terça-feira, março 23, 2021

Amor, mentiras e algoritmos na série 'The One'


Encontrar a alma gêmea, o parceiro certo e viver uma linda história de amor para sempre. Essa é uma mercadoria escassa e, por isso, valorizada no mercado, atraindo a ambição das Big Techs, oferendo redes sociais e aplicativos de relacionamentos para usuários solitários: a promessa de que os algoritmos farão todo o trabalho porque eles conhecem mais sobre nós do que nós mesmos. Mas, e se os algoritmos se juntarem com bancos de dados genéticos? Esse é o tema da série Netflix “The One” (2021- ): se numa sociedade de incomunicabilidade o outro vira fonte de angústia, que tal entregarmos o livre-arbítrio afetivo a um aplicativo que faça combinações genéticas? Mas, por trás de toda fortuna há um crime. E por trás de todo “match” uma mentira.

segunda-feira, março 22, 2021

'Trem do Funk': bomba semiótica expõe hipocrisia da cobertura midiática da pandemia


Na pandemia não podemos aglomerar por diversão, mas podemos apinhar no transporte público para trabalhar... claro, seguindo todos os “protocolos”. Então, se só podemos aglomerar em trens e ônibus, que tal uma balada no transporte público? Uma bomba semiótica do tipo autoignição (de combustão espontânea) foi detonada pelo “Trem do Funk da Antiga”, flash mob em um vagão dos trens da Supervia, Rio de Janeiro. Muita bebida, DJ e a maioria sem máscara. Mas com uma astúcia irônica que expôs a hipocrisia da cobertura midiática da pandemia: uma narrativa moralista na qual se expor no transporte público para trabalhar é moralmente mais correto do que para se divertir. Aglomerar para beber, dançar e ouvir música é ilegal porque não produz mais-valia, como em ônibus e trens apinhados diariamente levando gente ao trabalho. As massas não são nem sujeito nem objeto. São ardilosas. A comunicação da esquerda deveria aprender um pouco com essas bombas semióticas espontâneas.

quinta-feira, março 18, 2021

O fantasma de Karl Marx ronda a cobertura midiática da pandemia e o 'lockdown tabajara'


A famosa abertura do “Manifesto Comunista” (“um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo”) repete-se em inúmeras paráfrases desde que foi escrito. E a última é proporcionada pela forma como a grande mídia vem cobrindo a crise econômica e humanitária provocada pela pandemia no País. Aglomerar para se divertir não pode! Mas ficar apinhado em ônibus e trens para trabalhar é tolerável... O Governo deve liberar o auxílio emergencial? Sim, mas desde que dentro do estreito limite do “teto de gastos”. O que está por trás desse duplo vínculo esquizoide do jornalismo corporativo? Daí ressurge mais uma vez o fantasma de Karl Marx e sua obra “O Capital”: esse malabarismo retórico em cada telejornal é a expressão da própria tensão da reprodução do capital criada pela pandemia com a necessidade de manter o fluxo da produção de mais-valia e valor num cenário de restrições econômicas e isolamento social. O resultado é o “lockdown tabajara”.

segunda-feira, março 15, 2021

Covid exploitation: o Mal e o demasiado humano em 'Host' e 'Safer at Home'


Se a Web 1.0 nos deu a “Bruxa de Blair” (1999) e o subgênero “found footage”, a Web 2.0 lança a “covid exploitation”: uma série de filmes que, em meio à pandemia global, exploram as mazelas humanas que aparecem na comunicação espectral: redes sociais e vídeo chats que simulam as relações presenciais em meio ao isolamento social. O diretor britânico Rob Savage e o americano Will Wernick despontam como principais expoentes nesse subgênero. Os filmes “Host” (2020) e “Safer at Home” (2021) são narrativas metalinguísticas através das janelas de web chats – em “Host” uma entidade mortal invade uma espécie de Tábua de Oija virtual pelo Zoom; e em “Safer at Home”, a nova variante Covid-22 mata milhões enquanto jovens comemoram aniversário pelo Zoom consumindo uma droga sintética que virou febre durante a pandemia nos EUA. Então a paranoia, medo e suspeita de crime toma o lugar da festa através do vídeo chat. 

sexta-feira, março 12, 2021

O real, o imaginário e o simbólico no xadrez da guerra semiótica da "libertação" de Lula


