sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Na América não existe almoço grátis no filme 'O Brutalista'



Começa como um épico sobre arquitetura sobre um arquiteto que chega na América fugido da guerra e do holocausto. Uma terra de oportunidades e sedenta por arte. Para depois descobrir a ética americana do “não existe almoço grátis”: tanto o capitalismo quanto a arte são capazes de gerar experiências lindas e significativas. Mas combinados resultam em formas vazias e sem paixão. Indicado ao Oscar em dez categorias (entre eles, Melhor Filme, Ator e Direção), “O Brutalista” (The Brutalist, 2024) é sobre a história de um milionário novo rico contrata um gênio vanguardista fugido da guerra e do holocausto, e como ambos serão consumidos pela obsessão. Para, particularmente o arquiteto húngaro Lászlo, descobrir que a América vive um outro tipo de guerra: a conquista de corações e mentes através das vendas, religião e propaganda.

 

O tempo não vai mudar você
O dinheiro não vai mudar você
Não tenho a menor ideia
Tudo parece estar no ar neste momento 
Eu preciso de algo para mudar sua mente
Drogas não vão mudar você
A religião não vai mudar você; ciência não vai mudar você
Parece que eu não posso mudar você
Eu tento falar com você, para tornar as coisas clarasI 
Mas você não está me ouvindo

(“Mind”, Talking Heads)

 

Brutalismo: estilo arquitetônico marcado pelo uso de concreto aparente, formas geométricas e estruturas maciças. Surgiu na Europa no início do século XX e o seu auge nas décadas de 1950 e 60. Características: estruturas maciças, Concreto aparente, Funcionalidade acima da ornamentação, Impacto visual poderoso, Formas geométricas gigantes e ousadas. 

Muitas questõs emergem das mais de três horas do filme O Brutalista (The Brutalist, 2024), de Brad Colbert - é impossível perder o comentário sobre o capitalismo incorporado no roteiro de Corbet e Mona Fastvold. 

Ainda assim, também é uma história sobre imigração, vício, sionismo, arquitetura, desigualdade, classe, violência e até mesmo cinema – o filme em si é autorreferencial, filmado em película 70mm numa reconstituição da antiga câmera e projeção em widscreen VistaVision, não usada desde 1961.

Um arquiteto húngaro judeu fugindo da Europa (Lászlo Tóth - Adrien Brody) na esteira da Segunda Guerra Mundial chega aos EUA, até a curta duração de Tóth na casa e loja de móveis de seu primo húngaro muito mais adaptado financeiramente (Alessandro Nivola), até seu relacionamento com um magnata sádico e mercurial Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce) que se torna o primeiro cliente americano de Tóth e o encarrega de um projeto de construção que logo se tornará uma obsessão que consumirá ambos os homens.

O Brutalista é uma narrativa episódica cuja primeira parte é um épico arquitetônico – a história de um prestigioso arquiteto egresso da escola de artes Bauhaus, mas com um problema: era judeu.



E por que arquitetura? Por que o brutalismo? Lászlo responde a certa altura do filme:

Uma guerra está em andamento na Europa. E, no entanto, sei que... Muitos dos locais dos meus projetos sobreviveram... Ainda estão lá, na cidade... Quando as memórias terríveis do que aconteceu na Europa deixarem de nos humilhar, espero que sirvam mais como estímulo político... Já antecipo uma retórica comunitária de raiva e medo... Mas os meus edifícios foram concebidos para suportar tal erosão.

Lászlo pensa ainda a arquitetura no princípio da MONUMENTALIDADE: uma estrutura concebida dentro de uma ideologia política (no caso do Brutalismo, o Socialismo) e que resista à erosão da guerra. Como um monumento, comunique às próximas gerações as ideias socialistas e comunitárias.

Bem diferente da “estética do desaparecimento” pós-moderna na qual a Monumentalidade desaparece no vidro espelhado e na arquitetura convertida em efeitos especiais cenográficos.

