Essas são as primeiras pensatas e aforismos do humilde blogueiro entregue ao Departamento Médico. São textos pós-cirurgia no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC-SP – o blogueiro sofreu um acidente ciclístico. Na falta do que fazer, fico ainda mais absorvido pela TV e Internet. Os primeiros resultados são esses textos sobre Trump, Zelensky, Covid Rises Again, Gonet e PGR no timing e Lula e a inflação dos alimentos. Como dizia Lacan, a parte mais importante da Psicanálise é a simbolização: falar sobre o próprio trauma.
1 - Zelensky é a ficção, Trump é o simulacro
Guerra da Ucrânia (ou "invasão da Ucrânia”, como prefere dizer o eufemismo do jornalismo corporativo), está completando três anos. E o que vemos ironicamente nesse momento? Dois atores bem-sucedidos, ciumentos, obrigados a dividirem o mesmo palco midiático.
Trump acusa Zelensky de “desnecessário” e “ditador” em crise de popularidade em seu próprio país. Enquanto Zelensky, querendo salvar seu ativo midiático acumulado nesses anos, simula desapego patriótico garantindo “abandonar o cargo” se a Ucrânia for integrada à OTAN.
O problema é Zelensky continuar preso ao roteiro do seu criador Biden. Ele acredita, não sai mais do personagem. Virou mitômano!
Enquanto Trump é um ator de outro tipo: forjado nas duras negociações do mercado imobiliário, criou um personagem para si mesmo na TV: a estrela de um reality show que demitia competidores aprendizes que não apresentavam a personalidade matadora exigida do mar de tubarões do mercado.
Zelensky é pura ficção. Trump é um simulacro que glamouriza a amoralidade de mercado.
“You' re Fired!”, podemos imaginar Trump tripudiando o looser doublê de presidente da Ucrânia.
Por isso Trump é fascinado por Putin: quer apenas uma mesa de negociações com ele, sem o looser ucraniano. Trump ama Putin: é o though guy, o cara que veio do interior da Nomenklatura, do Estado profundo da KGB soviética. O verdadeiro self made man.
É o estofo de realidade que falta a Tump: o presidente americano é o típico sucesso Ocidental – cresceu à sombra das políticas publicas neoliberais de desregulamentações dos mercados financeiros da Era Reagan.
Trump é apenas um fantoche de uma ala vencedora do Estado Profundo – a geopolítica que elege a CHINA, e não a Rússia, como vilão do Ocidente.
E Trump deve tomar para si a parte do butim: os metais das terras raras ucranianas – Bezos, Musk, Zuckerberg et caterva estão ávidos à espera do lítio, cobalto etc.
Enquanto o ambíguo Putin (que poderia ter liquidado a fatura numa união unívoca com a China) arrastou a guerra, para destruir a Europa.
Enquanto esperava a volta do seu fã número um no Ocidente: Donald Trump.
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2 - Covid rises again?
China sabe que é agora o inimigo do Ocidente. E já apresenta as armas: morcegos que supostamente ameaçam a volta da pandemia global da Covid.
Pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, publicaram um estudo na revista científica Cell em que revelam a descoberta de uma nova linhagem do coronavírus, o HKU5-CoV-2, em morcegos.
A pesquisa ressalta o potencial risco da transmissão da doença de animais para humanos, que ainda precisa ser investigado.
A narrativa criada pela grande mídia todos conhecem: explode uma pandemia do novo coronavírus na província chinesa de Wuhan no final de 2019 que arrastaria o mundo para uma pandemia, derrubando os mercados e expondo a disfuncionalidade da cadeia produtiva global: faltaram insumos para vacinas no Ocidente desintrualizado pela Globalização.
Para os mercados financeiros tudo foi conveniente: Colocar o mundo da economia real em suspensão (circuit braker), enquanto o cassino global recebia pesados aportes de dinheiro público no manjado script da socialização das perdas: Trump injetava mais de US$ um trilhão e meio em liquidez no sistema financeiro, enquanto Bolsonaro fala em ajuda a companhia aéreas e “pacote de medidas econômicas”.
Trump começou a falar grosso com a China e chamou Putin à dança da negociação? Então se aproprie da narrativa ocidental de que a China foi o grande vilão maligno da Covid (com seus morcegos e feiras de rua da província de Wuhan) e a transforme em potencial bomba semiótica a seu favor.
China infunde no Ocidente o pânico da suposta volta de uma pandemia, em pleno retorno triunfal de Trump.
