quarta-feira, fevereiro 26, 2025

Aforismos e pensatas do humilde blogueiro no Departamento Médico (2): memecoins, PirâMilei e hipernormalização


Mais algumas pensatas e aforismos enquanto esse humilde blogueiro recupera-se da cirurgia, enquanto prepara corpo e mente para as sessões de fisioterapia. Nessa segunda edição, Milei e escândalo da memecoin e como Adam Smith e Karl Marx estão cada vez mais atuais; dois flagrantes de hipernormalização midiática para blindar Tarcisão - 2026, O Moderado: policiais militares nada fazem com flagrante de injúrias raciais nos bastidores do Palmeiras, no campeonato paulista, e a incrível história ignorada do policial civil CEO de fintech do PCC. Na Era Pós-Biden, programa Fantástico está abandonando a Woke Explotation para fazer “jornalismo Snapchat”. 

1- Memecoins e a “PirâMilei”

 

No imprescindível livro clássico “História da Riqueza do Homem”, Leo Huberman se perguntava: qual a origem não só da riqueza humana, mas da sua distribuição desigual dessa riqueza? A riqueza vem da posse da terra? Do sangue azul nobre herdado? Vem do comércio? Ou, então, da posse e descoberta de metais preciosos como ouro e prata?

Adam Smith e Karl Marx achavam que tudo isso não era riqueza ou valor em si, mas efeitos do trabalho – o valor da terra, ouro etc. apenas refletem a quantidade social de trabalho necessária para a produção desses bens. Riqueza é, portanto, o valor-trabalho e a verdadeira origem da desigualdade – a exploração da força de trabalho alheia (Marx).

Para chegar a essa conclusão, esses pensadores da ciência da Economia Política tiveram que se livrar de fetichismos do valor (as coisas teriam um valor em si) e superstições ligadas a posse e distinção – sangue, terra, herança etc.

Graças a isso, o Capitalismo evoluiu da sua fase comercial para a industrial, acabando com as superstições feudais.

Paradoxalmente, é no novo salto do Capitalismo para sua fase informacional-financeira no atual Tecnofeudalismo, que observamos o revival das velhas superstições que Smith e Marx se confrontaram lá nos séculos XVIII-XIX.

O inefável presidente da Argentina Javier Milei, emulando seu ídolo Trump (que lançou na posse a memecoin $TRUMP), cria uma nebulosa criptomoeda, $LIBRA, que, mais do que riqueza, gerou um terremoto político: uma investigação sobre o possível golpe. O Ministério Público argentino investiga Milei e quatro empresários por fraude financeira, tráfico de influência, abuso de autoridade e corrupção.



Lançada em 14 de fevereiro, a memecoin foi promovida pelo presidente Javier Milei em sua conta pessoal na rede X. 

Poucas horas após a divulgação, a Libra perdeu valor drasticamente, causando prejuízos a cerca de 40 mil investidores que acreditaram na promoção do presidente. Agora, Milei está sendo acusado de má conduta e enfrenta pedidos de impeachment no Congresso.

Um clássico caso de esquema de “pirâmide financeira” – a PIRÂMILEI.

Candidamente, o “libertário” Milei justificou que tudo era a promessa de que seria um projeto de financiamento para pequenas empresas argentinas, incentivando a economia.

Esqueça a ideia civilizatória de que o trabalho é a fonte de toda riqueza. Ou então de que esse trabalho, representado pela poupança social ou excedente econômico sob a guarda do Estado, induziria ao desenvolvimento.



Nada disso! “Viva la Libertad, carajo!”, exorta Milei retornando às superstições e fetichismos medievais no atual Tecnofeudalismo

Para o Tecnofeudalismo-libertário-anarcocapitalismo, a riqueza já é pós-meritocrática – trata-se de ser não inteligente, mas esperto: sacar as oportunidades e fazer riqueza rapidamente, de forma mágica, etérica. Na Internet das criptomoedas, dinheiro não tem mais substância social. Adquire uma natureza tecnoquântica: é extraído do tempo, não mais do espaço.

A indução ao crescimento econômico não mais por uma política pública pelo direcionamento da poupança social ou do excedente econômico. Não, virá do “carajo da libertad” individual de apostar no mercado financeiro convertido em cassino global.

Só é pobre quem for loser: não acreditar em si mesmo. Não mais como mérito-empreendedor, mas como o fetichista da riqueza que acredita que ela não se acha na posse de ouro ou prata, mas nas blockchains que extraem criptomoedas. 

Riqueza pode, sim, surgir do ar!

Nunca Adam Smith e Karl Marx foram tão atuais!

 

2- A hipernormalizaçao cotidiana

a) Primeira cena: 

Jogo Palmeiras vs. Mirassol pela última e decisiva rodada do Campeonato Paulista de futebol. Imagens após jogo mostram na área de acesso aos vestiários um homem de meia idade, trajando uniforme do Mirassol, identificado como sendo vice-prefeito de São José do Rio Preto, Fábio Marcondes.

Em vídeo gravado que circula na internet, é possível ver Marcondes xingando o segurança negro do Palmeiras de “macaco velho”. Na sequência, outro segurança fala, repetidamente, "racismo, não”. 