Na primeira parte do filme, Lászlo ao passar pela ilha de Elis e ver a Estátua da Libeerdade, lembra quando Freud e Jung chegaram nos EUA e verem a mesma estátua: “Mal sabem eles que lhes trouxemos a peste...”.

Lázslo também acha que está trazendo ideais do socialismo de um Kibutz judeu. Como nos informa a música do Talking Heads, naquele momento muitas ideias estavam circulando no ar. Mas nada mudará a mentalidade do Destino Manifesto norte-americano: a “Religião Americana” – a fusão do mormismo com a autodivinização pela força do pensamento motivacional orientado para o sucesso. 

O ineditismo de um país que conseguiu fundir a fé tecnológica, o espírito pioneiro dos puritanos e o triunfo do liberalismo comercial.

É quando O Brutalista chega à estranha e delirante segunda parte, lembrando a ética norte-americana do “Não existe almoço grátis” – o sonho americano que o acolhe braços aberto vai cobrar um alto preço, não físico, como na guerra do Velho Continente. Mas a brutalidade psíquica.



A monumentalidade brutalista cheia de concessões na América para abrigar as idiossincrasias do seu milionário empregador novo rico – a arte ateia europeia usada como veículo propagandístico de evangelização da religião americana para aliviar a culpa de uma mal resolvida relação edipiana do milionário Harrison com sua própria mãe.

Lászlo descobrirá que a América vive um outro tipo de guerra: a conquista de corações e mentes através da religião e propaganda.

O Filme

As primeiras sequências são uma pequena síntese do que espectador se confrontará:  No início, é difícil dizer onde Lászlo está, cercado por pessoas em um espaço superlotado com a cacofonia de conversas ao seu redor. 

Enquanto ele se move pela multidão, ele se empurra através de portas e para a luz do sol, seu rosto explodindo de felicidade no local da Estátua da Liberdade, mas a fotografia deforma o momento apresentando icônica estátua de cabeça para baixo, no topo do quadro. A estátua muda para o lado, mas nunca está na vertical, um símbolo deformado do sonho americano, a abertura do tema principal do filme na forma de uma imagem inesquecível. 

Este prólogo também inclui uma citação de Goethe: “Ninguém é mais irremediavelmente escravizado do que aqueles que falsamente se acreditam livres”.




Tóth acredita que está livre, conseguindo um emprego na loja de móveis de seu primo Attila (Alessandro Nivola), notadamente chamada Miller & Sons, apesar de não haver Miller e nem filhos – empresas familiares atraem americanos, diz. 

Como aquela estátua flutuante da abertura, o filme começa brincando com o artifício do capitalismo, uma estrutura que vende o conforto de uma empresa familiar sobre a arte real. Quando Tóth projeta uma cadeira para ser colocada na janela da frente, a esposa de Attila, Audrey (Emma Laird), diz a ele que parece um triciclo. 

O Brutalista é um filme que experimenta a forma, ao mesmo tempo em que é narrativa sobre como as pessoas exploram a arte em função do lucro e ostentação sobre a expressão. História de como na América arte e arquitetura se tornam monumentos ocos. 

A vida de László muda quando Harry Lee Van Buren vem à Miller & Sons para contratá-los para remodelar a biblioteca de seu pai Harrison enquanto ele está longe de casa. O projeto desmorona quando Harrison (Guy Pearce) volta para casa em fúria, com raiva porque sua casa está sendo destruída por pessoas que ele nunca conheceu, e se recusa a pagar. 

O drama leva a uma decisão emocional de Attila, que expulsa László de sua casa, enviando-o para uma espiral de vício em heroína nas ruas com seu amigo Gordon (Isaach de Bankolé), até que Harrison retorne com um pedido de desculpas. Ele traz László para seu mundo de esnobes de classe alta, pessoas que exibem sua riqueza como se tivesse algum significado. Para eles, mesmo um sobrevivente do Holocausto é visto apenas como outro objeto a possuir.

