose. Daí o fascínio de Allan Poe por personalidades
divididas, pela Queda, desamparo, saudades, latência, dormência, intoxicação.
Seus relatos sempre começam como relatos sóbrios e verídicos
que logo mergulham em atmosferas de horror crescente até adquirir tons
fantásticos e metafísicos. Allan Poe tinha o talento para descrever situações
intoleráveis onde sua clareza analítica revelava o prazer mórbido do autor em
se aprofundar nas origens dos impulsos da natureza humana e na sua condição de
estrangeira ou de exilada em um mundo cujo Deus é o do Abismo.
quinta-feira, junho 07, 2012
A controvérsia dos games violentos
quinta-feira, junho 07, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Você joga games? Não?
Então, como quer criticá-los”, defendem-se os usuários de jogos por computador
diante das velhas e moralistas críticas de pesquisadores ainda presos a
conceitos como “influência”, “comportamento” e “efeito subliminar”. Ambos os
lados da controvérsia em torno dos games violentos não conseguem se
desvencilhar de duas armadilhas que travam o debate: de um lado a defesa
reflexa do “gosto não se discute” e, do outro, críticas ainda presas a modelos
mecanicistas e comportamentais de comunicação. Uma pesquisa realizada por
alunos da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo)
a partir de uma enquete feita com desenvolvedores de jogos e especialistas na
área de sociologia e psicologia apontou para um enfoque alternativo a essa
controvérsia: o problema dos games violentos não estaria na “influência” mas na
alteração cognitiva da percepção da realidade.
Na controvérsia em torno da suposta influência em jovens e
adolescentes dos games de computador violentos, ambos os lados apresentam
argumentos ou como mecanismos de defesa ou com modelos científicos defasados
que ainda tentam hoje aplicar em mídias digitais e interativas.
De um lado os usuários de games. Tente articular algum
pensamento mais crítico a respeito e logo ouvirá a pergunta: “Você joga games?
Não! Então, como quer criticá-los”. Essa defesa reflexa faz lembrar a mesma
reação que jornalistas tiveram quando o sociólogo francês Pierre Bourdieu
lançou o livro “Sobre a Televisão” com precisas e cortantes críticas ao campo
jornalístico: “Como Bourdieu pode nos criticar, ele não é jornalista!”, diziam
a maioria dos jornalistas à época. É como se diante desse espírito
corporativista fosse impossível qualquer pensamento científico ou crítico a
partir de fora.
Do outro lado, os pesquisadores com os velhos modelos
científicos de comunicação baseados em noções como os de “influência”,
“comportamento”, “efeito subliminar” etc.
quinta-feira, maio 31, 2012
Vídeo "Paranoia Tecnológica"
quinta-feira, maio 31, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O que aconteceria se, de repente, todos os equipamentos de
comunicação de sua casa deixassem de funcionar: celulares, computador,
notebook, Ipads, Iphones e assim por diante? Provavelmente, o usuário rotineiro
desses dispositivos de comunicação seria tomado pela ansiedade, medo, sensação
de vazio e, por fim, a paranoia. Esse é o tema do curta “Paranoia Tecnológica”,
de Gabriela Pagliuca, aluna do curso de Jornalismo. O vídeo fez parte do
trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica que leciono no curso
da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/São Paulo) cujo
tema era “Obsolescência Planejada”
A narrativa do curta procurou traduzir em imagens algumas
ideias discutidas em torno das relações cada vez mais fetichistas que temos com
os gadgets tecnológicos: investir os objetos tecnológicos de um valor
imaginário onde eles teriam o poder, por si só, de criar uma comunhão ou
relacionamentos da mesma magnitude das relações face-a-face. O poder do modem,
a velocidade da conexão, a atualização dos aplicativos ou a alta performance da
placa de vídeo ou do processador seriam investidos de um valor fetichista onde
a potência tecnológico seria igual à possibilidade de produzir gratificação,
afetos e reconhecimento.
Com a obsolescência acelerada e planejada pelos fabricantes
desses gadgets, a necessidade pelo consumo de cada “novo” aplicativo,
atualização ou simples descarte do que já possui torna-se um imperativo que se transforma
numa espécie de imposição moral: você sente-se culpado se estiver
desatualizado.
O que acaba produzindo uma relação de vício e compulsão
semelhante à dependência química tal como revelado por pesquisa recente pela
Universidade de Maryland, EUA , sobre os sintomas dos usuários em situações de
privação de tencologias de comunicação
ou a pesquisa da Universidade de Bergen, Noruega, sobre a chamada
“Escala de Vício pelo Facebook” (sobre isso veja a postagem anterior nos links
abaixo).
Confira o vídeo a seguir:
quinta-feira, maio 24, 2012
Pesquisas revelam a influência, vício e narcisismo no Facebook
quinta-feira, maio 24, 2012
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As redes sociais devem ser pensadas a partir de conceitos como influência, vício e narcisismo. Essa é a interpretação de um trabalho de conclusão da
disciplina Estudos da Semiótica, que eu ministro dentro do curso de Comunicação Social da Universidade Anhembi
Morumbi (UAM/São Paulo), a partir dos dados de pesquisas empíricas realizadas nos EUA e Noruega sobre usuários do Facebook e redes sociais. A informações levantadas por essas pesquisas mudariam o foco da discussão: a questão não é a tradicional oposição entre os mundos real/virtual, mas a relação fetichista e de viciosidade com os gadgets tecnológicos que se inicia na própria sociedade de consumo, além da diluição das fronteiras entre a vida pública e a privada.
Falar mal das redes sociais, assim como de games de
computadores, parece ter se tornado um lugar comum, mas o diferencial dos
resultados apresentados nesse trabalho intitulado "Escola de Frankfurt e Redes Sociais" (do grupo de alunos formado por Aline Mathias, André Pinheiro, Bruno Cagide, Danilo Alves, Danilo Menezes, Karolina Garcia e Luely Vaz) é que eles se basearam em duas pesquisas
empíricas realizadas recentemente com usuários de redes sociais em várias
partes do mundo.
A primeira pesquisa foi a realizada pela Universidade de
Maryland, nos EUA, levada a cabo em 2011 a partir de um universo de mil universitários
de 37 países entre 17 e 23 anos. Os grupos em estudo foram impedidos de usar
celulares, redes sociais, internet e TV por 24 horas. Somente poderiam usar
telefone fixo e livros e tinham de manter um diário. Segundo os investigadores,
79% dos estudantes relataram sintomas análogos às síndromes de abstinência
química: desespero, “esvaziamento”, ansiedade, confusão e isolamento.
Um em cada cinco alunos relatou sentimentos de abstinência,
enquanto 11% disseram que estavam confusos ou se sentiam fracassados. Quase um
em cinco (19%) relataram sentimentos de angústia e 11% afirmaram que se sentiam
isolados. Apenas 21% admitiram que poderiam sentir os benefícios de ficar
incomunicáveis (veja: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=48447&op=all).
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