O quê mudou na correlação de forças para que Fachin anulasse as condenações de Lula. As ruas estão tomadas de protestos contra o governo como no Paraguai? Estamos à beira da sublevação das massas? Caminhoneiros estão à beira da paralisação nacional? Nada. Acompanhamos apenas a realização da profecia do ministro Lewandowski feita em 2014: “o século XXI é o século do Poder Judiciário”. É a judicialização da política, até aqui o principal vetor dos movimentos políticos para manter esquerda e oposições no torniquete, com a estratégias híbridas de movimento em pinça e controle total de espectro. Dentro do consórcio com a grande mídia, a “libertação” de Lula forma o xadrez da guerra semiótica que deve ser compreendida em três níveis: o real, o imaginário e o simbólico.

terça-feira, março 09, 2021

Narrativa e Imaginário no ardil da bomba semiótica de Fachin contra Lula



“Mandela libertado!” Muitos reagiram dessa maneira diante da decisão do ministro Fachin de anular os três processos contra Lula, produzindo como efeito prático o retorna da elegibilidade do líder petista. Antes dos espíritos mais ingênuos comemorarem, é necessário entender a decisão do ministro no xadrez da guerra híbrida: foi uma decisão calculada como uma bomba semiótica – deu a deixa para a grande mídia construir a NARRATIVA e o IMAGINÁRIO, para as quais toda bomba semiótica faz a ligação. Narrativa: jogar os pobres apresentadores e analistas na fogueira, ao vivo, nos canais fechados durante a tarde para construir, na base do acerto e erro, a narrativa para os líderes de opinião. E à noite, na TV aberta, irradiar para o povão o imaginário: a notícia costura com muitas imagens de arquivo com Lula colérico e trajando vermelho. 

segunda-feira, março 08, 2021

China nega que está fazendo uma 'máquina do tempo' em meio a sincronismos


Vazado de uma plataforma de informação de financiamentos, uma apresentação em Power Point detalha um estranho projeto envolvendo o laboratório estatal de física de partículas da China e uma startup chinesa chamada Ruitai, intitulado “Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo” que seria utilizado para “viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc.”. Será que a reação de uma superpotência em desmentir o projeto de forma tão rápida e veemente entraria nos anais do “não há nada para ver aqui”? O fato é que essa notícia esta cercada de sincronismos: em 2011, o governo já havia proibido a produção de filmes sobre viagem no tempo no país. Além de que, desde o início da civilização chinesa, prever, dominar o futuro e subjugar o tempo foram os objetivos estratégicos principais - Fo-Hi (mítico imperador da China e considerado o mestre do tempo) criou o “I Ching” ou “O Livro das Mutações”, forma de entender as diversas ramificações do tempo, lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Em postagem anterior, em 2011, este Cinegnose noticiava que autoridades chinesas estavam proibindo a produção de filmes sobre o tema viagem no tempo, no ano do 90o aniversário do Partido Comunista chinês. Na oportunidade, discutíamos a notícia no sentido estrito da linguagem cinematográfica: o governo chinês cobrava produções audiovisuais e cinematográficas com maior realismo, seja no campo ficcional ou documental. E temas de ficção como viagem no tempo seriam por demais “escapistas” – clique aqui.

Agora, de uma maneira sincrônica, novamente temos uma notícia que envolve o governo chinês com o tema da viagem no tempo. Porém, agora no sentido literal!

O maior laboratório estatal de física de partículas da China refutou de forma enfática uma informação que passou a circular a partir de uma apresentação em Power Point vazado on line de uma plataforma de informação de financiamentos Tourongjie. O documento sugere que o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências estaria fazendo parceria com a Ruitai Technology Development Technology Co. em algo chamado "Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo".




O noticioso chinês The Paper Journalist, via 6Park News, vazou as informações do projeto com uma seguinte descrição do aparelho:

O dispositivo pode distorcer o tempo e o espaço, controlar a taxa de fluxo do tempo, romper a barreira do tempo e do espaço e pode ser amplamente utilizado para viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc. O projeto planeja selecionar um local na China, e arrendar uma área de cerca de 16 acres para construir uma base de experimentos científicos. Espera-se que o dispositivo seja capaz de transportar com sucesso o experimento espaço-tempo de 7 a 12 meses após os fundos estarem disponíveis.