Harrison se oferece para ajudar László a trazer sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy) da Europa, mas é um prelúdio para o que ele realmente quer: o projeto de um centro comunitário que servirá como uma homenagem à mãe recentemente falecida. É um lugar para se reunir, mas também um lugar que ele controla, e que ele afirma que vai olhar para frente, mas está ancorado no passado por ser um monumento à sua mãe. 



Filme também sucumbe ao “não existe almoço grátis”

Harrison procura controlar László desde o início. Ele usa raiva primeira cena, ele literalmente joga dinheiro nele em uma cena chave da segunda parte (e depois pede que ele o devolva), e o clímax da primeira metade pré-intervalo define o relacionamento deles perfeitamente. 

Harrison acabará cruzando todas as linhas de justiça física e moral, um paralelo claro de como o capitalismo destrói a arte, tirando dela o que ela quer e precisa antes de se descartá-la. 

Todas as idealizações e suposições que impulsionaram a narrativa de antes do intervalo, são desconstruídas e humilhadas, uma a uma.

É claro que até o próprio filme sucumbirá à ética do “não existe almoço grátis”. 

No episódio final de 1980 (subtítulo "A Primeira Bienal de Arquitetura"), László é homenageado com uma retrospectiva de carreira em Veneza. Como o próprio arquiteto idoso parece ter habilidades verbais limitadas, sua sobrinha, Zsófia — anteriormente interpretada por Raffey Cassidy, mas agora retratada por Ariane Labed no epílogo — se dirige à multidão em seu nome.

Em suas observações, Zsófia — que imigrou para Israel no início do filme — afirma que o misterioso monumento de seu tio era uma réplica de uma estrutura que o aprisionava em um campo de concentração alemão durante a guerra. Exceto por um único detalhe: tetos estendidos, como um prisioneiro almejando a liberdade. 

Essa leitura psicologizada contrasta com a do próprio Lászlo feita na primeira parte do filme, sobre a monumentalidade da arquitetura brutalista.

Uma leitura soft o suficiente para um evento de bienal de arte e arquitetura. No final, é a vitória da “religião americana” do marketing e da propagada: a arte torna-se vazia e sem paixão. Por isso torna-se leve. Leve para ser mercadologicamente ágil e conquistar novos mercados.

Lászlo perdeu para o holocausto e para o milionário Harrison Lee Van Buren.

 

 

Ficha Técnica

Título: O Brutalista

Diretor: Brad Cobert

Roteiro: Brady Corbert e Mona Fastwold

Elenco:  Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce

Produção: Brookstreet Pictures

Distribuição: A24 Pictures

Ano: 2024

País: EUA 

 

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quarta-feira, fevereiro 26, 2025

Aforismos e pensatas do humilde blogueiro no Departamento Médico (2): memecoins, PirâMilei e hipernormalização


Mais algumas pensatas e aforismos enquanto esse humilde blogueiro recupera-se da cirurgia, enquanto prepara corpo e mente para as sessões de fisioterapia. Nessa segunda edição, Milei e escândalo da memecoin e como Adam Smith e Karl Marx estão cada vez mais atuais; dois flagrantes de hipernormalização midiática para blindar Tarcisão - 2026, O Moderado: policiais militares nada fazem com flagrante de injúrias raciais nos bastidores do Palmeiras, no campeonato paulista, e a incrível história ignorada do policial civil CEO de fintech do PCC. Na Era Pós-Biden, programa Fantástico está abandonando a Woke Explotation para fazer “jornalismo Snapchat”. 

1- Memecoins e a “PirâMilei”

 

No imprescindível livro clássico “História da Riqueza do Homem”, Leo Huberman se perguntava: qual a origem não só da riqueza humana, mas da sua distribuição desigual dessa riqueza? A riqueza vem da posse da terra? Do sangue azul nobre herdado? Vem do comércio? Ou, então, da posse e descoberta de metais preciosos como ouro e prata?

