terça-feira, janeiro 17, 2017
Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua
terça-feira, janeiro 17, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Se no passado falar que o homem jamais pousou
na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do
Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual
com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de
produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo
Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart
Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar
sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick
envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos
anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele
momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos
envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de
lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de
cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque
vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente
comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos
astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho
da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"
segunda-feira, janeiro 16, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certo dia um cientista do MIT criou um
“computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas
digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando
como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando
horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais
íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia
toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que
controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma
das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis.
Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a
fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo
real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às
vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.
sexta-feira, janeiro 13, 2017
O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida
sexta-feira, janeiro 13, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
“Mudança de pensamento”. “Reflexo das
pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova
vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida,
decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas
e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer
digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de
uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial
e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora
transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um
sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é
binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre
foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel
decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o
Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e
hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela
diferença cambial.
quinta-feira, janeiro 12, 2017
A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"
quinta-feira, janeiro 12, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Era uma vez o colapso econômico da antiga
União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado,
seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”:
manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam
a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida
como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática
copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro
de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal
ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas
pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente”
chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC
“HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história
de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas
desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso,
corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.
terça-feira, janeiro 10, 2017
David Bowie: a morte mais bem encenada do rock
terça-feira, janeiro 10, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o
futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso
Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente
do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de
artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez
John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas,
estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a
própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia
irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a
própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e
vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do
aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências
pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda
está vivo...
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Curta da Semana: "Reset" - nada é o que parece
segunda-feira, janeiro 09, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No curta sueco “Reset” (2013) nada é o que parece. Uma amorosa mãe lê rotineiramente para a filha cartas de um pai ausente que promete retornar em breve ao lar. Uma fazenda remota e isolada do resto do mundo guarda um mistério que, para ser resolvido, dependerá que a menina compreenda o sentido de estranhos códigos numéricos. Um surpreendente drama alusivo às mitologias gnósticas sintetizado em 16 minutos – a mitologia do retorno de Sophia à Plenitude, a função consoladora e ilusória das religiões para nos manter esperançosos dentro de uma prisão e a diversidade de mundos simulados.
domingo, janeiro 08, 2017
Em "Don't Blink" podemos ser apagados como fotogramas em um filme
domingo, janeiro 08, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
À primeira vista, “Don’t Blink” (2014) é mais
um filme sobre um grupo de jovens que se hospeda em uma cabana em algum lugar
remoto para serem punidos por seus vícios e pecados, por algum serial killer.
Mas estamos no terreno do horror independente e nada é o que parece: sem
explicações um a um começa a desaparecer assim que o grupo tem a atenção desviada ou
simplesmente fecha os olhos. Mais um filme inspirado no misterioso
desaparecimento, sem deixar qualquer rastro, de uma colônia inteira no início
da colonização dos EUA em 1587. Filmes como “O Mistério da Rua 7” e adaptações
de Stephen King como “A Tempestade do Século” e “A Fenda no Tempo” (“The
Langoliers”) também exploraram esse misterioso acontecimento, cada um com sua
própria interpretação. “Don’t Blink” discute as consequências morais (o que
você faria, sabendo que desapareceria nas próximas horas?) e deixa uma série de
pistas narrativas para o espectador montar sua própria explicação. De uma hora
para outra poderíamos ser arbitrariamente apagados como se a realidade fosse um
conjunto de fotogramas, assim como o cinema? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Os 10 filmes mais estranhos de 2016
sexta-feira, janeiro 06, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Esqueça os filmes oscarizáveis e assista a uma lista de filmes com “estranhas” narrativas: um cadáver flatulento que evita o suicídio de um náufrago, a filha de Deus que hackeia o computador divino para se vingar do Pai, uma mulher grávida de um vírus fetal e dois filmes sobre salsichas sencientes: um sobre homens-salsicha nazis que invadem uma cidadezinha no Canadá para serem enfrentados por protagonistas que utilizam o poder da Yoga; e outro sobre salsichas em um supermercado que questionam a religião que esconde o terrível destino – no “Grande Além” serão comidas pelos próprios deuses que veneram. São os chamados “filmes estranhos” (“weird movies”) que exploram o duplo sentido da palavra “weird”: “destino” e “surreal, estranho”. Muitos deles aproximam-se da noção de “filme gnóstico” pela forma como desconstrói conceitos religiosos, morais e a própria percepção daquilo que chamamos de “realidade”. Para o leitor, uma lista do “Cinegnose” com os 10 melhores Filmes Estranhos de 2016.