O PowerPoint também afirma que a equipe por trás do projeto "chegou a um acordo de cooperação preliminar com uma equipe de pesquisa e desenvolvimento composta por renomados especialistas e acadêmicos do Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências", e que o Prêmio Nobel Charles Kao “reconheceu e elogiou” o dispositivo, além de outros conceituados cientistas como Li Jing, Zhao Guangheng e Niu Shuqiang.



De acordo com o plano, a Ruitai pretendia levantar US $ 200 milhões (US$ 30,9 milhões) para o projeto que estava "conservadoramente" avaliado em US$ 838,2 bilhões. 

Não muito tempo depois que o documento do PowerPoint vazou, o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências emitiu um comunicado negando veementemente seu envolvimento no projeto:

Não é verdade que nosso instituto e a 'Shanxi Ruitai Technology' mencionada no artigo Development Technology Co., tiveram algum contato ou cooperação, e nossa empresa não assumirá qualquer responsabilidade legal por quaisquer perdas causadas por sua falsa propaganda. 

A Ruitai também negou seu envolvimento com a estatal chinesa. A empresa alegou que a plataforma de informações de financiamento “gerou por engano” a apresentação, o que faz a Ruitai encerrar a cooperação com a plataforma, como informou o presidente Guo Weiwei, segundo o Chongqing Morning News – clique aqui

Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa


“Não há nada para se ver!”

Será que a China está construindo uma máquina do tempo? A notícia gerou muitas piadas e memes geeks nas redes sociais como, por exemplo, que se a China tem a tecnologia 5G é porque teria roubado dos americanos no futuro para trazê-la ao presente...

Para além desse folclore, jornalistas como Caroline Delbert, da revista norte-americana de ciência e tecnologia Popular Mechanics, considerou a estranheza de um desmentido tão rápido e veemente de um laboratório estatal: entraria nos anais do “não há nada para ver aqui!” – clique aqui. Quando uma superpotência faz um esforço especial para negar que está fazendo algo, o desmentido passaria a ter uma natureza ambígua. Produzindo uma espiral especulativa. Um plano de negócios em uma apresentação supostamente gerado “acidentalmente” e “vazado” por uma plataforma de informações de financiamentos poderia gerar uma negação tão forte de uma superpotência?

A estranheza é que nem mesmo diante da “teologia do COVID-19” espalhado pela mídia ocidental (um vírus chinês que se espalhou pelo mundo) o governo chinês foi menos enfático em desmentir ou criar sua própria narrativa do que veículos noticiosos do Japão e Taiwan que começaram a levantar evidências de que o novo coronavírus teria sua origem nos EUA – clique aqui. Menos enfático do que o atual desmentido de um vazamento de em estranho plano de negócios vazado na Internet.

I Ching e o mestre do tempo

Além desse sincronismo do governo proibir o tema específico “viagem no tempo” na produção fílmica e televisiva em 2011 e, agora, o vazamento de um estranho plano de negócios em torno da construção de “túnel no espaço-tempo” com uma startup chinesa, temos outra conexão sincrônica: tudo ocorre num país que que sempre se interessou muito mais pelo tempo do que pelo espaço – a geometria só entrou na cultura chinesa por meio de missionários ocidentais.



Algumas das teorias sobre o tempo datam  de mais de três mil anos e atualmente retomada por cientistas chineses. Esse conhecimento milenar afirma que o espaço não existe e que os objetos podem atuar uns sobre os outros a distâncias absolutamente fantásticas. Lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Portanto, prever e dominar o futuro e subjugar o tempo forma desde o início os objetivos da civilização chinesa.

Fo-Hi, a enigmática personalidade (imperador da China que pertencia ao reino Xia), foi considerado o mestre do tempo pelas crônicas chinesas dando a data do seu nascimento entre 5000 e 5000 A.C. 

Ele foi o criador do I Ching ou O Livro das Mutações. A tradição atribui a Fo-Hi a aplicação de oito trigramas essenciais de forma a desvelar fenômenos celestes que se desenvolvem na natureza, e tudo compreender. Esses trigramas compreendem duas linhas fundamentais: a linha contínua que representa o céu (yang) e a linha quebrada que representa a terra (yin).

I Ching  foi concebido para ser uma ferramenta à disposição do homem para desvendar as ramificações do tempo e basear suas ações nas informações no mais profundo inconsciente coletivo. O curioso é que a base do I Ching corresponde à moderna concepção quântica do tempo: a cada ponto do seu percurso, o tempo se separa em ramificações diferentes, das quais poderíamos dispor segundo a nossa vontade. Consequentemente, o Livro das Mutações fornece orientações para a escolha de uma decisão, de uma das ramificações do tempo.