Adam Smith e Karl Marx achavam que tudo isso não era riqueza ou valor em si, mas efeitos do trabalho – o valor da terra, ouro etc. apenas refletem a quantidade social de trabalho necessária para a produção desses bens. Riqueza é, portanto, o valor-trabalho e a verdadeira origem da desigualdade – a exploração da força de trabalho alheia (Marx).

Para chegar a essa conclusão, esses pensadores da ciência da Economia Política tiveram que se livrar de fetichismos do valor (as coisas teriam um valor em si) e superstições ligadas a posse e distinção – sangue, terra, herança etc.

Graças a isso, o Capitalismo evoluiu da sua fase comercial para a industrial, acabando com as superstições feudais.

Paradoxalmente, é no novo salto do Capitalismo para sua fase informacional-financeira no atual Tecnofeudalismo, que observamos o revival das velhas superstições que Smith e Marx se confrontaram lá nos séculos XVIII-XIX.

O inefável presidente da Argentina Javier Milei, emulando seu ídolo Trump (que lançou na posse a memecoin $TRUMP), cria uma nebulosa criptomoeda, $LIBRA, que, mais do que riqueza, gerou um terremoto político: uma investigação sobre o possível golpe. O Ministério Público argentino investiga Milei e quatro empresários por fraude financeira, tráfico de influência, abuso de autoridade e corrupção.



Lançada em 14 de fevereiro, a memecoin foi promovida pelo presidente Javier Milei em sua conta pessoal na rede X. 

Poucas horas após a divulgação, a Libra perdeu valor drasticamente, causando prejuízos a cerca de 40 mil investidores que acreditaram na promoção do presidente. Agora, Milei está sendo acusado de má conduta e enfrenta pedidos de impeachment no Congresso.

Um clássico caso de esquema de “pirâmide financeira” – a PIRÂMILEI.

Candidamente, o “libertário” Milei justificou que tudo era a promessa de que seria um projeto de financiamento para pequenas empresas argentinas, incentivando a economia.

Esqueça a ideia civilizatória de que o trabalho é a fonte de toda riqueza. Ou então de que esse trabalho, representado pela poupança social ou excedente econômico sob a guarda do Estado, induziria ao desenvolvimento.



Nada disso! “Viva la Libertad, carajo!”, exorta Milei retornando às superstições e fetichismos medievais no atual Tecnofeudalismo

Para o Tecnofeudalismo-libertário-anarcocapitalismo, a riqueza já é pós-meritocrática – trata-se de ser não inteligente, mas esperto: sacar as oportunidades e fazer riqueza rapidamente, de forma mágica, etérica. Na Internet das criptomoedas, dinheiro não tem mais substância social. Adquire uma natureza tecnoquântica: é extraído do tempo, não mais do espaço.

A indução ao crescimento econômico não mais por uma política pública pelo direcionamento da poupança social ou do excedente econômico. Não, virá do “carajo da libertad” individual de apostar no mercado financeiro convertido em cassino global.

Só é pobre quem for loser: não acreditar em si mesmo. Não mais como mérito-empreendedor, mas como o fetichista da riqueza que acredita que ela não se acha na posse de ouro ou prata, mas nas blockchains que extraem criptomoedas. 

Riqueza pode, sim, surgir do ar!

Nunca Adam Smith e Karl Marx foram tão atuais!

 

2- A hipernormalizaçao cotidiana

a) Primeira cena: 

Jogo Palmeiras vs. Mirassol pela última e decisiva rodada do Campeonato Paulista de futebol. Imagens após jogo mostram na área de acesso aos vestiários um homem de meia idade, trajando uniforme do Mirassol, identificado como sendo vice-prefeito de São José do Rio Preto, Fábio Marcondes.

Em vídeo gravado que circula na internet, é possível ver Marcondes xingando o segurança negro do Palmeiras de “macaco velho”. Na sequência, outro segurança fala, repetidamente, "racismo, não”. 