Marcondes teria ficado irritado com a forma com que o segurança do Palmeiras tratou o filho dele – ele queria um autógrafo. O segurança pediu que o adolescente se retirasse do acesso entre o vestiário e o ônibus do clube, estacionado na área interna do estádio do Mirassol. Em seguida, ele passou a ofender o segurança.

Como na clássica retórica bolsonarista, com o xingamento “lixo!” a cada frase toscamente elaborada - Fábio Marcondes é político integrante do PL.

Porém, o que mais causou, digamos assim, “espécie” ao ver a cena foi a absoluta indiferença de três policiais militares. Eles veem e ouvem tudo como alienígenas que chegaram em algum Ovni e apenas observassem, curiosos, humanos interagindo. Foi necessário o Palmeiras lavrar um BO para que as coisas não acabassem ali.

Pior de tudo isso foi ver a cobertura dos repórteres esportivos (e depois dos próprios âncoras dos telejornais) passando batidos a essa constatação: não deveriam no ato os policiais darem voz de prisão por flagrante de injúria racial?

Mais uma vez a oportunidade do jornalismo corporativo emplacar a sua verve retórica Woke hipócrita, simulando a indignação eloquente própria do jornalismo profissional dos santificados.

Enquanto isso, hipernormaliza a estudada apatia dos policiais militares do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas: não ficaria bem no prontuário de qualquer PM a prisão em flagrante de uma autoridade do PL...

b) Segunda Cena

A grande mídia vive dizendo que o crime organizado, em particular o PCC, está descobrindo formas de se infiltrar na máquina do Estado.

Esquecem de dizer que isso ocorre com a própria ajuda da hipernormalização midiática. 

A notícia é a seguinte:

Investigadores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e da Polícia Federal prenderam na manhã desta terça-feira (25) um policial civil em uma operação de combate à lavagem de dinheiro do PCC por meio de duas fintechs (instituições financeiras digitais).(...) Preso nesta terça, o policial Cyllas Elia Junior se apresenta como CEO da 2GO Bank, uma das instituições financeiras citadas pelo delator do PCC. A outra empresa é a InvBank. – Portal G1, clique aqui.

Um policial civil CEO de uma fintech? As imagens televisivas são ainda mais instigantes: a sede da fintech está localizada num luxuoso prédio corporativo na Zona Sul paulistana.

Nada sobre problematizar é possível essa condição oxímora da ocorrência aparentemente banal de um policial civil ser também CEO de uma fintech. 

Apenas informa-se que Cyllas tinha pedido afastamento em 2022...Mas no começo desse ano já estava de volta, lotado no Decap, o departamento responsável pelas delegacias da capital.

Ele já tinha sido preso no ano passado em outra operação da PF em Campinas pela ligação na lavagem de dinheiro para criminosos chineses. Ele foi solto no fim de 2024.

E o CEO-COP estava de volta, lépido e fagueiro no Decap.

Nas entrevistas, o governador bandeirante-frankenstein Tarcisão se posiciona como o grande combatente do crime organizado, cagando regras e tal.

Essa hipernormalização do CEO-COP só revela como o jornalismo corporativo está blindando e apostando em Tarcísio-2026.



3- O furo da Globo e o “Jornalismo Snapchat”

 

O programa domingueiro Fantástico já começa a apresentar inflexões na Era Pós-Biden: começa a abandonar a pauta “Woke Explotation” para praticar jornalismo com o áudio em que o general Mario Fernandes diz ter conversado com Bolsonaro sobre o golpe em 8/1.

Áudios capturados pela Polícia Federal, e revelados neste domingo à noite (23/02/2025) pela Globo revelam oficiais de alta patente, com cargos de comando, indicados por Jair Bolsonaro para cargos estratégicos de comando, e ideológica e politicamente muito próximos ao presidente, falavam abertamente em levar manifestantes para Esplanada, anular eleições e dar um golpe de Estado. Alguns áudios deixam claro que Jair Bolsonaro era o mais radical de todos.

Curiosamente, o próprio jornal do grupo, O Globo, não levou a sério o próprio furo da TV, preferindo ocultar a informação pelos cantinhos.

Por quê? Porque, ao lado dos jornalões Estadão e FolhaO Globo tem outra prioridade: montar equipes que esmiúcem as páginas da denúncia do PGR em busca de lacunas, interpretações, contradições etc. Para assessorar os bolsonaristas com munição para transformar o processo num atoleiro jurídico – esse é o verdadeiro Gabinete de Inteligência Semiótica.

Tudo isso por que a grande mídia tem tesão pelos olhos azuis de Bolsonaro? Não! Para arrastar o julgamento até 2026, contaminando o cenário eleitoral.

Bolsonaro é o fusível que já queimou. Agora a prioridade é a blindagem e empoderamento da versão anarcocapitalista tupiniquim: Tarcisão, o Moderado, para a atmosfera eleitoral quiçá contaminada de 2026.

Enquanto isso, o jornalismo da Globo cria para a patuleia a imagem de profissionalismo e isenção. Através de gráficos caprichados e dramáticos, bomba os áudios da PF na matéria do programa televisivo.

Assim como no Snapchat (rede social cujos conteúdos enviados desaparecem após serem visualizados), depois do Fantástico do último domingo, ninguém mais fala disso. 

 

 

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