Pela sua importância, foi estudado por Confúcio, pelo filósofo Leibniz, pela psicologia profunda de Carl Jung. O I Ching teria servido igualmente ao almirante japonês que tomou a decisão para o ataque a Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial.

I Ching teria sido a primeira conquista do tempo pelo homem. Para Jung, as escolhas em torno dos 64 hexagramas que compõem o I Ching seriam comandadas pelo fenômeno da sincronicidade – determinados eventos se influenciam também perpendicularmente a um fluxo temporal, como ondas produzidas na água por um navio, cujas ondas podem perturbar a trajetória de outros navios, ou de outras ondas.

Portanto, seria mera coincidência ou sincronismo  essas especulações em torno de um misterioso projeto de viagem no tempo justamente numa potência geopolítica tão obcecada pelo controle tático e político do tempo? 

Com informações de Popular Mechanics, Yicai Global, The Debrief, Planeta, Weird Theory, 6Park News.

 

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domingo, março 07, 2021

Série 'L'Effondrement: a Colapsologia está entre a razão e a barbárie



A Colapsologia, área transdisciplinar que estuda as consequências de um possível colapso global ambiental, econômico ou social, ganha cada vez mais adeptos na França. Inspirado na Colapsologia, o “Collective Parasites” escreveu a minissérie “L'Effondrement” (“O Colapso”, 2019), produzido pelo Canal + da França: oito episódios que se desenrolam alguns dias após uma misteriosa crise que fez com que a França (e provavelmente o mundo todo) desabasse, mostrando a escalada de horror que engolfa a sociedade e destrói as noções de civilização, substituindo-as pelo “salve-se quem puder”. A ironia é que da França, berço filosófico da Razão e Iluminismo, surge uma série com virtuosismo técnico realista e cruel mostrando como a racionalidade Ocidental gerou o seu oposto: a barbárie.

sexta-feira, março 05, 2021

Editor do Cinegnose discute conexões Gnosticismo e Guerra Híbrida em aula aberta


Nessa próxima terça-feira, às 19h30, este humilde blogueiro participará de aula aberta de introdução ao curso “inFormação Transaberes”, ao lado dos pesquisadores e professores Nelson Job e Eduarda Souto Maior. Na pauta, transaberes, guerra híbrida, bombas semióticas e gnosticismo.  Abordarei as conexões entre a filosofia gnóstica e a Nova Teoria da Comunicação como ferramentas para compreender as novas formas de operações psicológicas de controle da narrativa e do imaginário das massas em sociedades alvos de guerras híbridas. Faça sua inscrição gratuita!

quinta-feira, março 04, 2021

Uma sátira às boas intenções ambientalistas no filme 'Pequena Grande Vida'


A emissão de gases intensifica o efeito estufa? Os recursos naturais estão se esgotando?  O lixo doméstico ameaça a saúde do planeta? Da Noruega surge a solução: reduzir o tamanho das pessoas a doze centímetros, espalhando cidades miniaturizadas sustentáveis que reduziriam o impacto humano no planeta. Além de isenção de impostos e proporcionar uma vida de milionário. Esse é o filme “Pequena Grande Vida” (“Downsizing”, 2017), uma sátira ao discurso ambientalista, sempre cheio de boas intenções, mas cujas soluções  acabam reproduzindo os velhos problemas da ecologia humana: a reprodução da desigualdade e a concentração de riqueza. 

terça-feira, março 02, 2021

'Bolsocaro': a bomba semiótica lambe-lambe anticíclica


Desde a antessala da fase aguda da guerra híbrida (as “Jornadas de Junho” de 2013) este Cinegnose vem insistindo na necessidade de a esquerda também jogar no mesmo campo simbólico através de uma guerrilha anti-mídia através de bombas semióticas que criem acontecimentos comunicacionais que vão além das simples sinalização ou informação. Um exemplo de que ainda há esperança no front é a campanha “Bolsocaro”, iniciada por ativistas anônimos: neste domingo surgiram em diversos pontos cartazes lambe-lambe, emulando aquelas placas de ofertas de supermercados. Porém, pedestres e motoristas são informados das altas dos preços dos combustíveis, alimentos e gás. Ativistas deixam a Internet para buscar forma direta de comunicação, criando tática anticíclica: ir contra a pauta cultural e de costumes da grande mídia e extrema direita, descendo para o “chão da fábrica”: a luta de classes.