Marcondes teria ficado irritado com a forma com que o segurança do Palmeiras tratou o filho dele – ele queria um autógrafo. O segurança pediu que o adolescente se retirasse do acesso entre o vestiário e o ônibus do clube, estacionado na área interna do estádio do Mirassol. Em seguida, ele passou a ofender o segurança.

Como na clássica retórica bolsonarista, com o xingamento “lixo!” a cada frase toscamente elaborada - Fábio Marcondes é político integrante do PL.

Porém, o que mais causou, digamos assim, “espécie” ao ver a cena foi a absoluta indiferença de três policiais militares. Eles veem e ouvem tudo como alienígenas que chegaram em algum Ovni e apenas observassem, curiosos, humanos interagindo. Foi necessário o Palmeiras lavrar um BO para que as coisas não acabassem ali.

Pior de tudo isso foi ver a cobertura dos repórteres esportivos (e depois dos próprios âncoras dos telejornais) passando batidos a essa constatação: não deveriam no ato os policiais darem voz de prisão por flagrante de injúria racial?

Mais uma vez a oportunidade do jornalismo corporativo emplacar a sua verve retórica Woke hipócrita, simulando a indignação eloquente própria do jornalismo profissional dos santificados.

Enquanto isso, hipernormaliza a estudada apatia dos policiais militares do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas: não ficaria bem no prontuário de qualquer PM a prisão em flagrante de uma autoridade do PL...

b) Segunda Cena

A grande mídia vive dizendo que o crime organizado, em particular o PCC, está descobrindo formas de se infiltrar na máquina do Estado.

Esquecem de dizer que isso ocorre com a própria ajuda da hipernormalização midiática. 

A notícia é a seguinte:

Investigadores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e da Polícia Federal prenderam na manhã desta terça-feira (25) um policial civil em uma operação de combate à lavagem de dinheiro do PCC por meio de duas fintechs (instituições financeiras digitais).(...) Preso nesta terça, o policial Cyllas Elia Junior se apresenta como CEO da 2GO Bank, uma das instituições financeiras citadas pelo delator do PCC. A outra empresa é a InvBank. – Portal G1, clique aqui.

Um policial civil CEO de uma fintech? As imagens televisivas são ainda mais instigantes: a sede da fintech está localizada num luxuoso prédio corporativo na Zona Sul paulistana.

Nada sobre problematizar é possível essa condição oxímora da ocorrência aparentemente banal de um policial civil ser também CEO de uma fintech. 

Apenas informa-se que Cyllas tinha pedido afastamento em 2022...Mas no começo desse ano já estava de volta, lotado no Decap, o departamento responsável pelas delegacias da capital.

Ele já tinha sido preso no ano passado em outra operação da PF em Campinas pela ligação na lavagem de dinheiro para criminosos chineses. Ele foi solto no fim de 2024.

E o CEO-COP estava de volta, lépido e fagueiro no Decap.

Nas entrevistas, o governador bandeirante-frankenstein Tarcisão se posiciona como o grande combatente do crime organizado, cagando regras e tal.

Essa hipernormalização do CEO-COP só revela como o jornalismo corporativo está blindando e apostando em Tarcísio-2026.



3- O furo da Globo e o “Jornalismo Snapchat”

 

O programa domingueiro Fantástico já começa a apresentar inflexões na Era Pós-Biden: começa a abandonar a pauta “Woke Explotation” para praticar jornalismo com o áudio em que o general Mario Fernandes diz ter conversado com Bolsonaro sobre o golpe em 8/1.

Áudios capturados pela Polícia Federal, e revelados neste domingo à noite (23/02/2025) pela Globo revelam oficiais de alta patente, com cargos de comando, indicados por Jair Bolsonaro para cargos estratégicos de comando, e ideológica e politicamente muito próximos ao presidente, falavam abertamente em levar manifestantes para Esplanada, anular eleições e dar um golpe de Estado. Alguns áudios deixam claro que Jair Bolsonaro era o mais radical de todos.