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Tautismo fonoaudiológico da Globo quer legitimar capitalismo de desastre
quarta-feira, janeiro 04, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Depois de entrar em metástase e, a partir das
“hardnews” dos telejornais, contaminar o jornalismo esportivo, teledramaturgia
e entretenimento, encontramos uma das origens da doença do tautismo (autismo +
tautologia) da TV Globo: o método fonoaudiológico responsável há décadas pela fala dos atores, repórteres,
radialistas e âncoras da emissora. É o chamado “Método do Espaço Direcional”
cujas estratégias vocais reforçam subliminarmente a descrição que a Globo faz
de si mesma - a crença de um destino manifesto que na fase metastática atual assume um delirante messianismo religioso: tons de voz graves, ressonância e
ritmo da fala cada vez mais lúgubres e patibulares dos âncoras como se a Globo testemunhasse algo que já foi profeticamente gravado a ferro e fogo nas pedras
da História desde tempos imemoriais: “Vejam, já estava escrito!”. Cânone do “Método”, é sintomático que
Cid Moreira tenha virado um apóstolo bíblico que decidiu levar o Evangelho “até
os últimos dias”. Afinal, esse é o subtexto diário das inflexões de voz dos
apresentadores globais que procuram conformar os telespectadores ao atual
“capitalismo de desastre” implantado no País.
terça-feira, janeiro 03, 2017
O Gnosticismo politicamente incorreto em "Festa da Salsicha"
terça-feira, janeiro 03, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Uma das teses do Cinegnose é que as animações
atuais cada vez mais exploram temas gnósticos de desconstrução da realidade.
Afinal, em relação aos filmes live action, as animações são meta-ilusões dos movimentos reais criadas pela ilusão do desenho e computação gráfica. “Festa da Salsicha” (“Sausage
Party”, 2016) leva essa tendência às últimas consequências. Alimentos
antropomorfizados em gôndolas de um supermercado estão imersos em uma religião
na qual acreditam que serão escolhidos por “deuses” (os clientes do
supermercado) e levados para o “Grande Além”. Lá viverão na paz e amor, em
comunhão com os “deuses”. Mas a religião esconde um destino cruel: os deuses
são monstros insaciáveis que comem alimentos para ficarem fortes. Uma comédia
politicamente incorreta e desbocada na qual o espectador cria forte
empatia com o drama das salsichas – será que vivemos também em um gigantesco
supermercado? Como elas, também partilhamos de ilusões religiosas apenas porque
nos tornam felizes e otimistas?
sexta-feira, dezembro 30, 2016
Cinco filmes para ver depois do Ano Novo
sexta-feira, dezembro 30, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cinco filmes sobre o Ano Novo para ver depois das comemorações do Ano Novo. Filmes que vão do humor politicamente incorreto, humor negro ao pessimismo filosófico e o próprio fim do mundo. Filmes que nos fazem pensar sobre as principais instituições que envolvem essas festas: a contagem regressiva, as promessas para o próximo ano, o futuro e o passado. Rituais que cuidadosamente repetimos todo ano. Mas se o leitor quiser assistir antes das festas da virada de ano, é por sua conta e risco...
1. “200 Cigarrettes” – Ano Novo, cigarros e a geração MTV
O
filme “200 Cigarettes” (1999) é um programa oportuno para essa época de
comemorações do ano novo, pois nos faz refletir sobre o tempo e as mudanças
da cultura e identidade entre as gerações X, Y e Z.
Por
que na virada para o terceiro milênio, a MTV produziu um filme tão
nostálgico, cuja história se passa na noite de ano novo de 1981? “200
Cigarettes” é o testamento de uma geração que a MTV soube muito bem moldar,
aquela que acreditava que a própria vida poderia ser um vídeo clip.
Porém,
não esperava que a cultura punk DIY (Do It Yourself – “faça você mesmo”) que
ela ajudou a destruir com a cultura pop retornaria como vingança, dessa vez
renascida pela Internet 2.0. Mas o mal estar da incomunicabilidade permanece
porque os meios digitais se tornaram nada mais do que uma nova plataforma
comercial.
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2. Curta “Dinner For One” – tenha um final de ano politicamente incorreto
Por que TVs europeias,
principalmente alemãs, a cada 31 de dezembro exibem um velho curta em preto e
branco chamado Dinner For One, desde 1963? Alemanha, Leste Europeu e
países nórdicos exibem todo final de ano o curta original ou versões com um
humor mais politicamente correto.
Dinner For One
é a síntese da fleugma e humor negro inglês: uma senhora da alta sociedade
comemora seus 90 anos e um mordomo finge servir a convidados em uma grande
mesa de jantar com cadeiras vazias – são os lugares de amigos de outras
comemorações, já falecidos. Um bizarro mix de embriaguez involuntária, morte
e aniversário. Por que a cada final de ano os europeus continuam assistir
fascinados a esse estranho curta?