sábado, fevereiro 27, 2021

Nos abismos metalinguísticos e gnósticos da série 'WandaVision'


Não fosse a vinheta que abre cada episódio, com o logotipo da Marvel Studios e o desfile da galeria de super-heróis acompanhado de uma orquestração épica, acharíamos que estamos assistindo à série errada – saem super-heróis esculpidos de forma épica, violência bombástica e música enfática sinalizando alguma reviravolta catastrófica, e temos agora elementos gnósticos e psicanalíticos para narrar os traumas interiores de um super-herói. A série “WandaVision” (2021- ) coloca, dessa vez, dois super-heróis do Universo Marvel (a  Feiticeira Escarlate e Visão) nos abismos metalinguísticos de um pastiche das sitcoms dos anos 1950 e 1960, explorando altos conceitos já vistos em produções como “A Vida em Preto e Branco” (“Pleasantville”) e “Show de Truman”.

quinta-feira, fevereiro 25, 2021

'Wokexploitation' e tautismo são ciladas do BBB21 na guerra semiótica

Poucos lembram que o reality show “Big Brother” foi inspirado num experimento científico mal sucedido de 1992 chamado Biosfera 2: oito “tripulantes” confinados numa estrutura isolada do exterior monitorados 24 horas por câmeras, tendo que retirar ar e alimentos dos animais e vegetais daquele meio ambiente simulado. Porém, baratas (muitas baratas!) e ervas daninhas acabaram com tudo. Mas o que foi fracasso vira oportunidade na versão midiática do experimento: a “ecologia maléfica” vira “wokexploitation”: saem baratas e entram as mazelas sociais e humanas como show. Todos os lados do espectro político tentam tirar alguma lição das eliminações (como a rejeição recorde de Karol Konká). Porém o BBB é mais bem sucedido do que foi o Biosfera 2: criou um sistema tautista (tautologia + autismo midiático) onde nenhuma máscara cai ou lição moral é ensinada, tornando-se apenas um dispositivo de sequestro de pauta para, principalmente, a esquerda cair. A única coisa real no BBB é a ecologia maléfica colocada a serviço da guerra semiótica.

segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Mitologia brasileira alcança a maioridade na série 'Cidade Invisível'



Estamos acostumados a ver a mitologia brasileira representada por simpáticos personagens infantilizados em HQs e animações ao ponto de que a assustadora Cuca vira uma cantiga para ninar bebês. Porém, a série brasileira da Netlix “Cidade Invisível” (2021- ) quer mudar essa visão amenizada e fofa ao misturar thriller policial, o drama arquetípico do detetive noir e o fantástico (a mitologia brasileira de Cuca, Saci-Pererê, Curupira etc.). Investigando as circunstâncias da morte da sua esposa, um policial ambiental cai pelo buraco da toca do coelho e descobre um underground mítico que sobrevive no centro urbano brasileiro: entidades da mitologia brasileira escondendo-se em outras identidades para resistirem a uma maldição que quer exterminá-los. Além da Modernidade que desencanta o mundo, “Cidade Invisível” constrói uma metáfora política: a modernidade periférica que não quer apenas amealhar mais lucro, mas também destruir a mitologia e identidade nos quais se funda uma nação.

sábado, fevereiro 20, 2021

Tática híbrida de 'dispersuasão' cria bomba semiótica da prisão do deputado Rambonaro


O ministro Fachin responde às revelações do general Villas Bôas que irrita o “rambonaro” deputado Daniel Silveira que, por sua vez, pilha o ministro Alexandre Moraes que o manda prender e faz tocar o alarme da grande mídia que leva o presidente da Câmara dos Deputados falar em “momento delicado das instituições”, cuja repercussão midiática retroalimenta esse sistema de irritações, pilhas e, por que não dizer, hormônios. Uma cadeia de ação e reação tão sincronizada que até parece que foi planejada dentro de alguma sala secreta de conspirações. Esse é o gênio da guerra híbrida: criado o tabuleiro, todos começam a fazer lances no piloto automático dentro de um sistema autopoiético de bombas semióticas de causa/efeito – um sistema aparentemente caótico,  porém com um sentido, a “dispersuasão”: quando o consórcio STF-Mídia-Mercado entra no modo alarme, as peças do tabuleiro são provocadas, agindo e reagindo, em retroalimentação, criando um aparente caos capaz de dispersar as oposições e opinião pública.