Curiosamente, o próprio jornal do grupo, O Globo, não levou a sério o próprio furo da TV, preferindo ocultar a informação pelos cantinhos.

Por quê? Porque, ao lado dos jornalões Estadão e FolhaO Globo tem outra prioridade: montar equipes que esmiúcem as páginas da denúncia do PGR em busca de lacunas, interpretações, contradições etc. Para assessorar os bolsonaristas com munição para transformar o processo num atoleiro jurídico – esse é o verdadeiro Gabinete de Inteligência Semiótica.

Tudo isso por que a grande mídia tem tesão pelos olhos azuis de Bolsonaro? Não! Para arrastar o julgamento até 2026, contaminando o cenário eleitoral.

Bolsonaro é o fusível que já queimou. Agora a prioridade é a blindagem e empoderamento da versão anarcocapitalista tupiniquim: Tarcisão, o Moderado, para a atmosfera eleitoral quiçá contaminada de 2026.

Enquanto isso, o jornalismo da Globo cria para a patuleia a imagem de profissionalismo e isenção. Através de gráficos caprichados e dramáticos, bomba os áudios da PF na matéria do programa televisivo.

Assim como no Snapchat (rede social cujos conteúdos enviados desaparecem após serem visualizados), depois do Fantástico do último domingo, ninguém mais fala disso. 

 

 

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terça-feira, fevereiro 25, 2025

Aforismos e pensatas do humilde blogueiro no Departamento Médico (1): o butim da Ucrânia, Covid, esperando Gonet e inflação



Essas são as primeiras pensatas e aforismos do humilde blogueiro entregue ao Departamento Médico. São textos pós-cirurgia no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-SP – o blogueiro sofreu um acidente ciclístico. Na falta do que fazer, fico ainda mais absorvido pela TV e Internet. Os primeiros resultados são esses textos sobre Trump, Zelensky, Covid Rises Again, Gonet e PGR no timing e Lula e a inflação dos alimentos. Como dizia Lacan, a parte mais importante  da  Psicanálise é a simbolização: falar sobre o próprio trauma.

 

1 - Zelensky é a ficção, Trump é o simulacro

 

Guerra da Ucrânia (ou "invasão da Ucrânia”, como prefere dizer o eufemismo do jornalismo corporativo), está completando três anos. E o que vemos ironicamente nesse momento? Dois atores bem-sucedidos, ciumentos, obrigados a dividirem o mesmo palco midiático.

Trump acusa Zelensky de “desnecessário” e “ditador” em crise de popularidade em seu próprio país. Enquanto Zelensky, querendo salvar seu ativo midiático acumulado nesses anos, simula desapego patriótico garantindo “abandonar o cargo” se a Ucrânia for integrada à OTAN.

O problema é Zelensky continuar preso ao roteiro do seu criador Biden. Ele acredita, não sai mais do personagem. Virou mitômano!

Enquanto Trump é um ator de outro tipo: forjado nas duras negociações do mercado imobiliário, criou um personagem para si mesmo na TV: a estrela de um reality show que demitia competidores aprendizes que não apresentavam a personalidade matadora exigida do mar de tubarões do mercado.

Zelensky é pura ficção. Trump é um simulacro que glamouriza a amoralidade de mercado.

“You' re Fired!”, podemos imaginar Trump tripudiando o looser doublê de presidente da Ucrânia. 

Por isso Trump é fascinado por Putin: quer apenas uma mesa de negociações com ele, sem o looser ucraniano. Trump ama Putin: é o though guy, o cara que veio do interior da Nomenklatura, do Estado profundo da KGB soviética. O verdadeiro self made man.

É o estofo de realidade que falta a Tump: o presidente americano é o típico sucesso Ocidental – cresceu à sombra das políticas publicas neoliberais de desregulamentações dos mercados financeiros da Era Reagan.