Esses chineses!...
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3 - Gonet da PGR abandonou o teatro do absurdo de "Esperando Godot"?
No mínimo irônico: responsável por denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por golpe de Estado e outros quatro crimes contra o Estado Democrático de Direito, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi seriamente cotado para o cargo no início do mandato de Bolsonaro, em 2019.
Chegou à chefia do Ministério Público Federal (MPF) por meio do presidente Lula, alvo da trama golpista que visava impedir sua posse.
Até então, Gonet exibia credenciais conservadoras e cabos eleitorais que hoje não podem nem ouvir falar no nome de Gilmar e Moraes – como a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), integrante da tropa de choque bolsonarista no Congresso que já o definiu como “conservador raiz”.
Este humilde blogueiro sinceramente esperava na realização do trocadilho Gonet/Godot, e o dossiê do 8/01 repetisse o tempo do absurdo da obra de Samuel Beckett, contaminanfo a atmosfera eleitoral de 2026 – se bem que o mercado financeiro já incorporou as eleições do ano que vem no cálculo da inflação futura.
Mas ANTES do Carnaval Gonet apresentou a denúncia. Talvez efeito de todo hype em torno do filme indicado ao Óscar Ainda Estou Aqui – por que não participar do frisson midiático?
A esquerda começa a comemorar soltando balões e foguetes. Afinal, Xandão e ministros do STF (que em 2018 mantiveram Lula na cadeia), agora se converteram em cães cérberos da defesa da Democracia.
Primeiro lugar, a estratégia e “Esperando Godot” permanece, com a luxuosa ajuda dos jornalões, principalmente a Folha, de relativizar as provas da denúncia da PGR. Parece que, sofregamente, equipes estão procurando nas páginas da denúncia contradições, lacunas, vieses...
Ninguém quer manter Bolsonaro vivo. É esticar o tempo ao absurdo – aliás, o campo jurídico dos vieses, hermenêuticas, data-vênias e interpretações é propício a isso. Para contaminar a atmosfera 2026.
E outra: hipernaturalizar uma suposta tentativa de golpe de Estado: transformá-lo em julgamento da vara cível - até aqui, o sujeito do processo e depositário das esperanças democráticas é o Poder Judiciário.
A questão é que uma tentativa de golpe de Estado é POLÍTICA, e é nesse campo que deve ser pensada (antigamente resolvida em pelotões de fuzilamento dos traidores). Só se resolverá na política — justamente onde falha a esquerda, acostumada nos últimos anos a terceirizar sua práxis.
Tão terceirizado que até mesmo a proposta desse humilde blogueiro de criar acontecimentos como estratégia anticíclica do Governo foi terceirizada: ironicamente, no momento em que Lula estava nas cordas pela questão da inflação dos alimentos, eis que Gonet veio em seu socorro, oferecendo uma agenda mais suculenta para a grande mídia.
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4 - Lula, Dilma, alimentos...
Se havia alguma dúvida sobre o Governo Lula 3 encastelado, reativo e prisioneiro de uma frente política com governabilidade análoga a uma bomba relógio, essa dúvida acabou na atual crise da inflação dos alimentos.
Lembrando a crise economicamente autorrealizável do governo Dilma Rousseff, com a mídia batendo diariamente na inflação dos alimentos e combustíveis (cuja imagem mais indelével é a da apresentadora Ana Maria Braga ao vivo com um colar de tomates), Lula revela também seus grilhões: não tem um Joaquim Levy na Fazenda, mas se apega na esperança de um novo Plano Safra, melhoria do clima e safra recorde no segundo semestre.
Nada de intervenções num mercado que faz o jogo do contra: cadê a CONAB, empresa pública que gere as políticas de abastecimento e agrícolas do Brasil, desmontada por Bolsonaro?
Quando o agronegócio quis especular com o arroz por conta da tragédia climática do Rio Grande do Sul, o Governo respondeu com a importação do produto para a formação de estoques reguladores.
O leitor deve lembrar que para a mídia o chão se abriu e o odor fétido do enxofre do intervencionismo do Estado tomou conta da atmosfera política. Os leilões foram sabotados e não se fala mais nisso... nem agora. Governo prefere dar mais crédito ao agro ou apostar em “super safras”.
Imagine então re-estatizar uma BR Distribuidora, outra bomba potencial apontada para o Governo com a futura inflação dos combustíveis?
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