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Jornalismo sentado (e deitado) e a bomba semiótica do livro do general Villas Bôas



O livro do general Villas Bôas é muito mais uma bomba semiótica de contrainformação do que uma ameaça real, como teme a grande mídia: três anos depois repercute o tuite do general fazendo ameaças veladas ao STF no julgamento do habeas corpus de Lula. Analistas temem “tensões” e “rupturas institucionais”. Porém, são imaginárias porque elas já aconteceram: o golpe militar já houve e não foi noticiado, golpe híbrido (operação psicológica) iniciado em 2008 com a “cabeça de ponte” da questão indígena de Raposa Terra do Sol. Um livro laudatório, orgulhoso pelo sucesso da operação e, ao mesmo tempo, destinado aos jornalistas sentados (e deitados) como revela o ato falho da chamada do programa “Cobertura Especial de Domingo” da Globo News – a hegemonia dos jornalistas que trabalham sentados (e deitados, como mostra a chamada) diante de telas e que perderam o faro investigativo dos que trabalhavam em pé, em campo. Jornalistas que mordem qualquer isca. Até mesmo um Programa de Imunização, sem cronograma ou vacinas. 

domingo, fevereiro 14, 2021

Editor do Cinegnose discutirá bombas semióticas na guerra híbrida no curso 'inFormação'


Este editor do Cinegnose participará de uma das aulas do curso on line “inFormação”, curso livre promovido pelo coletivo Transaberes do Rio de Janeiro. Este editor apresentará o tema “Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira” como “acontecimento comunicacional”: como as atuais estratégias híbridas de comunicação política convergem vetores semióticos, cognitivos, fenomenológicos, que resultam em “contínuos atmosféricos” – climas, ondas de choque, sensação de tendências e percepções de unanimidades. O curso contará com aulas de março a novembro – dois encontros por mês, sempre aos sábados abordando o espectro transdisciplinar do conhecimento e de práticas experimentais de campos diversos como Filosofia, Conhecimento Esotérico, Meditação, Psicologia, Física, Cosmologia, Arte e Estética, História e Ciências da Comunicação.

sexta-feira, fevereiro 12, 2021

A solidão do Universo simulado no documentário 'A Glitch in the Matrix'



Muitos antes do filósofo Jean Baudrillard denunciar que o mundo estava dominado pela hiper-realidade dos simulacros, as irmãs Wachowski fazerem a “Trilogia Matrix” e o filósofo e matemático Nick Bostron lançar a suspeita de que o Universo poderia ser uma simulação (fazendo físicos e astrofísicos correrem atrás de provas), o lendário escritor Philip K. Dick defendia para uma audiência atônita, em 1977, que vivemos numa realidade programada por computador. Na verdade, apenas um dos diversos mundos simulados. Baseado na filmagem dessa palestra de PKD em Metz, França, o diretor Rodney Ascher (“Room 237”) lançou o documentário “A Glitch in the Matrix” (“Uma Falha na Matrix”, 2021) no qual entrevista cientistas, artistas digitais e pesquisadores. Ascher não quer tanto entender a lógica da teoria, mas entender o que leva as pessoas a acreditarem na hipótese da simulação: solipsismo? Solidão? Algum mal-estar espiritual entre o Céu e a Terra? 

terça-feira, fevereiro 09, 2021

A recorrência da teoria do universo como game de computador em 'Bliss: Em Busca da Felicidade'


O cineasta Mike Cahill (“Another Earth” e “I Origins”) é obcecado em discutir as linhas que separam a ilusão da realidade. E a produção da Amazon Prime “Bliss: Em Busca da Felicidade” (2021) não é diferente: recém-divorciado e após receber o comunicado de demissão do seu chefe, Greg se vê num abismo emocional até conhecer uma misteriosa mulher sem-teto que tenta convencê-lo de que o mundo ao seu redor não passa de uma simulação computacional. Ao lado de “Wanda Vision” e do documentário “A Glitch in The Matrix”, é o terceiro lançamento nesse início de ano sobre o tema do universo como um game de computador. Qual sintoma cultural pode representar essa recorrência temática em tão poucas semanas?

domingo, fevereiro 07, 2021

Vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança em 'Todos os Meus Amigos Estão Mortos'


“Vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança”, estava escrito no portal de entrada no Inferno na “Divina Comédia” de Dante Alighieri. E deveria ser a epígrafe de qualquer “slasher movie”: Por que ritos de sacrifício têm que ser repetidos a cada filme do gênero? Por que jovens que fazem sexo e se divertem sempre morrem com requintes sádicos? Por que os jovens e adolescentes são as vítimas principais de um filme “slasher”? “Por que vocês são jovens!”, respondia Sigourney Weaver em “O Segredo da Cabana”. Da mesma forma, com muito humor negro, responde a produção polonesa Netflix “Todos os Meus Amigos Estão Mortos” (2020). No final de uma festa de reveillon, policiais e paramédicos encontram o resultado de um verdadeiro banho de sangue, com apenas uma sobrevivente. O que aconteceu naquela celebração de jovens e adolescentes? O filme brinca com todos os lugares comuns do gênero, principalmente o seu clichê essencial: a “quebra-da-ordem-e-retorno-à-ordem”, rito de passagem para colocar os adolescentes sempre na linha. 

quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Drogas sintéticas análogas e a persistente ilusão do tempo no filme 'Synchronic'


Drogas sintéticas análogas são uma febre no EUA nesse momento de isolamento social, com números recordes de overdose – são análogas às drogas ilegais, mas com uma ligeira modificação molecular que permite a “legalidade”, podendo causar efeitos imprevisíveis. E se um desses efeitos for um estado alterado de consciência que permita ao usuário viajar brevemente no tempo? Junte essa experiência com a teoria do “Bloco Universal” de Bradford Skow, professor do MIT (a coabitação do passado, presente e futuro no mesmo contínuo tempo-espaço), e teremos o filme “Synchronic” (2019): dois paramédicos encontram estranhas mortes no turno da noite, todas envolvendo uma nova droga chamada “Synchronic”. Seus efeitos trarão efeitos devastadores em suas vidas: a ruptura da ilusão do tempo.

segunda-feira, fevereiro 01, 2021

Necropolítica e Necrocapitalismo: editor do 'Cinegnose' duplamente marcado para morrer

Esse humilde blogueiro é aposentado e está desempregado. Portanto, duplamente marcado para morrer. Pode parecer uma afirmação retórica, mas pesquisa divulgada pela jornalista Eliane Brum no “El País” revelou a existência de uma estratégia institucional de propagação do vírus, promovida pelo Governo brasileiro sob a liderança da Presidência da República. A Reportagem é um ponto fora da curva do atual script midiático que descreve a gestão da pandemia como “incompetente” e “negligente”. Não, é intencional e eficiente! Segue a agenda da convergência da pandemia com o “Grande Reset do Capitalismo” planejado pelo Fórum Econômico Mundial - estratégias de “Necropolítica” (Mbembe) e “Necrocapitalismo” (Tyner) de eliminação calculada do excedente populacional “redundante”. Acharam Bolsonaro, o homem certo no lugar certo: em 2003, na Câmara dos Deputados, defendia a eliminação dos pobres através do controle de natalidade. Agora, tem em mãos arma mais eficiente: a disseminação institucional de um vírus. Manter-se simplesmente vivo virou um ato de resistência.

terça-feira, janeiro 26, 2021

A fé é uma bomba semiótica da guerra híbrida na série "Messiah"


Certamente a série “Messiah” (2020), produção original da Netflix, é uma das produções audiovisuais recentes que melhor detalha o fenômeno de psicologia de massas de como fé, religião e propaganda podem intencionalmente convergir numa bomba semiótica capaz de aglutinar as dores individuais em um denominador comum, criando um sentido coletivo: o acontecimento comunicacional. Surge um homem misterioso em pleno ataque do Estado Islâmico na Síria, que a pessoas acreditam ser o verdadeiro Messias. Ganha as manchetes internacionais para reaparecer nos EUA e provocar comoção cultural e política. Uma farsa? Um terrorista cultural? Mas se for verdade, é um Messias do quê? Católicos, Evangélicos, Muçulmanos, Judeus, CIA, FBI, governos de Israel, EUA, Estado Islâmico, Hamas, cada qual cria interpretações numa espiral alucinante. Provocando polarização, confusão e caos político e social. Os reais objetivos de uma Guerra Híbrida. Mas de quem? Da Rússia? De algum trabalho interno do próprio governo norte-americano? Ou será mesmo o final dos tempos?

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