Trump é apenas um fantoche de uma ala vencedora do Estado Profundo – a geopolítica que elege a CHINA, e não a Rússia, como vilão do Ocidente.

E Trump deve tomar para si a parte do butim: os metais das terras raras ucranianas – Bezos, Musk, Zuckerberg et caterva estão ávidos à espera do lítio, cobalto etc.

Enquanto o ambíguo Putin (que poderia ter liquidado a fatura numa união unívoca com a China) arrastou a guerra, para destruir a Europa.

Enquanto esperava a volta do seu fã número um no Ocidente: Donald Trump.



 

2 - Covid rises again?

 

China sabe que é agora o inimigo do Ocidente. E já apresenta as armas: morcegos que supostamente ameaçam a volta da pandemia global da Covid.

Pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, publicaram um estudo na revista científica Cell em que revelam a descoberta de uma nova linhagem do coronavírus, o HKU5-CoV-2, em morcegos.

A pesquisa ressalta o potencial risco da transmissão da doença de animais para humanos, que ainda precisa ser investigado.

A narrativa criada pela grande mídia todos conhecem: explode uma pandemia do novo coronavírus na província chinesa de Wuhan no final de 2019 que arrastaria o mundo para uma pandemia, derrubando os mercados e expondo a disfuncionalidade da cadeia produtiva global: faltaram insumos para vacinas no Ocidente desintrualizado pela Globalização.

Para os mercados financeiros tudo foi conveniente: Colocar o mundo da economia real em suspensão (circuit braker), enquanto o cassino global recebia pesados aportes de dinheiro público no manjado script da socialização das perdas: Trump injetava mais de US$ um trilhão e meio em liquidez no sistema financeiro, enquanto Bolsonaro fala em ajuda a companhia aéreas e “pacote de medidas econômicas”. 

Trump começou a falar grosso com a China e chamou Putin à dança da negociação? Então se aproprie da narrativa ocidental de que a China foi o grande vilão maligno da Covid (com seus morcegos e feiras de rua da província de Wuhan) e a transforme em potencial bomba semiótica a seu favor.

China infunde no Ocidente o pânico da suposta volta de uma pandemia, em pleno retorno triunfal de Trump.

Esses chineses!...



 

3 - Gonet da PGR abandonou o teatro do absurdo de "Esperando Godot"?
 

No mínimo irônico: responsável por denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por golpe de Estado e outros quatro crimes contra o Estado Democrático de Direito, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi seriamente cotado para o cargo no início do mandato de Bolsonaro, em 2019.

 Chegou à chefia do Ministério Público Federal (MPF) por meio do presidente Lula, alvo da trama golpista que visava impedir sua posse.

Até então, Gonet exibia credenciais conservadoras e cabos eleitorais que hoje não podem nem ouvir falar no nome de Gilmar e Moraes – como a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), integrante da tropa de choque bolsonarista no Congresso que já o definiu como “conservador raiz”. 

Este humilde blogueiro sinceramente esperava na realização do trocadilho Gonet/Godot, e o dossiê do 8/01 repetisse o tempo do absurdo da obra de Samuel Beckett, contaminanfo a atmosfera eleitoral de 2026 – se bem que o mercado financeiro já incorporou as eleições do ano que vem no cálculo da inflação futura. 

Mas ANTES do Carnaval Gonet apresentou a denúncia. Talvez efeito de todo hype em torno do filme indicado ao Óscar Ainda Estou Aqui – por que não participar do frisson midiático?

A esquerda começa a comemorar soltando balões e foguetes. Afinal, Xandão e ministros do STF (que em 2018 mantiveram Lula na cadeia), agora se converteram em cães cérberos da defesa da Democracia.

Primeiro lugar, a estratégia e “Esperando Godot” permanece, com a luxuosa ajuda dos jornalões, principalmente a Folha, de relativizar as provas da denúncia da PGR. Parece que, sofregamente, equipes estão procurando nas páginas da denúncia contradições, lacunas, vieses...