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3. “A Roda da Fortuna” – a gnose de Ano Novo
Vale a pena
assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos
irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos
parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será
passado.
Por isso, “A Roda da
Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos
de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre
presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas
promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que
tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos
que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.
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4. “Last Night” – Ano Novo e o fator humano no fim do mundo
Não sabemos como e
porque o mundo vai acabar à meia noite nas comemorações do Ano Novo.
Habitualmente nos filmes-catástrofes hollywoodianos temos muita ação,
destruição e explosões que acabam desviando a atenção do espectador do
sintoma cultural que representa a recorrência do tema fim do mundo no cinema.
Ao contrário, no
canadense Last Night (1998) a narrativa disseca uma variável que
nenhum filme-catástrofe desenvolve: o fator humano. No filme não há ônibus
espaciais, generais estressados ou cientistas heroicos. Apenas pessoas comuns
que tentam realizar seus últimos desejos antes do fim. E esses desejos
transformam-se em termômetro do mal estar cultural que estava por trás da
histeria midiática do “novo milênio” no final do século XX.
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5. “Lua de Fel” – quando a contagem regressiva do final de ano é uma bomba-relógio
Mais um final de ano e
outra contagem regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como
fosse uma bomba relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean
Baudrillard até chegarmos ao filme Lua de Fel (Bitter Moon,
1992) de Roman Polanski.
A poucas horas da
festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro triângulo
amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em
ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem destruído pela
paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se Polanski.
A aproximação que o
diretor faz dessa questão com a festa do réveillon, sugere uma resposta: a
percepção do tempo como bomba-relógio cria as doenças espirituais
contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
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quinta-feira, dezembro 29, 2016
Em "Lua de Fel" a contagem regressiva de fim de ano é uma bomba-relógio
quinta-feira, dezembro 29, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Mais um final de ano e outra contagem
regressiva para a meia-noite. Por que essa contagem, como fosse uma bomba
relógio? Essa é uma pergunta feita por pensadores como Jean Baudrillard até
chegarmos ao filme “Lua de Fel” (“Bitter Moon”, 1992) de Roman Polanski. A
poucas horas da festa de réveillon em um cruzeiro marítimo, forma-se um bizarro
triângulo amoroso entre um casamento que tenta sobreviver e outro que se transformou em ódio mútuo. Um flashback episódico da história de um homem
destruído pela paixão. “Por que as coisas boas nunca duram?”, pergunta-se
Polanski. A aproximação que o diretor faz dessa questão com a festa do
réveillon, sugere uma resposta: a percepção do tempo como bomba-relógio cria as
doenças espirituais contemporâneas: o niilismo e o hedonismo.
terça-feira, dezembro 27, 2016
Na série "The OA" a obsessão científica pelas experiências de quase morte
terça-feira, dezembro 27, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde “ET” e “Contatos Imediatos do Terceiro
Grau” Spielberg transformou os subúrbios de classe média dos EUA, com suas
bikes BMX e jovens aventureiros, em ícones da cultura pop, revividos de forma
retro em séries atuais como “Strange Things”. Na série Netflix “The OA” (2016)
esses ícones são retomados, porém de forma sombria: casas com famílias cada vez
mais vazias que tentam manter à força a coesão. Até surgir uma jovem que ficou
desaparecida por sete anos e mudar a vida de um grupo de inadaptados àquela
comunidade suburbana. Uma protagonista que sobreviveu a sucessivas Experiências
de Quase Morte (EQM) feitas por um cientista obcecado em provar cientificamente a
existência pós-morte. Mas por algum motivo ela pretende retornar àquele
pesadelo científico para recuperar alguma coisa de natureza espiritual que lhe
foi roubada. A série “The OA” é mais um exemplo de como o Netflix vem arriscando em
temáticas estranhas e gnósticas narradas em linguagens pouco convencionais.
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Seis filmes para pensar o Natal
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Em sete anos de existência o blog “Cinema
Secreto: Cinegnose” sempre quis homenagear o Natal com sugestões e análises de
filmes e curtas metragens que celebrassem com muito humor negro e surrealismo
não apenas a data festiva mas também a controversa figura do Papai-Noel.
Afinal, os leitores do “Cinegnose” merecem um olhar alternativo para uma data
tão previsível como um Roberto Carlos Especial de todo final de ano na TV. Aqui estão
seis sugestões de filmes que farão o leitor refletir sobre os simbolismos e
ícones natalinos.