Ninguém quer manter Bolsonaro vivo. É esticar o tempo ao absurdo – aliás, o campo jurídico dos vieses, hermenêuticas, data-vênias e interpretações é propício a isso. Para contaminar a atmosfera 2026.

E outra: hipernaturalizar uma suposta tentativa de golpe de Estado: transformá-lo em julgamento da vara cível - até aqui, o sujeito do processo e depositário das esperanças democráticas é o Poder Judiciário.

A questão é que uma tentativa de golpe de Estado é POLÍTICA, e é nesse campo que deve ser pensada (antigamente resolvida em pelotões de fuzilamento dos traidores). Só se resolverá na política — justamente onde falha a esquerda, acostumada nos últimos anos a terceirizar sua práxis.

Tão terceirizado que até mesmo a proposta desse humilde blogueiro de criar acontecimentos como estratégia anticíclica do Governo foi terceirizada: ironicamente, no momento em que Lula estava nas cordas pela questão da inflação dos alimentos, eis que Gonet veio em seu socorro, oferecendo uma agenda mais suculenta para a grande mídia.


 


4 - Lula, Dilma, alimentos...
 

Se havia alguma dúvida sobre o Governo Lula 3 encastelado, reativo e prisioneiro de uma frente política com governabilidade análoga a uma bomba relógio, essa dúvida acabou na atual crise da inflação dos alimentos.

Lembrando a crise economicamente autorrealizável do governo Dilma Rousseff, com a mídia batendo diariamente na inflação dos alimentos e combustíveis (cuja imagem mais indelével é a da apresentadora Ana Maria Braga ao vivo com um colar de tomates), Lula revela também seus grilhões: não tem um Joaquim Levy na Fazenda, mas se apega na esperança de um novo Plano Safra, melhoria do clima e safra recorde no segundo semestre.

Nada de intervenções num mercado que faz o jogo do contra: cadê a CONAB, empresa pública que gere as políticas de abastecimento e agrícolas do Brasil, desmontada por Bolsonaro?

Quando o agronegócio quis especular com o arroz por conta da tragédia climática do Rio Grande do Sul, o Governo respondeu com a importação do produto para a formação de estoques reguladores.

O leitor deve lembrar que para a mídia o chão se abriu e o odor fétido do enxofre do intervencionismo do Estado tomou conta da atmosfera política. Os leilões foram sabotados e não se fala mais nisso... nem agora. Governo prefere dar mais crédito ao agro ou apostar em “super safras”.

Imagine então re-estatizar uma BR Distribuidora, outra bomba potencial apontada para o Governo com a futura inflação dos combustíveis?  

 




 

 

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terça-feira, fevereiro 11, 2025

Humilde blogueiro sofre acidente e atividades do Blog e Live estão temporariamente suspensas



Esse humilde bogueiro sofreu um acidente na última quarta-feira (04/02), um acidente ciclístico no portão 2 da USP (ironia!). O blogueiro dublê de ciclista foi levado por Samu inconsciente (ao que consta... esse humilde blogueiro de nada se recorda) e levado ao hospital Universitário. Recebi alta neurológica e agora estou em casa, aguardando cirurgia do braço quebrado (o direito, segunda ironia... pelo menos manteve o ideológico esquerdo...com as quais digito essas mal traçadas linhas...), marcada para amanhã, dia 12/2.

Por isso, por ordens médicas, as atividades do blog e da Live Cinegnose 360 estão suspensas... principalmente por estar usando um incômodo Colar Philadelphia para garantir a imobilidade do pescoço, por pelo menos o próximo mês. Na foto acima, o humilde blogueiro com a produtora da Live e esposa, Tatiane.

Portanto, aguardem mais notícias sobre a volta às atividades... Abraços a todos, com pelo menos um braço!

ATÉ A VOLTA!




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