Das crianças sírias ao atentado em Berlim o rastro dos não-acontecimentos
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Por que em fotos vemos policiais sorrindo no meio da tragédia da feira de natal em Berlim? De novo, um documento de identidade do terrorista encontrado na cena de um atentado? Outra vez, o autor do atentado era um conhecido pela polícia e agências federais de inteligência. Repete-se o roteiro dos atentados de Boston, Bataclan, Nice e Boate Pulse etc. – as mesmas anomalias, lacunas, ambiguidades, coincidências e sincronismos, sugerindo um tipo especial de “não-acontecimento”: o “meta-terrorismo” – ambiguidades narrativas propositalmente criadas para tornar virais vídeos e fotos. O mesmo acontece com as imagens das supostas crianças sírias vítimas da guerra naquele país. Reforçando a hipótese de que o atentado de Berlim, ao lado da guerra na Síria, faz parte de elaborada engenharia de percepção (não mais “de opinião”) pública – a exploração do emocional para criar um curto-circuito na análise racional e senso crítico.
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Estranho objeto cai na China e lembra filme "Show de Truman"
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
No dia 12 de dezembro moradores de um remoto
vilarejo no interior da China foram surpreendidos com um enorme estrondo. No
local, encontraram uma cratera em chamas e ao redor inúmeros fragmentos
metálicos. Entre eles um grande anel de metal no qual foram encontrados
letras e números gravados. Lixo espacial? OVNI? Nave extraterrestre? O irônico
é que o episódio faz lembrar da famosa sequência do filme “Show de Truman”
(1998) quando o protagonista é quase atingido por um objeto que cai do céu,
também com uma misteriosa inscrição, e que marca o início da descoberta de que
sua vida não passava de um gigantesco reality show televisivo. Até que ponto a
narrativa ficcional de Truman guarda analogias com a nossa vida supostamente
real? Nossas vidas e o planeta inteiro estariam, de certa forma, na mesma
situação do infeliz protagonista Truman Burbank?
terça-feira, dezembro 20, 2016
Tautismo da Globo ainda não engoliu vitória de Trump
terça-feira, dezembro 20, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A vitória de Donald Trump pegou de surpresa a
mídia internacional. Mas para jornalistas, comentaristas e colunistas da Globo
foi devastador. Colocou em xeque o tautismo (autismo + tautologia) da emissora
– a maneira pela qual a Globo interpreta a realidade que está além dos seus muros a
partir da descrição que ela faz de si mesma. O triunfo de Trump parece que
desmentiu o que a emissora entende como o seu destino manifesto: cobrir como a
História cria fatos exclusivamente para a Globo transmitir. Mas o que acontece
quando a História contraria as apostas da emissora? Tenta encaixar aquilo que é
dissonante no seu roteiro, projetando nos outros países as mazelas
brasileiras que a própria Globo ajuda a criar. Torce para que o roteiro
pré-fabricado pela emissora também dê certo nos outros países. Um roteiro dividido em
três atos: o “clima de incertezas”; o “caos”; e a “virada de mesa”. Com direito
a um ato adicional: a vidente que disse que Trump “será o fim”.
domingo, dezembro 18, 2016
Curta da Semana: "Monkey Love Experiments": amor, macacos e corrida espacial
domingo, dezembro 18, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Corrida espacial entre EUA e URSS nos anos
1960. Enquanto os americanos mandavam para o espaço macacos, na Terra um
cientista fazia cruéis experiências para estudar a privação do amor maternal e
social com filhotes de macacos rhesus. Essa situação paradoxal da Ciência
inspirou o curta “Monkey Love Experiments” (2014) que emula os famosos vídeos
das experiências do Dr. Harry Harlow sobre a natureza do amor. Um pequeno
filhote em sua cela agarrado a sua mãe artificial sonha em ser mais uma macaco
que será enviado para o espaço. O curta sugere duas discussões: os rituais de
sacrifício aos quais sociedade submete a infância; e como Ciência, para estudar
o amor, não deve amar o próprio objeto que estuda.
sábado, dezembro 17, 2016
Na série "Westworld" o labirinto da mente bicameral das máquinas e humanos
sábado, dezembro 17, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Um dos raros exemplos em que a refilmagem
supera o original – o filme de 1973 “Westworld – Onde Todos Não Têm Alma”
baseado no livro de Michel Crichton, criador do subgênero tecno-thriller depois
de se inspirar em uma visita que fez à NASA e Disneylândia em 1970. Mas a série
HBO “Westworld” (2016) foi além do filme clássico, ao associar o drama dos
“hospedes” humanos e “anfitriões” androides em um parque temático “high tech”
com a mitologia gnóstica, cientificamente baseada na arqueologia da consciência
do filósofo Julian Jaynes – a Teoria da Mente Bicameral. Diferente de 1973, a
série concentra-se na jornada espiritual interior dos androides, na busca da
consciência através de simbolismos xamânicos como o labirinto, a espiral e a
serpente: romper com a narrativa das linhas algorítmicas de programação como
uma voz externa divina e descobrir a narrativa interior em cada um de nós,
androides e humanos.
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Pesquisa coloca Brasil entre países mais "ignorantes" do planeta
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Certa vez o sociólogo francês Pierre Bourdieu
provocou: “a opinião pública não existe”. A pesquisa “Perils of Perception 2016”
(Perigos da Percepção) do instituto britânico Ipsos Mori parece confirmar isso:
na verdade a opinião confunde-se com percepção, assim como nos telejornais
atuais as notícias são confundidas com “sensações”, seja dos jornalistas ou dos
telespectadores. O resultado da pesquisa foi a criação do “Ranking da
Ignorância” – a distância entre a percepção que as pessoas têm da realidade em
que vivem e os dados oficiais de cada país. O Brasil ocupa os primeiros
lugares, atrás da Índia, China e EUA. Entre os países menos “ignorantes”,
Holanda e Coréia do Sul. Incapacidade de entender estatísticas, preconceito, atalhos
mentais, ignorância racional e o “poder das anedotas” das mídias estão entre os
fatores apontados pela disparidade entre percepção e realidade. Também há um
fator comum entre os países primeiros colocados: o monopólio midiático.
quarta-feira, dezembro 14, 2016
"Elle Brasil" une Cabala e Tecnognosticismo com modelo robô
quarta-feira, dezembro 14, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na edição de dezembro a revista de moda “Elle
Brasil” figurou na capa a robô Sophia, um dos projetos de inteligência
artificial mais avançados do mundo. Clicada pelo fotografo Bob Wolfeson, a
ideia do editorial era apontar versões para o futuro da indústria da moda. Mas
um robô vestindo roupas vitorianas nada mais fez do que revelar as arquetípicas
e milenares origens da Moda, Estilismo e manequins na longa tradição esotérica
e hermética da Teurgia, Alquimia e a Cabala Extática – uma longa e secreta
história de seres artificiais mágicos como homúnculos, golens e frankensteins.
Até chegar aos atuais manequins das vitrinas de shoppings e modelos vivos das
passarelas – seres ainda “não formados”, à espera do “espírito” (o Estilo) que
lhes dê vida. Assim como o código binário que dá "vida" à robô Sophia. A atual agenda tecnognóstica se encontra com a Moda. Pauta sugerida pelo nosso leitor Nelson Job.
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Em "A Chegada" o homem está incomunicável no Universo
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
A exemplo de “Interestelar”, o filme “A
Chegada” ("Arrival", 2016) é uma ficção-científica desafiadora. Enquanto no filme de Nolan a física
quântica e a relatividade buscavam conciliação num ponto distante da galáxia, em
“A Chegada” o desafio está naquilo que nos mantêm presos à Terra, assim como a
gravidade: a linguagem. Como nos comunicar com visitantes vindos de um ponto
distante do Universo através de uma linguagem que nos aprisiona a um
tempo-espaço tridimensional? De repente o homem descobre que está incomunicável no Universo. A linguagem não serve apenas
para dar nome a coisas e acontecimentos. Traz consequências: nos aprisiona no
tempo e memórias. E para nos libertar da realidade construída pela linguagem,
somente um salto de fé. Mas não existe almoço grátis. Mesmo um filme tão intelectualmente
ambicioso, teve que pagar o preço político-ideológico de uma produção
hollywoodiana.
domingo, dezembro 11, 2016
Curta da Semana: "World Wide Woven Bodies" - sexo e Internet nos anos 90
domingo, dezembro 11, 2016
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Muitos ainda devem lembrar do indefectível
som do dial-up fazendo a conexão com a Internet ou daquele protetor de tela no
qual apareciam canos em 3D. Eram os anos 1990 e a Internet começava a chegar
nos lugares mais recônditos do mundo. No interior da Noruega, um jovem começa
simultaneamente a descobrir a sexualidade e a Internet. E encontra na seminal rede
de computadores um mundo livre de censura que desperta ainda mais a curiosidade
sexual instintiva. Esse é o curta norueguês “World Wide Woven Bodies” (2015)
com um design de produção que reconstitui de forma precisa aquela época. Um
momento único na história onde o tecnológico e o espiritual se fundiram, no qual
foi vivido mais plenamente do que hoje a tensão entre os reinos analógico e o
digital.
Tecnologia do Blogger.